SÁVIO: brilhou no Flamengo e no Real Madrid

                          Sávio Bortolini Pimentel nasceu dia 9 de janeiro de 1974, na cidade de Vila Velha (ES). Foi um jogador que misturava velocidade, habilidade e muita técnica, fez sucesso estrondoso no Flamengo e chegou ao estrelado Real Madrid, onde conquistou vários títulos importantes.

                         Começou a dar seus primeiros dribles de canhota aos 12 anos na Desportiva Capixaba. Em 1992, já maior de idade, foi transferido para o Flamengo e tornou-se a principal esperança das categorias de base do Rubro-Negro.

                          Em 1995, ano que o clube carioca completava seu centésimo aniversário, Sávio fez parte do “ataque dos sonhos?, municiando Edmundo e Romário. Ao contrário das expectativas, o Baixinho foi um verdadeiro pesadelo na vida do meio-campista: enciumado pelo sucesso do jovem talento, Romário tentava diminuir os créditos do armador e chegou a intimidá-lo durante uma partida.

                          Em 27 de agosto de 1995, Sávio, Romário e Edmundo jogaram juntos pela primeira vez uma partida oficial. Antes disso, o trio disputou um amistoso contra o Guarani e excursionou pela Ásia e a Europa. O primeiro teste rolou contra o Bragantino, em São Januário. Desiludida após a perda do Carioca para o Flu naquele gol de barriga do Renato Gaúcho, a torcida não deu bola para a badalada comissão de frente: 6.625 pagantes na vitória por 2 x 1, gols de Edmundo e Romário.

                          O que aparentava ser o início perfeito de um ataque dos sonhos virou pesadelo. A contar da partida contra o Bragantino, o Fla disputou 36 partidas oficiais no segundo semestre de 1995. Sávio, Romário e Edmundo atuaram juntos em 12 jogos. Um terço! Ciúmes, falta de técnico, de time do meio de campo para trás e o grave acidente automobilístico protagonizado pelo Animal, no Rio, no fim daquele ano de 1995, transformaram o investimento na maior piada do ano.

                          Das 12 partidas com Sávio, Romário e Edmundo juntos, o Flamengo venceu três, empatou cinco e perdeu quatro. Aproveitamento de 38,8%. Uma estatística, porém, mostra que o ataque tinha, sim, tudo para ser o melhor do mundo. Na dúzia de jogos com o trio em campo, o rubro-negro balançou a rede 13 vezes e sofreu 14. Romário fez sete; Edmundo, três; e Sávio, nenhum. Caçula entre os três, o prata da casa Sávio se intimidou jogando ao lado do Baixinho, eleito melhor do mundo em 1994, e do Animal, que havia conquistado tudo pelo Palmeiras.

                          Sem espaço na Gávea, Sávio foi negociado com o Real Madrid em 1997. No clube merengue, as contusões atrapalharam sua sequência na equipe principal, mas seguia como boa opção no banco de reservas. Em 2003, após conquistar três Ligas dos Campeões pelo Real, o armador foi vendido para o Zagaroza e daí por diante seu rendimento nunca mais foi o mesmo. Em 2010, Sávio retornou ao Brasil e acertou com o Avaí. Sua passagem pelo Leão de Florianópolis durou sete meses e não deixou muitas saudades no fanático torcedor do clube catarinense.

                          Após 18 anos de carreira profissional, Sávio tem motivos de sobra para lembrar com carinho sua vida nos gramados. Com passagens de destaque por Flamengo, seleção brasileira, Real Madrid e outros times da Europa, além de títulos importantes como a Liga dos Campeões e o Mundial Interclubes no Japão, o ex-atacante construiu uma trajetória vitoriosa e ganhou destaque no cenário esportivo na década de 90.

