BIRO BIRO: bicampeão paulista pelo Corinthians – 1982 / 83

                Antonio José da Silva Filho nasceu dia 18 de maio de 1959, em Santo Amaro (PE).  Seu pai era portuário e sua mãe era dona de casa. Tiveram três filhos homens e uma mulher. Quando era pequeno, seus pais se separaram e os filhos ficaram com a mãe, que teve muitas dificuldades para criar os filhos. Biro Biro subia nas árvores para roubar mangas e cocos e os dava para sua mãe fazer bolos. O sustento da família vinha da venda destes bolos. Em dado momento, sua mãe encontrou em São Paulo uma oportunidade para trabalhar e ganhar mais dinheiro. Deixou os filhos com a avó. 

                Aos 11 anos, Biro foi morar com o pai. Morou em uma casa de palafita (casa suspensa sobre a água). Nesta época, a pesca de caranguejo apareceu como fonte de renda. Na primeira tentativa, entretanto, foi picado por um caranguejo. Nunca mais enfiou a mão nas tocas. Apenas acompanhava os amigos que o faziam. Seu pai adorava o doce de uma  fruta  chamada  “Biri Biri”.  Sua fascinação pelo doce era tanta que logo ele ficou conhecido entre os amigos como Biri Biri.

               Seu filho, que parecia muito com o pai, logo herdou sua alcunha e passou a ser chamado de Biri Biri Filho, depois com o tempo, passaram a chama-lo de Biro Biro.  Devido a sua altura, não subia em coqueiros altos, na escola gostava de gramática, mas odiava ler. Jogava vôlei na praia, mas nunca foi um dos melhores. Nesta época descobriu o surfe, mas só pegava as ondas mais baixas. A única atividade na qual era realmente um destaque era no futebol. Nas peladas era sempre o craque da turma.

               Seu bom desempenho logo o levou a tentar jogar futebol em um time grande. Participou de um seletiva de garotos para as categorias de base do Sport Recife e foi aprovado. Passou a fazer parte do time de novos do Sport. Em uma partida amistosa contra a seleção brasileira de novos, seu desempenho surpreendeu a todos. O então presidente do Corinthians, viu o jogo e decidiu fazer todo o esforço necessário para contratar o garoto. Nem mesmo o preço pedido pela diretoria do Sport, 4,5 mil cruzeiros e mais quatro jogadores juvenis, o que na época foi considerado extremamente alto, diminuiu o interesse do dirigente em ter o garoto em seu time.

              O Corinthians havia quebrado o jejum de 22 anos sem grandes conquistas com o título de 1977 e Vicente Matheus fazia constantes promessas à torcida de montar um grande time para buscar o Bi.  No dia 10 de agosto de 1978, Matheus apresentou a segunda contratação do time que já havia trazido Sócrates do Botafogo de Ribeirão Preto. E na entrevista coletiva à imprensa, Vicente Mateus disse; “Eu falei que ia montar um time para brigar pelo título. Já trouxe o Sócrates e agora está chegando um garoto novo, que jogava em Recife. O nome dele é Lero Lero”Somente depois de três meses, foi que Biro Biro ganhou espaço no time. Era um jogador muito aplicado, que tinha o costume de fazer mais exercícios do que o preparador físico recomendava.

              Gostava de ficar no campo depois dos treinos. Já no seu primeiro ano no clube de Parque São Jorge, sagrou-se campeão da Taça Governador.  No ano seguinte entretanto, a história foi diferente. Ao derrotar a Ponte Preta por 2 a 0 na final do campeonato paulista de 1979, Biro Biro ganhou seu primeiro título estadual e também conquistou o coração da Fiel torcida. Esta decisão com a Ponte, aconteceu no dia 10 de fevereiro de 1980 e neste dia o Corinthians jogou com; Jairo, Luiz Cláudio, Mauro, Amaral e Wladimir; Caçapava, Biro Biro e Palhinha; Piter (Vaguinho), Sócrates e Romeu (Basílio). O técnico era Jorge Vieira.

