MÁRIO TRAVAGLINI: foi um bom jogador e um excelente treinador

                  Mário Travaglini nasceu dia 30 de abril de 1932, no bairro do Bom Retiro, na capital paulista. Foi um bom jogador e um excelente treinador. É considerado um dos introdutores da filosofia do futebol moderno no Brasil, combinando a versatilidade dos esquemas táticos europeus, sobretudo a Seleção Holandesa de 1974, com o talento dos craques nacionais. Com o Palmeiras foi campeão paulista em 1966, campeão brasileiro em 1967 vencendo a Taça Brasil, campeonato que dava direito a disputar a Libertadores da América. Foi campeão brasileiro também em 1974, quando dirigia o Vasco da Gama. Em 1976 foi campeão carioca pelo Fluminense e em 1982 campeão paulista pelo Corinthians.

JOGADOR

                  Mário Travaglini nasceu num bairro que desde o início do século 20 sempre reuniu vários clubes de várzea e foi o berço de fundação do Corinthians. Assim, não foi surpresa para ninguém quando aquele menino escolheu a bola como passa tempo. O talento como zagueiro impressionou Francisco Minelli, pai do ex-treinador Rubens Minelli, que o levou para fazer testes no Clube Atlético Ypiranga. Aprovado, com 16 anos começou a jogar pelo time infantil. Mário Iniciou sua carreira como jogador de futebol, em 1948, onde foi campeão pelas categorias de base infantil e juvenil do Ypiranga, até chegar ao profissional. No dia 12 de setembro de 1953, foi lançado pelo técnico Sastre no profissional.

                  Estreou contra o Corinthians pelo Campeonato Paulista, com um Pacaembu lotado, onde teve a dura missão de enfrentar, Cláudio, Baltazar, Carbone e Simão, que formavam o ataque corintiano naquela tarde de sábado. A partida terminou empatada em 1 a 1, gol de Cláudio para o  alvinegro de Parque São Jorge e Geraldo para o Ypiranga, que neste dia jogou com; Valentino, Belmiro e Mário Travaglini; Gonçalves, Valdemar e Nino; Elzo, Zé Carlos, Geraldo, Tico e Paulo.

                 Defendeu depois Palmeiras, Nacional de São Paulo e Ponte Preta, onde pendurou as chuteiras em 1962, aos 29 anos. Foi convocado várias vezes para defender a Seleção Paulista, nas mais diversas categorias. Trabalhou depois por pouco tempo no departamento de patrimônio da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, aproveitando-se do diploma de economista. Mas o amor pelo futebol falou mais alto e não demorou a voltar aos gramados na função de treinador. Também foi gerente e supervisor de vários clubes.

                 Solteiro e sem filhos, atualmente mora em São Paulo, onde presidiu o Sindicato dos Treinadores Profissionais do Estado. Como jogador, a maior recordação foi ter enfrentado Pelé. “Eu costumo dizer que não o marcava, mas sim contemplava seu futebol. Era um cara tão fantástico que o que ele fazia com a bola é impossível descrever”. No entanto, vale ressaltar que com a bola nos pés Travaglini fez grande sucesso especialmente com o público feminino, que muitas vezes comparecia em massa aos estádios para vê-lo atuar e contemplar suas pernas.

TREINADOR
                 A carreira de treinador começou em 1963 nas categorias de base do Palmeiras, onde permaneceu até 1971 com direito a várias passagens pelo time profissional. Treinou depois outras grandes equipes do futebol brasileiro como Vasco (campeão brasileiro de 1974), Corinthians (campeão paulista de 1982), São Paulo, Fluminense, Ferroviária de Araraquara e São Bento. Dirigiu também a Seleção Brasileira, com destaque para a conquista da medalha de ouro do torneio de futebol dos Jogos Pan-americanos de 1979, disputado em Porto Rico.

                 Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo somam, juntos, 12 títulos brasileiros. Apenas um liderado por um técnico nascido em São Paulo. Justamente o primeiro. Pioneiro em 1974, Mário Travaglini abriu o caminho para as glórias ao levar o time cruzmaltino ao topo na decisão contra o Cruzeiro. Desde então, o futebol carioca só colecionou taças sob o comando de cariocas, gaúchos e mineiros. Mário Travaglini defini da seguinte maneira a diferença que há entre o futebol paulista e o futebol carioca “O Rio é mais quente, uma cidade litorânea.

                 São Paulo é mais fechada, operária. Na minha época no Rio, sempre comandei treino em dois períodos e nunca tive muito problema. Outros não são aceitos pelo elenco, sofrem muito e só conseguem treinar o time meio período. Os clubes cariocas também são muito copeiros, pensam em título a curto prazo. Os paulistas preferem o planejamento e são bons em pontos corridos”.

                 Quando Mario Travaglini começou a dirigir o Corinthians, o Brasil vivia a época da abertura política e da campanha pela volta do voto direto. Encontrou na Fazendinha um grupo de jogadores “responsáveis e que sabiam o que queriam”. Juntou uma coisa a outra e ali se formou a chamada Democracia Corintiana, momento inédito no futebol brasileiro em que jogadores, dirigentes e comissão técnica tomavam decisões em conjunto, baseadas no voto. E sobre a Democracia Corintiana, Mário Travaglini diz o seguinte; “Eu assumi o Corinthians numa época importante da história do Brasil. Sempre tive autoridade, mas jamais fui um autoritário.

