BENÊ: brilhou no Guarani e no São Paulo F.C.

                   Benedito Leopoldo da Silva nasceu dia 28 de fevereiro de 1935, na cidade de São Paulo – SP. Foi um meia esquerda que marcou época no São Paulo, onde jogou de 1961 até 1970. Infelizmente jogou num período em que o Tricolor estava construindo o Morumbi e com isto o time de futebol ficou meio que de lado. Bene tinha um futebol espetacular e um vigor físico inigualável. Para superar a defesa adversária, utilizava de dois recursos; a técnica apurada e a força física irresistível. Um caso curioso que aconteceu em sua carreira foi quando lhe arrumaram um tal de “sopro no coração”, somente para dispensá-lo da Seleção Brasileira que iria disputar o mundial de 1962, no Chile. No entanto, os médicos paulistas contestaram, mas nada podiam fazer, pois já estava cortado do nosso selecionado, dando lugar a Mengálvio do Santos F.C. Outro acontecimento importante em sua carreira, foi no ano de 1968, quando recebeu o Troféu Belfort Duarte por seu comportamento exemplar dentro de campo, ou seja, nunca foi expulso.

GUARANI

                   Benê começou sua carreira no Guarani de Campinas, onde mostrou um grande futebol e chamou a atenção de grandes clubes da capital paulista. Em 1960 o Bugre Campineiro tinha um grande time e dava muito trabalho aos times grandes, principalmente quando jogava em seu estádio Brinco de Ouro da Princesa. A equipe era formada por; Nicanor, Ditinho, Valter, Heraldo e Ferrari; Diogo e Benê; Paulo Leão, Hilton, Cabrita e Osvaldo. O técnico era Armando Renganeschi. Este foi o time que empatou com o Corinthians em 2 a 2 no dia 10 de novembro de 1960. O jogo foi no Parque São Jorge e os dois gols do Bugre foram anotados por Osvaldo, enquanto que para o alvinegro os dois gols foram marcados pelo ponta direita Bataglia.

                  Pela equipe do Guarani, Benê enfrentou várias vezes a Ponte Preta, no famoso Derby Campineiro, mas tem um que ficou marcado em sua carreira. Foi o jogo do dia 5 de junho de 1960, que foi realizado no estádio Brinco de Ouro da Princesa. Neste dia fazia sua estréia na equipe bugrina, o atacante Cabrita,  que havia jogado no Vasco da Gama e anos depois faria muito sucesso na Ferroviária de Araraquara. O jogo com a Ponte Preta terminou com uma sonora goleada do Guarani por 6 a 0, gols de Benê (2), Osvaldo (2), Cabrita e Paulo Leão. No início de 1961, o Tricolor que estava namorando o craque já algum tempo, finalmente o pediu em casamento e em janeiro Benê foi contratado.

SÃO PAULO

                  Assim que Benê chegou ao Morumbi, já foi logo assumindo a posição de titular da equipe e logo de cara teve um clássico pela frente e foi novamente contra o Corinthians. Foi um jogo amistoso realizado no dia 24 de maio de 1961 no Estádio Paulo Machado de Carvalho, o velho Pacaembu. O jogo terminou com a vitória corintiana por 3 a 2, gols de Higino, Rafael e Neves, enquanto que Ailton e Amauri marcaram para o Tricolor. Neste dia o técnico do São Paulo, o Sr. Flávio Costa, o mesmo que comandou nossa seleção na Copa de 50 aqui no Brasil, mandou a campo os seguintes jogadores; Suly, Deleu, Vilásio, Vitor e Riberto; Roberto Dias e Benê; Faustino, Amauri, Baiano e Ailton.

                 Depois da frustração de ser cortado da nossa seleção que iria disputar o mundial do Chile em 1962, sob pretexto de ter um sopro no coração, Benê continuou defendendo as cores do Tricolor com a mesma garra e disposição de antes. E foi com este amor pelo clube que ele ajudou seus companheiros a conquistar a “Pequena Taça do Mundo” disputado na Venezuela. Foi um Torneio que teve a participação do Real Madrid, da Espanha, do Porto, de Portugal e do São Paulo F.C.  No primeiro jogo o Porto perdeu para o Real Madrid por 2 a 1. No dia seguinte o São Paulo derrotou o Porto por 2 a 1. No terceiro jogo e que decidiria o campeão, o São Paulo venceu o Real Madrid por 2 a 1. Este jogo aconteceu dia 25 de agosto de 1963.

