RAUL: campeão mundial pelo Flamengo em 1981

              Raul Guilherme Plassmann nasceu dia 27 de setembro de 1944, na cidade de Antonina (PR).   Foi um goleiro que marcou época no futebol brasileiro. Ele fez parte de dois dos maiores times da história do Brasil e do mundo: o Cruzeiro das décadas de 60 e 70 e o Flamengo dos anos 80. Pode se dizer que ele foi um predestinado, pois estava na hora certa no lugar certo e sempre foi um dos pontos de segurança das duas equipes.  Raul começou no juvenil do Atlético Paranaense, depois veio para o São Paulo F.C. Na sua estréia como profissional, num clássico contra o Palmeiras, em 1965, o tricolor foi derrotado por 5 a 0. Mas o destino estava ao seu lado e logo o levaria para Belo Horizonte.

              Quando o goleiro Fábio do Cruzeiro foi negociado ao São Paulo, o presidente do Cruzeiro que era uma raposa na arte da negociação telefonou para o dirigente do São Paulo, Henry Aidar perguntando se não havia algum jogador para vir a contra peso na negociação de Fábio. O dirigente são-paulino citou alguns nomes, dentre eles o de Raul. Passando-se por mal informado Felício respondeu: “Pode mandar esse aí, mesmo”. No entanto, o que Felício não poderia prever é que estava contratando um dos maiores carismas da história do clube. Em plena década de 60, o jovem goleiro descendente de alemães tornou-se um símbolo sexual em Belo Horizonte e arrastou uma multidão de mulheres para a torcida do Cruzeiro.

              Raul chegou ao Barro Preto (nome estádio do Cruzeiro daquela época) sem qualquer festa, apenas para compor o elenco. Com muita competência e uma ótima colocação, além de saber acionar um contra-ataque como poucos, ele foi ganhando espaço e não saiu mais do time celeste. Foram nove títulos mineiros em doze anos de clube. A carreira de Raul também ficou marcada pela camisa amarela que usava, coisa inédita no futebol brasileiro. E a moda que ele lançou, foi num clássico contra o Atlético Mineiro, quando lhe deram uma camisa de goleiro no vestiário que não lhe servia. Pegou emprestado uma blusa de frio amarela, do lateral Neco e improvisou, com fita crepe, o número 1 nas costas.

              Naquele dia, Raul fechou o gol e, supersticioso, creditou a sorte à camisa, que passou a ser a sua marca registrada. Assim, de maneira espontânea, Raul lançou a moda dos uniformes com cores para os goleiros numa época em que eram cinzas ou pretas. Passou a ser conhecido como o “goleiro da camisa amarela” e a torcida adotou a cor nas bandeiras azuis e brancas. A vida de Raul começou a ser mudada no ano de 1966, quando o Cruzeiro sagrou-se campeão da Taça Brasil daquele ano. Este foi sem dúvida alguma, o título que projetou o Cruzeiro para o mundo, pois conquistou o título, em cima do poderoso Santos F. C., que tinha na época um time sensacional, com Gilmar, Zito, Mengalvio, Edu, Pelé & Cia. Até então somente se falava nos clubes do Rio e São Paulo, principalmente, no time de Pelé.

               Indiferente à descrença geral, Raul e seus companheiros, se preocuparam apenas em impor aos adversários o ritmo de jogo do Cruzeiro naquela Taça Brasil. Aquela competição teve duas partidas para decidir o título. A primeira aconteceu em Belo Horizonte, com vitória do Cruzeiro por 6 a 2. A segunda foi no Pacaembu, e o time mineiro venceu novamente por 3 a 2, com gols de Tostão, Dirceu Lopes e Natal.  Neste dia o Cruzeiro jogou com; Raul, Pedro Paulo, William, Procópio e Neco; Wilson Piazza e Dirceu Lopes; Natal, Tostão, Edvaldo e Hilton Oliveira.  Com grandes atuações e um ótimo senso de colocação, Raul conquistou um recorde nacional de 1.101 minutos sem levar gols em 1.969, com mais de 10 partidas invictas. Também recorda com orgulho que defendeu todos os pênaltis do rival Atlético no tempo normal de jogo. Foram cinco ao todo. Ídolo da massa, Raul também chamava a atenção pelas suas declarações causando até polêmica quando chegou a dizer que não estava relacionado para a Copa de 70, porque o sucesso com as mulheres incomodava os invejosos.

              Segundo Raul, sua principal conquista no Cruzeiro aconteceu em 1976, quando a equipe mineira levantou a Taça Libertadores da América, que, até então só tinha sido conquistada por uma equipe brasileira: o Santos de Pelé. Como acontece sempre na competição sul-americana foi uma campanha sofrida até a final contra o River Plate, da Argentina, em três partidas. Depois disso, aquela geração fantástica do Cruzeiro foi parando e o time sendo desmontado. Raul chegou a pensar em voltar para o Paraná e se aposentar, mas foi convencido pelo técnico Cláudio Coutinho a vir para o Flamengo em 1978 ser a voz da experiência em um time jovem formado por Zico, Júnior, Leandro e cia. E jogando pelo Flamengo, os títulos foram se sucedendo com os estaduais logo de cara em 78 e 79. Não demorou muito para Raul se tornar ídolo da torcida rubro-negra.

