MIRANDINHA: brilhou no Corinthians e no São Paulo F.C.

                Sebastião Miranda da Silva nasceu dia 26 de fevereiro de 1952, na cidade de Bebedouro – SP. No meio futebolístico era conhecido por Mirandinha. Era um centroavante conhecido por sua raça e velocidade. Fazia 50 metros em 5,2 segundos no início de sua carreira, a qual começou em 1968, no América de São José do Rio Preto, onde ficou até ser comprado pelo Corinthians, em 1970. Lá, dizia-se que ele “impressionava tanto pelos gols que fazia quanto pelos muitos que perdia”, mas foi um dos principais jogadores do time até ser vendido ao São Paulo, em 1973. Com o dinheiro da transferência, comprou uma casa atrás do aeroporto de Congonhas. Depois de se aposentar, Mirandinha foi técnico de alguns clubes, como o CENE, do Mato Grosso do Sul, trabalhou com as categorias de base do Corinthians e esteve ligado a escolas de futebol da Secretaria Municipal de Esportes de São Paulo.

CORINTHIANS

                Mirandinha fez sua estréia com a camisa do Corinthians dia 8 de agosto de 1970, num jogo amistoso contra o América de São José do Rio Preto. O jogo terminou empatado em 0 a 0 e este jogo foi realizado como parte do pagamento do passe de Mirandinha. Pelo Corinthians fez partidas memoráveis, como aquela do dia 25 de abril de 1971, quando o Timão venceu o Palmeiras por 4 a 3 numa das maiores viradas corintianas de todos os tempos. Neste jogo Mirandinha marcou dois gols, inclusive o quarto, que deu a vitória ao alvinegro de Parque São Jorge nos minutos finais de partida. Sua despedida do Corinthians aconteceu dia 15 de agosto de 1973, quando o Timão perdeu para a Portuguesa de Desportos por 2 a 0 pelo segundo turno do campeonato paulista. Com a camisa do Corinthians Mirandinha disputou 162 jogos de 1970 até 1973 e nesse período marcou 50 gols. Depois foi vendido ao São Paulo F.C.

SELEÇÃO BRASILEIRA

              Com a camisa canarinho, Mirandinha disputou amistosos preparatórios para a Copa do Mundo de 1974. Começou como titular contra o México (1 a 1) e contra a Checoslováquia (1 a 0), sendo substituído por Leivinha nessa última partida. Contra a Bulgária (1 a 0), entrou no lugar do mesmo Leivinha. Apesar de não ter participado dos nove amistosos seguintes, foi convocado para o mundial da Alemanha, às pressas, no lugar de Clodoaldo. Disputou quatro partidas, atuando até na ponta direita, com que não estava acostumado, e foi titular contra a Escócia e entrando no segundo tempo contra Zaire, Holanda e Polônia. Sem marcar gols em nenhuma das sete partidas em que atuou, essa foi sua última participação com a camisa do Brasil.

SÃO PAULO F.C.

                Foi no São Paulo que viveu sua melhor fase. Depois de chegar ao Morumbi, marcou 12 gols em 20 jogos pelo Campeonato Brasileiro de 1973, que lhe valeram a Bola de Prata da revista Placar em sua posição e o levaram à seleção brasileira. Mas no ano seguinte, Mirandinha enfrentou o maior problema de toda sua carreira e tudo aconteceu no dia 24 de novembro de 1974, quando  o São Paulo enfrentou o América, no estádio Mário Mendonça, em São José do Rio Preto. Mirandinha abriu o placar aos oito minutos do segundo tempo. Pouco depois, entrou em uma dividida com o zagueiro Baldini.

               Mirandinha também era famoso por não tirar o pé das divididas, mas levou a pior e teve fratura dupla na tíbia e na fíbula. A foto do lance, de Domício Pinheiro, é famosa. Foi substituído imediatamente por Serginho, que marcou dois gols naquele jogo, fechando a vitória tricolor em 3 a 0. Meio constrangido, Serginho aceitou a responsabilidade: “Agora chegou minha chance. É uma pena que tenha sido deste modo, mas eu preciso aproveitá-la. Meu contrato termina em dezembro, e eu ganho muito pouco.” Ele, de fato, aproveitou a chance e veio a se tornar o maior artilheiro da história do São Paulo, com 243 gols.

               A contusão de Mirandinha foi tão grave que uma junta de 17 médicos decidiu pela amputação da perna do jogador. Quem o salvou dessa mutilação foi o doutor Bartolomeu Bartolomei, do Hospital São Lucas, em São Paulo, que apostou na cirurgia e recuperou o jogador para mais alguns anos de carreira. Só tirou o gesso dois anos e meio depois, em 25 de maio de 1977, quando cogitou em  voltar a São José do Rio Preto com a família para talvez montar algum negócio. Ao todo, foram sete cirurgias, duas delas com enxertos ósseos. O tempo total que ele ficou parado foi de mais de três anos, mas o São Paulo pagou todos os seus salários enquanto o jogador ficou parado.

