URBANO CALDEIRA: o estádio do Santos F.C. leva o seu nome

                  Urbano Villela Caldeira Filho nasceu dia 9 de janeiro de 1890, na cidade de Florianópolis – SC. foi um ser humano de alma notável, um boêmio nato, solteirão, amante da noite, do sereno e das intermináveis serestas ao luar no Largo do Rosário, gostava de praticar esportes e era um destacado folião na época do tríduo de Momo, ocasião em que saía às ruas vestido de mulher com um lenço amarrado na cabeça, violão debaixo do braço e vivia a vida com intensidade e muita alegria.

                 Foi um exemplar funcionário público federal, trabalhou na antiga Alfândega de Santos, no mesmo prédio onde hoje funciona a nova repartição federal, na Praça da República, em Santos. Amava muito, mais muito mesmo o Santos Futebol Clube, diziam os amigos mais íntimos, que o Santos era a sua namorada predileta. Urbano era um sujeito alto, forte, que pisava firme por onde passava, olhando sempre para o alto. Aonde ele ia, ia sempre de bengala e chapéu palheta. Era um cidadão elegante e bem educado,  tinha preferência pela cor branca, usava muitos ternos de linho branco e sapatos da mesma cor. Todos o respeitavam e o admiravam. Foi ele um dos fundadores do Bloco Flor do Ambiente.

SANTOS F.C.

                Quando, um ano apenas de existência, o Santos foi pego de surpresa com o convite para participar do Campeonato Paulista de 1913, o clube saiu desesperado atrás de um técnico. Como expor um grupo desordenado de jogadores à frente dos temidos esquadrões da Capital? Foi aí que na alfândega de Santos encontraram Urbano Caldeira, um catarinense de 23 anos, fama de bom zagueiro no Internacional, Germânia e Associação Atlética das Palmeiras e que em São Paulo fundara o Vila Buarque, no qual fazia de tudo. E assim, ele acumulou as funções de jogador e técnico na equipe santista. “Quem quer jogar bem futebol tem de mostrar que quer”, foi a rápida preleção do jovem técnico antes do primeiro treino. Em seguida, fez os jogadores correrem, matarem a bola e a controlarem. Quando todos pensavam que o castigo já tinha acabado, espalhou os jogadores em um círculo de 50 metros de diâmetro e colocou um tonel bem no centro. A ordem era acertar o tonel com força. Provavelmente nesta tarde, até que o dia morresse, o Santos descobriu seu destino de chutar com precisão, para marcar, ao invés de arrematar para qualquer lado a fim de fugir das derrotas.

               Urbano não foi feliz na estréia do Estadual, pois o Santos sofreu estrepitosa goleada para o Germânia por 8 a 1, porém, três semanas depois, no dia 22 de junho de 1913, levaria a equipe à sua primeira vitória em Campeonatos Paulistas, goleando o Corinthians por 6 a 3. Neste dia o Santos jogou com; Annibal, Arantes e Eurico; Pereira, Ambrósio e Ricardo; Milton, Nilo, Urbano, Arnaldo e Cross. Os gols santistas foram marcados por Milton (2), Arnaldo (2), Ambrósio e Ricardo, enquanto que para o Corinthians marcaram Cesar Nunes, Fabbi e Perez. Durante muitos anos Urbano acumulou funções de jogador e técnico e depois  que  parou  com  o  futebol,  decidiu  treinar  o time principal de seu clube de coração.

TREINADOR

               Como técnico, sua melhor fase foi quando a partir de 1924, montou a equipe que ficou conhecida no ano de 1927, como o time do ataque dos 100 gols, esquadrão esse que tinha: Tuffy, David e Bilu; Alfredo, Hugo e Júlio; Omar, Camarão, Feitiço, Arakén e Evangelista. E foi com este time que o Santos derrotou o Corinthians por 8 a 3 no dia 4 de setembro de 1927, no estádio Palestra Itália pelo primeiro turno do Campeonato Paulista. Depois que esse time se desfez, ele ainda se manteve como treinador da equipe santista e também como vice-presidente, mas sem muito entusiasmo.  Depois, passou a diretor e atuou em várias áreas do clube. Quando dirigiu o patrimônio, sua dedicação ao gramado da Vila Belmiro ia ao extremo de programar a poda da grama para as noites de lua cheia.

A MORTE DE URBANO CALDEIRA

               Tamanho carinho pelo Santos tornou Urbano Caldeira um ídolo natural dos santistas. Quando faleceu, aos 43 anos, foi como se o time tivesse perdido um título com gol no último minuto. Santos e a vizinha São Vicente, onde Urbano morava, viveram um de seus lutos mais profundos. Eram precisamente 20h15m do dia 13 de março de 1933, um dia depois do primeiro jogo profissional no Brasil, em que o Santos foi derrotado pelo São Paulo, na Vila Belmiro, por 5 a 1, quando o telefone tocou na sede do Santos para avisar que Urbano, 20 anos dedicados ao clube, acabara de falecer.

