PAULO AMARAL: nosso preparador físico nas Copas de 1958 / 62

               Paulo Amaral nasceu dia 8 de outubro de 1923, na cidade do Rio de Janeiro – RJ. Foi o preparador físico da nossa seleção nos mundiais de 1958, na Suécia, onde conquistamos o primeiro título mundial e de 1962, no Chile, onde conquistamos o bicampeonato mundial. Foi considerado o pioneiro na profissão, já que exerceu o papel de primeiro preparador físico específico da nossa seleção. Na juventude praticou boxe e halterofilismo. Trabalhou também como treinador de futebol, dirigindo aqui no Brasil as equipes do Bahia, Botafogo carioca e Corinthians e lá na Itália comandou a Juventus e o Genoa. Trabalhou também em Portugal, onde dirigiu o Clube do Porto. No Corinthians trabalhou em 1964. Foram 28 jogos sob seu comando, sendo 16 vitórias, 4 empates e 8 derrotas. Foi o único treinador  que  trabalhou  no  alvinegro  no  período  de   jejum  de 22 anos, que saiu porque quis, aceitando uma proposta irrecusável do Genoa, da Itália.

JOGADOR

               Com a cabeça sempre raspada à navalha (o que não era comum naquela época), quase dois metros de altura e “cem quilos de músculos”, Paulo Amaral tinha um gênio difícil e vivia às turras com os jornalistas que cobriam as equipes que treinava. Sua carreira no esporte começou como zagueiro reserva do Flamengo, entre 1942 e 1945. De lá seguiu para o Botafogo, onde ficou entre 1946 e 1948, ano em que se formou em Educação Física. Em 1953, um ano depois de tirar o diploma de técnico de futebol, seu ex-colega de time Pirilo, novo técnico do Botafogo, chamou-o para ser preparador físico do time, além de técnico dos aspirantes.

PREPARADOR FÍSICO

               Até meados da década de 60, a maioria dos clubes não dispunha de preparadores físicos. A função era acumulada pelos treinadores que programavam basicamente aquecimento ao grupo antes da prática com bola, como prevenção a lesões musculares. Foi chamado para ser o preparador físico da Seleção na Copa do Mundo da Suécia e ajudou também ao convencer o supervisor Carlos Nascimento de que os dribles de Mané Garrincha não eram deboche. Na primeira conquista mundial do Brasil, Amaral destacou-se ao dar a volta olímpica com uma bandeira da Suécia, depois da vitória brasileira na final em Estocolmo, em 1958. Na ocasião, ele falou que queria homenagear o povo sueco, que tinha recebido muito bem a seleção do Brasil. Foi a partir do destaque de Amaral que os times brasileiros começaram a ter profissionais específicos para a função de preparador físico, que, antes dele, era sempre improvisada. No ano seguinte, durante o Campeonato Sul-Americano no Equador, serviu como “segurança” dos jogadores da Seleção, em uma tentativa de agressão depois da derrota por 3 a 0 para o Uruguai: nocauteou várias pessoas que partiram para cima.

TREINADOR

               Como treinador, Paulo Amaral era extremamente protocolar com os jogadores. Era austero. Aplicava metodologia militar, com distanciamento de comandante e comandados. Ainda como treinador, pode-se dizer que foi um bom preparador físico. Valia-se basicamente da correria dos times que treinava para alcançar resultados positivos. Não era dos tais que enxergava o jogo da bola, embora tenha passado por clubes europeus, além de dezenas de clubes brasileiros, essencialmente os do Rio de Janeiro, casos de Vasco, Botafogo e América.

               Em 1960 assumiu como treinador do Botafogo pela primeira vez. No ano seguinte, foi para o Vasco e em 1962 voltou à Seleção Brasileira como preparador físico e auxiliar técnico do treinador Aymoré Moreira. Depois da Copa de 1962, foi para a Itália treinar a Juventus, onde ficou até 1964 e foi vice-campeão italiano em 1962 e 1963, quando voltou ao Brasil para comandar o Corinthians. Sua estreia na equipe alvinegra de Parque São Jorge aconteceu no dia 30 de janeiro de 1964, quando o Corinthians derrotou o Cruzeiro por 1 a 0, pelo Torneio Nacional / Troféu Magalhães Pinto. A última partida sob seu comando foi no dia 2 de agosto de 1964, quando o Corinthians derrotou o Juventus por 2 a 1 pelo Campeonato Paulista.              

               No Bahia, em outubro de 1968, durante uma partida contra o Fluminense, agrediu o bandeirinha Délson Almeida Santos e tentou agredir o árbitro Amílcar Ferreira, que solicitou à polícia que prendesse o técnico. Paulo teve de seguir para a delegacia após o jogo. Acabou por tirar um ano de férias, em 1969, e, depois, assumiu o Fluminense, substituindo Telê Santana. Foi lá que ganhou seu único título como treinador, a Taça de Prata de 1970. O estilo de Amaral contrastava bastante com o de Telê Santana, treinador que o antecedera no Flu . “Sou exigente com os jogadores, porque eu e eles somos empregados do clube”, disse à época.

