Maximiliano Rodrigues Lopes nasceu dia 27 de dezembro de 1951, na cidade de Vicente de Carvalho – Litoral Paulista. Defendeu a Portuguesa de Desportos na década de 70 e era mais conhecido pela torcida lusitana como Xaxá. Sua habilidade e seus belos dribles marcaram uma geração de torcedores que carinhosamente o apelidaram de Super Xaxá. Era um ponta direita e ia na linha de fundo e cruzava para a área, sempre atormentando os zagueiros adversários. Hoje, longe do Brasil há mais de 10 anos ainda é muito lembrado pelos torcedores da Lusa e de todos que tiveram a felicidade de ver o futebol paulista daquela época, por isso, merece ser lembrado por todos nós, pois ele faz parte da história viva do nosso futebol.
INÍCIO DE CARREIRA
Xaxá começou no futebol muito cedo. Morava no Guarujá, mas aos 16 anos foi morar no Parque São Jorge junto com os jogadores amadores e profissionais do Corinthians. Apesar de ser muito bem recebido, não se acostumou com a rotina do clube, teve saudades da família e ficou apenas 4 meses no Parque São Jorge, foi embora praticamente sem ninguém saber. Com 17 anos ele já jogava pelo time profissional da Portuguesa Santista. Nessa época, Santos e São Paulo estavam interessados no seu futebol.
Chegou a treinar no Morumbi por um dia junto com Gerson, Pedro Rocha e vários outros jogadores, mas a negociação não vingou. A Portuguesa Santista queria uma quantia significativa em dinheiro e os outros clubes queriam apenas negociar com trocas entre jogadores. Ainda pela Portuguesa Santista fez um jogo contra o Botafogo de Ribeirão Preto, no qual marcou 4 gols. Quem estava assistindo o jogo era João Avelino que na época era o técnico da Portuguesa de Desportos, o qual fez questão que a Lusa o contratasse.
PORTUGUESA DE DESPORTOS
Logo depois que chegou na Lusa, começaram alguns jogos amistosos. Nessa época o Ratinho era titular, dono de um chute forte, certeiro. Junto com Xaxá chegaram outros jogadores: Fogueira, Cabinho, Calegari e Piau. Logo depois o João Avelino começou a montar a equipe. A torcida sempre foi muito atenciosa com Xaxá. Foi uma época muito boa na sua carreira, onde o presidente Osvaldo Teixeira Duarte o tratava como um filho. Isto foi em 1970. O relacionamento com todo o grupo era ótimo. Nessa época, a Portuguesa arrumou uma chácara no bairro do Rio Pequeno e levou praticamente todo o elenco para treinar e morar lá, inclusive jovens dos juniores da Lusa. Enéias, Wilsinho, Isidoro, Cardosinho, Dárcio, Deodoro, Feitosa, Arenque, Carioca (goleiro) e jogadores experientes como Marinho Peres, Lorico, Ratinho, Orlando (goleiro), todos tinham o seu quarto e o clima era amigável.
A NOITE DO GALO BRAVO
Tudo aconteceu porque a Lusa perdeu para o Santa Cruz, de Recife, no campeonato nacional por 1 a 0, no Parque Antártica. Xaxá estava machucado e não jogou, mas mesmo assim o Lorico o chamou e foram juntos para o Canindé, no caminho Lorico virou para Xaxá e disse: “Alguma coisa vai acontecer!”. Xaxá ficou assustado e realmente aconteceu, o presidente mandou embora o Lorico, o Samarone, Marinho Peres, Hector Silva, Piau e o Ratinho. Depois daquela noite é que a base do time de 1973 começou a ser montada.
CAMPEÃO PAULISTA DE 1973
No dia 26 de agosto de 1973, Santos e Portuguesa de Desportos decidiram o título paulista nos pênaltis, uma vez que no tempo normal, houve empate de 0 a 0. E mesmo com a prorrogação, o placar continuou em branco. Esta foi a primeira decisão por pênaltis da história do futebol paulista. De cara, os dois times desperdiçaram, Zé Carlos para o Peixe e Isidoro para a Lusa, Zero a zero. Na sequência, o Santos marcou através de Carlos Alberto e a Portuguesa pelo jogador Calegari desperdiçou mais uma vez . Um a zero para o Peixe. Na cobrança seguinte, o Santos voltou a marcar através de Edu e a Portuguesa perdeu pela terceira vez, quando Wilsinho chutou no travessão. Dois a zero para o time da Vila Belmiro.
Ainda faltavam cobrar Pelé e Leo para o Santos e Cabinho e Basílio para a Portuguesa, mas, para espanto de todos, Armando Marques ergueu os braços e encerrou a partida dando vitória ao Santos. Os santistas nem perceberam que ainda faltavam duas cobranças para a Lusa e duas para o Peixe, o que poderia terminar empatado em 2 a 2, então começaram a comemorar o título. Oto Glória, técnico da Lusa, percebeu o erro e ponderou que seu time tinha poucas chances de reverter a situação. Antes que seus jogadores fizessem algum tipo de reclamação, mandou todo mundo para o vestiário e, de lá, direto para o ônibus, para que o árbitro não tivesse oportunidade de reparar a sua falha.
