TIM: um grande estrategista

                  Elba de Pádua Lima, nasceu dia 20 de fevereiro de 1916, na cidade de Rifaina – SP. Seu pai faleceu quando tinha 7 anos. Sua mãe com cinco filhos menores, fazia das tripas o coração para criar a prole. Aos 12 anos, Tim, como era chamado pela família, estreou no infantil do Botafogo de Ribeirão Preto. Sua bola levou-o ao time principal em 1931. Três anos depois, a Portuguesa Santista fez do rapaz franzino o seu meia-esquerda e levou Tim para a cidade de Santos, onde ele viu o mar, coisa da natureza que encanta aos do interior, também.

                 Encantada ficaria a torcida ao vê-lo no certame estadual paulista, abrindo defesas com dribles incríveis. E o escrete de São Paulo o convocou em 1935 para vencer o campeonato nacional de seleções. Disso ao sul-americano de 1936, em Buenos Aires, foi só um passo. E lá a imprensa argentina, vendo nele o cérebro do time brasileiro, o apelidaria de El Peón, já que na vida rural é o pião quem controla e conduz o rebanho pelos pampas.

                Contudo, saudoso de casa, Tim retornou ao Botafogo de Ribeirão. Mas no interior ele não ficaria, pois o Fluminense carioca fez-lhe um convite financeiramente irrecusável. E por quase 8 anos ao lado de Romeu Pellicciari, Elba de Pádua Lima seria, e ainda é, uma das estrelas mais luzentes da constelação do clube tricolor das Laranjeiras. Com tal brilho, em 1938, Tim deu ao Flu o tricampeonato.

SELEÇÃO BRASILEIRA

                Tim foi convocado pelo técnico Ademar Pimenta para disputar a Copa de 1938, na França. A Seleção Brasileira viajou 15 dias de navio, o que fez com que vários jogadores engordassem muito durante a viagem. Mas o elenco era formado por verdadeiros craques, como; Tim, Domingos da Guia, Romeu Pellicciari, Hércules, Perácio e Leônidas da Silva, que inclusive foi o artilheiro daquele mundial com 8 gols. O Brasil disputou 5 partidas, venceu 3, contra a Polônia por 6×5, contra a Checoslováquia por 2 a 1 e contra a Suécia por 4×2.  Empatou uma contra a Checoslováquia por 1 a 1 e perdeu uma para a Itália por 1×2, e ficou em 3º lugar. O Brasil foi eliminado da Copa, num jogo disputado com a seleção italiana, por um placar de 2×1, sendo que o segundo gol (de pênalti) de Domingos da Guia em cima de Piola foi muito discutido na época. Sendo assim, coube ao Brasil, disputar o terceiro lugar contra a Suécia, a qual vencemos por 4×2.

                Neste mundial, Tim só disputou o jogo de desempate contra os checos, vencidos pelo Brasil para o encanto dos franceses de Bordeaux. Acontece que no jogo marcado para o dia 12 de junho o placar foi de 1 a 1. Como precisava haver um vencedor, foi marcado uma nova partida para o dia 14 de junho no mesmo local. Neste dia o Brasil jogou com a chamada equipe branca, ou seja, a reserva, pois dos onze que vinham jogando, somente o goleiro Walter e o centroavante Leônidas da Silva entraram em campo. A Checoslováquia abriu o placar através de Kopecky.

               Após o intervalo, o Brasil virou o placar com um gol de Leônidas da Silva e outro de Roberto, fazendo 2 a 1 que sustentou até o final. Esta vitória garantiu ao Brasil a permanência entre os quatro melhores, que iriam disputar as semi-finais. Segundo Leônidas, na França, Tim vencia também a concentração, pulando a janela do hotel para farrear. Mas Tim não venceu o boicote de Ademar Pimenta, técnico do Botafogo carioca e dessa seleção brasileira. Isso era claro nos treinos preparatórios do escrete, com Pimenta estimulando beques a pará-lo a todo custo, e assim abrir espaço para o alvinegro Perácio jogar a Copa.

FLUMINENSE

               Nas Laranjeiras, Tim seria ainda bicampeão em 1941, com a seguinte equipe; Aymoré Moreira, Norival e Renganeschi; Bioró, Spinelli e Malazo; Pedro Amorim, Romeu Pellicciari, Russo, Tim e Hércules.  Lá, o escrete brasileiro foi buscá-lo pela última vez no ano seguinte para disputar o Campeonato Sul-Americano no Uruguai. E foi neste campeonato que Tim marcou um dos gols da vitória brasileira sobre o Equador por 5 a 1 no dia 1 de fevereiro de 1942.  E em 1944, tendo garantido no Fluminense o lugar ao sol, ele se transferiu para o São Paulo.

               Com a camisa do Fluminense, Tim disputou 226 partidas e marcou 71 gols. No Tricolor paulista fez apenas uma temporada, disputou 14 partidas, venceu 9, empatou 2 e perdeu 3. Em 1944 a equipe são-paulina era assim formada; King, Piolin e Florindo; Hélio, Ruy e Noronha; Luizinho, Sastre, Tim, Remo e Pardal. Depois transferiu-se para o Botafogo do Rio, no qual ficou até 1947, quando apareceu no Olaria como atleta e técnico.

TÉCNICO DE FUTEBOL

               Nessas funções, esteve 2 anos no Botafogo de Ribeirão Preto e, até 1951, no colombiano Atlético Junior de Barranquilla, junto com Heleno de Freitas e outros sul-americanos, como os argentinos Di Stéfano, Pedernera e Nestor Rossi. De volta ao Brasil, o técnico Tim de fato fez jus ao apelido de El Peón: foi o maior estrategista do futebol brasileiro. Para ser entendido, ele expunha a sua tática mostrando como um time de botões se posicionava. E era mais facilmente aceito pelo grupo.

