JORGE MENDONÇA: campeão paulista pelo Palmeiras em 1976

                   Jorge Pinto Mendonça nasceu dia 6 de junho de 1954, na cidade de Silva Jardim (RJ).  Por todos os clubes que passou, Jorge Mendonça se notabilizou pela qualidade de seu futebol e pelas confusões e atritos nos quais se envolveu. Viveu altos e baixos em sua carreira no futebol, como a partida em que marcou oito gols pelo Náutico e também aquele gol que deu o titulo paulista ao Palmeiras em 1976, mas por outro lado, se envolveu em inúmeras confusões, como por exemplo com Telê Santana e suas passagens apagadas por clubes já no fim de sua carreira como jogador de futebol. 

                  Em 1971, Euzébio de Andrade, dirigente do Bangu e pai do bicheiro Castor de Andrade, assistiu a uma partida do União F.C. e ficou encantado com o futebol do atacante Jorge Mendonça. Depois de uma infância pobre ao lado de cinco irmãos, o garoto  de  18 anos não pensou duas vezes para aceitar o convite do cartola e disputar o Campeonato Carioca de profissionais pelo clube de Moça Bonita.

                  A estréia aconteceu no dia 16 de janeiro de 1972 e não poderia ter sido melhor. Contra o São Cristóvão, marcou os dois gols na vitória por 2 a 0. Ora de centroavante, ora de ponta-de-lança, balançou as redes 23 vezes em 38 jogos oficiais pelo clube e chamou a atenção de vários clubes do nordeste, em especial do Náutico, para onde se transferiu no final de 1973.

                  No Náutico, clube no qual criou uma grande amizade com o técnico Orlando Fantoni, Mendonça formou um trio infernal com Vasconcelos e Paraguaio, responsável pela conquista do Campeonato Pernambucano de 1974. Naquela competição, o garoto de Silva Jardim ficou com a artilharia, ao anotar 24 gols. No ano seguinte, o time ficou no quase e foi vice. Tal era o seu entrosamento com o Vasconcelos e com o Paraguaio que jogavam por telepatia. Um sabia o que o outro ia fazer em campo e assim ganharam jogos e títulos.

                 Imagine que, numa só partida, contra o Santo Amaro, Jorge Mendonça fez oito gols, registrando uma das maiores façanhas como artilheiro na história do futebol nacional de todos os tempos. Isto aconteceu no jogo do dia 10 de março de 1976, quando o Náutico goleou o Santo Amaro por  8 a 0, no qual marcou todos os gols. Na verdade, Mendonça marcou dez gols naquela noite, mas o juiz anulou dois. Mas o time era muito fraco e o goleiro, coitado, ainda foi infeliz. Falhou em uns três ou quatro gols. Tamanha façanha despertou o interesse do Palmeiras, que não esperou o fim do campeonato para contratá-lo.

                 Na despedida, todo o elenco do Náutico foi até o Aeroporto dos Guararapes, onde fez questão de abraçar o craque. Ao todo, foram 95 gols com a camisa do “Timbu”, como é conhecido o clube pernambucano lá no nordeste. Jorge Mendonça jogou no Náutico entre 1973 e 1976, e ainda hoje é lembrado com carinho pelo torcedor, pois ele é o oitavo maior artilheiro do clube, ao lado de Nivaldo.

                 Em 1976, Jorge Mendonça teve seu passe comprado pelo Palmeiras. Antes de deixar o nordeste,  ouviu o seguinte conselho; “Crioulo, abre os olhos. Lá não é como aqui. O Campeonato Paulista é de lascar e você leva sobre os ombros a responsabilidade de substituir o Leivinha. Se mostrar fraqueza de cara, azar seu”. Esse foi o conselho dado por um dirigente do Náutico para Jorge Mendonça quando ele arrumava as malas para viajar à São Paulo e se juntar ao elenco do Palmeiras.

