AGUILERA: um dos maiores ídolos do futebol paraguaio

                       Raimundo Aguilera Solis nasceu a cidade de Itacurubi de La Cordillera, no dia 7 de fevereiro de 1947, mora no Paraguai com suas irmãs, no bairro Bernardino Caballeron, próximo ao centro da capital, Assunção.

                       Começou no futebol atuando pelo Guarani do Paraguai, aos 16 anos. Com 17 já era titular da equipe. Em 1971 transferiu-se para o futebol brasileiro, primeiro pela Portuguesa de Desportos, onde participou da inauguração do estádio do Canindé.

                       Titular absoluto da Lusa, tudo corria bem até o dia em que sentiu fortes dores no joelho, enquanto ainda fazia os trabalhos de aquecimento no vestiário.

Com um mês de tratamento marcado por injeções dolorosas, o goleiro voltou com alegria aos gramados.

                       Todavia, seu rendimento já não era mais o mesmo. Sem alternativas, Aguilera optou por não adiar mais o tão necessário procedimento cirúrgico, que foi realizado em Assunção no início de 1973.

                        De volta ao Brasil, Aguilera percebeu que algo ainda estava errado. Exames realizados no Hospital Santa Catarina, em São Paulo, revelaram que o goleiro dificilmente conseguiria continuar no futebol.

                       Abatido, com o contrato para vencer e sem ânimo para discutir qualquer coisa com os diretores da Portuguesa, Aguilera estava mesmo disposto em abandonar os gramados.

                        Foi então que sua futura sogra indicou o médico do Club Atlético Independiente, o Doutor Fernández Snor, responsável pela recuperação de vários jogadores argentinos. No inverno de 1973, Aguilera foi operado novamente e permaneceu em recuperação durante 2 meses com a perna engessada.

                         Durante um bom tempo, Aguilera sumiu de circulação e, para muitos, sua carreira tinha acabado. Recuperado, Aguilera voltou para o Canindé e permaneceu treinando, mesmo diante do descrédito dos homens da Comissão Técnica.

                         Além disso, com o crescimento técnico do goleiro Zecão, Aguilera foi praticamente um espectador na reta final do campeonato paulista de 1973.

Em 1974 o goleiro foi transferido por empréstimo ao Valência da Espanha, onde permaneceu por 8 meses.

                          Mais uma vez no Canindé, Aguilera foi informado pelo zagueiro Calegari que o Botafogo de Ribeirão Preto procurava por um goleiro. Com o aval de exames realizados em Ribeirão Preto, Aguilera foi emprestado ao Botafogo praticamente de graça.

                          Novamente em forma, Aguilera disputou um ótimo campeonato paulista e voltou aos seus melhores dias, inclusive fazendo parte de uma das melhores formações da história do clube ao lado de Lorico, Zé Mário e Sócrates.

                           Em 18 de maio de 1977, o Botafogo empatou com o São Paulo em 0x0 no Morumbi e conquistou a Taça Cidade de São Paulo, o equivalente ao primeiro turno do campeonato paulista.

                           Depois de uma passagem pelo Criciúma Esporte Clube em 1979, Aguilera voltou para o Paraguai em 1980 para defender o Atlético College. Operado novamente do joelho deixou o futebol aos 34 anos de idade. Ainda passou pelo Criciuma-SC, em 1979, e em 1980 encerrou sua carreira, pelo Atlético Golegiales, do Paraguai.

                          Foi goleiro da seleção paraguaia entre 1967 e 1970, tendo se destacado em jogo contra a seleção brasileiras pelas eliminatórias da Copa de 1970,

Aguilera fez uma bela atuação naquele 31 de agosto de 1969 no Maracanã, mas não conseguiu defender um chute de Pelé aos 23 minutos da etapa final.

                         Estádio do Maracanã, dia 31 de agosto de 1969.  O Brasil parou para ver a seleção encarar a partida mais difícil em toda a fase eliminatória para a Copa do Mundo de 70, que seria realizada no México.  O adversário era o Paraguai, um osso duro de roer e que venderia muito caro a segunda derrota para os brasileiros (no primeiro turno o Brasil havia vencido por 3 a 0, no Defensores Del Chaco,  em meio a uma verdadeira guerra).

