YUSTRICH: um treinador extremamente enérgico

                     Dorival Knipel nasceu dia 28 de setembro de 1917, na cidade de Corumbá – MS. Mais conhecido por Yustrich, foi um jogador que jogou como goleiro em clubes cariocas na década de 40, mas se notabilizou como um técnico famoso por sua exigência e pelo seu temperamento explosivo, tendo protagonizado diversas histórias que fazem parte do folclore do futebol brasileiro.

JOGADOR DE FUTEBOL

                   Começou no futebol aos 18 anos como goleiro do Flamengo, onde jogou até 1944. Ganhou o apelido de Yustrich por sua semelhança física com Juan Elias Yustrich, famoso goleiro argentino do Boca Juniors. Neste período conquistou os títulos cariocas de 1939 e o tricampeonato de 1942/43/44. Depois deixou o Flamengo e foi para o Vasco da Gama, onde formou a base que deu origem ao Expresso da Vitória, que tantas alegrias deu à torcida vascaina no final dos anos 40. Depois ainda defendeu a meta do América carioca e encerrou a carreira.

TREINADOR DE FUTEBOL

                  Na década de 50, já era técnico de futebol, com fama de disciplinador e durão: não permitia que atletas sob seu comando fumassem, deixassem a barba por fazer e usassem cabelo comprido. Não tolerava atrasos e falta de empenho nos treinamentos. Arrogante e de temperamento explosivo, gostava de exibir sua valentia. Era chamado de Homão por causa de sua alardeada macheza e pelos seus quase 1,90 m de altura e seu físico avantajado ou, segundo um cronista esportivo, paquidérmico. Envolvia-se em constantes atritos com jogadores, colegas, dirigentes e a imprensa. Em 1953, foi expulso do Atlético Mineiro pelos próprios jogadores, descontentes com seus métodos.

EM PORTUGAL

                  Em 1955, estava no Futebol Clube do Porto, de Portugal , para fazê-lo campeão em 1956, após um jejum de 16 anos. No mesmo ano, o Porto venceu a Taça Portugal e pela primeira vez fazia a chamada dobradinha, ao conquistar no mesmo ano os dois maiores títulos daquele país. Mesmo com essas conquistas, Yustrich era antipatizado por alguns de seus jogadores, entre eles Hernani Silva, o ídolo do time. Em 1958, o Porto goleou o Oriental por 5 a 0 e Yustrich mandou os seus jogadores agradecerem ao público o apoio que lhes tinha sido dado. Hernani foi o único a não cumprir a ordem porque não estava para “alimentar as palhaçadas do treinador”. Foi o suficiente para se iniciar uma discussão áspera que culminou com uma troca de socos. No final da temporada, Yustrich foi dispensado do clube português e teve que voltar ao Brasil, pois havia dado uns tapas em um jogador que era simplesmente sargento do exército português.

DE VOLTA AO BRASIL

                   Em 1959, dirigiu o Vasco da Gama. Em 1964, estava no Siderúrgica, da cidade mineira de Sabará e conquistou o título estadual, quebrando a hegemonia dos grandes clubes. O Siderúrgica havia arrebatado um título estadual pela última vez em 1937. Do Siderúrgica, foi para outro time do interior, o Villa Nova, de Nova Lima. Em seguida, foi dirigir novamente o Atlético Mineiro e foi responsável por uma das melhores fases do Galo, várias vezes campeão mineiro sob sua direção. Yustrich se tornou técnico da seleção brasileira por uma única partida e de uma maneira peculiar. Em dezembro de 1968, o Atlético foi convidado a representar o Brasil num amistoso contra a antiga Iugoslávia. Vestindo a camiseta canarinho, o Atlético venceu por 3×2.

                  Em 1969, na preparação da seleção brasileira para a copa de 1970, então dirigida por João Saldanha, foi programada uma partida contra a seleção mineira, no Estádio do Mineirão. Mas quem entrou em campo, vestindo a camiseta vermelha da Federação Mineira, foi o Atlético, que venceu a seleção que se tornaria campeã do mundo por 2 a 1. Ao final da partida, Yustrich obrigou seus jogadores a darem a volta olímpica no gramado, usando a camisa alvinegra do Atlético que vestiam por baixo da vermelha da Seleção de Minas. O Mineirão quase veio abaixo. Isto lhe valeu a inimizade de João Saldanha.

                 No Atlético Mineiro, Yustrich deu uma atenção especial a um jovem jogador vindo do Rio, de nome Dario, que se consagraria como o maior artilheiro do Galo até então. Com treinamentos especiais, Yustrich deu ao jovem as condições técnicas e a autoconfiança que lhe faltavam, fato que o próprio Dario reconhece publicamente. No entanto, com o jogador uruguaio Cincunegui, Yustrich teve desentendimentos que culminaram com seu afastamento do Atlético. Criticado pelo treinador por haver retardado por uma semana seu retorno de férias, o jogador e Yustrich passaram a ter discussões cada vez mais fortes. A certa altura, Cincunegui teria apontou um revólver para Yustrich.

