BOLIVAR: campeão paulista pela Inter de Limeira em 1986

                 Bolivar Modualdo Guedes nasceu dia 21 de dezembro de 1954, na cidade de Porto Alegre (RS). É com um largo sorriso no rosto, demonstrando muita alegria e satisfação, que o ex-jogador Bolívar lembra sua carreira no futebol, especialmente os quase 10 anos em que atuou pela Inter de Limeira, quando a ajudou a conquistar o maior título da sua história. Campeão Paulista ao superar o Palmeiras na final de 1986, até hoje, quando conversa com os amigos, é chamado de “Xerife de Limeira”, tamanho o respeito e admiração que construiu nesta cidade. “Dizem que lá eu mandava prender e soltar”, conta, rindo, o ex-zagueiro que escreveu com letras douradas seu nome no Leão da Paulista, o primeiro clube do interior do estado de São Paulo a conquistar um título estadual, fato que ficou marcado não só para a cidade, mas também para todo o futebol brasileiro.

GRÊMIO

                Bolivar se criou no futebol nas categorias de base do Esporte Clube Avenida, de Santa Cruz do Sul, um modesto clube do interior do Rio Grande do Sul. No início da década de 70, foi levado ao Grêmio de Porto Alegre, aonde despontou para o futebol como ponta esquerda, permanecendo até 1976, que na época tinha o seguinte time; Carlos, Eurico, Ancheta, Beto Fuscão e Bolivar; Vitor Hugo, Luis Carlos e Iúra; Zéquinha, Tarciso e Ortiz. O técnico do tricolor gaúcho era Telê Santana. Lá no Grêmio a ordem era odiar tudo que fosse vermelho. “Não havia um traço sequer dessa cor dentro do Olímpico.” E, certamente, vice-versa no Beira-Rio. Oriundo de uma família de gremistas, Bolívar vestiu a camisa azul por oito anos.

               Seu primeiro Gre-Nal foi no Olímpico e ele não esquece a tensão da semana que antecedeu o jogo. “É fantástico. A adrenalina vai subindo gradualmente”, diz Bolívar. Como jogador do Grêmio, a maior emoção do ex-jogador é a lembrança de um gol de cobertura, em um Gre-Nal. Foi em 1974, no Beira-Rio. “Não esqueço a cena. O Manga não jogou e o Schneider estava no gol do Inter. Humberto Ramos bateu o escanteio, vi a bola descendo e bati de cobertura. Quando abri os braços e corri pra galera, vi aquele povão azul se levantando. Meu Deus, é inesquecível.”

SELEÇÃO BRASILEIRA

              Bolivar foi convocado para defender a Seleção Brasileira, no Torneio de Cannes, na França em 1972 e 1973 como juvenil. Mas sua maior glória, foi disputar a Olimpíada de Munique, na Alemanha. Até aquele momento, Bolivar era o primeiro jogador do Grêmio a ser convocado para um Olimpíada. “Foi uma das minhas maiores alegrias como jogador de futebol. Era um belo time, formado por Falcão, Pintinho, Washington, Levir Culpi, Albel Braga e Dirceu, mas não passamos da primeira fase, faltou experiência. Não existia profissionalismo e os times europeus levavam os atletas principais” – disse Bolivar.  Na seleção, Bolivar jogava como lateral esquerdo e quando retornou ao Grêmio, Ênio Andrade que era o técnico na época disse que ele poderia jogar onde quisesse, então optou pela lateral, uma vez que havia se dado muito bem nesta posição na seleção.

              Ainda sobre as Olimpíadas de Munique, Bolivar sentiu de perto os efeitos do atentado que ocorreu durante aquelas competições. Foi um episódio histórico que anos depois acabou de ser revivido no cinema por Steven Spielberg.  Bolivar conta que passou de momentos alegres para outros de intenso pavor. “Na Vila Olímpica existia uma grande confraternização entre todos os atletas. Num dia era tudo felicidade, no dia seguinte ao ataque tudo se transformou numa imensa tristeza. É um absurdo essas disputas políticas, foi um setembro negro” lamenta até hoje o ex-craque. Pela Seleção Brasileira, Bolivar realizou 7 jogos, sendo 1 vitória , 2 empates e 4 derrotas. Não marcou nenhum gol com a camisa canarinho.

PORTUGUESA

              Em 1976, trocou o sul do país pelo estado de São Paulo, pois foi contratado pela Portuguesa de Desportos, que na época tinha como ídolo, o centroavante Eneas. Casou com a santa-cruzense Leilane e foi com ela para São Paulo, onde ficou por três anos. Em 1979, através do pai e do irmão de Paulo Roberto Falcão, seu colega de Olimpíada e jogador do Inter, foi sondado para retornar ao Sul. Desta feita, vestindo a camisa vermelha. A coisa fluiu e acabou assinando com o Internacional por dois anos. Chegou a sair em foto na Revista Placar, com a camisa colorada. Mas foi barrado pelo Departamento Médico e voltou para a Portuguesa. “Tenho certeza que foi retaliação por ter sido do Grêmio”, comenta. Mas assim como no Grêmio, também não conseguiu ser campeão pela Lusa do Canindé.