                        No duelo chave para a classificação brasileira, no Rio de Janeiro, os paraguaios entraram em campo com dois pontos a menos que o Brasil e fizeram o time de João Saldanha sofrer como nunca para conseguir uma vitória suada e memorável,  por 1 a 0, com gol de Pelé.

                        Placar que garantiu a vaga da seleção no Mundial e abriu o caminho para o Tri.  Um triunfo, que certamente começou a ser forjado naquelas eliminatórias, e especialmente naquele duelo com o Paraguai.

                        E ninguém simbolizou tão bem esse drama para os brasileiros, do que um jovem de apenas 20 anos que defendia o gol paraguaio como uma verdadeira muralha.  Raimundo Aguilera, titular do Guarani desde os 17 anos, e tido como uma das maiores revelações do futebol daquele país, fez história naquela tarde, apesar do placar final contrário a sua seleção.

                         Em um dia em que mais de 183 mil pessoas foram ao Maracanã, Aguilera fez a torcida brasileira sofrer com uma atuação de gala. “Saí cansado de campo, como nunca. De tanto saltar, levantar, defender. Foi difícil.  Nunca vimos tanta gente em um estádio. Eu não conseguia nem ouvir o apito do juiz, de tanta gente que tinha. Nosso time lutou bravamente, mas do outro lado tinha uma máquina”, conta Aguilera

                         O camisa 1, vestido todo de preto, assombrou a nossa seleção por quase 90 minutos, frustrando as investidas de Pelé, Gérson, Tostão e companhia. Pegou o que foi possível, em um bombardeio brasileiro que durou 45 minutos do primeiro tempo e outros 23 da etapa final.

                         Até que em uma arrancada de Edu pela ponta esquerda, o chute cruzado rasteiro foi inapelável e Aguilera rebateu nos pés de Pelé, que na corrida, estufou as redes paraguaias levando ao delírio uma multidão aflita.  Um gol comemorado como o de um título (ou um prenúncio do que viria meses depois), contra o mais duro adversário daquelas Eliminatória Sul-Americanas.
“Perdemos para uma equipe espetacular. Indescritível e que depois seria campeã do mundo. Saímos de cabeça erguida naquele dia”, lembra Aguilera.

                         O homem que já foi considerado o melhor goleiro das Américas e que por alguns minutos quase conseguiu parar a maior seleção de todos os tempos, hoje leva uma vida tranquila, longe do futebol e dos holofotes, na capital Assunção.
Morando na mesma casa onde viveu toda sua infância, no bairro de Bernardino Caballeron (a 20 minutos do centro da capital) Aguilera disse em uma das suas raras entrevistas, que ao abrir o portão de sua casa, um sorriso no rosto e a típica receptividade dos paraguaios.

                          “Esse é o homem?”, brincou, apontou para mim, perguntando ao filho Toti, que me levou ao aguardado encontro, combinado meses antes.  Após um abraço, o anfitrião não se conteve e foi logo falando do país onde construiu boa parte da sua vitoriosa carreira. “Que saudade do Brasil. Poxa, quanto tempo. Ainda quero voltar”, emendou, enquanto caminhávamos até a porta de entrada da sala, observados por uma dezena de garotos que jogavam bola no portão.

                          “Meu pai é muito querido aqui nesse bairro. Nossa vida foi toda construída aqui. Meu pai faz as caminhadas diárias dele por aqui e todo mundo o reconhece”, explicou, orgulhoso, o filho Toti.

                           Aguilera começou a jogar em um campinho de terra, que hoje fica a 500 metros do endereço onde mora com as irmãs. Com 16 anos ingressou no Guarani (cujo estádio Rogelio Silvino Livieres também fica cravado no coração do bairro). E com 17 anos, já era titular de um times mais importantes do Paraguai,  esboçando uma carreira de glórias.  Titular absoluto, permaneceu no El Cacique até 1971, quando então transferiu-se para  o futebol brasileiro.

