ROMEU PELLICCIARI: brilhou no Palestra Itália e no Fluminense

                  Romeu Pellicciari nasceu dia 26 de março de 1911, na cidade de Jundiaí – SP. Foi um jogador que brilhou na década de 30, sagrando-se tricampeão paulista em 1932, 33 e 34 pelo Palestra Itália e bicampeão pela Seleção Paulista em 1933 e 34 quando disputou o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais. Também jogou no Fluminense do Rio de Janeiro, onde também sagrou-se tricampeão em 1936, 37 e 38. Virou ídolo nacional e foi convocado para a Seleção Brasileira, pela qual disputou a Copa de 1938, disputada na França, quando o Brasil ficou em 3º lugar, ao vencer a Suécia por 4 a 2, gols de Leônidas da Silva (2), Perácio e Romeu Pellicciari. Hoje fala-se muito das “pedaladas” uma jogada atualmente muito utilizada por nossos jogadores, no entanto, foi Romeu quem a criou, só que naquela época era chamado de “Passo de Ganso”. Enfim, foi um jogador que marcou época no nosso futebol brasileiro.

PALESTRA ITÁLIA

                  Aos quinze anos de idade, Romeu  foi jogar no mais famoso clube da sua cidade, o São João. Seu grande sonho era jogar no Palestra Itália, hoje, Palmeiras. E atingiu seu objetivo em 1930. Portanto, há 90 anos, estreava no Palestra Itália aquele que viria a ser um dos maiores centroavantes de todos os tempos, Romeu Pellicciari. Descoberto na várzea de sua cidade natal, Jundiaí/SP, pelo ex-médio-direito Bertolini. Romeu não poderia ter feito sua estréia de melhor forma, já que foi o autor de um dos quatro gols da goleada de 4 a 0 imposta ao Corinthians. Este jogo aconteceu dia 24 de agosto de 1930 e foi disputado no Parque Antarctica.

                Além do gol de Romeu, os outros gols foram de Serafim, Ministrinho e Heitor. Neste dia o Palestra jogou com;  Nascimento, Volponi e Loschiavo; Pepe, Goliardo e Serafim; Ministrinho, Romeu Pellicciai, Heitor, Lara e Osses.  Gordo e careca, não tinha jeito de jogador de futebol. Mas, tocando de primeira, abrindo passes para as pontas e aparecendo na área para receber de volta, Romeu era um craque inigualável.

                Chegava o ano de 1932 e começava uma era de muito sucesso, tanto ao Palestra, quanto ao craque Romeu, que naquele ano sagrou-se Campeão Paulista. Mas antes disso, o time de Parque Antarctica viveu um período de vacas magras. Primeiro teve que assistir o arqui rival Corinthians sagrar-se tricampeão paulista (1928, 29 e 30), sendo que o título de 1929 foi em cima do Palestra com uma vitória de 4 a 1.

                Depois, em 1931, a torcida esmeraldina viu um dos seus maiores ídolos, Ministrinho embarcar para Itália para jogar na Juventus e também Pepe e Serafim, que foram jogar na Lázio. Mas no ano seguinte o Verdão formou um grande esquadrão e conquistou o título paulista. E um dos craques que fez parte deste time foi Romeu Pellicciari, nascido de uma família de imigrantes italianos, o grandalhão Romeu assumiu a titularidade da equipe e já naquele ano foi o artilheiro. O campeonato de 1932 foi confuso, por causa da Revolução Constitucionalista.

                O conflito armado paralisou o Campeonato Paulista por quatro meses. Com isso, resolveu reduzi-lo a apenas um turno. O Palestra ganhou facilmente o título, com uma campanha que é, até hoje a melhor da história do futebol em São Paulo, pois foram 11 jogos e 11 vitórias. Marcou 48 gols e sofreu apenas 8. O segundo colocado foi o São Paulo, que ficou 5 pontos atrás.

                Em 1933, além do título, outra façanha foi alcançada pelo alviverde, ou seja, uma impiedosa goleada sobre o Corinthians por 8 a 0. Este jogo aconteceu dia 5 de novembro de 1933 e neste dia Romeu Pellicciari marcou 4 gols, Imparato 3 e Gabardo marcou o oitavo gol da partida. O título daquele ano foi conquistado na última rodada, quando o Palestra venceu o São Paulo por 1 a 0 no dia 12 de novembro de 1933, gol de Avelino aos 74 minutos, ou seja, aos 34 minutos do segundo tempo, pois naquela época, os jogos tinham 80 minutos.

                Realmente o ano de 1933 foi um ano de muitas glórias ao alviverde, pois além do título paulista, também foi oficialmente inaugurado o Estádio do Parque Antarctica no dia 13 de agosto, que em sua inauguração, o Palestra goleou o Bangu do Rio de Janeiro por 6 a 0.  No ano seguinte o Palestra conquistou novamente o título paulista, sagrando-se tricampeão paulista. Para isso foram contratados os irmãos, Aymoré Moreira para o gol e Zezé Moreira para o meio de campo. Eles jogavam no Botafogo carioca, um clube que ainda resistia ao profissionalismo.  Romeu Pellicciari era chamado de “Príncipe” pela torcida palestrina e está entre os maiores artilheiros da história do clube. Disputou 105 jogos e marcou 106 gols.

