PALMEIRAS FOI BRASIL – 7 de Setembro de 1965

                 Dia 7 de setembro de 1965, a Sociedade Esportiva Palmeiras foi Brasil ao enfrentar a seleção do Uruguai. Este jogo fazia parte das festividades de inauguração do Estádio Magalhães Pinto, o Mineirão. E o Verdão que na época tinha um time espetacular, tanto é, que era chamado de Academia, honrou a camisa amarela que vestiu naquele dia, derrotando os uruguaios por 3 a 0, num espetáculo que ficou marcado na história do nosso futebol. Os uruguaios se vangloriavam da vitória sobre o Brasil na final da Copa do Mundo de 1950, com o Maracanã lotado. Mas naquela tarde em Belo Horizonte, eles sentiram a força da equipe alviverde, uma das melhores que o Palmeiras já teve em toda sua história, a chamada “Primeira Academia”.

                As festividades começaram no dia 5 de setembro, quando uma seleção mineira enfrentou o River Plate, da Argentina e venceu por 1 a 0, gol de Buglê, jogador do Atlético. Dois dias depois, dia 7 de setembro de 1965, o Brasil parou e concentrou todas suas atenções para Belo Horizonte. Estava sendo inaugurado o Estádio Magalhães Pinto, o “Mineirão”. Obra corajosa, imponente, um dos melhores estádios de futebol do mundo, com capacidade para mais de 100 mil espectadores.

                Para coroar os festejos da inauguração, organizou-se um amistoso entre a Seleção Brasileira e a do Uruguai e, pela primeira vez na história do futebol brasileiro, uma equipe de futebol, a Sociedade Esportiva Palmeiras, foi convidada para compor toda a delegação, do técnico ao massagista, do goleiro ao ponta-esquerda, incluindo os reservas. Uma primazia única em reconhecimento à melhor equipe do País, que vencia a todos os adversários e convencia, encantava de tal maneira que recebeu da imprensa e do povo a alcunha de “Academia de Futebol”.

                O Palmeiras vinha de sucessivas vitórias e acumulando uma invencibilidade de 11 jogos. A equipe estava completa e em plena forma, mas na última hora o craque mais experiente, Julinho Botelho, sentiu uma contusão e chegou a pedir para o técnico Filpo Núnes deixá-lo em São Paulo. Filpo implorou para Julinho viajar com a equipe, mas preparou Germano para substituir o grande craque.

                Germano era um ponteiro revelado pelo Flamengo, que foi jogar na Itália e França e havia sido repatriado pelo Palmeiras. Já no vestiário, Julinho, ao perceber a importância daquele momento, com o estádio lotado, o Palmeiras representando a Seleção, não permitiu que Filpo escalasse Germano e informou ao treinador que jogaria aquela partida nem que fosse com uma perna só.

                O Palmeiras entrou em campo com Valdir Joaquim de Moraes no gol, Djalma Santos (que completaria 92 jogos pela Seleção justamente nesta partida) na lateral direita, Djalma Dias e Waldemar Carabina compondo a zaga e Ferrari na lateral esquerda (no lugar do titular Geraldo Scotto). O meio-campo com Dudu e Ademir da Guia, municiando Julinho pela direita, Rinaldo pela esquerda e Tupãzinho e Servilio no ataque.

                No banco, Picasso, Procópio, Santo, Zequinha, Germano, Ademar Pantera, Dario e Gildo. Uma verdadeira Seleção Brasileira. Waldemar Carabina foi designado o capitão do time para esta partida. No banco, Don Filpo Núnes, o “bandoleon”, argentino de nascimento e palmeirense e paulistano por opção, tornar-se-ia naquela tarde o único treinador estrangeiro a dirigir a Seleção Brasileira. Uma honra que ele soube valorizar, respeitar e reconhecer até o fim de sua vida.

