CASTILHO: um verdadeiro amor pelo Fluminense

              Carlos José Castilho nasceu dia 27 de novembro de 1927, na cidade do Rio de Janeiro. Ele entrou para a história como um goleiro milagreiro, fazendo defesas impossíveis. Ele dizia ter uma inacreditável boa sorte. Por causa disso, seu apelido era “Leiteria” (apelido comum à pessoas que tinham sorte na época) e os torcedores do Fluminense o chamavam de São Castilho. Mesmo tendo apenas 1,81 metros, baixo para os padrões dos goleiros atuais, mas considerado alto para aquela época, foi um dos melhores goleiros do futebol brasileiro. Também se destacava nas defesas de pênaltis, e só em 1952, defendeu 6 deles. Daltônico, acreditava que várias vezes havia sido favorecido por ver como vermelhas as bolas amarelas, mas era prejudicado pelas bolas brancas à noite. Foi o melhor goleiro tricolor de todos os tempos.

FLUMINENSE

                Tinha técnica e coragem, e por isso se tornou um dos ídolos inesquecíveis do Fluminense, onde chegou levado pelo velho Menezes, pai do centroavante Ademir de Menezes, em 1949. Antes disso, jogou até de ponta-esquerda no Olaria.  A estréia foi contra o Fluminense de Pouso Alegre (MG) pelo time de aspirantes. Firmou-se como titular em 1949 e foi campeão carioca de 1951, 1959 e 1964 e do Rio-São Paulo em 1957 e 1960.  Seu primeiro título foi logo em 1951, ano em que o Vasco tinha um grande time e o Flamengo começava a estruturar a equipe que em 1955 fecharia o tricampeonato.  Sua fama de sortudo era merecida.

               Com ele, acontecia de a bola bater na trave, no corpo, no queixo e não entrava. Mas também era muito dedicado à profissão, preocupado, por exemplo, em observar em filme as características dos atacantes: “Eu estudava a maneira como Jair, Ademir, Zizinho e os outros batiam pênaltis. Em 1952, defendi seis”. Também foi pioneiro em trocar a camisa preta por uma cinza, “para não dar ponto de referência aos atacantes adversários para os chutes”.

              Era também um goleiro de muita coragem. Quando o médico Newton Paes Barreto disse que ele teria que passar dois meses tratando aquela que foi a quinta contusão no dedo mínimo esquerdo, e como ele queria jogar as partidas decisivas pelo Fluminense e não teria condição de se recuperar normalmente, Castilho optou pela amputação parcial, tendo assinado termo de responsabilidade e, duas semanas após, já voltava aos jogos defendendo o Fluminense. Não conheço no futebol mundial um exemplo assim. Entre suas tristezas estão os títulos perdidos para o Botafogo (6 x 2), em 1957, e para o América (2 x 1), em 1960.

              Castilho jogou ainda no Paysandu Sport Clube de Belém do Pará em 1965 e no ano seguinte encerrou a carreira no próprio Fluminense. Ele considera ter cumprido seu objetivo no futebol: “Impedir gols era uma questão de honra para mim, e eu consegui isso na maior parte dos jogos”. Pelo Flu participou de 696 jogos ( 1947 a 1964 ), recordista absoluto na história do clube, tendo sofrido 777 gols e sem sofrer nenhum em 255 partidas.  O eterno Castilho foi o super-herói de vários meninos e adolescentes durante os anos 1950 e 1960, e que, por ele, tornaram-se tricolores e apaixonaram-se pelo Fluminense. Quando se sagrou campeão carioca no ano de 1964, aos 37 anos, foi praticamente expulso do Flu. Não é de hoje que o tricolor carioca sempre trata mal seus craques e ídolos.

