BRITO: campeão mundial com nossa seleção em 1970

                Hércules Brito Ruas nasceu dia 9 de agosto de 1939 no Rio de Janeiro. A trajetória de Brito no futebol, que duraria bem mais e seria muito mai relevante do que ele próprio esperava, começou em 1955. O garoto que atuava tanto na zaga como no meio de campo, foi descoberto no Fleixeiras, mesmo time pelo qual o maior lateral esquerdo brasileiro da história, Nilton Santos, começou a carreira.  O começo foi meio ao acaso.

VASCO DA GAMA

               Um funcionário da Aeronáutica, fanático pelo Vasco da Gama, Sr. Valter, gostou do futebol de Brito e teve a ideia de apresentá-lo ao seu clube do coração. Em São Januário, Brito seria aprovado como zagueiro e daria seus primeiros passos como profissional. Mal podia imaginar Valter, muito menos o próprio Brito, que seriam duas passagens e 13 anos vestindo a camisa cruzmaltina. A primeira delas entre 1955 e 1958, e a segunda, entre 1959 e 1969.  O bom futebol apresentado  no  Vasco  e  os  títulos  estaduais  de  1956  e  58  fizeram despertar o interesse de outros grandes clubes pelo futebol de Brito, como o Internacional de Porto Alegre, que o levou com apenas 20 anos de idade.  Sem conquistar nenhum título no Rio Grande do Sul, Brito retornou ao Vasco no ano seguinte.

              Em 1959, já com a credencial de ter atuado por dois grandes clubes e diante de duas das maiores torcidas do país, aos 21 anos, o jovem zagueiro era considerado experiente e confiável para um jovem jogador. O estilo sério seria mantido por toda a carreira, marcada pela dedicação que se sobrepunha de técnica apurada. Brito conquistou os torcedores vascainos numa época de vacas magras do clube de São Januário. Entre 1959 e 1969, período em que o zagueiro se firmou como um dos principais ídolos do Vasco e um dos atletas que mais se identificavam com as tradições cruzmaltinas, o time não conquistou nenhum título, embora tivesse um grande time no ano de 1962, que era assim formado; Humberto, Paulinho Almeida, Brito, Barbosinha e Dario; Nivaldo e Lorico; Sabará, Saulzinho, Vevé e Da Silva.

              Em 1969, Brito trocou São Januário pela Gávea. Em 1970, único ano em que atuou como titular do Flamengo, o Vasco foi campeão carioca. Coincidência negativa à parte, mas aquele ano seria o melhor da vida de Brito. A transferência do Vasco para o Flamengo, foi vista com desconfiança pelos torcedores de ambas as equipes. A rixa entre os dois clubes sugeria que Brito não seria bem recebido na Gávea, ao mesmo tempo em que poderia ficar marcado como “traidor”, após dez anos de São Januário. A conquista do estadual do Vasco, sem Brito em 1970, era mais um forte indício de que a temporada não seria das mais favoráveis ao já experiente zagueiro de 32 anos.

SELEÇÃO BRASILEIRA

              Em 1966, foi convocado por Vicente Feola para disputar o Mundial da Inglaterra. Foi titular da equipe que não conseguiu fazer uma boa campanha, pois foi eliminada ainda na primeira fase, vencendo só o primeiro confronto contra a fraquíssima Bulgária por 2 a 0 e depois vieram as duas derrotas para Hungria e Portugal, ambas por 3 a 1. Em 1969 a vida de Brito começaria mudar quando João Saldanha o convocou para as eliminatórias da Copa do México.  Na reserva, era considerado “azarão” para ficar entre as chamadas “Feras de Saldanha”.  Mas não desanimou, pelo contrário, sempre brigou por uma vaga no time titular. Quando Saldanha saiu e entrou Zagallo, a vida do zagueiro mudou, pois no primeiro treino da seleção, Brito foi escalado como titular.

             E mais, por muitas vezes, foi elogiado pelo treinador, como o jogador mais bem preparado fisicamente do país e, isto se confirmou durante o mundial, pois foi considerado o jogador de melhor preparo físico de todo aquele mundial.  Durante a Copa, foi titular absoluto e juntamente com Pelé, Rivelino, Gerson, Jairzinho, Tostão, Piazza e o capitão Carlos Alberto, lá estava Brito recebendo a Taça Jules Rimet, pois o Brasil era Tricampeão Mundial de Futebol, um título que o brasileiro jamais esquecerá, principalmente o zagueiro Brito, que foi muito criticado por estar no meio de tantas estrelas.

              Em 1971, deixou o Flamengo após uma briga com o técnico Yustrich. Então foi jogar no Botafogo. Na condição de zagueiro tricampeão mundial, Brito chegou com pompa em General Severiano, mas lá dava sinais de que a carreira voltaria a ter novos problemas, pois num clássico contra o Vasco, Brito deu um soco no estômago do árbitro José Aldo Pereira e isto lhe custou um gancho de várias partidas. Com isto, Brito sentiu que seu ciclo no futebol carioca estava encerrado e tentou a sorte em Minas Gerais, jogando no Cruzeiro.  Por lá as coisas melhoraram e muito, pois foi bicampeão estadual em 1972 e 1973 ao lado de seus ex companheiros de seleção Wilson Piazza e Tostão e ainda Dirceu Lopes, Zé Carlos e Palhinha, o nosso zagueiro voltou a brilhar. Mas em 1974 resolveu partir para um desafio ainda maior. Jogar em São Paulo, mais especificamente no Sport Clube Corinthians Paulista, que nessa época já estava a vinte anos sem ganhar um título estadual. 

