LUIZ CARLOS: um zagueiro que conseguia parar Pelé

                 Luiz Carlos Galter nasceu dia 17 de outubro de 1947, na cidade de São Paulo. Foi mais um dos que começaram nas categorias de base do Corinthians e se firmou como titular na equipe principal. Jogou numa época em que Pelé estava na ativa, só isto já basta para sabermos que sua vida de zagueiro não foi nada fácil, no entanto, com sua categoria, a presença do Rei em campo não o intimidava, pelo contrário, era um estímulo para aquele jovem que era muito admirado e respeitado pela torcida corintiana. Jogou no Corinthians de 1967 até 1973 e neste período realizou 333 jogos, sendo 152 vitórias, 105 empates e 76 derrotas. O curioso é que neste período não marcou nenhum gol a favor, mas um contra e também não conquistou nenhum título, pois o Timão atravessava uma fase de vacas magras, mas mesmo assim, teve grandes momentos vestindo a gloriosa camisa alvinegra.

INÍCIO DE CARREIRA

               Começou sua carreira com 15 anos nas categorias de base do Corinthians. Passou pelos infantis, juvenis e aspirantes onde foi tricampeão 1965/66/67, logo em seguida subiu para o time principal. Era um atleta muito dedicado, jogava com tamanha vontade, que logo se tornou querido pela torcida e um dos lideres do time corintiano. Muitas vezes foi escolhido como o melhor quarto-zagueiro do Corinthians de todos os tempos. Sua estréia no time principal aconteceu dia 21 de setembro de 1967, quando o Corinthians goleou o Bragantino por 4 a 0, com gols de Marcos (2), Benê e Edson Cegonha cobrando pênalti. Neste dia o Corinthians jogou com; Diogo, Edson Cegonha, Mendes, Luiz Carlos e Jorge Correa; Badéco e Luiz Américo (Luizinho); Marcos, Benê, Prado e Lima, o técnico era Zezé Moreira.

                Chegava o ano de 1968 e o Corinthians na esperança de conquistar o tão sonhado título paulista, uma vez que desde 1954 não o conquistava. Na sétima rodada do Campeonato Paulista daquele ano, a tabela apontava Corinthians x Santos para o dia 6 de março de 1968. O Peixe era o atual campeão e tinha um time de muito respeito, pois Pelé ainda jogava nesta época. O jogo estava marcado para o velho Pacaembu e era uma quarta feira a noite. O Corinthians não vencia o Santos há  exatamente 11 anos, ou seja, desde o dia 22 de dezembro de 1957, quando Peixe venceu por 1 a 0, gol de Dorval. Depois desta derrota o Corinthians jogou a última rodada contra o São Paulo e acabou perdendo o título ao ser derrotado por 3 a 1 e o Tricolor sagrando-se campeão paulista daquele ano.

                No entanto, o que muitos não sabem, é que este tabu de 11 anos, foi somente para o Campeonato Paulista, pois em outras disputas o Corinthians venceu o Santos em quatro oportunidades, como podemos provar:

1ª Vitória – Dia 27-03-1958  –  Corinthians 2×1 Santos  –  Gols de:  Pelé, Paulo e Olavo

2ª Vitória – Dia 31-03-1960  –  Corinthians 2×1 Santos  –  Gols de:  Higino, Zague e Nei

3ª Vitória – Dia 29-03-1961  –  Corinthians 2×0 Santos  –  Gols de Miranda e Rafael      

4ª Vitória – Dia 16-06-1962  – Corinthians 3×1 Santos  – Gols de Calvet (contra), Manoelzinho, Nenê e Cássio.

               E aquela partida de 6 de março de 1968, mesmo não sendo um jogo final de campeonato (logo depois vencido pelo próprio Santos), O Corinthians entrou em campo com: Diogo, Osvaldo Cunha, Ditão, Luiz Carlos e Maciel; Edson Cegonha e Rivelino; Buião, Paulo Borges, Flávio e Eduardo, com a difícil missão de superar, até então, o imbatível time do Santos com: Cláudio, Carlos Alberto Torres, Ramos Delgado, Joel e Rildo; Lima e Negreiros; Kaneko, Toninho Guerreiro, Pelé e Edu. O Santos contava com um time melhor, porém o time da raça ganhou o jogo por 2 X 0, com gols de Flavio e Paulo Borges, fazendo a alegria contida da fanática torcida corintiana, que lotava toda dimensão do estádio do Pacaembu. Ao final da partida, torcedores loucos e apaixonados invadiram o campo e carregaram seus heróis, como se tivessem conquistado um título, gritando e cantando: “Com Pelé e com Edu, nós quebramos o tabu” e “um, dois, três, o Santos é freguês”. A cidade de São Paulo, literalmente parou para comemorar esse grande feito.

