CLÓVIS: um dos zagueiros que mais sofreu com Pelé

               Clóvis Guimarães Queiroz nasceu dia 26 de dezembro de 1940, na cidade de Santos – SP. Começou na Portuguesa Santista, depois jogou no Corinthians de 1962 até 1969, passou pelo Vasco da Gama e encerrou a carreira no Jalisco de Guadalajara, no México. Depois que encerrou a carreira de jogador de futebol, já trabalhou em diversos segmentos, inclusive já foi proprietário de uma padaria. O único título que conquistou em toda sua carreira, foi o de campeão carioca em 1970, quando jogava pelo Vasco. Pelo Corinthians, clube pelo qual jogou mais tempo, só conquistou o Torneio Rio-São Paulo de 1966, assim mesmo, teve que dividir o título com mais três clubes, o Santos, o Botafogo e o Vasco, pois foram os quatro que iriam disputar o quadrangular final para conhecermos o campeão, no entanto, como já estávamos próximos da Copa do Mundo da Inglaterra daquele ano e para não atrapalhar a preparação da nossa seleção, o título acabou ficando com os quatro clubes. Outro detalhe de sua carreira, foi que não marcou nenhum gol.

PORTUGUESA SANTISTA

               Clóvis começou sua carreira no juvenil da Portuguesa Santista, depois passou para o profissional. Jogou na equipe da baixada santista até 1961, ano em que a equipe foi rebaixada para a segunda divisão do futebol paulista, pois dos 60 pontos que disputou, conquistou somente 12. Disputou 30 partidas, venceu 5, empatou 2 e perdeu 23. Marcou 31 gols e sofreu 69. Realmente uma campanha ridícula e a equipe daquele ano era a seguinte; Claudio, Adelson, Dé, Alberto, Clóvis, Edson; Vanderley, Teotônio, Artof, Peniche e Wellis. O técnico era Pixu. Este foi o time que enfrentou o Corinthians no dia 7 de outubro de 1961, pelo segundo turno do Campeonato Paulista. O jogo foi no Pacaembu e o jogo terminou com a vitória corintiana por 1 a 0, gol de Beirute aos 35 minutos do primeiro tempo. 

CORINTHIANS

               Mesmo com a equipe da Portuguesa Santista sendo rebaixada, Clóvis se destacou com um grande zagueiro e isto chamou a atenção dos dirigentes do Corinthians, que tratou logo de contrata-lo, mesmo porque, o alvinegro de Parque São Jorge também não fez um bom campeonato naquele ano. No Campeonato Paulista de 1961 o Corinthians fez uma campanha ridícula e os rivais de brincadeira acabaram apelidando o time de “Faz Me Rir”, tanto é que perdeu as cinco primeiras partidas do campeonato. E para piorar a situação, sofreu uma goleada de 5 a 1 para o Santos no dia 16 de agosto e outra de 7 a 0 para a Portuguesa de Desportos dia 15 de novembro. Com isto, o Corinthians terminou o campeonato em 7º lugar com 33 pontos. Disputou 30 jogos, venceu 12, empatou 9 e perdeu 9. Marcou 49 gols e sofreu 48. O campeão foi o Santos e o artilheiro da competição foi Pelé, com 47 gols.

               Clóvis estreou com a camisa alvinegra dia 18 de fevereiro de 1962, quando o Corinthians enfrentou a Portuguesa de Desportos pelo Torneio Rio-São Paulo. O jogo foi no Pacaembu e neste dia o técnico Martim Francisco, do Corinthians, mandou a campo os seguintes jogadores; Aldo, Augusto, Clóvis, Ari Clemente e Oreco; Ferreirinha e Rafael; Espanhol, Bataglia, Nei e Gelson. O jogo terminou com a vitória corintiana por 3 a 2, gols de Gelson (2) e Nei, enquanto que para a Lusa do Canindé marcaram, Nardo e Silvio. Naquele ano o Corinthians fez um bom Campeonato Paulista, ficando em segundo lugar, perdendo o título para o Santos, que na época tinha o melhor time do planeta.

               O Santos disputou 30 partidas. Venceu 23, empatou 5 e perdeu somente duas vezes, uma contra a Portuguesa de Desportos por 3 a 2 no dia 6 de outubro e a outra contra a Esportiva de Guaratinguetá por 2 a 1 no dia 8 de dezembro, mas esta derrota tem dois motivos, o primeiro é que neste dia o Peixe jogou com um time misto, pois três dias depois iria fazer um jogo amistoso contra a Seleção da Rússia, no qual o Santos venceu por 2 a 1 e segundo porque o Santos já era o campeão paulista daquele ano, algo que conquistou com quatro rodadas de antecedência. O Santos conquistou o título com 11 pontos de diferença do segundo colocado que foi o Corinthians.