                 Não tinha aquela volúpia de impor as coisas. Eu preferia conversar com as pessoas. Como a gente vivia naquela época da campanha pelas Diretas, se estabeleceu essa democracia, onde todos eram responsáveis pelas decisões. Pois só pode viver num lugar democrático quem tem responsabilidade. E isso é o que não faltava no Corinthians naquele período. Do presidente Waldemar Pires ao roupeiro, todos eram pessoas esclarecidas e, acima de tudo, profissionais inteligentes. Então se estabeleceu um ambiente livre, leve e, no meu modo de ver, talvez uma das melhores equipes do Corinthians de todos os tempos. A liberdade fora de campo era refletida dentro, pois o time fluía com uma leveza e uma liberdade que eram respaldadas pela filosofia do time.

                 Muita gente confundia liberdade com bagunça, e não era verdade. O time trabalhava muito e todos sabiam o que precisavam fazer. Como o país vivia o fim de um regime e existia a pressão popular pelo voto direto, pelo elenco que eu comandava, eu me senti muito à vontade para deixar o grupo opinar sobre todas as decisões. Como era Corinthians, a repercussão foi enorme e o time ajudou, talvez, a restabelecer a democracia no país. Mas também não adiantaria nada se não viessem os resultados. E o time foi campeão paulista e semifinalista do Campeonato Brasileiro naquele ano. Ganhava a democracia, mas o time tinha que ganhar também.”

               E foi no ano de 1982, que o Corinthians formou um grande time e sagrou-se Campeão Paulista. A decisão aconteceu no dia 12 de dezembro, quando o alvinegro enfrentou o São Paulo F.C. Na primeira partida que aconteceu quatro dia antes, o Corinthians havia vencido por 1 a 0, gol de Sócrates, sendo assim, o Timão jogava pelo empate na segunda e decisiva partida. No entanto, numa exibição de gala, o alvinegro venceu por 3 a 1, com dois gols de Biro Biro e um de Casa Grande. Dario Pereira marcou para o Tricolor. Neste dia, Mario Travaglini mandou a campo os seguintes jogadores; Solito, Alfinete (Zé Maria), Mauro, Daniel Gonzales e Wladimir; Paulinho, Sócrates e Zenon; Ataliba, Casagrande e Biro Biro (Eduardo). Pelo Corinthians, Mário Travaglini dirigiu a equipe em 122 partidas. Venceu 63, empatou 39 e perdeu 20 vezes.

                Em 1983 até 1984, foi treinador do São Paulo, onde foi vice-campeão paulista em 1983, e o time foi muito mal no campeonato brasileiro de 1984. Saiu depois de uma derrota para o Internacional por 2 a 0, na segunda rodada do Torneio Heleno Nunes. Dirigiu o São Paulo em 64 jogos, com 29 vitórias, 24 empates, e 11 derrotas, para depois voltar a comandar o Palmeiras no campeonato paulista de 1984, onde ficou em 4º lugar. Em 1987 foi treinador do Vitória, da Bahia. Aposentou-se no início dos anos 90, treinando clubes do interior paulista.

                Mário Travaglini, que tem uma rica história como jogador e treinador de futebol e praticamente inventou o cargo de supervisor, no Palmeiras, função hoje imprescindível em qualquer clube profissional do mundo. A formação de economista acabou sendo útil quando ocupou cargo gerenciais no futebol. Seo Mário, paulistano do Bom Retiro e hoje morador da Pompéia, foi supervisor da seleção brasileira na Copa de 78, na Argentina, uma competição marcada pela presença dos militares argentinos no poder e jogos polêmicos, principalmente o suspeito Argentina 6 x Peru 0.

                Travaglini foi um bom jogador, mas foi como técnico que ele se destacou na carreira. Sem falsa modéstia, ele ressaltou que foi a sua geração de treinadores – citou Osvaldo Brandão (um pouco mais velho que ele) e Rubens Minelli – como aqueles que deram o alicerce para o atual prestígio e salários  dos técnicos brasileiros, que hoje ganham verdadeiras fortunas. Mário Travaglini morreu dia 20 de fevereiro de 2014 após passar um mês e meio no Hospital São Camilo, em São Paulo, onde tratava de um tumor cerebral. Ele deixa um legado de pioneirismo e evolução tática ao mundo da bola. Era uma pessoa dinâmica, ativa. Descansou.”

Ypiranga na década de 50   –   O segundo em pé é Waldemar Carabina, seguido pelo goleiro Valentino e o zagueiro Mario Travaglini. E as bolas, surradas e que ainda não eram brancas
Em pé: Riberto, Ivan, Ney Blanco, Jair da Rosa Pinto, Turcão, Silvinho e Waldemar Fiúme    –    Agachados: Ruarinho, Gersio Passadore, Waldemar Carabina, Laércio e Mário Travaglini
Da esquerda para a direita: Djalma Santos, Dr. Rosseti, Waldemar Carabina, Júlio Mazzei, Julinho Botelho e Mário Travaglini
1955   –   Em pé: Laércio, Manoelito, Mário Travaglini, Ruarinho, Gérsio Passadore e Waldemar Fiúme    –     Agachados: Renatinho, Liminha, Humberto Tozzi, Jair Rosa Pinto e Rodrigues Tatu
Em pé: o técnico Barriloti, Salvador, Savério, Mário Travaglini, Waldemar Fiúme, Tremembé e Oberdan Cattani    –   Agachados: Gustavo, Aquiles, Liminha, Jair Rosa Pinto e Lima
Mário Travaglini é o terceiro em pé da esquerda para a direita. O segundo em pé da esquerda para a direita é Riberto. O goleiro é Valentino e o quinto em pé, da esquerda para direita, é Gaia

                                                          

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