SELEÇÃO BRASILEIRA

               Em 1952, Castilho fez sucesso como jogador da Seleção Brasileira e, no Pan-Americano de Santiago, ganhou o título contra o Uruguai, no qual ainda jogavam todos os campeões mundiais de 1950. O jogo terminou em pancadaria, mas Castilho lembra: “Foi meu dia de glória, vingamos o vexame de 1950”. Concordava que não se deu bem na Seleção: “Tive o azar de ter Gilmar pela frente. Ele era fantástico e eu precisei me conformar com a reserva”. Ainda assim, Castilho foi um dos poucos jogadores da história do futebol brasileiro que teve o privilégio de defender o Brasil em nada menos que 4 Copas do Mundo, de 1950, de 1954, de 1958 e a de 1962, sendo que em  1954 foi titular absoluto, sendo que a escalação era a seguinte; Castilho, Djalma Santos, Píndaro, Brandãozinho e Nilton Santos; Bauer e Didi; Julinho, Baltazar, Humberto e Maurinho.

               Nesta Copa o Brasil ficou em 6º lugar e foi a partir deste mundial, que a nossa seleção começou a usar calção azul e camisa amarela, pois até então, o uniforme da nossa seleção era todinho branco. Em 1950, Castilho foi reserva do vascaíno Barbosa. Em 1958 e 1962, ficou no banco de reservas de Gilmar dos Santos Neves, que do Corinthians se transferiu ao Santos Futebol Clube.

TREINADOR

                  Após abandonar a função de jogador, não conseguiu se desligar do futebol. Foi técnico dirigindo vários clubes no Brasil e no exterior.  Estudioso, Castilho também foi um importante treinador. Destacou-se principalmente comandando o Operário (MS) e o Santos. No time da Vila, inclusive, ele foi campeão paulista de 1984. O Santos tinha como base: Rodolfo Rodriguez; Chiquinho, Márcio Rossini, Toninho Carlos e Toninho Oliveira (Gilberto Sorriso); Dema, Lino e Humberto; Paulo Isidoro, Serginho Chulapa e Zé Sérgio. O alvinegro da Vila derrotou o Corinthians, no Morumbi, por 1 a 0, gol de Serginho Chulapa e comemorou o título no dia 2 de dezembro de 1984.

                Castilho é lembrado com carinho pelos comandados daquele time santista, principalmente pelo meia Humberto Suzigan. “Ele foi o melhor técnico que eu conheci. Foi uma pena o futebol ter ficado sem ele”, comenta Humberto, o camisa 10 do Peixe naquela conquista. Depois trabalhou no Vitória, da Bahia, onde até 2006 foi o técnico que mais dirigiu e mais conquistou vitórias no Campeonato Brasileiro da 1ª Divisão (1973 / 1974), também trabalhou no Operário de Mato Grosso do Sul, clube que levou às semifinais do Campeonato Brasileiro de 1977.

PÁGINA TRISTE

              A página mais triste da história do goleiro Castilho foi, infelizmente, a sua última. Segundo escreveram à época ele era vítima de fortes crises de depressão e no dia 2 de fevereiro de 1987, o eterno ídolo deu seu último e triste salto.  Ele se atirou para a eternidade pela janela do apartamento de sua ex-mulher, Vilma, no bairro de Bonsucesso, na zona norte do Rio de Janeiro. Ele tinha 59 anos e os motivos que o levaram a cometer o suicídio são sombrios até hoje. Muitos dizem que ele passava por problemas particulares. Entrou em depressão e resolveu se suicidar.

             Na época, Castilho era técnico da seleção da Arábia Saudita e, em janeiro, sentiu fortes dores de cabeça, sendo submetido a alguns exames que nunca tiveram o resultado publicamente revelado. Para algumas pessoas próximas, Castilho teria na época o que hoje é chamado de transtorno bipolar, segundo a biografia do goleiro “Castilho Eternizado”, de Antônio Carlos Teixeira Rocha. A obra levanta duas suspeitas como causas da morte. “O laudo médico poderia ter acusado alguma enfermidade grave, um tumor irremovível ou mesmo o desenvolvimento de um aneurisma pronto a explodir”, diz um trecho do livro, que aborda outra possibilidade. 

