FIORI GIGLIOTI: o locutor das multidões

ABREM-SE AS CORTINAS E COMEÇA O ESPETÁCULO

                   Esta é a história de um dos maiores locutores esportivos de todos os tempos, Fiori Giglioti, o moço de Barra Bonita.  Nasceu dia 27 de setembro de 1928 e faleceu dia 8 de junho de 2006. Foi criado em Lins (SP), mas foi em São Paulo que se tornou um grande profissional da comunicação, pois no rádio ele se consagrou. Foi um ícone de uma geração que aprendeu a admira-lo e ama-lo, pois sempre foi um homem puro de coração e uma criatura respeitada e amada por todos.

O TEMPO PASSA … 

                   Começou sua carreira em 1947 na Rádio Clube de Lins. Depois veio para São Paulo e entrou na Bandeirantes em 1952, onde trabalhou durante 38 anos. Depois ficou 5 anos na Rádio Panamericana, hoje Jovem Pan, depois foi para a Rádio Tupi e Radio Record. A experiência e talento de Fiori Giglioti lhe renderam 162 títulos de cidadania pelo Brasil e a incrível marca de dez coberturas de Copa do Mundo, sendo o único cronista esportivo do país a conseguir tal feito.  Ele foi também o pioneiro em homenagear a cidade onde nasceu um jogador. Além de narrar os jogos de futebol com expressões ou bordões tirados mais do coração do que da razão, mantinha um programa semanal aos domingos, chamado “Cantinho da Saudade”, onde a cada semana ele narrava a história de um craque do passado, assim como fazemos hoje em nossa coluna “Memórias do Futebol”.   O programa era líder de audiência, pois todos queriam ouvir Fiori narrando de uma forma poética e objetiva, que deixava a todos muito emocionados. Aquilo era mais que jornalismo.

É FOGO TORCIDA BRASILEIRA

                   Assim como já tivemos o prazer de ouvir grandes locutores esportivos e profissionais do rádio, entre eles; Edson Leite, Pedro Luiz, Osmar Santos, Geraldo José de Almeida, Mário Moraes, Eli Coimbra, Walter Abraão, Geraldo Bretas, Milton Peruzzi, Haroldo Fernandes, Peirão de Castro, Mauro Pinheiro, Roberto Silva, Darcy Reis, Fernando Solera, Luiz Augusto Maltoni, Oduvaldo Cozzi, Enio Rodrigues, Waldir Amaral, Jorge Cury, Joseval Peixoto, Ary Barroso, Jorge de Souza, Ávila Machado e o nosso querido Edmundo Silva, a voz metálica do rádio brasileiro, também tivemos o prazer de ouvir Fiori Giglioti, que por ironia do destino, ele que trabalhou em dez Copas do Mundo, veio a falecer faltando um dia para o início da Copa de 2006 disputada na Alemanha. Por isso, Fiori também estará por todo e sempre incrustado no carinho, no coração e na memória do nosso “CANTINHO DE SAUDADE”.

AGUENTA CORAÇÃO

                   Morreu Fiori Giglioti, o locutor da torcida brasileira. O rádio esportivo e o futebol choram como nunca. Vítima de falência múltipla dos órgãos, morreu aos 77 anos, no Hospital Samaritano em São Paulo. Exatamente aos 40 minutos da quinta feira, 8 de junho de 2006, morria o Pelé do rádio.  Não resistindo a duas operações de próstata e intestino, desapareceu assim o mais popular locutor esportivo do rádio do mundo.  AGORA NÃO ADIANTA CHORAR. 

              Seu corpo foi sepultado no cemitério do Morumbi. Resta-nos a lembrança de uma voz que agora faz parte do nosso “Memórias do Futebol”. Por isso esta edição é toda ela em memória ao locutor das multidões, o homem que sempre narrou UMA BELEEEEEEEZA DE GOL.

              Quem não se emocionou ao ouvir Fiori Giglioti falando de um jogador que já havia falecido, ou mesmo durante suas transmissões esportivas, em especial em jogos da Seleção Brasileira, que ele acompanhou por dez edições.  No entanto, em sua longa carreira, a partida de futebol que ele sempre disse que foi o maior jogo o qual assistiu, foi o disputada entre Santos e Benfica, na final do Mundial Interclubes de 1962, onde o Santos venceu por 5 a 2 em pleno Estádio da Luz, em Portugal.