               Treinou ainda o Porto, de Portugal, o America carioca, o Remo e o Guarani ao longo de sua carreira. No Guarani lançou o atacante Careca ao time profissional e foi demitido após romper relações com a imprensa campineira e discutir seriamente com o zagueiro Amaral, um dos principais jogadores do time. Em 1978, teve uma passagem conturbada pelo Al-Hilal, da Arábia Saudita, quando assinou dois contratos, um em inglês e outro em árabe, e depois descobriu que só o contrato em árabe tinha validade. Paulo Amaral foi o primeiro caso de um homem que linchou uma multidão. Em um jogo em que ele estava sendo hostilizado pela torcida, não teve dúvidas: partiu para cima da torcida, distribuindo socos e fazendo os torcedores fugir dele.

HOMENAGEM

               O ex-preparador físico Paulo Amaral, um dos nossos heróis dos mundiais de 1958 e 1962, morreu dia 1 de maio de 2008, aos 84 anos.  A causa da morte não foi divulgada pela única filha, Paula Amaral, que disse apenas que ele faleceu em casa, mas sabe-se que ele lutava a anos contra o câncer. O velório aconteceu no Cemitério do Caju, no Rio, mesmo lugar onde o corpo do famoso preparador físico foi sepultado. Ele vivia ao lado da esposa Flórida e da filha Paula, em Copacabana, bairro nobre da capital carioca. Uma bandeira do Botafogo foi colocada sobre o caixão do inesquecível preparador físico.

              Um dos poucos jogadores que estiveram no enterro foi o ex-craque Amarildo que trabalhou com Paulo Amaral no Botafogo e na Seleção Brasileira no mundial de 1962 e ele disse “nunca sofri uma distensão muscular nos tempos de Botafogo. Era um excelente profissional. Por tudo o que fez pelo Botafogo e pelo futebol brasileiro ele merecia uma homenagem mais marcante. Deu muito para o futebol e recebeu pouco. As pessoas têm que ser reconhecidas pelo que fazem.” Sua última aparição pública foi em 2006, quando foi homenageado pela CBF, e estava na lista entre os que participariam dos eventos em comemoração dos 50 anos da conquista do título na Suécia.

HISTÓRIAS

               Conta-se que numa excursão do Botafogo a Medellín, na Colômbia, quebrou a cama do hotel com seu peso. Aos 80 anos ainda corria e nadava na praia, sempre foi um amante do esporte. Pioneiro em quase tudo o que se relaciona com o futebol, Amaral foi o primeiro preparador físico do Brasil. Ele era honesto, trabalhador e valorizava a preparação física acima da tática ou da técnica. Como características pessoais pode-se dizer que Paulo Amaral também era explosivo. Durante um famoso Brasil 3×1 Uruguai, pelo Campeonato Sul-Americano de 1959, disputado na Argentina, o jogo acabou em batalha campal e Paulo Amaral conseguiu nocautear vários adversários antes de os jogadores brasileiros serem agredidos.

               Em 1973 Paulo Amaral treinava o Paraguai e conta-se que quando perguntou quem estava contra ele nada menos do que 17 jogadores paraguaios deram um passo à frente. Em 1978 foi técnico do El Helal (Riad, Arábia Saudita) e logo na sua estreia, no dia 7 de Setembro, a equipe ganhou por 5×1. Dois dias depois, Amaral recebeu um bilhete em árabe que pensou ser de congratulações pela vitória, mas tratava-se de um “bilhete azul” dispensando-o. E somente a intervenção de João Havelange, então presidente da FIFA, evitou que fossem devolvidos os passaportes confiscados a ele, à mulher, à filha menor e até à empregada.

               Jogando pelo Flamengo, substituindo o titular Biguá, enfrentou a fúria do famoso e lendário Heleno de Freitas. No segundo tempo, Heleno deu um passe perfeito, entre dois zagueiros, para Otávio. Na base da raça, Paulo Amaral conseguiu com a ponta da chuteira, por trás do ponta-de-lança, desviar a bola para escanteio. Heleno se virou para o companheiro e disse: “Porra, Sapo, até um merda desse tira a bola de você!”. Paulo Amaral ouviu e retrucou: “Você não vai perder por esperar. Caia aqui perto para ver o que vai acontecer”. E Heleno não se aproximou mais da área adversária. Meses depois Paulo Amaral foi fazer teste no Botafogo.

               No primeiro treino marcou Heleno de Freitas e deu-lhe uma trombada bastante forte. Heleno, com a bola debaixo do braço partiu para cima de Paulo Amaral, dizendo: “Quer a bola, valentinho?” E Paulo Amaral não perdeu tempo, arrancou a bola dos braços de Heleno e a jogou em seu nariz. O sangue escorreu e o técnico Martim expulsou o agressor. Mesmo Assim, no outro dia Paulo Amaral foi contratado. Talvez porque não teve receio de enfrentar o temível e brigão Heleno de Freitas. Esse foi Paulo Amaral, a quem fazemos nossa homenagem no dia de hoje.

Em pé: Vicente Feola, Djalma Santos, Zito, Bellini, Nilton Santos, Orlando e Gilmar    –     Agachados: Garrincha, Didi, Pelé, Vavá, Zagallo e Paulo Amaral
Em pé: Garrincha, Nilton Santos, De Sordi, Jurandir, Aldemar, Zagallo, Benê e Paulo Amaral   –    Agachados: Valdir, Jair Marinho, Zequinha, Rildo, Amarildo, Germano e Gilmar
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