           “Outra hipótese seria o rompimento inesperado do relacionamento do casal (ele vivia com a segunda mulher, Evelyna, que se recusou dias antes a ir com Castilho para Riad, na Arábia Saudita). A separação brusca poderia ser a causa do transtorno mental, levando o goleiro a distúrbios emocionais”.

            Outra parte triste da vida do goleiro, é que ele tinha no currículo, nada menos do que quatro Copas do Mundo, sendo que somente em uma delas ele foi o titular, nas demais sempre curtiu o banco de reservas.  Pela seleção ganhou ainda a Taça Oswaldo Cruz (1950, 1962), o Pan-Americano (1952) e a Taça Bernardo O’Higgins (1955). Pelo Fluminense, foi tricampeão carioca, bicampeão do Torneio Rio-São Paulo e vencedor da Copa Rio – o Mundial de Clubes da época.  

            Em 2007, o Fluminense Football Clube inaugurou um busto de Castilho na entrada da sede social do clube tricolor, como agradecimento pelos serviços prestados, muito acima do que se pode esperar de um jogador profissional, mais do que isto, pelas demonstrações inequívocas de amor pelo clube que o projetou para o futebol.  Um clube pode ser considerado grande por muitos fatores, mas só pode ser considerado um gigante eterno, quando é analisado o seu passado e seus ídolos. Vivemos em uma época onde os ídolos são escassos e não têm nenhuma identificação com seus clubes e mudam de bandeiras como quem muda de cuecas.

            Os tempos estão tenebrosos, por isso nossa coluna “Memória do Futebol”, faz questão de homenagear os craques do passado, homens que honravam a camisa do clube que defendia. Não jogavam por dinheiro, mas sim, pelo amor ao clube, pois aquele tempo, era um tempo onde vestir a camisa de seu clube de coração era a glória máxima. Por isso, hoje estamos fazendo esta humilde homenagem ao grande goleiro do Fluminense e da nossa Seleção Brasileira, Carlos José Castilho, um jogador que por amor ao clube, chegou a amputar um dedo, só para poder jogar as partidas decisivas que o Fluminense teria pela frente. Nos dias de hoje, nem pensar que um jogador faria uma coisa desta. Ficou conhecido como um goleiro milagroso, mas também tinha muita técnica e uma coragem sem limites. Por isso, hoje dizemos; Descanse em paz, amigo Castilho.

Em pé: Jair Marinho, Laurício, Dari, Denilson, Castilho e Nonô   –    Agachados: Ubiraci, Gilson, João Márcio, Adilson e Escurinho
SELEÇÃO CARIOCA   –   Em pé: Rubens, Zózimo, Nilton Santos, Castilho, Pinheiro e Bauer     –    Agachados: Sabará, Zizinho, Índio, Didi e Pinga
Em pé: Clóvis, Jair Marinho, Edmilson, Altair, Castilho e Pinheiro    –     Agachados: Maurinho, Paulinho, Waldo, Telê Santana e Escurinho
Em pé: Clóvis, Edson, Lafaiete, Castilho, Pinheiro e Bigode    –     Agachados: Telê Santana, Didi, Waldo, Waldemar e Escurinho
Em pé: Paulinho de Almeida, Castilho, Nilton Santos, Déquinha, Zózimo e Edson      –     Agachados: Joel, Vavá, Didi, Índio e Pinga
Em pé: Djalma Santos, Castilho, Bellini, Formiga, Orlando e Coronel    –     Agachados: Garrincha, Didi, Almir, Pelé, Chinesinho e Mário Américo
Em pé: Djalma Santos, Bellini, Zito, Calvet, Castilho e Nílton Santos       –    Agachados: massagista Santana, Garrincha, Didi, Coutinho, Pelé, Pepe e o massagista Mário Américo
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