               Depois de uma gripe mal curada e uma pneumonia que contraiu no carnaval carioca, o infatigável Urbano Caldeira deixava o Santos meio órfão naqueles primeiros e inseguros passos do profissionalismo. Centenas de automóveis e cerca de 500 pessoas acompanharam o funeral até o Paquetá, seguindo pela última vez o eterno líder. Nas conversas tristes dos torcedores, a mesma inquietação: o que teria apressado a sua morte? A goleada sofrida em um jogo histórico no qual Araken, um garoto que ele promovera, fizera dois gols pelo adversário, ou o início do profissionalismo, regime que viria matar as últimas ilusões de um coração amador? Com sua morte, até o bloco carnavalesco  Flor do Ambiente, foi extinto pelos amigos em respeito a sua memória.

ESTÁDIO URBANO CALDEIRA

               Em 31 de maio de 1916, uma assembléia geral aprovou a compra de uma área de 16.500 metros quadrados, na Vila Belmiro, entre as ruas Abolição (hoje Princesa Izabel), Guarani (hoje José de Alencar), Tiradentes e Dom Pedro I. E no dia 12 de outubro de 1916, o sonho torna-se realidade com a inauguração da praça de esportes da Vila Belmiro.  O primeiro jogo, no entanto, só aconteceria 10 dias depois, diante do Ipiranga, pelo Campeonato Paulista. O Santos venceu por 2×1, sendo Adolfo Millon Jr. o autor do primeiro dentre os milhares de gols que foram marcados naquele gramado mágico. E que, com o passar dos anos, tornou-se um templo sagrado do futebol internacional.

               Durante anos a fio, o campo do Santos não possuía uma denominação oficial. Era apenas o “Estádio de Vila Belmiro”, bairro que o abriga e que a partir dos anos 60 passou a ser chamada de “Vila mais famosa do mundo”. Tamanha dedicação de Urbano Caldeira pelo Santos F. C. não passou imune às mentes dos cartolas, que dias depois do seu falecimento, concederam seu nome ao estádio, que passou a chamar-se “Estádio Urbano Caldeira”, uma justa homenagem àquele que foi um dos maiores benfeitores do clube em toda sua história. Em 1938, o Santos instituiu que o dia 9 de janeiro (quando nasceu o histórico nome peixeiro) passaria a ser o “Dia de Urbano Caldeira”. Foram 20 anos de total dedicação ao clube. Amor que começou quando foi transferido de São Paulo para trabalhar como escriturário da Alfândega na Baixada Santista. Logo associou-se ao Santos. Caldeira chegou até a plantar árvores e cuidar dos jardins das dependências do Peixe. Seus amigos costumavam dizer que ele acordava Santos FC, passava o dia Santos FC e dormia Santos FC. Seu busto, que fica no alto das sociais da Vila Belmiro, foi inaugurado em 1938.

               O muro do Centro de Treinamentos Rei Pelé, vai se transformar em uma grande obra de arte. Nele serão registradas pinturas de 100 ídolos do Santos, do passado e do presente. O primeiro deles será Urbano Caldeira, ex-jogador, técnico e dirigente, que dá nome inclusive ao estádio da Vila Belmiro. Urbano Caldeira não era santista nem fundador do Santos. Mas, o alvinegro era sua razão de viver, seu ideal. O Santos estava ainda engatinhando, tinha só 8 meses quando Urbano Caldeira aderiu a ele. Trabalhava na limpeza do gramado, na construção da praça de esportes. “Fazia de tudo” como diziam seus amigos. Um dos maiores cronistas esportivos de Santos – De Vaney – assim definiu Urbano Caldeira: “Vivia inteiro para o Santos FC. Suas atividades construtivas, só um livro poderia contar. Seu nome tornou-se símbolo de trabalho, de bem querer, de administração e, principalmente, de crença nos destinos do Santos FC”. O Santos não esqueceu seu soldado das horas difíceis. O Estádio Urbano Caldeira é a maior prova de compreensão e de agradecimento ao seu torcedor nº 1 de todos os tempos. Um dos maiores heróis da história do Santos Futebol Clube completaria 121 anos dia 9 de janeiro de 2011, se estivesse vivo.

               É claro que inúmeros craques que já passaram pelo Santos fizeram com que o nome do clube se tornasse um dos maiores clubes do mundo, exemplo disto é Pelé, mas não podemos esquecer que, o Santos Futebol Clube só alcançou sua história de títulos porque teve, em seus primórdios, a figura célebre de Urbano Caldeira, responsável direto por toda a trajetória de glórias do time santista, por isso, a nossa coluna de hoje faz esta humilde homenagem à este homem que tanto trabalhou em prol deste clube que hoje é conhecido e respeitado no mundo inteiro, por tantos títulos conquistados. Obrigado por tudo Urbano Caldeira, são exemplos maravilhosos como os seus, que nos fazem amar ainda mais o esporte nacional e acreditarmos que ainda há homens dispostos a lutar por um ideal em prol de uma coletividade.

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