                           Jogou na Portuguesa (pela qual, em 1973 se “vingaria” de Pelé, defendendo um pênalti no Pacaembu) e em seguida transferiu-se para o Valencia-ESP.  Pouco tempo depois retornou ao Brasil, onde atuou pelo Botafogo (SP) de 1976 a 1977, ao lado de Sócrates e Zé Mário Baroni, sagrando-se campeão paulista do primeiro turno (Taça Cidade de SP) em 1977, em um período no qual já era dado como goleiro em fim de carreira devido a uma lesão séria no joelho esquerdo, só curada após a intervenção do médico argentino, Fernando Snor. “Felizmente, o Botafogo estava montando um time forte e acreditou em mim e pude ter grandes momentos nesse clube tão querido.

                              Estreei pegando pênalti contra o Cruzeiro, no Mineirão. No ano seguinte fui campeão”, relembra, entusiasmado. A lesão no joelho limitava seu futebol e problemas pessoais ajudaram a antecipar a sua volta ao Paraguai. Em 1980, já no fim da carreira, defendeu o Atlético Colegiales.

                              Pela seleção paraguaia debutou em 1967, em jogo contra os argentinos. Depois disso tornou-se titular absoluto e ídolo nacional. Ou herói.
E não é exagero trata-lo assim, afinal o  próprio governo reconhece a sua importância como personagem nacional concedendo a ele, e outros grandes nomes do país uma espécie de pensão vitalícia, como reconhecimento pelos serviços prestados a nação.

                            “Aqui temos isso por parte do governo”, resume, sem esconder um pouco de decepção. “Mesmo assim, acho que os paraguaios não têm tanta memória como vocês brasileiros pelos ex-jogadores”, emendou.

                              Raimundo Aguilera ficou conhecido como “O arqueiro da Américas” após grandes atuações pelo Paraguai. Viveu o ápice no final dos anos 60, com dois longos períodos de invencibilidade. O maior deles durou 1019 minutos, em 1967 (11 partidas e 32 minutos).

                               Com forte identificação com o Brasil, Aguilera vê com tristeza o futebol atual, principalmente da nossa seleção. “Quem viu aquele time de 69, 70, contra quem jogamos, hoje não reconhece o futebol brasileiro. Confesso que perdi o encanto até em assistir futebol. Tudo mudou, mas não foi só o Brasil”, diz o ex-goleiro.
                                Acusação de sequestro impede retorno ao Brasil

                                A relação de Aguilera com o Brasil não se limitou as quatro linhas e aos dois clubes pelos quais jogou em São Paulo. Por aqui tentou construir sua família,  mas um desentendimento com a ex-companheira antecipou sua volta a Assunção em 1978.  Porém nesse retorno, Aguilera tinha nos braços o filho Toti, hoje com 40 anos.

                             Tal atitude teve um preço na vida de Aguilera. A mãe de seu filho o acusou de sequestro e até hoje ele é impedido de voltar ao Brasil, devido a queixa prestada pela ex-companheira. “ Uma pena que a justiça brasileira veja dessa forma. Até hoje ele não pode pisar em um aeroporto”, lamenta a irmã

                              Já são quase 40 anos. Saudade que um dia pretende acabar. Mesmo a contra gosto do filho, seu maior fã. “Ele não quer que eu passe por nada de ruim nessa vida. Por isso não me deixa sair. Mas quem sabe um dia eu volte a rever meus amigos no Brasil”.

Em pé: Wilson Campos, Manoel, Aguillera, Mário Maguila, Ângelo e Ney Roz   –   Agachados: Terto, César Maluco, Sócrates, Lorico e Genau
9 de Janeiro de 1972 – Inauguração do Canindé – Em pé: Aguillera, Calegari, Lorico, Fogueira, Carlos Alberto Torres, Deodoro, Marinho Perez e o diretor José Pereira Mendes Neto     –     Agachados: Ratinho, Dirceu, Cabinho, Basílio e Piau
Guarani do Paraguai em 1967 – Em pé: Aguilera, Vicente Bobadilla, Roberto Montiel, Lorenzo Villagra, Luís Ivaldi e Juan Martínez   –    Agachados: Cecilio Martínez, Ernesto Juárez, Víctor Juárez, Arsenio Valdez e Juan Graciano González.

 

 

 

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