INTER DE LIMEIRA

              Em 1985, a diretoria da Inter resolveu fazer contratações de peso, e trouxe para Limeira, Bolívar, Marinho Rã, Donizete e João Batista, todos da Portuguesa de Desportos, trouxe ainda o goleiro Silas, Gilberto Costa e Eder. Porem, a glória da Internacional viria no ano seguinte, quando fez uma campanha maravilhosa, chegando ao final do turno e returno em primeiro lugar isolado com 49 pontos ganhos. No quadrangular final enfrentou o Santos F.C., vencendo lá na Vila Belmiro por 2×0 e aqui em Limeira por 2×1.

              Depois veio a grande final, onde o adversário era o Palmeiras que já estava há doze anos na fila.  Os dois jogos foram realizados no Morumbi. O primeiro jogo terminou empatado em 0x0, e o segundo que foi realizado no dia 3 de setembro de 1986, a Inter venceu por 2×1, com gols de Kita e Tato. A Internacional formou neste dia com: Silas, João Luiz, Juarez, Bolivar e Pecos; Gilberto Costa, Manguinha e João Batista; Tato, Kita e Lê (Carlos Silva).  O técnico era o “Seo Macia” o popular Pepe.

              A campanha da Inter naquele ano, foi tão magnífica, que marcou 59 gols, sofreu apenas 33, sete jogadores foram escolhidos para a seleção paulista daquele ano, o centroavante Kita da Internacional, foi o artilheiro do campeonato com 24 gols e a Associação Atlética Internacional recebeu do jornal “A Gazeta Esportiva” a Taça dos Invictos, por ter ficado 17 partidas consecutivas sem perder. Foi um acontecimento que jamais será esquecido não só pelo torcedor da veterana, com também de todo povo limeirense, pois a Internacional de Limeira, foi o primeiro clube do interior a sagrar-se Campeão Paulista de Futebol.

FINAL DE CARREIRA

              Depois que deixou a Inter de Limeira, começou uma peregrinação pelos clubes brasileiros. Jogou no Aymoré, depois foi para o Bragantino em 1988, onde foi campeão da segunda divisão, depois foi para o Guarani de Venâncio Aires em 1990, onde ajudou o clube a retornar para a elite do futebol gaúcho, ao ficar com o vice-campeonato. Após a bem sucedida carreira de quase 20 anos e distante de Santa Cruz do Sul, cidade de colonização alemã, retornou ao Esporte Clube Avenida, para pendurar as chuteiras aos 37 anos, no mesmo clube onde tudo começou.

              Aos 55 anos, (completará amanhã) o ex-ponteiro, lateral-esquerdo e zagueiro, hoje um aposentado que mostra não ter preocupação com os muitos quilos a mais adquiridos após abandonar a carreira, dedica-se a acompanhar atentamente a ascensão do filho Fabian Guedes, 28 anos, o zagueiro Bolívar, titular do time do Inter, de Porto Alegre, onde também é conhecido pelo mesmo nome do pai. O Bolívar filho já possui títulos importantes como os Campeonatos Gaúchos de 2004, 2005 e 2009, Copa Libertadores da América e Mundial Interclubes em 2006 e Copa Sul-americana de 2008, todos conquistado atuando pelo Internacional, arqui-rival do Grêmio aonde o seu pai se destacou como jogador.

              Além do filho Fabian, Bolivar tem também a Tatiana, 36 anos, Marcel 32 e Monize com 21 anos de idade. “Todos são colorados, menos eu. Mas quando vi o Fabian conquistando o Mundial, não segurei e me fardei de vermelho. Foi uma emoção que não dá para descrever.” – conta Bolívar cheio de emoção.  A filha mais nova, Monize, é zagueira no futsal e às vezes até a chamam de Bolívar. Curtindo o seu momento “nada por fazer” em Santa Cruz do Sul, cidade do interior gaúcho localizada a 155km de Porto Alegre, Bolívar diz que tem uma vida tranquila, sem muitas mordomias, mas com o suficiente para curtir uma cervejinha e comer um suculento churrasco nos finais de semana, ao lado da família e dos netos Nicolas, 5, Kevin, 6, e Tales, 9 anos. “Daí acho que pode surgir mais um jogador”, aposta Bolivar. Reconhecendo que no seu tempo de atleta os contratos e os salários eram bem menores, Bolívar diz que ainda assim conseguiu investir e hoje vive com os rendimentos de alguns imóveis adquiridos em Porto Alegre e em Santa Cruz (RS) e assim, Bolívar, o xerife de 86, vive sossegado ao lado de sua família.

Eurico, Cejas, Jerônimo, Beto Fuscão, Ancheta e Bolívar    –     Agachados: Zequinha, Neca, Alcino, Alexandre Bueno e Ortiz
Em pé: Moacir, Juarez, Manguinha, Pecos, João Luiz e Bolivar    –    Agachados: Kita, Tato, João Batista, Lê e Carlos Silva
Em pé: Silas, João Luiz, Bolivar, Juarez, Manguinha, Pecos e Kita     –    Agachados: Tato, Gilberto Costa, João Batista e Gilson Gênio
Em pé: Badeco, Mendes, Alexandre Pimenta, Moacir, Bolívar e Calegari    –     Agachados: Antonio Carlos, Enéas, Tata, Alexandre Bueno e Alcino
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