               Convidados, os uruguaios foram simpáticos usando braçadeiras verdes e amarelas para homenagear a independência do Brasil, celebrada naquele dia. O Uruguai havia acabado de garantir a classificação para a Copa do Mundo de 1966 de forma invicta. A seleção celeste contava com muitos atletas do Peñarol (campeão da Libertadores em 1960, 1961 e 1966) e do Nacional (vice-campeão da Libertadores em 1964 e 1967).  Mas não conseguiram segurar o Palmeiras vestido de amarelo. “Periquito deu uma de canarinho” e “Palmeiras foi grande como o Brasil” foram as expressões usadas pelo jornal A Gazeta Esportiva para definir o desempenho do time.

               A seleção uruguaia jogou com; Taibo (Bogni); Cincunegni (De Britos), Manicera, Varela e Caetano; Nuñez (Lorda) e Duksas; Franco, González, Héctor Silva (Virgílio) e Esparrago (Morales). O técnico foi Juan López. O árbitro da partida foi Eunápio de Queiroz. O Mineirão neste dia recebeu um público de  80 mil espectadores.

               Desde o começo do jogo, o Palmeiras (Seleção Brasileira) se mostrou superior. Aos 2 minutos, Servílio, de cabeça, quase abriu o placar. Aos 6, Rinaldo avançou e chutou com força rente ao gol do Uruguai. Aos 10, Tupãzinho e Servilio fizeram linda tabela, mas foi somente aos 27 minutos que, num ataque do craque Julinho, este driblou o marcador, avançou e cruzou para a área, mas o zagueiro Cincunegui cortou o cruzamento com o braço, cometendo pênalti. Rinaldo foi lá e fez 1 x 0 para o Brasil.

               Pouco depois, aos 30 minutos, houve novo pênalti de Cincunegui, desta vez sobre Rinaldo, que entrava com tudo pela esquerda e foi derrubado, mas o juiz não assinalou. Aos 34 minutos, o mesmo Rinaldo desceu pela esquerda e cruzou rasteiro, Tupãzinho dividiu com o zagueiro e na sobra encheu o pé sem chances para Taibo, 2 x 0, e o Mineirão inteiro aplaudia e se encantava com a Academia. No final do primeiro tempo, Ademir da Guia também foi derrubado dentro da área em novo pênalti não marcado.

              No intervalo, o Palmeiras fez as alterações previstas: Picasso no lugar de Valdir; Procópio no lugar de Waldemar Carabina; Zequinha no lugar de Dudu; Germano no lugar de Julinho; e Ademar Pantera no lugar de Tupãzinho. Mesmo com cinco substituições, o Palmeiras voltou tão forte quanto na primeira etapa e continuou dominando a partida. Aos 18 minutos, Dario entrou no lugar de Rinaldo e, após muitas chances perdidas, aos 29 minutos, Germano marcou um golaço, para alegria da torcida brasileira. Final de jogo Palmeiras / Brasil 3×0 Seleção do Uruguai.

               Havia um troféu em disputa, mas ao final da partida o Palmeiras, entendendo que o troféu pertencia de direito à CBD, pois estava apenas representando-a, deixou o mesmo com a Comissão Organizadora e retornou à São Paulo. Vinte e três anos depois, em 1988, descobriu-se que o troféu continuava no Mineirão, pois a CBD também não havia requisitado o troféu e assim ficou decidido pelas partes que o Palmeiras deveria honrosamente ficar com o mesmo e que hoje está exposto na Sala de Troféus da Sociedade Esportiva Palmeiras. Bons tempos aqueles. Quem viu, viu. Quem não viu, não verá outro time alviverde como aquele.

Dia 7 de setembro de 1965  –  Da esquerda para a direita – Valdir, Servilio, Julinho, Waldemar Carabina, Ademir da Guia, Djalma Dias, Djalma Santos, Rinaldo, Ferrari, Dudu e Tupãzinho
Postado em P

Deixe uma resposta