ALTAIR: uma vida dedicada ao Fluminense

                   Altair Gomes de Figueiredo nasceu dia 22 de janeiro de 1938, na cidade de Niterói (RJ).  Lateral de boa técnica e jogador leal, Altair era um ótimo marcador que dificilmente perdia uma dividida, apesar de seu corpo magro em relação a sua altura. Altair foi um dos maiores laterais esquerdos da história do Fluminense. Dotado de um jogo viril e de boa técnica, jogou somente no Fluminense, ao longo dos seus 17 (dezessete) anos de carreira. Foi campeão carioca pelo Fluminense nos anos de 1959, 1964, 1969; campeão do Rio São Paulo em 1957 e 1960 além de ter sido campeão da Taça Guanabara nos anos de 1966 e 1969.

                   Foi o quarto jogador que mais atuou com a Camisa do Fluminense, tendo participado de 551 (quinhentos e cinqüenta e um jogos). Tornou-se treinador  e chegou  a trabalhar no próprio Fluminense, principalmente nas divisões de base, mas atuou também como auxiliar dos profissionais em       meados da década de 90. Altair também foi campeão mundial com a Seleção Brasileira em 1962 e que também fez parte do time que disputou a Copa de 1966.

Altair morava em São Gonçalo e estudava no SENAI, no Barreto. Um cidadão chegou e perguntou se ele tinha condições de treinar no Fluminense. Ele disse que podia tentar. Seu problema foi de família, principalmente seu pai e sua mãe. Eles não gostavam de futebol. Então foi treinar escondido. Antes disso, um sujeito tinha o levado para treinar no Vasco, mas treinou somente três minutos e com isto não deu para mostrar tudo que sabia, sendo assim não foi aprovado. 

                 Mas no Fluminense deu tudo certo, só que eu precisava de uma assinatura de autorização, mas como seus pais não queriam saber de jogador de futebol na família, ele precisou  pedir para sua irmã imitar a assinatura do seu pai e levou para o cartório, que reconheceu a assinatura. Para concentrar, ele pedia para um colega que estudava com ele, dizer que eu ia passar o final de semana em sua casa, porque eles se concentravam no sábado. Na sua estréia, como ele era o terceiro reserva, treinava somente três dias e os outros três, ficava preso no quartel (isso ainda nas categorias de base).

                 Entrou bem, fez gol, ainda jogando de quarto zagueiro, este jogo foi no campo do Bonsucesso. Aí a coisa ficou ainda mais séria. Passou a ir treinar todos os dias e foi campeão. Com isso, Altair subiu para os profissionais e o Tim (ex-jogador e treinador do Fluminense, outro ídolo imortal) lhe perguntou se ele sabia jogar de lateral esquerdo. Ele disse que sim, mas não sabia bater de canhota. Então começou a treinar com o Castilho, Pinheiro, Escurinho, Walter e começou a jogar como titular.

              Acontece que nesta época, Altair ainda era de menor e precisava assinar seu primeiro contrato com o clube. Aí surgiu outro problema na vida do nosso craque. O diretor do Fluminense chegou certo dia com o contrato para ele assinar. Nesta época a sua família morava em duas casas, no mesmo terreno em Alcântara, moravam de aluguel. O diretor lhe disse que quem tinha que assinar o contrato era o seu pai. Então Altair falou que seu pai não gostava que ele jogasse futebol e disse que tinha que levar uma grana.

              O diretor foi na secretaria e voltou com dois embrulhos. Altair ficou na maior curiosidade para saber o que era aquilo e foram para sua casa. O Diretor disse que os embrulhos eram a grana. Quando chegaram, Altair disse ao diretor que quando sentassem à mesa que ele abrisse o pacote, antes mesmo de falarem alguma coisa e que seu pai assinaria. O pai de Altair já estava achando que ele estava passando por algum problema quando chegaram de carro. Ele (diretor) abriu o pacote, e foi logo falando que a grana era para o seu pai e assim, ele assinou o documento sem ler.

