CLÁUDIO COUTINHO: nosso treinador na Copa de 1978

                                      Cláudio Pecego de Moraes Coutinho nasceu no município de Dom Pedrito (RS), em 5 de janeiro de 1939. A família mudou para o Rio de Janeiro quando Cláudio Coutinho ainda era praticamente um bebê. Morando em uma casa confortável no bairro de Copacabana, o menino cresceu sob a batuta disciplinar do pai Aquilles, um oficial de carreira no Exército.

                                      Com muita facilidade para aprender idiomas, na tenra idade já estudava o francês e o inglês. Superprotegido em casa, na hora das broncas tudo sobrava para o irmão Ronaldo. Cláudio Coutinho gostava de praticar esportes, embora nunca tenha apresentado habilidades suficientes para progredir no futebol. Participava das peladas na praia, mas gostava mesmo era de jogar vôlei.

                                     Aluno brilhante e dedicado no Colégio Mello e Souza, Cláudio Coutinho era o orgulho da mãe, dona Ilca. Autodidata, não media sacrifícios nos tempos da Academia Militar das Agulhas Negras (RJ). Na Brigada de Paraquedistas, o gaúcho criado no Rio de Janeiro alcançou o posto de Capitão, época em que também ingressou na Escola de Educação Física do Exército.

                                      Falava o francês com uma fluência invejável, idioma que aprimorou em 1968 ao participar de um congresso nos Estados Unidos. Foi quando conheceu o professor Kenneth Cooper, que prontamente o convidou para conhecer o Laboratório de Estresse Humano na NASA. Estagiou no Botafogo e em 1969 foi lembrado para fazer parte da Comissão Técnica da Seleção Brasileira.

                                      E Cláudio Coutinho colocou em prática os conceitos do professor Cooper. Trabalhou na preparação e prevenção dos efeitos da altitude no futebol, um fator determinante no sucesso canarinho no mundial do México em 1970.

                                      A inovadora metodologia foi questionada por alguns jogadores, que extenuados mostravam uma certa descrença quanto ao falado Teste de Cooper. Pouco depois em Guadalajara, Pelé já estava correndo 3.100 metros sem demonstrar qualquer sinal de cansaço.

                                      Trabalhou no futebol peruano e foi Coordenador Técnico na Copa do Mundo de 1974, uma experiência que potencializou seu leque de conhecimentos ao testemunhar o “futebol total” praticado pela Holanda.

                                      Passou pelo Olympique de Marseille, para em seguida comandar o Brasil nos Jogos Olímpicos de Montreal em 1976. No mesmo ano iniciou sua trajetória no Clube de Regatas do Flamengo. A processo de “europeização” do nosso futebol começou em 1977. Com a saída de Oswaldo Brandão, muitos foram os treinadores cogitados para assumir o comando da Seleção Brasileira.

                                    Confirmado o nome de Cláudio Coutinho, grande parte dos brasileiros foram pegos de surpresa. Para muitos, o treinador do Flamengo era apenas um revolucionário teórico! E foi assim que repentinamente fomos invadidos por palavras pouco conhecidas no conservador mundo da bola; como “overlapping”, “polivalência” e “ponto futuro”.

                                    Cláudio Coutinho estava indo bem até o aparecimento de novas polêmicas. Foi criticado pela ausência de Júnior do Flamengo e de Falcão do Internacional; sem esquecer da discutida escalação do zagueiro Edinho como lateral esquerdo.

                                    Na Copa do Mundo de 1978, assistimos um time “preso”, uma seleção que sabia se defender. Porém, na hora de fazer gols era um verdadeiro tormento! Em matéria especial para a revista Placar de 11 de maio de 1979, Cláudio Coutinho admitiu erros e reconheceu que armou uma seleção defensiva demais.

                                    O problema ofensivo só foi resolvido depois da entrada de Roberto Dinamite contra a Áustria. Dessa forma, o escrete foi caminhando na competição! Só não contávamos com a “marmelada” peruana contra os argentinos. E assim fomos os invictos “Campeões Morais de 1978”.

                                    Ao voltar dos Estados Unidos, Cláudio Coutinho vivia um momento bem diferente de quando assumiu o comando da Seleção Brasileira em 1977. Em busca de privacidade e cansado de falar sobre a Copa de 1978, o número do telefone foi trocado algumas vezes. De fato, a Copa do Mundo foi um divisor de águas em sua carreira!