               O ano de 1963 realmente foi muito bom para o craque Benê, assim como para o Tricolor Paulista, pois no Campeonato Paulista daquele ano ficou em segundo lugar e teve partidas memoráveis, como aquela em que fez sua estreia e goleou o Noroeste por 4 a 0. Ainda no primeiro turno fez uma partida que entrou para a história do futebol, pois foi o dia em que o Santos fugiu de campo. Este jogo aconteceu dia 15 de agosto, uma quinta feira a tarde no Pacaembu. O árbitro foi o até então desconhecido Armando Marques, que depois desse dia ficou conhecido em todo o Brasil e passou a apitar os grandes clássicos do futebol brasileiro, embora em sua carreira tenha cometido erros gravíssimos e que até acabaram em mudar o resultado de uma partida e até mesmo o título de campeonato, caso de 1973, quando cometeu um erro aritmético e com isto tivemos dois campeões paulista naquele ano, Santos e Portuguesa de Desportos.

JOGO DO CAI CAI

                Seria o con­fronto entre o então cam­peão mun­dial Santos, que meses mais tarde con­quis­taria o bi, contra um São Paulo já com um elenco econô­mico por causa da cons­trução do Mo­rumbi. Seria o terceiro jogo pelo São Paulo de Pagão, então com 28 anos, de­pois de perder es­paço para Cou­tinho no Santos e sair bri­gado da Vila Bel­miro. Talvez por isso, o cen­tro­a­vante teve uma atu­ação espetacular. Na época o regulamento não previa substituição e se um jogador se machucasse, a equipe ficava com 10 elementos. Para este jogo o técnico santista Luiz Alonso Perez, mais conhecido por Lula, mandou à campo os seguintes jogadores;  Gilmar; Aparecido, Mauro, Geraldino e Dalmo; Zito e Lima; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Realmente um time que impunha respeito a qualquer adversário. Do outro lado, o técnico Osvaldo Brandão escalou a seguinte equipe; Suly, Deleu, Jurandir, Bellini e Ilzo Neri; Roberto Dias e Benê; Faustino, Cecílio Martinez, Pagão e Sabino.

                Logo aos 5 minutos de jogo, o Tricolor abriu a contagem através do ponta direita Faustino. O gol de empate santista veio aos 21 minutos através de Pelé. O jogo estava muito equilibrado e Pelé continuava muito irritado com o árbitro Armando Marques. Aos 37 minutos, Benê desempatou a partida para o São Paulo. Três minutos depois, o ponta esquerda Sabino aumentou o placar para 3 a 1. A confusão co­meçou aí. O ban­dei­rinha teria apon­tado im­pe­di­mento no lance, mas foi ig­no­rado pelo ár­bitro Ar­mando Mar­ques, que deu o gol.

                 Coin­ci­dência ou não, duas se­manas antes o Santos tinha feito um protesto na Fe­de­ração Pau­lista, ale­gando que Ar­man­dinho es­taria sendo tendencioso. O cen­tro­a­vante san­tista Cou­tinho re­solveu peitar o ár­bitro: “Sa­tis­feito, ‘Flor­zinha’?” Foi ex­pulso no ato. “Eu o chamei pelo nome e falei: ‘Pode ir em­bora, seu Ho­nório.’, disse Ar­mando em en­tre­vista à Re­vista Ofi­cial do São Paulo em 2010. Pelé, ges­ti­cu­lando bas­tante, também foi re­clamar. Na mesma en­tre­vista, Ar­mando também lembra o que disse para o Atleta do Sé­culo: “Edison, o se­nhor está ex­pulso. Retire-se.” Na época os car­tões ver­melho e ama­relo ainda não ti­nham sido in­ven­tados, e o juiz apenas si­na­li­zava as expulsões. Final do primeiro tempo, vitória parcial do Tricolor por 3 a 1.

                 Ao retornarem ao gramado para a segunda etapa, o Santos que já havia perdido Pelé e Coutinho por expulsão, voltou também sem o lateral direito Aparecido que fazia sua estreia na equipe santista, alegando estar contundido e como naquela época não havia substituição, o Peixe voltou a campo com apenas 8 jogadores. Armando Marques apita o início do segundo tempo. Logo aos 4 minutos de jogo, começou então o “cai-cai”. Pepe cai no gramado, o médico santista o atende e diz que não tem mais condições de continuar jogando. Santos com 7 jogadores, ou seja, o mínimo permitido numa partida de futebol.