PALMEIRAS

                Ao chegar no Parque Antártica, reclamou e muito da sua função tática no time e do clima frio da capital paulista, com isto, Mendonça demorou a emplacar na equipe principal. Com a troca do técnico Dino Sani por Dudu, ganhou espaço naquele time que ainda tinha por mais algum tempo, a presença de Ademir da Guia. Ao lado do Divino, Jorge Mendonça ajudou o Verdão a conquistar o Paulistão de 1976, inclusive fazendo aquele que sempre considerou como o gol mais importante de sua carreira, ou seja, o gol que garantiu o título estadual ao time de Parque Antarctica. “Foi o primeiro gol que fiz que decidiu um título. E lembro bem do lance: eram 39 minutos de jogo do primeiro tempo, a bola veio bem alta, preparei o corpo e saltei.

                 Nem percebi que o goleiro tinha saído do gol. Só notei um vulto passando por mim antes da bola chegar, mas cabeceei de olhos abertos, sabendo que a bola iria para o gol”, narra o herói da conquista. Este jogo aconteceu no Parque Antarctica dia 18 de agosto de 1976. O técnico da equipe alviverde era Dudu, que já havia encerrado sua carreira e passou a comandar a equipe. Neste dia o Palmeiras jogou com; Leão, Valdir, Samuel, Arouca e Ricardo; Pires e Ademir da Guia; Edu, Jorge Mendonça, Toninho e Nei.   Vestindo a camisa do Palmeiras, Jorge Mendonça atuou em 217 partidas. Venceu 113, empatou 62 e perdeu 42 vezes. Marcou 102 gols.

SELEÇÃO BRASILEIRA

                  O bom desempenho no time alviverde, rendeu ao craque convocações para os amistosos preparatórios para a Copa de 1978, nos quais assegurou sua participação na competição. Esta foi uma de suas maiores alegrias. Não era titular, mas entrava em quase todos os jogos no Mundial da Argentina, pois era reserva de Zico, que atravessa uma grande fase, mesmo assim, se firmou como titular no final da competição.  Neste mundial, um fato ficou marcado para o torcedor brasileiro em especial na vida de Jorge Mendonça.

                 Aconteceu no jogo em que o Brasil enfrentou a Espanha. Mendonça bateu o recorde de aquecimento para entrar numa partida em substituição ao jogador Zico. Ficou 20 minutos se aquecendo e quando entrou restava somente sete minutos para terminar a partida. Nosso técnico era Cláudio Coutinho.  Pelo escrete canarinho, atuou em 11 partidas. Teve  7 vitórias, 4 empates e não perdeu nenhuma vez. Marcou dois gols.

               De volta ao Brasil, Jorge Mendonça passou a trabalhar com o técnico Telê Santana, que havia substituído Filpo Nuñez no comando do Palmeiras. Depois de um início de casamento agradável, no qual o jogador encheu os olhos do treinador ao fazer excelente dupla de ataque com Escurinho – “Ele é tecnicamente perfeito”, chegou a declarar Telê, mas  vieram os atritos e, conseqüentemente, o divórcio.

                A ruína chegou dias antes de uma partida contra o Flamengo, no Rio de Janeiro, pelo Campeonato Brasileiro. O Palmeiras encontrava-se em Manaus, e Mendonça havia escapado da concentração à noite. O linha-dura Telê o esperou na porta do hotel até as três da manhã, quando o jogador chegou bêbado, subiu as escadas, disse um “olá, chefe” ao sargentão e foi dormir.  Poucos dias depois, o Palmeiras goleava o Flamengo por 4 a 1, no Maracanã, diante de 113 mil pessoas, com um gol de Jorge Mendonça. Porém nem esse jogo, e nem a Bola de Prata concedida ao jogador pela revista Placar, que o incluiu na seleção do campeonato, encobriu a indisciplina realizada frente a Telê.

                O treinador passou a criticá-lo e a qualificá-lo de “mau profissional”, e só parou quando conseguiu sua transferência para o Vasco, em fevereiro de 1980.  O retorno ao Rio de Janeiro não foi dos melhores para o atleta, que ficou apenas quatro meses na equipe cruzmaltina e não repetiu a boa forma que apresentava até então. O passo seguinte na trajetória do jogador foi o Guarani de Campinas, clube no qual oscilou entre o céu e o inferno por diversas vezes. Para contar com o atacante, o Guarani pagou o mesmo valor desembolsado pelo Vasco, meses antes. E ele não desapontou.