              Depois o diretor disse que era para que ele fosse jogar bola. Seu pai chegou a se espantar com fato dele jogar bola. Com aquele dinheiro, seu pai comprou as duas casas onde morávamos e ainda comprou um carro, ele fez uma bagunça danada com a grana: deitou e rolou. O que me deixa Altair magoado é que chegou a jogar no Canto do Rio, em Niterói, umas duas vezes e ele nunca foi vê-lo jogar.

Altair foi convocado em três Copas do mundo (58, 62 e 66) e seu pai nunca se interessou. Jogou 15 anos no Fluminense, só jogou no Fluminense. Isso, às vezes, o deixa magoado com o Fluminense porque ninguém chegou a jogar tanto tempo pelo Fluminense e quando ele entrava em campo, perdia dois a três quilos. Na hora que precisou do Fluminense, lhe mandaram embora. No Fluminense não tem jogador que foi a três Copas do mundo, só Altair (o Castilho foi convocado em 54, 58 e 62).  

              Durante os 15 anos que defendeu o Fluminense, Altair diz que seu pesadelo era quando iria marcar o Garrincha. “Num dos treinos da seleção em 1962, em Campos do Jordão, colei no Garrincha e quando ele passou por mim na primeira vez, o Didi meteu uma bola para o Mané, levantei ele e joguei ele no fosso que havia em volta do campo (uns três metros). O Garrincha ficou parado. Todo mundo veio correndo: João Havelange, Mário Américo, Aymoré Moreira. Todo mundo falando que eu era maluco e eu pensando: matei o Mané.

              O Mário Américo jogou uma água nele e ele voltou. Na segunda bola lançada para ele eu falei que se ele fizesse a mesma palhaçada que tinha feito em outras ocasiões, eu ia dar outra e ele disse que estava tudo certo. O Garrincha não passou mais por mim e daquele treino para frente, eu é quem fui o lateral escolhido para ir ao Chile.

              Altair sempre diz que foi muito feliz naqueles 15 anos que jogou pelo Fluminense. Jogou seis anos como lateral e mais seis ou sete anos como quarto zagueiro. Nesse período jogou com jogadores fabulosos, como por exemplo Telê Santana, que Altair o considerava um jogador de muita raça. “Ele era um ponta falso e rodava o campo todo, além de incentivar muito os companheiros. Como treinador não tenho nem o que falar, ele foi um dos melhores do Brasil. Infelizmente hoje falta amor à camisa.

               Estes jogadores que são contratados hoje em dia querem e fazer o pé de meia deles e fazer média com a Torcida. Eu treinei o Fernando Henrique (atual goleiro do Fluminense) que é bom goleiro, mas é muito novo ainda, goleiro tem que ter mais bagagem. Com mais idade, mais ou menos 25 anos, ele melhora. Hoje eu não vejo os goleiros falarem. O Castilho saía do gol com o joelho na frente. Hoje não se faz mais isso. O atacante entra no goleiro. Com o Castilho quem viesse na frente tomava uma porrada e caía dentro do gol. Acho que está faltando esta malícia aos jogadores de hoje. Castilho era o melhor goleiro que eu vi.

               Ele chegava para treinar de terno e gravata. Ele gostava de sair sozinho. Acho que o treinador de goleiros deve ser um goleiro. Ele ficava batendo bola no muro para apurar os reflexos, um cara tranqüilo, brincalhão com todos, gente boa mesmo. Falam que ele era muito sortudo, mas isso era porque ele se colocava bem. A bola batia nele. Ele pegava tudo. Nos pênaltis ele via quem batia as penalidades e onde batia, isso pelo jornal. Ele anotava isso tudo. Ele era muito, mas muito melhor do que o Gilmar (goleiro titular da Seleção Brasileira, que jogou no Corinthians e no Santos e na época, tendo jogado as Copas de 58, 62 e 66. O Gilmar foi privilegiado porque engolia dois e o Pelé fazia três, era fácil.