              Outra de suas características: tratar o atleta com respeito, sem alterar a voz, e assim se impor como autoridade democrática, exatamente o oposto de certos treinadores, como o intratável Flávio Costa. Este manda chuva do Flamengo e da seleção carioca de 1943 e 1945, quis deixar Tim no banco de reservas da seleção carioca, coincidentemente, para escalar Perácio, à época na Gávea. Contudo, por pressão do povo e da mídia, Tim atuou como titular nessas competições, sendo inclusive campeão em ambas.

               Elba de Pádua Lima dirigiu times no exterior e pelo País afora. Dentre outros, a Seleção Peruana na Copa do Mundo de 82, sendo que nos três jogos em que a seleção fez, sua equipe conseguiu dois empates, contra Camarões (0x0) e Itália (1×1), mas acabou derrotada pela Polônia (5×1). Naquele Mundial, o Peru foi eliminado na Primeira Fase, quando jogou o Grupo A, e na classificação geral, o time peruano terminou em 20º Lugar. Dirigiu também o San Lorenzo argentino, o escrete carioca e os bons clubes do Rio. Em Moça Bonita, teve o feeling de ver que na cidade paulista de Bauru raiava o maior astro de bola do mundo: Pelé. E, em vão, Tim quis levá-lo para o Bangu, porém a família do futuro Rei não deixou.

               Como técnico, Tim às vezes era irônico. Um dia, fazendo peneira de candidatos, veio até ele um rapaz dizendo, para agradá-lo: “Não bebo, não fumo nem farreio”. E o rifainense: “Pois você aqui vai aprender a fazer tudo isso”. Outra história vem do escritor Luiz Eduardo Lages: após ouvir alguém falar que no estádio havia alambrado e vestiários, Tim perguntou: “E grama, tem?”. Quando o outro confirmou, ele coseu com alfinete: “É só o que precisamos para jogar, o resto não interessa”.

               Para Zizinho, Tim foi disparado o melhor técnico que apareceu no Brasil. Esse treinador ainda cativaria os atletas na mesa, pois cozinhava bem, habilidade exercida com a mesma arte com que jogou e soube ensinar futebol. A culinária foi aprimorada graças à sua proverbial timidez, que o fazia fugir dos fãs, deixando-o em casa a ver a mãe e as 4 irmãs (uma delas atendia pelo suave nome de Coréia) preparar as iguarias. Seu segredo era o tempero. E quem provou do que fez diz que a almôndega ao molho atraía tanto quanto a dobradinha. Daí, houve quem dissesse que Elba foi melhor cozinheiro que craque e treinador – um exagero desmedido, é claro.

                Segundo os jornalistas Marcos de Castro e João Máximo, “seu melhor prato, entretanto, continuou sendo por muito tempo o futebol, servido todos os domingos à torcida do Fluminense”. Sim, ele foi notável com os pés. E “o futebol faz parte da história particular de cada brasileiro da nossa época”, dizia o poeta e cronista Paulo Mendes Campos, que jamais renunciou ao direito e ao prazer de sonhar com esse esporte, “por fidelidade à infância e por fidelidade ao orgulho inexplicável de ser brasileiro”. No caso específico do El Peón, a sua bola era tanta que outra sumidade, Romeu Pellicciari ressentido com a semi-final contra a Itália em 1938, revelou: “Se Tim tivesse jogado toda a Copa, nós conquistaríamos aquele título”. Nas três situações, portanto, são palavras abalizadas de quem sabe das coisas, e como. Pela Seleção Brasileira, Tim disputou 16 partidas.

                Elba de Pádua Lima morreu no Rio de Janeiro em 7 de julho de 1984. Os seus legados ao futebol são a finta, a visão de jogo e o passe preciso, além da estratégia. A viúva herdou as duas filhas. E na História do nosso futebol, ficou esta certeza de Domingos da Guia: “Em dez anos ao lado de Tim, eu nunca vi ele errar”. Como jogador era um meia-esquerda talentoso e exímio driblador. Como treinador, Tim era um grande estrategista, tendo sido campeão carioca de 1964 (Fluminense) e Vasco da Gama (1970).

                Tim era o técnico do Santos no dia em que Pelé se despediu do futebol brasileiro para defender o Cosmos, dos Estados Unidos, em 1974. O time santista derrotou a Ponte Preta, na Vila. Pelé foi substituído por Gilson Beija-Flor e se ajoelhou no centro da Vila Mais Famosa. O curioso é que o mesmo Gilson Beija-Flor se tornou político no Guarujá, anos depois. E, assim que tomou posse como vereador na bela cidade da Baixada Santista, Gilson interditou uma grande obra no Jardim Acapulco. Detalhe: o proprietário era Pelé.

Tim, vestindo a camisa do Fluminense, em 1938. Ele é o primeiro em pé, da esquerda para a direita
Elba de Pádua Lima, o popular Tim no auge de sua carreira como jogador
Da esquerda para a direita: Zizinho, Pipi, Tim, Russo e Amorim
A foto (tirada em 1971, no Pacaembu), de jogadores da seleção brasileira de 1938. Em pé: Jaú, Nariz, Brito, Brandão e Lopes   –    Agachados: Luisinho, Afonsinho, Leônidas da Silva, Tim e Patesko
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