                Para coroar sua atuação naquele dia, aos 7 minutos Pagão faz mais um gol e amplia o placar para 4 a 1. Assim que o árbitro apitou o reinício da partida, o ponta direita Dorval, também desabou em campo. Como a regra é clara, segundo o ex-árbitro Arnaldo Cézar Coelho, a partida teve que ser encerrada por falta de jogadores da equipe santista, que naquele momento contava com apenas 6 homens em campo.  Com isto, o Santos evitava uma goleada histórica, mas não o vexame de fugir de campo. A manchete do jornal A Gazeta Esportiva do dia seguinte foiSantos fugiu do campo!“.

                 Com a camisa do São Paulo, Benê foi campeão paulista em 1970, mas sem jogar nenhuma partida, somente no jogo em que sagrou-se campeão, entrou nos minutos finais no lugar de Terto. Esta foi sua última partida pelo São Paulo. Dos nove anos de clube, Benê disputou 264 partidas, venceu 143, empatou 54 e perdeu 67. Marcou 78 gols.

TRISTEZA

                Benê, aquele maravilhoso meia-armador do Guarani FC e do São Paulo FC, morreu no dia 6 de janeiro de 2001, numa clínica de repouso na zona rural de Campinas-SP, onde tentava se recuperar do alcoolismo. Foi internado gratuitamente graças ao bom coração do proprietário daquela fazenda-hospital, atendendo a apelos do jornalista Milton Neves, pela Rádio Jovem Pan – AM de São Paulo. Seu enterro teve também o dedo da filantropia. Benê, o Benedito Leopoldo da Silva, foi sepultado em Jundiaí-SP, onde viveu com sua segunda esposa e três filhos, com as despesas sendo bancadas pela FPF (Federação Paulista de Futebol), à época presidida por Eduardo José Farah. Pelo homem simples que era e pelo craque que foi, nosso futebol ficou um pouco mais triste com sua morte.

1962 – Em pé: Garrincha, Nilton Santos, De Sordi, Jurandir, Aldemar, Zagallo, Benê e Paulo Amaral    –     Agachados: Valdir, Jair Marinho, Zequinha, Rildo, Amarildo, Germano e Gilmar
Em pé: Nenê, Roberto Dias, Celso, Edilson, Eduardo e Picasso   –    Agachados: Miruca, Terto, Babá, Benê e Paraná
1962    –  Em pé: De Sordi, Dario, Riberto, Deleu, Roberto Dias e Suly     –   Agachados: Faustino, Prado, Benê, Baiano e Agenor
15-08-1963   –   Em pé: Ilzo Neri, Jurandir, Bellini, Roberto Dias, Suly e Deleu   –    Agachados: Faustino, Cecílio Martinez, Benê, Pagão e Sabino
Em pé: De Sordi, Bellini, Jurandir, Riberto, Suly e Sudaco   –   Agachados: Faustino, Del Vecchio, Benê, Bazaninho e Valdir
1961   –   Em pé: De Sordi, Procópio, Deleu, Riberto, Suly e Benê   –    Agachados: Faustino, Prado, Baiano, Jair Rosa Pinto e Canhoteiro
Em pé: De Sordi, Poy, Deleu, Riberto, Procópio, Benê e o mordomo Serrone   –    Agachados: Célio, Gonçalo, Gino, Baiano e Agenor
XV de Piracicaba  –  Em pé: Muca, Pescuma, Proti, Virgilio, Neves e Dorival   –    Agachados: Nondas, Varlei, Picolé, Benê e Sabino
Em pé: Dimas, Ferrari, Ditinho, Walter, Eraldo e Diogo   –    Agachados: Paulo Leão, Ilton Porco, Cabrita, Benê e Oswaldo
Em pé: Bellini, Jurandir, Riberto, Leal, Suly e Deleu   –    Agachados: Cecílio Martinez, Baiano, Benê, Cido e Canhoteiro
Em pé: Oswaldo Cunha, Nenê, Bellini, Adevaldo, Tenente e Fábio   –    Agachados: Ferreti, Prado, Babá, Benê e Fefeu

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