                          No entanto, o esporte que deu projeção, permitiu viagens pelo mundo e uma situação tranquila nos dias atuais já não encanta mais. E Sávio foge sempre que pode de uma bola. “Nem passo perto disso. Não sinto falta de jogar, de participar de pelada, de nada”, garantiu o ex-jogador. “Vivi muito intensamente durante quase três décadas, entre base e profissional. Eram viagens, treinos, concentrações. Hoje nem quero saber. No máximo, uma pelada com família. E se pedirem. Também já não faço isso há muito tempo. Meu negócio agora é jogar tênis, fazer um taekwondo. Estou curtindo mais esses outros esportes, lutas. Fiz até aula. Só não queria competir, mas estava indo bem”,
Além dos títulos e das dificuldades da rotina do futebol, Sávio guarda na memória algumas decepções e mágoas na carreira. E as frustrações não se dão apenas com os resultados dentro do campo, mas também com confusões fora das quatro linhas, como aquelas que dominavam o Flamengo na época do ataque formado por ele, Romário e Edmundo. “Criaram essa coisa de melhor ataque do mundo e isso sempre atrapalhou.

                          Era realmente um grande ataque, mas o resto do time era muito fraco. É só pegar o elenco e olhar. Além disso, era muita bagunça. O fracasso em campo era apenas um reflexo de tudo que acontecia do lado de fora. Todo mundo via aquela zona. Não tinha como dar certo. Tudo era muito difícil. As principais peças do time [Romário e Edmundo] não entendiam que a instituição Flamengo estava acima dos interesses pessoais. Era muita vaidade, muita individualidade. O ego atrapalhou o que o time tinha de melhor. Isso sem falar nos treinos que sempre atrasavam, nas confusões na Gávea. Era complicado”,

                            Sem papas na língua, Sávio só diminui o tom na hora de comentar os desentendimentos públicos que teve com Romário. Em um amistoso realizado no Japão, o jogador chegou a trocar empurrões com o atacante tetracampeão do mundo. “O Romário era assim mesmo. Era o jeito dele. Foi uma discussão normal em campo, mas que acabou ganhando proporções elevadas. Talvez possa ter rolado uma palavra fora do tom, um argumento errado, mas eram coisas normais. Não fico guardando mágoa”.

                             E o Baixinho, hoje deputado federal, não foi o único companheiro ilustre de Sávio, que aproveitou as recordações dos bons tempos na Europa para dar mais uma alfinetada os parceiros da época de Flamengo. “Não posso reclamar de nada. Joguei com muita gente boa por aí. Tive ao meu lado o Roberto Carlos, Raul, Redondo, Seedorf, Figo, Zidane e o Casillas no início da carreira. Aquele time do Real Madrid ganhou tudo. Foram três Champions League e um Mundial. E não era difícil entender. Ao contrário do Flamengo, todos eram muito comprometidos. Era tudo completamente diferente. Ninguém se achava maior que a instituição. Aí ficava fácil jogar”.

                             Da Europa veio ainda a inspiração para as atividades exercidas atualmente. Após anos de estudos e vivência no Velho Continente, Sávio decidiu por abrir uma empresa de investimento imobiliário e gestão financeira. E é justamente no seu novo campo que sobra um pouco de espaço para o futebol. “Também faço a gestão da carreira de alguns atletas que estão começando sua vida, mas nada de querer ser empresário ou ficar tendo participação de 10%, 20% em direitos de jogador.

                             Estou preocupado com a educação destes jovens. Quero poder proporcionar um planejamento. Eu tive isso na minha carreira, observei muito também nos meus anos fora do Brasil e queria repassar. Além disso, tenho duas outras empresas. Meu foco hoje é esse. Quero trabalhar e estudar cada vez mais essas áreas”.

                              E mesmo tomando um rumo diferente de tantos ex-companheiros, Sávio, por mais que tente fugir do esporte que o consagrou, ainda assiste o futebol. E até comenta. O ex-jogador de Flamengo e Real Madrid faz parte do time de comentarista do grupo RBS, da TV Globo, em Santa Catarina. “É uma experiência bacana, mas nada além disso. Penso mesmo é na minha família, nos meus investimentos e nas empresas”, encerrou, mostrando que o futebol deixou de ser prioridade desde que encerrou sua carreira, em 2010, no Avaí.

1996. Em pé: Jorge Luiz, Mancuso, Roger, Márcio Costa, Ronaldão e Gilberto   –     Agachados: Zé Maria, Marques, Sávio, Nélio e Romário

 

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