                                    No mundial da Argentina, Cláudio Coutinho foi chamado de covarde, inventor, medroso, retranqueiro e uma infinidade de outras coisas. Mas o escrete canarinho cresceu muito na competição e até poderia ter ido mais longe, não fosse a famosa marmelada peruana. Em outubro de 1979, o Brasil foi eliminado da Copa América pelo Paraguai com o empate em 2×2 Maracanã. Era o início do fim de Cláudio Coutinho na Seleção Brasileira, onde dirigiu o Brasil em 45 partidas com 27 vitórias, 15 empates e 3 derrotas.

                                      Pelo time da Gávea foram 76 compromissos com 47 vitórias, 20 empates e 9 derrotas. Conquistou o tricampeonato da Taça Guanabara em 1978, 1979 e 1980, o tricampeonato carioca em 1978, 1979 e 1979 “Especial”, além do título brasileiro de 1980. Também foi o responsável pela montagem da equipe que faturou o título da Libertadores da América e do Intercontinental de clubes em 1981.

                                      Seu último trabalho foi no Los Angeles Aztecs dos Estados Unidos. De volta ao Rio de Janeiro, Cláudio Coutinho estava disposto em aceitar um convite para trabalhar na Arábia Saudita. Católico e devoto de Santa Terezinha, o sempre reservado Cláudio Pecego de Moraes Coutinho faleceu em 27 de novembro de 1981.

                                     A fatalidade aconteceu próximo das ilhas Cagarras, quando praticava pesca submarina. Era seu passatempo favorito e o “capitão” contava com muita experiência nesse esporte. Veja abaixo o relato de seu filho sobre a morte de seu pai Claudio Coutinho:

                                    Acordou cedo naquele dia, mas não me levou ao clube. Chegando lá, encontrou o Júnior, ex-lateral do Flamengo. Avisou: “Espera um pouco que vou trazer um peixe. Vamos fazer uma peixada”. Meu pai tinha algumas manias de pescador. Não falava onde era o pesqueiro dele. Naquele dia, apareceu um barco, ele pegou uma carona: “Volta em uma hora e me pega aqui”. Quando o barco voltou, ele não estava esperando no lugar marcado.

                                     Eu sei que eu poderia estar com ele. Com 13 anos, ia direto. Às vezes descia a 20, 30 metros de profundidade. Eu conhecia todos os métodos de mergulho, meu pai me treinou bastante. Naquele dia, ele saiu às 7h, mas eu não sei porque não me chamou. Talvez porque pensava em somente jogar vôlei… Às 2 da tarde acharam o corpo. Estava com um peixe no arpão.

                                     Meu pai foi encontrado segurando a arma. No arpão, uma garoupa dentro da toca. O grande erro dele foi tentar desentocar a garoupa. Quando um peixe grande desses entra, não desentoca de jeito nenhum. Tiveram que quebrar os dedos para tirar a arma. Minha mãe teve dificuldade para botar a aliança por isso.

                                     Ele não tentou abrir o cinto, não largou a arma. Simplesmente apagou. Ele mergulhava em apneia e o oxigênio que ele pegou na superfície ficou circulando pelo corpo e se transformando em gás carbônico.

                                    Ele tinha um retrato de Santa Terezinha que sempre andava na bolsa. Atrás da imagem estava uma formula escrita assim: “CO2 > do que 70% por mililitro de sangue é = carbonarcose”. Meu pai tinha escrito isso antes do que aconteceu.

                                    Um ano antes, morreu o Conrado Malta, campeão mundial de pesca submarina. A gente estava em Angra dos Reis quando chegou a notícia. Meu pai disse que se pudesse escolher um jeito de morrer, escolhia esse. “É uma morte tranquila”, ele falou.

                                   “Ele apagou, desmaiou debaixo d´água. Ele sempre frequentava aquela região das Ilhas Cagarras. Eu sou nadador de águas abertas e já passei várias vezes das Cagarras até Ipanema. Na primeira vez, fiquei um pouco emocionada. Hoje, faço uma prece e entro.

SELEÇÃO BRASILEIRA DA COPA DE 1970    –   Em pé: Claudio Coutinho é o segunda da esquerda para a direita
SELEÇÃO DO CAMPEONATO CARIOCA DE 1978      –       Em pé: Claudio Coutinho, Toninho Baiano, Leão, Abel, Alex, Junior e Carpegiani Agachados: Dé, Adilio, Mendonça, Zico e Guina
Uma das inúmeras homenagens à Cláudio Coutinho
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