GILMAR FUBÁ: campeão mundial pelo Corinthians em 2000

             Gilmar de Lima Nascimento nasceu dia 13 de agosto de 1975 no bairro de Sã Mateus, zona leste de São Paulo. Gilmar superava as limitações técnicas com muito suor, o que o fez se tornar um jogador querido pela Fiel torcida.

             “Eu tenho um carinho muito grande da torcida, dos Gaviões. Sei que eles me amam até hoje. E eu também sinto o mesmo por eles”, diz Gilmar, que é casado e pai de dois filhos.
Titular na equipe comandada por Nelsinho Baptista no Paulistão de 1997, o volante deu sua contribuição para o título conquistado pelo alvinegro naquele estadual.

               Gilmar Fubá fez um dos gols na vitória sobre o Santos na fase final. “Na verdade, eu fui lançado no time principal pelo técnico Valdyr Espinosa, depois que o Zé Elias foi embora para a Alemanha. Mas antes eu já tinha treinado muitas vezes no time profissional. Uma das primeiras vezes foi em 1995, joguei de zagueiro e marquei o Viola. Acho que fui bem”.

                 Apesar de ser alto e forte, as contusões o perseguiam. O meio-campista ficou várias vezes no departamento médico corintiano, mesmo assim foi útil no elenco bicampeão brasileiro em 1998 e 1999 e Mundial da Fifa em 2000. Na decisão do Mundial de Clubes de 2000, no qual ele se livrou de bater um pênalti na decisão contra o Vasco, como ele mesmo brincou.  “Eu pensei, vou pedir um sal de fruta Eno para o roupeiro e vou jogar na boca, vai começar a espumar minha boca, eu vou sair de ambulância e vou embora, bate o outro. Aí foi quando o Edmundo bateu, cara. Todo mundo me levantando, falando ‘é campeão!’, eu falei ‘campeão é o caramba, ainda bem que eu não bati o pênalti”,

                  Gilmar deixou o clube no mesmo ano da conquista internacional para defender o Fluminense. Não conseguiu sucesso nas Laranjeiras. Aliás, Gilmar lamenta até hoje sua passagem pelo Tricolor carioca. “O Fluminense é um grande time, mas eu tive que pagar para jogar. Foi muito ruim. O caso está na justiça”, comenta o volante, que, em seguida retornou ao futebol paulista para vestir as camisas do Rio Branco de Americana e da Portuguesa Santista. Em 2004, Gilmar Fubá assinou contrato com o Schalke 04, da Alemanha, mas não teve muitas oportunidades na equipe da Europa. Também teve meteórica passagem pelo Hyundai, da Coréia.

                 Voltou ao Brasil para defender o Noroeste de Bauru, onde teve como companheiro os ex-corintianos Maurício (goleiro) e Luciano Bebê (meia-atacante). Contribuiu para o Norusca retornar a Série A do Paulistão em 2006.

                  Depois de defender o Criciúma (SC) no segundo semestre de 2005, o raçudo meio-campista foi jogar no Al Ahli, do Catar. “Não conseguia entender nada do que falavam lá. Mesmo assim, os jogadores me respeitavam. O Oswaldo de Oliveira, que era o técnico, não entendia direito como eu me comunicava com os jogadores. Nem eu. Mas eu consegui até ensinar até algumas palavras e frases para os jogadores de lá, tipo: “Está dando Migué” ou “O bicho tá pegando”, conta o alegre Gilmar Fubá.

                   Depois do Catar, jogou ainda no Noroeste e em 2008 foi contratado pelo Red Bull Brasil, clube recentemente fundado e que tem como sede a cidade de Vinhedo (SP).

O APELIDO

                     A origem do apelido “Fubá” retrata a dificuldade que Gilmar teve na infância. O humilde garoto cresceu tomando mamadeira de fubá. “Vinha muito fubá na cesta do meu pai. O leite era mais caro. Por isso, eu tomava muita mamadeira de fubá. Hoje, fubá, só na polentinha”, brinca o volante.