               No campeonato paulista de 1982, Biro jogou como ponta esquerda no time do Corinthians que conquistou o titulo. A final foi contra o São Paulo e ele marcou dois gols na vitória por 3 a 1. Este jogo aconteceu dia 12 de dezembro de 1982. No ano seguinte, foi o ponta direita do bicampeonato e novamente em cima do Tricolor. Este jogo aconteceu dia 14 de dezembro de 1983 e seria o 19º título estadual do Corinthians.     

              Em 1987, em uma derrota para o invicto Atlético Mineiro de Telê Santana, a torcida ameaçou agredir os jogadores do Corinthians. Vaiaram o time e impediram a saída dos atletas do campo. O único que foi aplaudido de pé e teve seu nome ovacionado foi Biro Biro. Na ocasião era comum ouvir os torcedores repetindo que “nesse time só o Biro Biro corre”. Os jogadores do Corinthians foram obrigados a deixar o estádio por uma saída especial e somente Biro Biro pôde sair pelo portão principal. Tornou-se capitão e líder do time.

             Pediu para jogar somente como volante. Sempre que uma temporada acabava, ameaçava deixar o clube e ir jogar no exterior. A torcida pedia pela sua permanência e ele resolvia permanecer. Foi o quinto jogador que mais vestiu a camisa do Corinthians. Em 11 anos de clube disputou 11 títulos e chegou a sete finais.  Ganhou quatro títulos (1979, 1982, 1983 e 1988).  Segundo ele, o mais importante foi o de 1988.  Isto porque era o capitão da equipe e como ele mesmo sempre diz; “Erguer a Taça de Campeão pelo Corinthians, é uma emoção que não tem palavras para defini-la. Nunca senti algo igual”. Biro Biro só não conseguiu fixar sua função no campo. Jogava onde era preciso jogar. Do meio-campo para frente atuou em todas as posições. Até quarto-zagueiro ele chegou a ser.

             Notabilizou-se por ser o pulmão do time. Com a camisa alvinegra Biro Biro jogou 589 partidas. Venceu 265, empatou 199 e perdeu 125. Marcou 75 gols.  Certo dia Biro Biro conheceu uma jovem de nome Luciana no Parque São Jorge. Como ela disse não conhecer futebol e não o reconheceu, apresentou-se como Tony. Logo tornaram-se amigos e depois namorados. Namoravam escondidos dentro do clube. Depois de um tempo de namoro, resolveram tornar séria a relação. Tony contou sua verdadeira identidade. Mas Luciana também tinha um segredo. Era sobrinha do eterno presidente do Corinthians, Vicente Matheus.

              O namoro fluiu bem, com a aprovação da família dela. Casaram-se em 1988. Matheus foi padrinho da cerimônia. Desta união vieram três filhos. Mas veio  também o começo de sérios problemas na vida de Biro Biro. O elenco do Corinthians começou a suspeitar que o jogador tinha privilégios por ser parente de Matheus. O grupo estava rachado e ele passou a ser isolado dos outros jogadores. Diziam que ele só jogava por ser parente do dirigente e por correr o campo todo, mas que não tinha mais qualidade que os outros. Biro, como sempre, estava envolvido em mais uma polêmica. Sua carreira no clube estava perto do fim, entretanto. Em 1989, saiu do Corinthians e foi para a Portuguesa.

              Nunca mais conseguiu fixar-se em um time. Passou por Coritiba, Guarani, Botafogo-SP, São Bernardo, Remo, Paulista, Nacional-SP e Vera Cruz-SC. Parou de jogar em 2002. Em 1998, iniciou uma nova atividade, mesmo ainda trabalhando como jogador. Começou a carreira de técnico no Mauaense. Trabalhou também no Barra das Garças-MT, no Tupi-SC, no São Carlense, na Francana e no Ranchariense-SP. Sonha em ser treinador de um time grande.