              Após tirar o gesso, Mirandinha seguiu fazendo um trabalho intensivo. A volta aos gramados só se daria 1.109 dias depois da contusão, ou seja, em 7 de dezembro de 1977, na segunda fase do Campeonato Brasileiro, contra o Brasília no Pacaembu, embora ele já tivesse sido cogitado para entrar em campo contra o Santa Cruz, ainda pela primeira fase. Mirandinha entrou no intervalo, substituindo a Serginho, que marcara dois gols no primeiro tempo. “Nem tive tempo para ficar nervoso”, disse o jogador depois da partida. “O técnico do São Paulo, Rubens Minelli me chamou num canto e disse: “Entre no lugar do Serginho e seja feliz.” Mesmo com o gramado pesado, por causa das fortes chuvas do dia (que chegaram a ameaçar até a realização da partida), Mirandinha participou de 15 jogadas “dignas de nota”. Faltou apenas o gol.

               Já dez quilos mais magro em relação a maio, quando tirara o gesso, finalmente começou como titular em 15 de fevereiro de 1978, contra o Sport, pela terceira fase do Brasileiro de 1977, que ainda não tinha terminado. Sua vaga no time titular veio com a suspensão de Serginho, por causa de expulsão no jogo anterior, contra o Botafogo, em Ribeirão Preto, a mesma expulsão que duas semanas depois lhe valeria uma suspensão de catorze meses. “O futebol é engraçado”, dizia Mirandinha na véspera da partida. “Ele entrou no meu lugar quando eu estava na melhor fase da minha vida.

              E agora eu entro no lugar dele exatamente na mesma situação.” Nervoso antes de entrar em campo, Mirandinha teve medo de decepcionar a torcida, mas o São Paulo venceu aquela partida e Mirandinha foi fundamental no gol da virada. O centroavante comemorou o gol com entusiasmo, como se ele mesmo o tivesse marcado. Foi quando a torcida passou a gritar o seu nome, e ele agradeceu logo depois, com seu primeiro gol depois de 1.179 dias. E, depois do apito final, avisou que sua camisa já tinha dona: “Pelo amor de Deus, não tirem a camisa de mim.

              Ela é da minha mãe, que vem rezando por mim desde o dia da minha contusão. E não vejo a hora de entregá-la, hoje mesmo.” O São Paulo foi campeão brasileiro ao derrotar o Atlético-MG nos pênaltis em pleno Mineirão, com uma atuação razoável de Mirandinha, que, mesmo bem marcado, perdeu uma boa chance no segundo tempo em cruzamento de Zé Sérgio e não fugiu das divididas que caracterizaram a atuação do tricolor naquela tarde.

FINAL DE CARREIRA             

              Depois de 93 jogos e 43 gols, decidiu deixar o Morumbi e foi parar no Tampa Bay Rowdies, nos Estados Unidos. Ficou por lá até 1979 e no ano seguinte foi para o México defender o Tigres. Voltou ao Brasil em 1981 e rodou por vários times menores, como; Atlético Goianiense (1981), Taubaté (1982), ABC (1983), Guará (1983), Douradense (1983), União Mogi (1984), Saad (1984) e Independente de Limeira (1984), até encerrar a carreira em 1985, defendendo o Ginásio Pinhalense.

              Depois que aposentou, Mirandinha comandou uma Escola de Futebol e geralmente, quando chovia forte, não havia treinamentos. Então ficava conversando com os meninos. Os garotos pediam para ele falar da sua passagem pela Seleção, do Mundial de 1974, na Alemanha, e a fratura que sofreu na perna esquerda. Então ele contava que ficou afastado dos gramados durante três anos. Nesse período fez várias cirurgias. Foi uma fase difícil. Mas, com muita fé e um trabalho muito bom dos médicos que o acompanharam, conseguiu superar tudo. Mirandinha acredita que, com esse exemplo, procurava dizer aos garotos que, com força de vontade, perseverança e dedicação, os obstáculos são mais fáceis de serem superados.

              E ainda dizia: ”Como lidamos com crianças de uma camada social muito baixa, temos de estimulá-las de qualquer forma. Sempre disse à elas que, com estudo e força de vontade, as dificuldades ficam mais fáceis de serem ultrapassadas e os objetivos mais próximos de serem alcançados.” Esse é o nosso querido Mirandinha, que até hoje é muito querido por corintianos e são-paulinos, pois honrou as duas camisas durante o período que as vestiu na década de 70.

1972   – Em pé: Vágner, Baldocchi, Sidnei, Suingue, Luiz Carlos e Eberval   –    Agachados: Vaguinho, Lance, Mirandinha, Nelson Lopes e Rodrigues
1974   –   Em pé: Zé Maria, Marinho Chagas, Wendell, Luís Pereira, Piazza e Carbone   –    Agachados: Mário Américo, Jairzinho, Paulo César Carpegiani, Mirandinha, Ademir da Guia, Edú e Nocaute Jack
1977   –   Em pé: Antenor, Tecão, Getúlio, Chicão, Bezerra e Waldir Peres   –    Agachados: Vianna, Teodoro, Mirandinha, Dario Pereira e Zé Sérgio
1969   –   Em pé: Luís Carlos, Suingue, Ditão, Mendes, Ado e Miranda   –    Agachados: Paulo Borges, Mirandinha, Rivelino, Lima e Ivair
Em pé: Luis Carlos, Pedrinho, Ado, Ditão, Zé Maria e Suingue   –    Agachados: Paulo Borges, Célio, Rivelino, Mirandinha e Aladim
Em pé: Antenor, Waldir Peres, Getúlio, Estevam Soares, Chicão e Bezerra   –    Agachados: Mirandinha, Neca, Serginho Chulapa, Teodoro e Zé Sérgio

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