FLUMINENSE

               Ainda nos anos de 1933 e 34, Romeu Pellicciari foi bicampeão brasileiro defendendo a Seleção Paulista. E foi depois destes títulos que o Fluminense começou a se interessar por Romeu, pois era um jogador estilista e que não gostava de abusar do drible. Para ele, o drible tinha hora certa. Como era filho de italiano, muitos foram os convites para Romeu jogar na Europa. Napoli, Genova e Lazio foram os clubes que tentaram contratá-lo. O pai queria que ele fosse jogar no futebol italiano. Romeu, entretanto, preferiu o desafio no Rio de Janeiro. Indo para o Fluminense, estava mais perto da família. E quando chegou nas Laranjeiras foi logo sendo tri campeão carioca nos anos de 1936, 37 e 38 e virou ídolo nacional. Sempre preferiu correr com a bola colada ao pé. Indagado sobre esta característica, Romeu disse que futebol se joga com a bola, sem ela não era nada.

SELEÇÃO BRASILEIRA

                Em 1938, Romeu foi convocado pelo técnico Ademar Pimenta para disputar a Copa do Mundo na França. A viagem foi de navio e durou 15 dias, com isto, vários jogadores brasileiros engordaram muito. Um bom exemplo disto foi Romeu que saiu do Brasil com 70 quilos e chegou na França com 79. O Brasil estreou no mundial dia 5 de junho de 1938 contra a Polônia. Foi um jogo simplesmente espetacular, onde o Brasil venceu por 6 a 5. Diante de um público de 18.000 pessoas, os 22 jogadores se empenharam em um dos mais sensacionais jogos daquela Copa.

               Ao final dos noventa minutos, num campo inundado por fortes chuvas e sob violento temporal, as duas equipes chegaram ao surpreendente 4 a 4. Veio então a prorrogação de 30 minutos, com o campo impraticável, um lamaçal sem grama. Os poloneses marcaram seu quinto gol e os brasileiros fizeram mais dois, fechando assim o placar de 6 a 5 para o Brasil. Os gols brasileiros foram anotados por Leônidas da Silva (4), Perácio e Romeu Pellicciari.

               No segundo jogo o Brasil venceu a Tchecoslováquia por 2 a 1 na prorrogação, gols de Leônidas da Silva e Roberto. Com esta vitória o Brasil já estava na semi-final. O próximo adversário era a Itália e o jogo aconteceu no dia 16 de junho. Como Leônidas havia se machucado no jogo anterior, Romeu foi escalado como titular. A Itália abriu o placar aos 12 minutos de jogo. Pouco depois, o árbitro marcou um polêmico pênalti contra o Brasil. Domingos da Guia levou um pontapé de um italiano e imediatamente revidou. O árbitro só viu a agressão de Domingos da Guia e marcou pênalti. Giuseppe Meazza cobrou e fez 2 a 0.

               Ainda no final da partida, Romeu Pellicciari marcou o único tento brasileiro. Com esta derrota o Brasil iria decidir o terceiro lugar, que aconteceu dia 19 de junho e vencemos a Suécia por 4 a 2, com dois gols de Leônidas da Silva, um de Perácio e Romeu Pellicciari.  Neste dia o Brasil jogou com; Batatais, Domingos da Guia e Machado; Zezé Procópio, Brandão e Afonsinho; Roberto, Romeu Pellicciari, Leônidas da Silva, Perácio e Patesko. A título de curiosidade, o campeão daquele mundial foi a Itália que venceu a Hungria por 4 a 2 na grande final daquele mundial de 1938.

               Sua atuação no mundial , fez aparecerem muitas propostas de países europeus para ele, mas manteve-se fiel ao Fluminense onde conquistaria ainda o bicampeonato carioca de 1940 e 41, clube pelo qual disputou 202 partidas e fez 90 gols jogando como meia-armador.

FINAL DE CARREIRA

               Em 1942 voltou para o Palmeiras, onde foi novamente campeão naquele ano. Passou depois pelo Comercial de Ribeirão Preto, retornou novamente ao Palmeiras, onde terminou a sua brilhante carreira em 1947. Já era dono da famosa Cantina do Romeu onde se entregava a outra paixão, as massas. Romeu era um jogador que gostava de inventar jogadas, dribles como o que o jornalista Mário Filho chamou de drible do canguru: fingia que ia não ia e terminava indo, deixando o adversário sem ação.

               Versátil, se necessário, jogava na frente abrindo as defesas. No meio campo, ditava o ritmo a base de toques. Não o preocupava outra coisa senão gastar o tempo e realmente a bola nos pés de Romeu fazia o tempo andar. E ele não precisava correr. O importante era ter a bola nos pés, dominada dócil, escondê-la, prendê-la. Houve uma vez num Fla x Flu que ele chegou até a linha de fundo e não centrou a bola, apenas voltou para recomeçar tudo de novo. Gordinho mas vaidoso, gostava de esconder sua calvície com gorros. Romeu faleceu dia 15 de julho de 1971.

Seleção Brasileira de 1939   –   Da esquerda para a direita: Thadeu; Domingos da Guia; Perácio; Brandão; Zezé Procópio; Florindo; Carrero; Romeu Pellicciari; Leônidas da Silva; Afonsinho e Adílson

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