Enquanto isso, a imprensa invadiu o campo para entrevistar os jogadores, como é de praxe ao final das partidas. Os poucos que perceberam o erro espalharam a notícia. Logo, o comentário chegou aos ouvidos de Armando Marques. Conforme o previsto por Oto Glória, ele foi realmente ao vestiário pedir para que o time voltasse a campo, mas não havia mais ninguém por lá, os jogadores haviam ido embora, mesmo sem tomar banho. Com isto a Federação Paulista de Futebol, proclamou os dois clubes como campeões daquele ano, tudo por causa de um erro aritmético do árbitro Armando Marques. Neste dia a Portuguesa jogou com; Zecão, Cardoso, Pescuma, Calegari e Isidoro; Badeco e Basílio; Xaxá, Enéas, Cabinho e Wilsinho. A equipe da Vila jogou com; Cejas, Carlos Alberto, Vicente, Turcão e Zé Carlos; Clodoaldo e Leo; Jair da Costa (Brecha), Eusébio, Pelé e Edu.
Xaxá conta como foi aquele dia “Assim que Armando Marques ergueu os braços e deu por encerrada a disputa dos pênaltis, todos nós jogadores ficamos de cabeça baixa no campo chorando. Aí diretores, massagista, roupeiro, todos dentro do campo nos tirando do gramado rapidamente sem dar entrevista, mesmo porque os repórteres só procuravam os jogadores do Santos. Fomo direto ao vestiário e saímos rapidamente para o ônibus que também saiu bem rápido do estádio. A torcida do Santos nas ruas comemoravam mais um título. Nós jogadores não sabíamos de nada do que estava acontecendo, inclusive estávamos ouvindo a Rádio Bandeirantes, quando o repórter Roberto Silva, que era conhecido por Olho Vivo, levantou a lebre de que as contas o árbitro estava errada, pois ainda faltavam duas cobranças nossa e o Santos poderia errar a que faltava.
Foi aí que começou uma grande confusão, pois já estávamos longe do estádio e não tinha como voltarmos e nem queríamos. Então a Federação reuniu os dois presidentes e deu o título as duas equipes. O nosso prêmio pelo título seria de 24 mil cruzeiros, como fomos só 50% campeão, o prêmio foi de 12 mil cruzeiros”. Com a camisa da Portuguesa de Desportos, Xaxá disputou 230 jogos (94 vitórias, 76 empates e 60 derrotas) e marcou 11 gols. Em 1992 voltou ao Canindé como técnico, mas comandou o time luso apenas em duas partidas.
OUTROS CLUBES
Um ano depois que deixou a Lusa, Xaxá ainda jogou no Juventus, que naquele ano de 1977 o time era assim formado; Miguel, Arnaldo, Polaco, Deodoro e João Carlos; Tião, Eloi e Ivan; Xaxá, Serginho e Wilsinho. O técnico era Milton Buzetto. Este foi o time que jogou e perdeu para o Corinthians por 1 a 0 no dia 17 de julho de 1977, o único gol da partida foi anotado por Wladimir. No ano seguinte já estava jogando no Londrina, onde fez um belo campeonato brasileiro pelo Tubarão. Naquele ano, o time paranaense ganhou do Flamengo, do Santos, do Caxias, do Vasco e do Corinthians no Brasileirão e em 1979 vestiu a camisa do Vasco, onde disputou apenas 3 partidas.
Atualmente Xaxá mora em Torrance, Califórnia (EUA), onde é professor de futebol para jovens de até 18 anos. Há mais de dez anos está fora do país, está muito bem por lá, por isso, raramente vem ao Brasil. “Viria mais vezes caso a Portuguesa lembrasse com mais carinho dos ex-atletas que passaram por lá, como faz o São Paulo e outros clubes. Fiz muitos amigos no Canindé, se falar apenas de um, estarei cometendo uma injustiça. Quando jovem a gente nunca pensa que um dia a fama acaba, e quem me ajudou e aconselhou muito na época, foi o Lorico, sempre me orientando para guardar dinheiro, para não sair a noite depois de uma partida e por aí vai.
Lembro de todos com carinho. A Portuguesa para mim foi minha vida, foi minha paixão, foi onde aprendi muitas coisas, foi onde conheci meus amigos no futebol e na colônia lusitana. Tenho saudades da Lusa. É uma pena que hoje eles esqueceram de nós, os antigos jogadores. Antigamente ainda existia uma turma que lembrava e mandava um abraço, hoje não existe mais. Saudades do Wilsinho, do Cardoso, do Isidoro, das risadas do Enéas, do Luizinho, do Badéco, do Mendes… assim me emociono, é difícil viver longe”.