              Dos 60 pontos disputados (naquela época uma vitória valia 2 pontos), conquistou 54, um aproveitamento de 82,22%. Marcou 102 gols e sofreu 31, ficando com um saldo positivo de 71 gols. Por tudo isso, o Santos foi o legítimo campeão paulista. Logo em seu primeiro ano de clube, Clóvis sofreu uma grave contusão, retornando em definitivo apenas no final de 1963.

PELÉ EM SUA VIDA

               Sem dúvida alguma, Clóvis foi um dos zagueiros que mais sofreram com o Pelé, pois pegou o Rei na melhor fase de sua carreira e foi também, aquela época em que o Corinthians não vencia o Santos em Campeonatos Paulista. Teve um jogo inclusive e isto posso afirmar, pois eu estava lá, foi no ano de 1965, quando Corinthians e Santos fizeram um jogo pelo Campeonato Paulista no Estádio do Morumbi, que ainda não estava acabado, uma época que o torcedor do São Paulo não gosta de lembrar, pois a diretoria do clube só pensava na construção do estádio e esquecia do departamento de futebol, com isto, o Tricolor ficou 13 anos sem conquistar um título sequer.

               Mas voltemos ao clássico alvinegro. Este jogo aconteceu dia 29 de agosto e neste dia o Corinthians jogou com; Marcial, Galhardo, Eduardo, Clóvis e Edson; Dino Sani e Rivelino; Marcos, Flávio, Geraldo José e Gilson Porto. O técnico era Osvaldo Brandão. Era um domingo de sol, e ver o Santos de Pelé era ao mesmo tempo fascinante e tenebroso para os corintianos. Começou o jogo e Pelé sofria uma marcação dura de um dos melhores zagueiros que o Corinthians já teve, Clóvis. Alto, elegante, cabelos claros ondulados, Clóvis seguia Pelé onde quer que ele fosse.

                Mas, naquele domingo, vi encantado e horrorizado Pelé deixar subitamente o grande zagueiro paralisado. Pelé estava no lado esquerdo, perto da linha do meio de campo, e Clóvis atrás dele. Um jogador do Santos esticou, lá de trás, a bola em linha reta para Pelé. Ele não tinha espaço, não tinha ação, não tinha o que fazer de perigoso com Clóvis, vigilante como um segurança de boate, atrás dele. Mas para surpresa de todos nós, e talvez dele mesmo, Pelé, quando a bola chegou a ele abriu as pernas e saiu correndo atrás dela, que passara invisível pelas pernas de Clóvis. Pelé apanhou a bola já perto da área do Corinthians, pela esquerda, avançou com suas passadas atléticas até a pequena área e, na saída do goleiro, rolou-a, generoso, para Dorval, que vinha de trás e apenas a empurrou para dentro.

                Quando Clóvis, um ótimo zagueiro, entendeu finalmente o que estava ocorrendo, a bola já estava na rede. Aquele lance foi uma das coisas mais lindas que vi em minha vida, e não apenas no futebol. Em segundos, Pelé mostrou virtudes múltiplas e incomparáveis: o improviso, a inteligência, a simplicidade, o vigor e por fim, ao empurrar a bola para Dorval, o espírito de equipe. Se você olhar a súmula daquele jogo remoto, aparecerá ali Dorval como o autor do gol, mas quem fez tudo mesmo foi Pelé. E o Clóvis, ah o pobre Clóvis só restou cumprimentar o Rei.  O jogo terminou com a vitória santista por 4 a 3, gols de Pelé (2), Dorval e Abel para o Santos e Flávio (2) e Marcos para o Corinthians.

               Ainda sobre Pelé, Clóvis também teve momentos de alegria ao lado do Rei. Em seus tempos de Exército, no Vale do Paraíba (SP), jogou no mesmo time de Pelé, já que ambos serviram juntos, e lá chegou a conquistar o campeonato militar sul-americano, disputado no Rio de Janeiro. Outra alegria foi na quebra do tabu, em que o Corinthians ficou 11 anos sem vencer o Peixe em Campeonatos Paulista, mas dia 6 de março de 1968, Clóvis que entrou na segunda etapa, vibrou de alegria ao derrotar o Santos de Pelé por 2 a 0. Com a camisa do Alvinegro do Parque São Jorge, Clóvis atuou em 212 jogos (114 vitórias, 49 empates, 49 derrotas) e não marcou nenhum gol.