               Mesmo não sendo um goleiro que dava espetáculo, era muito inteligente, disciplinado e eficiente. Raul ainda garantiu mais três títulos brasileiros (80, 82 e 83) e venceu a sua segunda Taça Libertadores em 81 em outra final em três partidas contra o Cobreloa, do Chile. No Mundial Interclubes, o goleiro não foi vazado pelos ingleses do Liverpool e contando com o talento no ataque de Zico, Adílio e Nunes, juntou mais um troféu para a sua grande coleção. Com a camisa do Flamengo, Raul atuou em 228 jogos (131 vitórias, 58 empates, 39 derrotas). Já pela nossa seleção brasileira, foram 11 partidas (9 vitórias e 2 derrotas) e sete gols sofridos.

               Raul também tinha a sinceridade como ponto forte, apontava falhas de sua equipe em entrevistas e dizem que, por falar demais, ficou de fora da seleção brasileira de 82. Em certa oportunidade, ele admitiu: “prefiro treinar pouco e jogar muito”. Para Telê Santana, foi o suficiente para não convocá-lo para o time de estrelas do Brasil. Raul admitiu em sua despedida que não disputar uma Copa do Mundo foi a maior tristeza da sua carreira. Em sua despedida, em 20 de dezembro de 83, num amistoso entre o Flamengo e a Seleção dos Amigos do Raul, formada por vários craques da época, aos 39 anos, o goleiro vestiu a camisa amarela pela última vez.

               Ao sair de campo, Raul a tirou e devolveu ao mesmo Neco. Depois da aposentadoria nos gramados, Raul se destaca ainda hoje como comentarista esportivo tanto na TV Globo quanto no SporTV. Ele chegou a tentar a carreira de treinador. Em 2003, foi auxiliar de Marinho Peres no Juventude e, depois da saída do técnico, assumiu o cargo, mas deixou o clube gaúcho antes do fim da temporada. Mesmo tendo brilhado tanto tempo e vivido grandes experiências, Raul conta qual sua passagem mais inesquecível.

               “Estávamos em 1971. O jogo era Palmeiras e Cruzeiro no Parque Antarctica, chovia uma barbaridade era a noite, difícil para o goleiro. Lembro muito bem. O árbitro era o Armando Marques. 21:15 hrs, bola rolando no estádio do verdão, 35 minutos, escanteio contra nós. Edu Bala vai cobrar e o Cesar está na área. Cobrança feita e a bola partiu, veio mais ou menos na altura da marca do pênalti. Parti também, cheguei nela lá em cima, bola pesada, não deu prá segurar, ela escapa das mãos.

               Atrás de mim estava o Cesar, atacante famoso das décadas de 60 e 70, grande goleador, ele domina a bola e vai girar pra fazer o gol. Ajo rápido, puxo a atacante pela camisa e ele vai caindo. Pego a bola, dou uma olhadinha para o lado e vejo o Armando Marques junto ao gol. Pensei, ele vai marcar pênalti. Preocupado jogo a bola a meia altura e dou um chutão pra frente e o Armando nada.  Vinte anos depois, durante um vôo São Paulo – Rio, encontrei-me com Armando Marques, então resolvi tirar com ele uma dúvida que me encasquetava há tantos anos. Nós dois aposentados há anos. Quis saber do Armando por que ele não deu aquele pênalti escandaloso que cometi no César Maluco, naquele Palmeiras e Cruzeiro, com muita chuva, em São Paulo.

               Lembrei-lhe que agarrei a perna do César na pequena área, ele, Armando estava muito perto, viu tudo e nada marcou. César, então livre, ia fazer o gol após superar o Piazza. Então perguntei o por quê ! Aí, ele respondeu: Tolinho, não marquei porque o César era muito feio, barbudo, chato, cabeludo, reclamão e eu, Raul, sob a chuva, de camisa amarela molhada, cabelos loiros e o corpo maravilhoso torneado com tecido a moldá-lo parecendo um Deus grego, você acha que eu teria coragem de cometer tal barbaridade? Ouvi calado e pensativo, agradeci muito e voltei para minha poltrona”. 

              Principais Títulos na carreira de Raul: Mundial Interclubes (81), Taça Libertadores da América (76 e 81), Campeonato Brasileiro (80, 82 e 83), Taça Brasil (66), Campeonato Carioca (78, 79, 79 especial e 81) e Campeonato Mineiro (66, 67, 68, 69, 72, 73, 74, 75 e 77).

Em pé: Andrade, Marinho, Raul, Rondinelli, Carlos Alberto e Júnior   –    Agachados: Tita, Adílio, Nunes, Zico e Júlio César
Em pé: Zé Carlos, Neco, Darci, Pedro Paulo, Procópio e Raul   –    Agachados: Natal, Evaldo, Tostão, Dirceu Lopes e Rodrigues
Em pé: Darci Meneses, Mariano, Moraes, Raul, Wilson Piazza e Vanderlei   –   Agachados: Eduardo Amorim, Zé Carlos, Ronaldo, Dirceu Lopes e Joãozinho
Em pé: Vanderlei, Zé Carlos, Piazza, Pedro Paulo, Brito e Raul   –    Agachados: o massagista Nocaute Jack, Natal, Evaldo, Tostão, Dirceu Lopes e Hilton Oliveira

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