BELFORT DUARTE: da o nome a um importante troféu

                 João Evangelista Belfort Duarte nasceu dia 27 de novembro de 1883, na cidade de São Luiz – MA. Foi um jogador de futebol e um dos fundadores da Associação Atlética Mackenzie College, primeiro clube brasileiro verdadeiramente de brasileiros, pois, as grandes equipes de sua época eram de ingleses como o São Paulo Athletic Club. Entusiasta do esporte, ainda fez muita coisa pelo futebol, tendo sido ele quem promoveu a primeira visita de um time estrangeiro ao país, e também quem traduziu as regras de futebol do inglês para o português. Belfort Duarte pregava respeito total aos adversários, e até denunciou um pênalti cometido por ele mesmo e que o juiz não havia visto. Tamanha era a sua lealdade e honradez, que inspirou a criação de um prêmio com o seu nome; Prêmio Belfort Duarte. O Prêmio, foi instituído pelo Código Brasileiro de Futebol em 1945 e oferecido a partir de 1946.

AMÉRICA F. C.

               Mudando-se para o Rio de Janeiro, em 27 de dezembro de 1907, vindo de São Paulo, onde estudara e jogara no Mackenzie College, embora houvesse nascido no Maranhão. Além de um excelente zagueiro, foi um dos mais eficazes dirigentes de clube. Por diversos motivos foi atuar no América Football Club, a convite de Gabriel de Carvalho (depois também presidente do Clube) onde acabou se tornando além de jogador (jogou como médio, depois defensor), capitão, técnico, diretor geral do futebol, criador e coordenador de toda a estrutura do esporte e tesoureiro do clube.

               Disciplinador e exigente proibia atletas beberrões e fumantes dentro do seu clube, sendo que em 1908 trocou a camisa preta do clube pela atual camisa vermelha. Foi Belfort Duarte quem abriu as portas do América ao atleta negro, e tinha tanto amor pelo clube que passou a viajar pelo Brasil, para divulgar o clube rubro e fundar novos “Américas” onde fosse possível. Alguns exemplos disto são os inúmeros clubes espalhados pelo Brasil com o nome de América, como o próprio América carioca, América de São José do Rio Preto, América de Natal, América Mineiro e tantos outros.

               Belfort Duarte, como ficou conhecido, ajudou o América a ser campeão carioca pela primeira vez em 1913 e foi o capitão do time, até sua última partida no dia 11 de julho de 1915 contra o Flamengo. Foi um dos responsáveis pela participação do atleta negro no clube, numa época que o futebol ainda carregava uma divisão racial intrínseca ao seu início elitista. Sempre pregou  respeito total aos adversários, e até denunciou um pênalti cometido por ele mesmo e que o juiz não havia visto, daí o prêmio com o seu nome oferecido para o jogador que passasse dez anos sem ser expulso, proeza que hoje parece impossível, mas que foi realizada por Telê Santana, Didi e Vavá, alguns jogadores que conquistaram este honroso prêmio.

              A primeira medalha foi atribuída em 25 de junho de 1948 a um profissional: Antonio Mota Espezim, jogador do Coritiba. E o clube do Paraná como homenagem ao criador do prêmio, quando construiu seu primeiro estádio, colocou o nome de Estádio Belfort Duarte, somente 50 anos depois, ele mudou de nome e passou a chamar-se Estádio Major Antonio Couto Pereira, que está localizado no bairro do Alto da Glória da cidade de Curitiba-PR.

TROFÉU  BELFORT  DUARTE

               Este prêmio tem esse nome em homenagem ao jogador João Evangelista Belfort Duarte, tal era sua disciplina dentro e fora de campo, por isso, somente recebia os atletas de bom comportamento. O prêmio foi criado em 1945 pelo Código Brasileiro Disciplinar de Futebol, cujo capítulo V, artigo 31, parte penal, dispõe sobre sua outorga. De acordo com a CBD, aos atletas amadores era dada medalha de ouro e aos profissionais, medalhas de prata, em ambos os casos acompanhados de diploma.

                As condições para sua aquisição eram estas: A) – Não haver o atleta sofrido qualquer punição esportiva por 10 anos.  B) – Que o atleta haja participado de no mínimo 200 competições oficiais, incluindo-se interestaduais e internacionais. A solicitação deve ser encaminhada, pelo presidente da Associação a que o recorrente pertença com todos os comprovantes, à Federação em que a Associação esteja filiada. O premiado é considerado autor de relevantes serviços ao esporte e, como tal, recebe credencial de livre ingresso a todos os estádios desportivos do país.