A DESPEDIDA

                A última partida que o zagueiro Clóvis fez com a camisa alvinegra foi no dia 21 de maio de 1969, quando o Corinthians enfrentou o XV de Piracicaba pelo Campeonato Paulista no Parque São Jorge.  A torcida corintiana ainda vivia a tristeza pela perda dos jogadores Lidu e Eduardo, que haviam falecidos a menos de um mês num grave acidente automobilístico. Para este jogo contra o time de Piracicaba, o técnico Dino Sani do Corinthians, escalou a seguinte equipe; Diogo, Alvacir, Ditão, Clóvis e Pedro Rodrigues; Tião e Rivelino; Buião (Louro), Servilio, Adnan (Joel) e Reinaldo. O jogo terminou empata em 2 a 2, com dois gols de Rivelino, enquanto que Jair Bala e Afonso, marcaram para o time do interior.

              Ao deixar o Parque São Jorge, Clóvis foi jogar no Vasco da Gama, onde sagrou-se campeão carioca em 1970. Depois foi jogar no Jalisco de Guadalajara, México, onde encerrou sua carreira. Depois disto passou a trabalhar em diversos setores, como por exemplo, passou a exercer a profissão de advogado, na qual era formado. Trabalhou também como corretor de imóveis, como gerente de um restaurante na zona sul da capital paulista, de propriedade de seu amigo Roberto Rivelino e também teve uma padaria em Caraguatatuba, litoral norte do estado de São Paulo.

               Para quem não sabe, Clóvis é irmão do cantor Luiz Américo, que fez muito sucesso em 1974, principalmente durante a Copa do Mundo daquele ano, quando gravou a música “Camisa 10”, cuja letra fazia uma sátira da nossa seleção e pedia para que Zagallo colocasse um ponta na equipe. Clóvis vestiu a camisa da Seleção Brasileira somente uma vez, foi no dia 16 de novembro de 1965, quando o Corinthians representou o Brasil num jogo amistoso contra o Arsenal, da Inglaterra. O jogo terminou 2 a 0 para os ingleses. Neste jogo o Corinthians jogou com a camisa azul da Seleção Brasileira. Justamente esta azul, que a Nike lançou como uniforme nº 3 para o Corinthians.

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Em pé: Dino Sani, Galhardo, Edson, Clóvis, Eduardo e Heitor    –     Agachados: Marcos, Rivelino, Flávio, Airton e Geraldo José
Em pé: Dirceu Alves, Lidu, Carlos, Clóvis, Edson e Diogo    –    Agachados: Paulo Borges, Adnan, Benê, Rivelino e Eduardo
Em pé: Jair Marinho, Dino Sani, Marcial, Edson, Clóvis e Eduardo     –    Agachados: Marcos, Rivelino, Geraldo José, Flávio  e Gilson Porto
Em pé: Esnel, Cláudio Cortegiano, Clóvis, Vicente, Roberto, Gilberto e o massagista Bianchi    –     Agachados: massagista Santana, Adamastor, Paulinho, Ademar Pantera, Bibe e Neves
1970 – Em pé: Andrada, Alcir, Clóvis, Moacir, Eberval e Fidélis    –   Agachados: Pai Santana, Jáilson, Buglê, Valdrido, Silva e Gílson Nunes
Em pé: Clóvis, Marcial, Edson, Galhardo, Eduardo e Maciel    –     Agachados: Marcos, Rivelino, Ayrton, Flávio  e Gilson Porto
Em pé: Clóvis, Galhardo, Marcial, Dino Sani, Edson e Eduardo    –     Agachados: Marcos, Rivelino, Ayrton, Flávio  e Geraldo José
Em pé: Jair Marinho, Marcial, Clóvis, Galhardo, Edson e Dino Sani   –     Agachados: Marcos, Rivelino, Flávio, Nair e Gilson Porto
Seleção Paulista de 1965   –    Em pé: Djalma Santos, Lima, Dias, Clóvis, Ditão e Suly   –    Agachados: Mário Américo, Dorval, Prado, Ademar Pantera, Nair, Rinaldo e o massagista Jair
1967  –  Em pé: Oswaldo Cunha, Ditão, Barbosinha, Clóvis, Dino Sani e Maciel    –    Agachados: Bataglia, Prado, Silvio, Rivelino e Gílson Porto
1968  –  Em pé: Jair Marinho, Dino Sani, Ditão, Marcial, Clóvis e Maciel    –    Agachados: Bataglia, Rivelino, Silvio, Flávio e Gilson Porto
Em pé: Oswaldo Brandão, Marcial, Clóvis, Maciel, Galhardo, Edson, Dino Sani, Eduardo e Heitor    –     Agachados: Jair Marinho, Nei, Rivelino, Marcos, Flávio, Geraldo José e Gilson Porto
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