MOISÉS: campeão paulista pelo Corinthians em 1977

                  Moisés Mathias de Andrade nasceu dia 10 de janeiro de 1948, na cidade de Resende – RJ. Foi um zagueiro de jogo viril e as vezes ríspidos. Era conhecido como “Xerife” pelos seus admiradores e como “Moisés Paulada” pelos adversários. Ficou famoso por sua frase “Zagueiro que se preza não pode pensar em troféu Belfort Duarte”, ironizando o prêmio que era dado aos jogadores mais disciplinados. Apesar disso, foi expulso poucas vezes em toda sua carreira (10). Começou jogando no Bonsucesso do Rio de Janeiro e passou por todos os clubes grandes do futebol carioca, sendo campeão da Taça Brasil de 1968 pelo Botafogo e campeão brasileiro pelo Vasco da Gama em 1974.

                 Conquistou também o Campeonato Paulista de 1977 pelo Corinthians, quando tirou o Timão da fila de 22 anos e oito meses. Teve uma rápida passagem pelo Paris Saint-Germain e terminou a carreira jogando pelo Bangu em 1983, quando imediatamente assumiu como treinador do clube de Moça Bonita. Pela Seleção Brasileira disputou uma partida em 1973, época em que jogava pelo Vasco da Gama.

FLAMENGO E BOTAFOGO

                Moisés começou a jogar profissionalmente em 1966, defendendo a camisa do Bonsucesso, time da Zona Leopoldina e ali ficou até 1968, quando foi cedido por empréstimo ao Flamengo. Por motivos que não ficaram esclarecidos, voltou ao Bonsucesso, onde jogou por todo o ano e ainda em 1969. Finalmente, em 1970 seria cedido em definitivo ao Botafogo de Futebol e Regatas. No time de General Severiano, Moisés realizou jogos memoráveis, formando uma dupla de zaga com Sebastião Leônidas, contando também com o goleiro Ubirajara Mota, que viera do Bangu e com os laterais Moreira e Valtencir. O ataque era Zequinha, Roberto Miranda, Jairzinho e Paulo César Lima.

VASCO DA GAMA

               Em 1971 Moisés foi negociado ao Vasco da Gama. No time cruzmaltino Moisés conquistaria o seu primeiro título de campeão estadual, vestindo a camisa do time de São Januário sob o comando do técnico Elba de Pádua Lima (Tim). No Vasco da Gama Moisés conquistaria também o título de Campeão Brasileiro em 1974, quando o Vasco teve em Roberto Dinamite o artilheiro da competição e como técnico Mário Travaglini. A final foi contra o Cruzeiro e até hoje existe uma polêmica sobre aquele jogo.

              Cruzeiro e Vasco fizeram a mesma campanha no turno final e a CBD marcou uma decisão extra entre as duas equipes para decidir o título, que seria numa partida única no Mineirão, já que o Cruzeiro havia feito melhor campanha em todas as outras fases da competição. Mas, a partida foi transferida para o Maracanã. O Cruzeiro jogava por um empate para sagrar-se campeão. Quando o Vasco vencia a partida por 2 x 1, o ponta direita Baiano cruzou uma bola da lateral e Zé Carlos marcou, de cabeça, o gol de empate que daria o título ao Cruzeiro.  Inexplicavelmente, o árbitro Armando Marques anulou o gol e o jogo terminou com a vitória do Vasco, que sagrou-se Campeão Brasileiro de 1974.

             O time do Vasco neste dia foi o seguinte; Andrada, Fidélis, Miguel, Moisés e Alfinete; Alcir e Zanata; Ademir, Jorginho Carvoeiro, Roberto Dinamite e Luiz Carlos. Os gols da partida foram marcados por Ademir e Jorginho Carvoeiro para o Vasco e Nelinho para o Cruzeiro. Este jogo aconteceu dia 1 de agosto de 1974, no estádio do Maracanã, que recebeu neste dia um público de 112.933 torcedores. Foi vestindo ainda a camisa do Vasco da Gama que Moisés foi convocado para a seleção brasileira, em 1973, para um jogo amistoso contra a União Soviética no dia 21 de junho daquele ano, em Moscou, com o Brasil vencendo por 1 a 0.

             Moisés ficou famoso pela frase “zagueiro que se preza não pode ganhar o Belfort Duarte”, referindo-se ao prêmio dado a jogadores que passam dez anos sem serem expulsos de campo. Zagueiro duríssimo, não hesitava em apelar para a violência. Mas era bastante seguro e sabia jogar, tendo formado com Miguel ou Renê verdadeiras muralhas na defesa do Vasco. Certa vez, deslocado para a lateral esquerda numa final de turno contra o Flamengo em 1975, Moisés mostrou que também sabia trabalhar como ala, tendo, inclusive, marcado o gol da vitória de 1 a 0.

CORINTHIANS

               Em 1976 Moisés foi negociado ao Corinthians, onde permaneceria até 1977, como titular na histórica conquista do título paulista de 1977, que interrompeu um jejum de 22 anos e oito meses do alvinegro em São Paulo. Sua estréia com a camisa do alvinegro de Parque São Jorge, aconteceu no dia 4 de março de 1976, quando Corinthians e Vasco da Gama fizeram um jogo amistoso no Morumbi e o time carioca venceu por 2 a 0, gols de Jair Pereira e Luiz Fumanchu. Neste dia o Corinthians jogou com; Tobias, Zé Maria, Moisés, Cláudio Marques e Wladimir; Hélio, Tião e Veira (Lance); Vaguinho, Geraldão e Romeu. O técnico era Milton Buzetto. Sem dúvida, o jogo mais importante na carreira de Moisés pelo Corinthians, aconteceu dia 13 de outubro de 1977, quando o Corinthians derrotou a Ponte Preta por 1 a 0, gol de Basílio aos 37 do segundo tempo. Esta vitória deu o título paulista ao alvinegro, que já estava na fila há muito tempo.