               Apesar da torcida eleger Paulo Borges, como herói do jogo devido a sua importância pelo segundo gol, o grande destaque da partida foi o quarto-zagueiro Luiz Carlos, que fez uma marcação implacável em Pelé, inclusive sendo elogiado e reconhecido pelo próprio Rei, como um dos melhores marcadores que enfrentou. Vale ressaltar que esse foi o primeiro jogo do zagueiro corintiano contra o time da Vila Belmiro. Mesmo atuando sobre pressão para a quebra do tabu, o então garoto Luiz Carlos, não se intimidou e foi brilhante em campo.

               Passados quatro dias, o Corinthians tinha outro jogo difícil, contra o Palmeiras. Era o dia 10 de março de 1968 e o jogo foi novamente no Estádio Municipal do Pacaembu.  O Verdão abriu o placar aos 38 minutos do primeiro tempo através de Tupãzinho.  Quando todos pensavam que este seria o placar final, veio a tradicional virada corintiana. Aos 41 minutos do segundo tempo, Ditão empatou a partida com uma cabeçada fulminante. Aos 44 minutos Benê marcou o gol da vitória alvinegra. A Fiel torcida corintiana mais uma vez foi a loucura, fazendo outro carnaval pelas ruas da capital paulista. E foi contra o Palmeiras, que Luiz Carlos teve outro momento de glória.

               Foi no dia 25 de abril de 1971, quando o Timão mais uma vez numa virada histórica, derrotou o alviverde por 4 a 3, depois de estar perdendo por 2 a 0.  Enfim, o zagueiro Luiz Carlos não conquistou nenhum título com a camisa alvinegra de Parque São Jorge, mas teve muitos momentos de pura alegria e felicidades. Sua última partida pelo Corinthians, aconteceu dia 12 de setembro de 973, quando o Corinthians empatou em 0 a 0 com o Moto Clube  do Maranhão pelo Campeonato Brasileiro. Neste dia o Corinthians jogou com; Armando, Zé Maria, Laércio, Luiz Carlos e Eberval; Tião e Rivelino; Ivan, Roberto Miranda (Lance), Vaguinho e Marco Antonio. O técnico era Yustrich.

OUTROS CLUBES

               Defendeu o time profissional alvinegro de 1967 a 1973, e no mesmo ano se transferiu para o Flamengo contra sua vontade, pois queria encerrar sua carreira no time do coração. Também se destacou no rubro-negro sendo campeão carioca de 1974. Pelo Flamengo disputou 118 jogos (62 vitórias, 36 empates e 22 derrotas). Além dos dois maiores times do Brasil, Luiz Carlos, atuou no Operário de Campo Grande, em 1975, onde foi campeão sul-matogrossense e encerrou sua carreira em 1976, como campeão paranaense pelo Coritiba.

               Pela seleção Brasileira, teve raríssimas oportunidades, chegou a ser convocado para participar da Copa de 1970, mas jogou apenas uma partida, pois, acabou sofrendo uma contusão no joelho e ficou dois meses parado. O jogo foi contra o Paraguai, na vitória por 1 a 0, no dia 24 de julho de 1971. Em 1974, vivia um bom momento na carreira atuando pelo Flamengo, quando foi escolhido como o melhor quarto-zagueiro do Campeonato Carioca. Mas como já havia brigado com o técnico Zagallo, acabou não sendo “lembrado” na lista dos jogadores convocados para a Copa na Alemanha.