               O primeiro amador a ser agraciado foi Ari Ferreira, do Del Castilho, vinculado a Federação Metropolitana do Rio de Janeiro em 22 de dezembro de 1948. O falecido Jaime de Almeida foi o primeiro jogador da seleção brasileira a obter o troféu Belfort Duarte, em 24 de novembro de 1949. A última atribuição do prêmio aconteceu em 6 de setembro de 1973 e o premiado foi o goleiro Orlando Alves Ferreira, que jogou no São Cristovão do Rio de Janeiro e na Portuguesa de Desportos de São Paulo.  Goleiro Orlando que era carinhosamente chamado de Orlando Gato Preto e que na década de 70 revezava a posição com o goleiro Felix, que foi nosso goleiro na Copa de 70, no México e que depois defendeu o Fluminense do Rio de Janeiro.

               O Prêmio Belfort Duarte, concedido aos jogadores que atuem por mais de dez anos sem receber uma advertência, leva seu nome em razão da integridade com que sempre se portou em campo, o que levou o CND (Conselho Nacional de Desportos), como reconhecimento, a lhe prestar essa homenagem. Citaremos como exemplo do caráter desse jogador torcedor americano apenas um fato: Num jogo ele colocou a mão na bola dentro da área e o juiz não vira. Ele próprio se acusou e chamou a atenção do juiz para o pênalti que cometera. Foi o capitão do time do America de 1913, campeão carioca.

               O jogador Everaldo que jogou por muitos anos no Grêmio de Porto Alegre e que foi nosso lateral esquerdo na Copa de 70, além de todos os prêmios conquistados em sua brilhante carreira, também foi agraciado com o Prêmio Belfort Duarte, concedido aos jogadores de defesa mais leais, em julho de 1972. Entretanto, três meses depois deu um soco no árbitro José Faville Neto durante uma partida e acabou suspenso por um ano. Para impedir que novos casos parecidos ocorressem, duas décadas depois as regras do prêmio foram mudadas, e a partir de então apenas jogadores aposentados poderiam requerê-lo.

               Oficialmente o prêmio havia sido extinto em 1981. Em 2008, uma iniciativa da Rede Globo, através do programa Globo Esporte, recriou o prêmio com algumas modificações, sendo conquistado na edição daquele ano pelo meio-campista Ricardinho, do Vitória, que fez apenas 7 faltas em 25 partidas e não recebeu nenhum cartão amarelo e muito menos vermelho ao longo de todo o Campeonato Brasileiro.

               Na nova edição, o prêmio foi entregue apenas a jogadores da Série A do Campeonato Brasileiro e seguiu as seguintes regras: A cada falta cometida o jogador perderia meio ponto; A cada cartão amarelo perderia dois pontos; Cartão vermelho elimina o atleta da disputa. Os pontos são divididos pelo número de partidas jogadas. O jogador, para concorrer ao prêmio, deveria ter disputado pelo menos metade das partidas até aquele momento. Muitos jogadores sonhavam em conquistar este belíssimo troféu, pois demonstrava toda sua elegância e lealdade em campo, no entanto, nem todos os jogadores tinham esta esperança, prova disto foi uma das declarações que o saudoso jogador Moises, que jogou por muitos anos no Vasco e também teve uma importante passagem pelo Corinthians, quando sagrou-se Campeão Paulista de 1977. E Moisés sempre dizia “zagueiro não pode pensar em Troféu Belfort Duarte, caso contrário morre de fome”.

               O maranhense João Evangelista Belfort Duarte era formado em engenharia e um verdadeiro “gentleman” dentro e fora dos campos, mas apesar de toda a tranquilidade nos gramados, por uma ironia do destino, Belfort Duarte morreu de forma violenta, assassinado no seu aniversário de 35 anos. Sua morte causou surpresa a todos, pois ele foi estranhamente assassinado no dia 27 de novembro de 1918, em Campo Belo, distrito de Resende, no pequeno sítio onde se instalara. Foi traiçoeiramente assassinado devido a questões de posse de terra.

              Segundo o testemunho de sua filha, D. Mary, vestia, ele na ocasião, a camisa rubra do América. Exatamente quando completava trinta e cinco anos de idade, quando convalescia da gripe espanhola. Foi sem dúvida alguma, um homem muito importante para o nosso futebol, pois, além de ter sido responsável pela tradução das regras do futebol do inglês para o português, Belfort Duarte acumulou as funções de capitão, técnico e dirigente do América Futebol Clube (RJ).

              João Evangelista Belfort Duarte foi um personagem ímpar na história do futebol brasileiro. Tornou-se um símbolo, um líder exemplar, com conduta irrepreensível. Inteligente e articulado, foi o mentor de inúmeras inovações, como a da saudação das equipes à torcida, logo após a entrada em campo. Foi ele quem sugeriu a cor vermelha ao América que até então jogava de preto. Campeão em 1913 parou de jogar em 1915 e tornou-se técnico do próprio América, campeão em 1916. Como dirigente, organizou a vinda da primeira equipe estrangeira ao País, e abriu as portas do América para o primeiro jogador negro. Por tudo isso, nossa humilde homenagem à Belfort Duarte.

AMÉRICA / RJ do ano de 1913 – Belfort Duarte é o que está entre o goleiro e um diretor do clube
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