 JOGOS PELO CORINTHIANS:

              Com a camisa do Corinthians, Gilmar realizou 131 partidas (61 vitórias, 33 empates e 37 derrotas) e marcou 37 gols.

A ARMA

                      Revoltados com a eliminação do time na Libertadores da América de 2000, alguns membros de torcidas organizadas do Corinthians invadiram o Parque São Jorge e foram cobrar de alguns jogadores, principalmente do atacante Edilson. Gilmar, que tinha um revólver em sua BMW, mostrou uma arma quando a confusão acontecia no estacionamento do clube. Sempre bem humorado, o volante tenta até hoje explicar a situação.

“O Fernandinho Fernandes (repórter) me viu chupando uma bala e perguntou se eu podia lhe dar uma. Eu, brincando, abri o meu carro e mostrei que tinha outro tipo de bala. Tinha porte de arma na época. Foi só isso. Jamais atiraria em alguém. Acho que a coisa não foi bem interpretada por um outro repórter”, brinca o volante.

DERAM SEIS MESES DE VIDA

                        Gilmar Fubá nasceu de novo. O ex-jogador do Corinthians descobriu que sofria de um câncer na medula óssea e chegou a ter um prognóstico de apenas seis meses de vida. Depois , ele celebrou a recuperação que surpreendeu até os médicos e mostrou muita gratidão aos amigos que o ajudaram com uma gorda contribuição de até R$ 1 milhão pelo tratamento.

                         O ex-atleta completou quatro ciclos da quimioterapia e passou pela fase mais difícil do tratamento. Após receber alta, ele se mostrava sorridente e foi até acompanhar o futebol dos amigos. Mas a situação era extremamente grave. “Eles ficavam com medo de falar para mim e para a minha esposa, mas os meus amigos sabiam de tudo. Eles me deram seis meses de vida porque estava muito alastrado, meus ossos estavam todos estourados. Ficaram com medo de falar para mim”, conta. “Diziam: `quem vê sua tomografia e não vê você, pensa ou já morreu ou está em coma”.

                          “Os médicos mesmo falam: `você é mutante´. Desde o começo, eu estava com o rim parado. A médica falou que eu tenho 15 anos aqui e nunca vi uma pessoa reagir na primeira quimioterapia igual você reagiu. Seus ossos estavam todos estourados”.

                         Gilmar Fubá sofreu com a doença por dois anos sem nem mesmo perceber. Ele descobriu que tinha um linfoma após contrair uma gripe e começar a passar mal. Chegou a ficar quatro dias de cama com vômitos frequentes. O médico do Corinthians Joaquim Grava ficou preocupado e o levou ao hospital São Luís, na Zona Sul de São Paulo. Lá, viram que ele tinha dois caroços e prontamente indicaram uma biopsia. Em 15 dias, ele teve o diagnóstico assustador.

                         Gilmar só conseguiu a recuperação milagrosa graças a ajuda dos amigos. O tratamento particular é muito caro e os custos passaram de R$ 1 milhão. Ele teve a ajuda fundamental de um amigo que doou R$ 700 mil para o tratamento. “O tratamento é muito caro. Porque o convenio não cobre tratamento de câncer, de ninguém, você entra na justiça para brigar. Por isso que morre, não tem como, o Beto da Kalunga já gastou, em dois meses, R$ 700 mil comigo no hospital São Luis. É meu amigo. Falou: `Gilmar, descansa, quero que você e sua esposa estejam bem. Os melhores médicos vão tratar você´. Ele chamou os médico:`oh… eu não quero saber quanto é, não quero saber de onde vem a medicação. Se for preciso, eu levo ele para os Estados Unidos, eu quero ver meu amigo bom. Não quero saber preço, não precisa me ligar, o que estiver precisando, faz´. Sempre foi meu irmão, mas agora. Tem amigo que é melhor que irmão”, revelou.