               Hoje os nossos campeonatos aqui é um misto de jovens e de jogadores que não deram certo lá fora. Isso influencia muito na qualidade do jogo. Os grandes clubes do Rio tinham ídolos. Cinco ou seis por clube. Pegar um time desses de hoje é ver que não há ninguém. O Fluminense é um bom time, mas não sabemos quanto tempo esse bom time vai durar. O Fluminense tem uma boa base lá em Xerém que vai dar frutos para o futuro. Os outros times do Rio não têm ninguém. Infelizmente esse é o nosso futebol de hoje. Antigamente o futebol era bem mais técnico que hoje. Procópio, era uma exceção, não alisava ninguém, com ele era na base da porrada.

               O que ele se deu mal foi quando estava jogando pelo São Paulo e foi querer dar uma porrada no Pelé e ele quebrou a perna do Procópio. Antigamente havia jogadas duras, mas hoje em dia há mais violência no futebol. Antigamente havia muito desarme. Atualmente é raro vermos um desarme limpo e na bola. Às vezes era no braço (risos). O Paulinho, ponta-direita do Flamengo, esse eu quis jogar no fosso. Ele disse que tinha vindo a São Gonçalo e tinha conhecido a minha mãe. Ele disse isso antes de começar o Fla x Flu e tomou uma porrada que saiu de maca”.

              Ao terminar a sua carreira jogando unicamente pelo seu clube do coração, Altair retornou à Niterói, sua terra natal, onde foi empresário lotérico e prestou serviços à prefeitura daquela cidade em projetos educacionais ligados ao futebol. Nos anos 90 Altair voltou ao Tricolor onde participou de várias comissões técnicas do elenco profissional, chegando a dirigir o time de maneira interina algumas vezes como também a equipe B na Copa Rio, na conquista do Estadual de 1995 do famoso gol de barriga, de Renato Gaúcho na decisão do campeonato carioca em cima do Flamengo.

              Nessa época Altair era o auxiliar técnico.  Pela Seleção Brasileira, Altair disputou 22 jogos. Venceu 16, empatou 2 e perdeu 4 vezes.  Disputou dois jogos pela Copa do Mundo. Venceu uma e perdeu a outra. Altair foi um dos mais habilidosos laterais do futebol brasileiro. Marcador duro e implacável, raramente perdia uma bola dividida. Identificado com o Fluminense, permaneceu no clube por 15 anos, coisa rara nos dias de hoje. Infelizmente Altair veio a falecer no dia 9 de agosto de 2019.

Em pé: Clóvis, Jair Marinho, Edmilson, Altair, Castilho e Pinheiro   –    Agachados: Maurinho, Paulinho, Waldo, Telê Santana e Escurinho
Em pé: Djalma Santos, Zito, Altair, Cláudio, Gilmar e Mauro   –    Agachados: Dorval, Mengálvio, Amarildo, Pelé e Pepe
1966 – Em pé: Fidélis, Ubirajara, Denílson, Ditão, Altair e Edson    –    Agachados: Nado, Lima, Célio, Tostão e Edu
1963 – Em pé: Djalma Santos, Zito, Altair, Roberto Dias, Eduardo e Gilmar   –    Agachados: Marcos, Gérson, Pelé, Nei, Pepe e o massagista Mário Américo
1968 – Em pé: Nélio, Félix, Cláudio, Altair, Galhardo e Assis   –   Agachados: Wilton, Suingue, Salvador, Samarone e Serginho
Em pé: De Sordi, Zito, Altair, Calvet, Gilmar e Airton Pavilhão    –    Agachados: Jair da Costa, Didi, Prado, Pelé, Zagallo e Mário Américo
Em pé: Ismael, Edson, Valdez, Altair, Luiz Henrique e Bauer   –    Agachados: massagista Santana, Amoroso, Samarone, Antunes, Joaquinzinho e Gilson Nunes.
Em pé: Djalma Santos, Zito, Altair, Cláudio, Gilmar e Mauro    –    Agachados: Dorval, Mengálvio Amarildo, Pelé e Pepe.

      

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