                Encerrado seu ciclo como atleta de futebol, Luiz Carlos, resolveu continuar sua paixão pelo esporte, dedicando-se ao ensinamento para crianças em sua escolinha de futebol. E quando recebe convites para jogar com os amigos, não recusa em participar de uma “pelada” mostrando toda sua experiência. Em 2005, durante um jogo de veteranos, o ex-zagueiro corintiano passou por um susto, ao sentir o coração acelerado, passou mal e foi salvo por um desfibrilador, que estava à beira do gramado naquele dia. Mesmo depois de operado, Luiz Carlos ainda faz o que gosta… jogar bola.

               Luiz Carlos jogou no aspirantes do Corinthians numa época que o torcedor chegava mais cedo ao estádio só para ver os meninos que estavam surgindo e também alguns profissionais. Era uma época romântica do nosso futebol. Muitos de nós somos criticados pelo saudosismo exagerado e por “inventar histórias”. Quando digo que a torcida corintiana, na primeira metade dos anos 60, lotava o Pacaembu, já às 13h dos domingos, só para ver o menino Rivelino e o time de aspirantes do Corinthians jogarem, muitos duvidam. A preliminar começava cerca de duas horas antes do jogo principal e se o estádio ficava lotado tão cedo é porque a Fiel gostava mais dos meninos e dos aspirantes do que dos seus, à época, sofríveis times profissionais. Lá pelos anos 60, não havia substituição no futebol, só do goleiro.

              Quando alguém se machucava, ia para a ponta-esquerda “fazer número”. Alias uma expressão que desapareceu da literatura esportiva, assim como a escalação “do goleiro ao ponta-esquerda”. Assim, sem banco de reservas no jogo principal, até jogador veterano ou titular eventual ia fazer a preliminar, formando o time de “aspirantes” ao lado de alguns juniores. Um bom exemplo disso, foi dia 1 de novembro de 1964, quando o Corinthians derrotou o São Paulo por 2 a 0 gols de  Luizinho e Silva. Neste dia o time do Corinthians na preliminar foi; Barbosinha, Ari Ercílio, Mendes, Luiz Carlos e Neco; Ferreirinha e Rivelino; Sérgio Echigo, Manuelzinho, Osmar e Bazani.  Hoje, nem jogo de Copa do Mundo lota estádio duas horas e meia antes do apito inicial.

Em pé: Luiz Carlos, Pedrinho, Ado, Ditão, Zé Maria e Suingue    –   Agachados: Paulo Borges, Célio, Rivelino, Mirandinha e Aladim

Em pé: Ditão, Pedrinho, Ado, Luiz Carlos, Miranda e Suingue    –   Agachados: Ivair, Buião, Célio, Rivelino e Tião
Em pé: Alexandre, Polaco, Luiz Carlos, Ditão, Dirceu Alves e Pedro Rodrigues   –   Agachados: Suingue, Tales, Servílio, Tião e Carlinhos
Em pé: Lula, Dirceu Alves, Ditão, Luiz Carlos, Polaco e Miranda   –    Agachados: Toninho (massagista), Paulo Borges, Ivair, Benê, Suingue e Lima
Em pé: Polaco, Dirceu Alves, Ditão, Luiz Carlos, Pedro Rodrigues e Alexandre   –    Agachados: Paulo Borges, Ivair, Benê, Rivelino e Suingue
SALEÇÃO PAULISTA DE 1968   –   Em pé: Miranda, Lorico, Ado, Luís Carlos, Pedrinho e Ditão   –     Agachados: Ratinho, Leivinha, César, Ademir da Guia e Rivelino
Em pé: Oswaldo Cunha, Ditão, Diogo, Edson, Luiz Carlos e Maciel    –   Agachados: Marcos, Tales, Flávio, Rivelino e Eduardo
Em pé: Almeida, Diogo, Oswaldo Cunha, Luiz Carlos, Tião e Maciel    –    Agachados: Buião, Tales, Paulo Borges, Rivelino e Eduardo
Em pé: Lula, Oswaldo Cunha, Ditão, Luiz Carlos, Dirceu Alves e Lidu    –   Agachados: Paulo Borges, Adnan, Benê, Rivelino e Eduardo
Em Pé: Osvaldo Cunha, Carlos, Luiz Américo, Luiz Carlos, Lidu e Diogo    –   Agachados: Paulo Borges, Adnan, Flávio, Rivelino e Eduardo
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