TENTA PASSAR MAS NÃO PASSA

               Para Fiori fazer um comentário, não precisava pensar muito, as palavras brotavam de sua cabeça. Certa ocasião, o quadro Cantinho da Saudade que ia ao ar todo domingo a tarde, não estava gravado. Era sábado às 17:00 horas. Ninguém sabia quem colocar, parecia que estavam esgotados todos os nomes de jogadores falecidos. Todos os nomes que vinham a cabeça, já tinham sido colocados no ar.  Andando pelo corredor do segundo andar do Edifício Radiantes, um jornal aberto no chão, dizia que Tininho, um jovem craque do Guarani tinha falecido no treino aquela semana. Pronto. Já estava na cabeça de Fiori, o que tinha que dizer.  Foram para o estúdio e Fiori disse tudo o que os torcedores do Guarani, demais ouvintes e mesmo a família do jogador queriam ouvir.  Ninguém sabia de onde ele tirava tanto improviso. 

              Fiori sempre foi um líder, mas nem ele mesmo sabia disso. Era uma pessoa muito simples. Estava sempre perto do poder, e nem se importava com isso, embora tendo o poder nas mãos. Poderoso e prepotente nunca se mostrou. Tratou sempre seu semelhante com dignidade e humanismo. Como diretor de esportes da Rádio Bandeirantes, sempre lutou pelos companheiros. Fiori era isso, 100% dignidade, fazia o bem a quem chegasse a sua frente.  Fiori Giglioti morreu, com ele morreu também um estilo de narrar futebol. Sempre fez questão de se dar bem com todos, até ser covardemente traído no episódio que redundou em sua saída da Rádio Record, NO CREPUSCULO DO JOGO.

              Torcedor do Palmeiras, foi o locutor que mais gols de Pelé transmitiu em toda a sua carreira. Agora com sua morte, Fiori deixa órfã toda uma geração que se acostumou a ouvi-lo numa das mais belas carreiras do rádio brasileiro. Repleta de gols.  Com seu estilo alegre e característico, Fiori levou a gerações de torcedores de futebol a emoção do esporte, desenhando na mente de cada um as imagens inesquecíveis e pessoais de cada lance narrado.  Fiori criou uma escola no rádio-jornalismo esportivo e deixa muitos seguidores. Cala-se a voz de Fiori, mas na memória dos torcedores apaixonados, continuam abertas as cortinas que ladearam todos os momentos mágicos narrados por ele.        

UM BEIJO NO SEU CORAÇÃO

              Além do futebol, Fiori tinha outras grandes paixões: a mulher Adelaide os filhos Marcos e Marcelo, as netas, a chácara em São Pedro e seus cães. Vivia no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo.  Fez fama na Rádio Bandeirantes, depois trabalhou até 2005 na Rádio Record. Foi para a rádio Tupi ao lado de Dalmo Pessoa e em 2006 era a principal estrela da equipe esportiva da Rádio Capital.  No fim de 2005 recebeu a Medalha da Ordem Nacional do Mérito Futebolístico” da Federação Paulista de Futebol, ocasião em que ele disse: Eu confesso que hoje vivo um momento de muita emoção. É daqueles momentos de rara felicidade que nos fazem ter alegria de viver.

              Morreu Fiori Giglioti, um locutor de nome diferente, de voz diferente, de caráter diferenciado. A morte em sua mão de ausência a tudo perdoa e apaga, e com certeza hoje ele está lá no céu, mas ficará por todo e sempre em nossos corações.  O tempo infelizmente se expirou para Fiori Giglioti, e Deus sem alarde para junto de Si o chamou.  Humilde e sereno, para junto do Pai ele se foi. Além da saudade, o sólido exemplo foi o grande tesouro que nos deixou. Nos jardins celestiais, uma rara espécie de Fiori agora brotou. 

                                                 FECHAM-SE AS CORTINAS E TERMINA O ESPETÁCULO.

EDSON LEITE, FIORI GIGLIOTI E PEDRO LUIZ – Três monstros sagrados do rádio brasileiro
FIORI GIGLIOTI durante uma transmissão esportiva

SCRATCH DO RÁDIO – BANDEIRANTES 1968   –  Em Pé: Dieter Glaeser, Roberto Silva, Luiz Augusto Maltoni, Dinamérico Aguiar, José Carlos Silva, Luiz Moreira, Tony Lourenço e Alexandre Santos   –    Sentados: Chico de Assis, Osvaldo dos Santos, Enio Rodrigues, Fiori Giglioti, Flávio Araújo, Jota Háwila, Barbosa Filho e Borghi Junior.

 

 

 

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