                         “Tem medicação que eu tomo aqui, que eu tomo na barriga que é importada. Se fosse no SUS essa medicação já não vinha e é a que eu preciso para o meu tratamento. No SUS tem uma só. Existem 80 tipos de câncer, cada câncer é tratado com uma medicação. No SUS eles dão uma medicação só, única, se servir para o seu câncer, amém. Se não servir, morre. É mais um que vai morrer. Por isso que morre o povo”.

                           Mas os custos do tratamento de Fubá não pararam por aí. Ele contou que ainda teria que fazer pelo menos mais dois anos de tratamento, incluindo uma cirurgia na medula.  Alguns ex-jogadores do Corinthians como Dinei, Vampeta e Muller, estudaram fazer um jogo beneficente para ajuda-lo.

                          A ideia era fazer um jogo preliminar antes da partida entre Corinthians e Chapecoense, na estreia do Campeonato Brasileiro, na Arena Corinthians. O ingresso deveria custar R$ 60,00 e 10% seria destinado ao tratamento.

                           Gilmar demonstrava preocupação com os custos do tratamento porque sabe que não poderá ser bancado pelos amigos durante toda a vida e não vem tendo uma situação financeira tranquila. Ele e a mulher estavam sem trabalho. A esposa se dedicava integralmente ao marido, e Fubá não tinha mais rendimentos porque vivia de presenças em eventos ligados ao futebol.

                          Ainda assim, ele só tinha a comemorar. Além da recuperação, tinha a família ao seu lado e se apegou à religião. Antes da doença, ele conta que viveu momentos difíceis por ter se perdido noite. Havia deixado a família, se afastado até dos filhos e se afundado. “Eu estava só afundando. A primeira coisa que eu perdi foi a família, eu fui casado vinte e poucos anos e do nada eu saí de casa. Saí de casa, levei minha roupa. Minha mulher perguntou: `por que?´. `Porque eu não quero mais, não gosto mais de você´, e saí de casa.

                           “Ai perdi emprego, fui perdendo as coisas, tive que vender dois apartamentos nessa fase para se manter, manter a casa da minha família. Eu já não queria mais trabalhar, a noite já não deixava mais eu trabalhar, esses compromissos assim (jogos em eventos) ele já perdia. Com mulher, com tudo, bebida. Não acordava cedo, porque chegava 8h, 9h em casa e ia só afundando, afundando e você não tem essa visão. Você está indo para o abismo e não vê”, conta ele que se diz agradecido. “Teve dia no hospital orando: Senhor, muito obrigado por você ter colocado essa doença na minha vida. Porque se não fosse a doença, eu estaria perdido mais ainda”.

                             Depois que pendurou as chuteiras, Fubá passou a integrar o time máster do Corinthians, que fazia partidas de exibição pelo país e também trabalhou nas categorias de base do Timão. Além disso, atuou na partida comemorativa que marcou a inauguração da Neo Química Arena, em 2014.

                             Além da carreira dentro de campo, Fubá ficou muito conhecido por suas resenhas. Cheio de histórias para contar, o ex-volante colecionou momentos que sempre compartilhou em entrevistas e, muito por isso, apesar de ser um personagem marcante na história do Corinthians, o ex-volante era muito querido por todos. 

                             Gilmar Fubá morreu dia 15 de março de 2021, aos 45 anos de idade. depois de lutar contra um mieloma múltiplo, uma espécie de câncer de medula óssea.

Em pé: Nei, Rincon, Gamarra, Vampeta, Batata e Silvinho       –     Agachados: Gilmar, Mirandinha, Marcelinho Carioca, Ricardino e Dinei
Jogadores que ganharam o primeiro Campeonato Mundial Interclubes organizado pela Fifa em 2000. Da esquerda para a direita- em pé: Fabio Luciano, Edu, Gilmar Fubá, Fernando Baiano, Nenê, Yamada e Adilson Batista. Agachados: Luizão, Marcelinho Carioca, Ricardinho, Índio, Daniel e Edílson Capetinha
Gilmar Fuba carregando a Taça de um dos Campeonatos Brasileiros que ele conquistou

 

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