                Em 1981 assinalou nada menos de 38 gols no Campeonato Paulista e 58 em toda a temporada, o que fez dele o artilheiro do país. A indisciplina, porém, contrastava com os feitos do atleta, que conquistaria a Taça de Prata pelo clube, mas afirmaria que o título não pertencia à torcida, que não contribuiu em nada durante a campanha. Em 1982, o Guarani colhia os frutos da dupla Careca – Jorge Mendonça e só cairia nas semifinais do Campeonato Brasileiro. Mendonça, porém, continuava fora da seleção de Telê, não foi convocado para a Copa daquele ano e nunca mais foi o mesmo. Depois ele próprio forçou a saída para a arqui-rival Ponte Preta.

               A passagem pela Macaca deu início à fase final da carreira de Jorge Mendonça. Antes de se aposentar e sofrer problemas como o alcoolismo e o despreparo para pendurar as chuteiras, ele se tornou um andarilho do futebol, passando ainda por Cruzeiro (MG), Rio Branco (ES), Colorado (PR) e Paulista de Jundiaí, seu último clube.  Em toda sua carreira, marcou 375 gols e sagrou-se campeão pernambucano pelo Náutico em 1974, campeão paulista pelo Palmeiras em 1976 e campeão da Taça de Prata (2ª divisão) pelo Guarani em 1980.

              Jorge Pinto Mendonça, o ex-craque Jorge Mendonça, faleceu no dia 17 de fevereiro de 2006, no hospital Mário Gatti, em Campinas, vítima de enfarto. Ele trabalhava nas categorias de base do Guarani como coordenador do Projeto Bugrinho. Depois que parou de jogar, Jorge Mendonça caiu no alcoolismo e com isto perdeu muita coisa com sua vida irregular. De imóveis em Recife, outros tantos em São Paulo e Rio de Janeiro, carros, telefones e, principalmente, o carinho da mulher e dos filhos Fabiana, Christina e Jorge Júnior.

               Realmente é muito triste declararmos tal situação, que já se tornou normal na vida de muitos e muitos craques do passado. Gostaríamos de escrever somente sobre seus sucessos, mas infelizmente nem todos os casos são só de vitórias.  No entanto, fica aqui o nosso agradecimento por tudo que Jorge Mendonça fez pelo nosso futebol, e também pelas alegrias que proporcionou aos torcedores de Náutico, Palmeiras e Guarani. Descanse em paz, Jorge Mendonça.

1976 – Em pé: Valdir, Leão, Arouca, Pires, Samuel e Ricardo    –    Agachados: Edu, Jorge Mendonça, Toninho, Ademir da Guia e Nei
Copa de 1978 – Em pé: Gil, Leão, Oscar, Amaral, Batista e Rodrigues Neto   –   Agachados: Toninho, Chicão, Jorge Mendonça, Roberto e Dirceu
Guarani de 1982    –   Em pé: Wendell, Jaime, Julio César, Ariovaldo, Edson e Almeida    –    Agachados: Lúcio, Hernani Banana, Careca, Jorge Mendonça e Capitão
Em pé: Miguel, Pedro Omar, Sidiclei, Djalma, Neneca e França    –    Agachados: Dedeu, Juca Show, Jorge Mendonça, Vasconcelos e Lima
Em pé: Rosemiro, Gilmar, Beto Fuscão, Ivo, Polozzi e Sóter    –    Agachados: Amilton Rocha, Jorge Mendonça, Toninho, Pires e Nei
1978 – Em pé: Rosemiro, Leão, Beto Fuscão, Alfredo, Pires e Pedrinho    –    Agachados: Silvio, Jorge Mendonça, Toninho, Escurinho e Toninho Vanusa
1976 – Em pé: Valdir, Emerson Leão, Arouca, Pires, Samuel e Ricardo   –    Agachados: Edu Bala, Jorge Mendonça, Toninho, Ademir da Guia e Nei

 

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