               Moisés foi muito importante na conquista daquele título, pois trouxe em sua bagagem um pouco da sua experiência e malandragem dentro do futebol. Fez parte da equipe que derrotou o Fluminense em 5 de dezembro de 1976, na célebre “Invasão da Fiel ao Maracanã”. Moisés ficou até 1978 no Parque São Jorge, sua última partida aconteceu no dia 23 de julho de 1978, quando o Corinthians empatou em 1 a 1 com o Cruzeiro pelo Campeonato Brasileiro daquele ano. Os gols foram marcados por Roberto César para o time mineiro, enquanto que Rui Rey marcou para o Timão. Neste dia o Corinthians jogou com; Jairo, Cláudio Mineiro, Moisés, Zé Eduardo e Wladimir; Nobre, Ruço e Palhinha; Vaguinho, Rui Rey e Romeu. O técnico foi José Teixeira. Com a camisa do Corinthians, Moisés disputou 122 partidas. Venceu 62, empatou 28 e perdeu 32. Não marcou nenhum gol e foi expulso duas vezes durante os dois anos que ficou no clube.

OUTROS CLUBES  

               Ao deixar o Corinthians, Moisés foi jogar na França, no Paris Saint-Germain, onde ficou por pouco tempo. Em 1979, Moisés defendeu o Fluminense em 20 partidas e no mesmo ano vestiu também a camisa da Portuguesa de Desportos. No ano de 1980, Moisés resolveu voltar ao Rio de Janeiro e foi defender o Bangu, onde permaneceu até encerrar a carreira, em 1983. Mas foi no ano de 1981 que Moisés teve o futebol reconhecido, agora vestindo a camisa de um dos chamados intermediários do futebol brasileiro. Naquele ano Moisés receberia a Bola de Prata, formando a seleção de melhores da temporada.

             Apesar do estilo duro em campo, fora dele era conhecido pelo bom humor. Gostava muito de carnaval e ajudou a fundar o “Bloco das Piranhas”, no qual jogadores de futebol desfilavam vestidos de mulher por ruas da Zona Norte do Rio. Quando encerrou sua vitoriosa carreira em 1983 no Bangu, passou a ser técnico deste mesmo clube, sendo o principal responsável pela ascensão deste time, chegando inclusive ao vice-campeonato carioca em 1985, perdendo para o Fluminense e o vice-campeonato do brasileirão também de 1985, perdendo desta vez para o Coritiba numa dramática decisão por pênaltis.

              Naquela época, com a seleção brasileira em crise após a demissão de Evaristo de Macedo, era um dos nomes cotados para assumir o cargo, mas quem acabou reconduzido foi Telê Santana. Moisés trabalhou também no Santa Cruz de Recife, sagrando-se campeão pernambucano, e no Ceará, conquistando o título de campeão cearense. Foi treinador do Atlético Mineiro e do América do Rio, tendo também trabalhado em Portugal e nos Emirados Árabes.

               Moisés morreu em 26 de agosto de 2008, no Rio de Janeiro, de câncer de pulmão. Ele foi enterrado no Cemitério São João Batista, em Botafogo, Rio de Janeiro. Moisés era casado e deixou três filhos. Antes de morrer, ele exercia a função de Coordenador Técnico da Cabofriense, de Cabo Frio/RJ, cidade da qual gostava muito, pois ali, em seu mar de águas cristalinas e azuis realizava um de seus hobbys preferidos: a pesca submarina. Para ele, o que vinha abaixo da medalhinha abaixo do pescoço de qualquer atacante era “tudo joelho”. Com o amigo Renê, formou uma dupla de zaga apelidada de “Garfo e Faca”: um espetava, o outro cortava.

               Brincadeiras e lendas à parte, se jogasse hoje certamente seria um fenômeno do marketing esportivo: como frasista e fanfarrão, era imbatível em seu tempo e, nos últimos anos, talvez só Túlio Maravilha tenha chegado perto dele nesse sentido. Gostava de fazer o tipo “botinudo”, que não condizia propriamente com seus bons recursos técnicos. Tinha seu jeito malandro típico carioca, mas convém lembrar, Moisés era articulado e letrado. Quem o viu sabe que se tratou de um bom zagueiro e, acima de tudo, um personagem inesquecível. Faleceu ainda jovem, aos 60 anos, privando seus muitos  amigos e o esporte de uma figura quase folclórica, um dos poucos jogadores que atuou nos quatro grandes clubes cariocas, sempre com entusiasmo e eficiência. 

Em pé: Zé Maria, Tobias, Moisés, Ruço, Ademir e Wladimir    –   Agachados: Vaguinho, Basílio, Geraldão, Luciano e Romeu
1970 – Em pé: Wendell, Carlos Roberto, Moisés, Edevaldo, Edinho e Zé Marcos   –    Agachados: Fumanchu, Nunes, Mário, Carlos Alberto Pintinho e Zezé
Em pé: Andrada, Fidélis, Eberval, Gaúcho, Moisés e Renê   –    Agachados: Marco Antonio, Buglê, Ferretti, Luis Carlos e Gilson Nunes
Em pé: Moreira, Ubirajara, Nei Conceição, Moisés, Leônidas e Valtencir   –    Agachados: Rogério, Paulo César Caju, Ferretti, Nílson Dias e Torino
1970 – Em pé: Moreira, Ubirajara, Nei Conceição, Moisés, Leônidas e Valtencir    –      Agachados: Zequinha, Careca, Roberto, Jairzinho e Paulo César Caju

Postado em M

Deixe uma resposta