CORINTHIANS

               Brito chegou ao Parque São Jorge ganhando 11 mil cruzeiros mensais. Sabia que a responsabilidade seria muito grande, pois a torcida corintiana estava ansiosa por um título e juntando-se ao seu ex-companheiro de seleção, Roberto Rivelino e outros craques como Zé Maria e Wladimir, o alvinegro de Parque São Jorge tinha grandes chances de conquistar o tão ambicionado título, fazendo assim, a Fiel torcida voltar a sorrir.  Sua estréia com a camisa corintiana aconteceu na segunda rodada do primeiro turno do Campeonato Paulista,  dia 11 de agosto de 1974, quando o Corinthians enfrentou o Marília no estádio Bento de Abreu Vidal e venceu por 1 a 0, gol de Pita aos 13 minutos do segundo tempo. Brito disputou o Campeonato Paulista de 74 como titular absoluto, chegando a final contra o Palmeiras.  O título era uma verdadeira obsessão pela Fiel torcida corintiana. Mesmo com uma equipe não muito brilhante, criou-se uma expectativa em relação as possibilidades da conquista do título daquele ano.  O primeiro turno o Corinthians faturou e garantiu a vaga na decisão contra seu maior rival, o Palmeiras.  A decisão do título aconteceu em duas partidas.

              Após um empate de 1 a 1 na primeira partida, veio o segundo jogo no dia 22 de dezembro de 1974, quando o Morumbi recebeu um público de 120.522 pessoas para assistirem a grande decisão. O técnico corintiano Silvio Pirilo, mandou a campo neste dia a seguinte escalação; Buttice, Zé Maria, Brito, Ademir e Wladimir; Tião e Rivelino; Vaguinho, Lance, Zé Roberto e Adãozinho. Foi um domingo triste para Brito e para a torcida corintiana, principalmente aos 24 minutos do segundo tempo, quando Ronaldo fez o único gol da partida, aquele que daria o titulo estadual ao Palmeiras.  Brito sempre se refere à passagem pelo Corinthians como a maior frustração de sua carreira, ao mesmo tempo em que não esconde o carinho que sente pela torcida alvinegra.  No início do ano seguinte, a diretoria corintiana enxugou o elenco e se desfez de vários jogadores, entre eles Brito, Rivelino e Vaguinho. Jogando pelo Corinthians, Brito disputou 29 partidas. Venceu 12, empatou 7 e perdeu 10. Não marcou nenhum gol a favor, mas um contra e justamente contra o Palmeiras no dia 15 de dezembro de 1974.

FINAL DE CARREIRA

              Já em fim de carreira, com quase 40 anos, Brito teve uma breve passagem pelo Atlético Paranaense, em 1975, clube pelo qual também não conquistou títulos expressivos.  Depois disso, deixou os gramados brasileiros e foi atuar em seu último ano como profissional no Lecastor, do Canadá, onde encerrou definitivamente sua carreira de jogador de futebol. Depois de pendurar as chuteiras, aproveitou para fazer vários cursos específicos para treinador de futebol e se formou pela Federação Canadense.  Como técnico, dirigiu entre outros, o Bonsucesso do Rio de Janeiro, o Ceilandia do Distrito Federal e o Sampaio Correa do Maranhão. Seu maior momento na nova atividade se deu quando assumiu o Cruzeiro em 1982.

Brito era um zagueiro que não brincava em serviço, jogava sempre sério e compensava a limitação técnica com muita garra. Muita gente falava do Brito, da zaga improvisada, do Félix no gol. Alguns maldosos chegavam a dizer que Brito destoava o time de estrelas da seleção brasileira vencedora da Copa do Mundo de 70, no México. Mas ninguém se lembra das belíssimas partidas feitas por ele naquele mundial. O pessoal lá atrás era muito importante para Pelé, Tostão, Jairzinho, Gerson e Rivelino que desequilibravam na frente.  Brito deixou inúmeros amigos dentro do futebol, pois fora de campo era uma pessoa de bom relacionamento, fazia amizade com facilidade. Dentre os inúmeros amigos, Brito jamais esquecerá de Fontana, que foi seu companheiro de clube, quando jogava no Vasco da Gama.

             Brito tinha em Fontana, um verdadeiro irmão.  Brito mora atualmente no Rio de Janeiro, tem um filho e três netos. Gosta de assistir futebol pela televisão e raramente vai ao estádio.  Com 73 anos de idade, Brito relembra de seu passado com muito orgulho, pois fez parte de lindos momentos do nosso futebol brasileiro. Participou de duas Copas, foi campeão numa delas e em vários clubes que passou, enfim, escreveu com letras de ouro a sua história no futebol.

Em pé: Carlos Alberto, Brito, Piazza, Félix, Clodoaldo e Everaldo     –    Agachados: Jairzinho, Rivelino, Tostão, Pelé e Paulo César
Em pé: Orlando, Manga, Brito, Denilson, Rildo e Fidelis    –    Agachados: Jairzinho, Lima, Silva, Pelé e Paraná
Em pé: Murilo, Manga, Brito, Fontana, Oldair e Roberto Dias     –    Agachados: Garrincha, Alcindo, Silva, Fefeu e Rinaldo
Em pé: Zé Maria, Nilton, Brito, Ado, Baldochi e Wladimir    –     Agachados: Vaguinho, Lance, Zé Roberto, Rivelino e Adãozinho
Em pé: Zé Maria, Buticce, Tião, Brito, Ademir Gonçalves e Wladimir     –   Agachados: Vaguinho, Lance, Zé Roberto, Rivelino e Adãozinho

 

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