INCIDENTE COM SALDANHA

                   Em 1970, Yustrich foi para o Flamengo cercado de grandes expectativas e começou o ano arrasador. Em fevereiro, pelo Torneio de Verão, a vitória de 6×1 sobre o Independiente da Argentina, com cinco gols no primeiro tempo, deixou a torcida empolgada com o novo treinador. Mas os resultados seguintes decepcionaram. Com apenas oito vitórias em 25 partidas no primeiro semestre de 1971, a diretoria rubro-negra atribuiu a má fase do clube aos métodos rígidos de Yustrich e optou por demiti-lo. Mas o fato mais marcante de sua passagem pelo Flamengo foi vivido fora de campo.

                  Convencido de que seria convocado para comandar a seleção brasileira, caso João Saldanha, que estava em baixa, fosse demitido, Yustrich começou a carregar nas críticas ao treinador. Saldanha, que andava irritado com Yustrich desde o jogo-treino no Mineirão, entrou armado de revólver na concentração do Flamengo, mas Yustrich não estava no local. Este gesto colocou Saldanha na berlinda e bastou um empate da seleção com o modesto time do Bangu, para que fosse demitido. Foi substituído por Zagallo. Pelo Flamengo, Yustrich dirigiu 93 jogos, com 44 vitórias, 29 empates e 20 derrotas.

FINAL DE CARREIRA

                    Depois do Flamengo, treinou o Corinthians em 1973 e dirigiu a equipe em 63 partidas. Venceu 23, empatou 25 e perdeu 15. Chegou para substituir Duque que foi dispensado após uma derrota de 3 a 0 para o Santos, com dois gols de Pelé e um de Brecha. Yustrich estreou no Corinthians dia 6 de maio de 1973 com uma vitória sobre a Ferroviária por 2 a 0. O jogo foi em Araraquara e os gols foram marcados por Adãozinho e Marco Antonio. Teve uma passagem apagada pelo alvinegro de Parque São Jorge, a única coisa que marcou foi que ele promoveu o lateral Wladimir do juniores para o profissional. Depois do Timão, foi trabalhar no Coritiba.

                   Em 1977, estava novamente no futebol mineiro, desta feita no Cruzeiro, onde, já de início, tomou uma medida que desagradou aos jogadores: proibiu o jogo de sinuca na concentração. Mas naquele ano o Cruzeiro sagrou-se campeão mineiro. Do Cruzeiro, Yustrich foi dispensado por conta de uma discussão em torno de um fato banal. Após um jogo em Araxá, um jogador deu a camisa para um garoto que invadira o gramado. Yustrich mandou o roupeiro buscar a peça.

                   O presidente do clube não permitiu. Armou-se o bate-boca e o treinador foi demitido ali mesmo à vista de todos. Este incidente teria sido apenas o pretexto para dispensar um treinador já desgastado. Yustrich tentara tirar o zagueiro Brito, campeão mundial em 1970, da equipe titular, por ter o hábito de fumar. Não conseguiu vencer a oposição dos outros jogadores e da diretoria. Daí, como forma de mostrar seu descontentamento, substituía Brito durante as partidas sempre que tinha oportunidade. O craque se irritou a tal ponto que, ao ser substituído pela enésima vez, jogou a camiseta suada no rosto do treinador diante do público.

                 Yustrich encerrou no Cruzeiro sua carreira de treinador. Retirou-se para o mais completo anonimato e só foi notícia novamente com sua morte, em 15 de fevereiro de 1990 em Belo Horizonte. Este isolamento é a razão de serem hoje incompletas e distorcidas as informações sobre ele, aliado ao fato de nutrir antipatia pela imprensa, a ponto de proibir repórteres de entrevistar seus jogadores e até de ficar nas proximidades dos vestiários. Alguns cronistas esportivos chegam a atribuir a ele a nacionalidade argentina, numa evidente confusão com seu homônimo do Boca Juniors, também já falecido.

                Dos técnicos de hoje, dizem que Felipão é o mais durão de todos. Só diz isso quem não conheceu Yustrich, pois quem o conheceu no exercício de sua profissão, pode afirmar que Luiz Felipe Scolari perto dele mais parece um padre. Yustrich não tinha preparador físico, pois achava que eles eram frouxos e pegavam leve com os jogadores. Iniciava os treinos sempre às 7 da manhã. Impedia os jogadores de usarem roupas que não fossem, azul, cinza ou bege. O apelido de Yustrich era Homão, não só pelo seu tamanho – 1,90 m de altura por 1 metro de largura, mas também pelo fato de que, por sua cartilha, qualquer problema só podia ser resolvido de três formas: 1) No berro; 2) No braço; 3) No berro e no braço.

Em pé: Alfredo, Zago, Yustrich, Rafgnelli, Eli e Argemiro      –     Agachados: Djalma, Lelé, Isaias, Jair Rosa Pinto e Chico
No cartaz do Atlético, grandes jogadores da época: na primeira fila, no alto, da esquerda para a direita, Zé do Monte, Yustrich e Gastão. Na segunda fila, no meio, da esquerda para a direita, Osvaldo, Ubaldo, Alfredo e Afonso. Na terceira fila, em baixo, da esquerda para a direita, Amorim, Lucas Maranda, Geraldino, Sinval e Haroldo.
Em pé: Rubens, Canhoto, Yustrich, Domingos da Guia, Artigas e Newton     –    Agachados: Valido, Zizinho, Silvio Pirilo, Nadinho e Vevé
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