              O Corinthians, quem sabe. Seu grande ídolo como treinador é Telê Santana. Gosta também da maneira como Wanderley Luxemburgo arma seus times. Repudia, entretanto, seu comportamento fora de campo. Sobre o fim da carreira nos gramados, Biro não considera exatamente o fim. “Sempre tive um físico privilegiado e sempre amei o futebol. Hoje ainda jogo pelos Masters do Corinthians, mas no profissional não dá mais”.

              Revelou-se como um volante de boa técnica e muita raça. Nunca foi um craque, mas sempre foi o jogador mais dedicado e o mais aplicado taticamente. Seu polêmico comportamento fora do campo sempre dificultou sua ida à seleção. Biro nunca teve uma chance com a camisa canarinha. “Foi a única decepção da minha carreira. Todo jogador sonha em vestir a camisa da seleção”, afirmou ele.

               Em um amistoso de preparação para a Copa de 86, a torcida pediu, em uníssono, a sua convocação. O técnico Telê Santana não ficou comovido com o apelo e preferiu convocar Falcão e Alemão. Quando veio para o Corinthians, Biro Biro entrou na Justiça para receber do Sport os 15% do valor de seu passe. Isso não era uma atitude comum entre os jogadores da época e já demonstrava o quanto aquele garoto de 19 anos era diferente. O interesse pela política sempre existiu. No começo da década de 80, foi um dos maiores opositores da democracia corintiana.

               Chegou 1988, ano de eleições municipais, e Biro Biro resolveu lançar-se como candidato a vereador. Foi eleito com exatos 39.198 votos. Sua eleição causou uma grande crise no clube. O técnico Fescina disse que ele não teria tempo para as duas profissões. “Biro vai se dedicar à política no tempo que sobrar do futebol”. Realmente foi impossível para Biro conciliar as duas profissões. Não dava mais para dividir o tempo entre os treinos e a câmara dos vereadores. O ano de 1989 foi o fim de Biro Biro no Corinthians. Deixou o Timão, mas o caso de amor com o clube continua.

               Hoje ele defende o time de Masters do clube ao lado de Palinha, Zenon, Zé Maria e Wladimir.  Poucas vezes um jogador teve tamanha identificação com a torcida do Corinthians. Biro Biro era mais do que um grande jogador. Era um grande guerreiro, e isso cativou a Fiel. Certa vez, em uma derrota do Corinthians, um membro da torcida comentou a importância de Biro Biro para o time. “Ele sabe o que é a raça corintiana. Pode até jogar mal, mas corre e luta o tempo todo. Nesse a gente pode confiar”.

1986   –  Em pé: Cacau, Casagrande, Carlos, Lima, Wilson Mano e João Paulo    –    Agachados: Edson, Biro-Biro, Aílton, Paulo e Edivaldo
Em pé: César, Zé Maria, Wágner, Gomes, Paulinho e Wladimir   –    Agachados: Eduardo Amorim, Sócrates, Casagrande, Zenon e Biro-Biro
1978   –   Em pé: Jairo, Zé Maria, Taborda, Amaral, Zé Eduardo e Romeu   –    Agachados: Piter, Palhinha, Sócrates, Biro-Biro e Wladimir
1980   –   Em pé: Jairo, Mauro, Luis Cláudio, Amaral, Caçapava e Romeu   –   Agachados: Píter, Biro-Biro, Palhinha, Sócrates e Wladimir
1983   –   Em pé: Leão, Sócrates, Casagrande, Eduardo, Biro-Biro e Zenon   –   Agachados: Mauro, Alfinete, Paulinho, Juninho e Wladimir
1981   –  E m pé: Rondinelli, Gomes, Zé Maria, Rafael, Caçapava e Wladimir    –   Agachados: Biro-Biro, Sócrates, Mário, Zenon e Paulo César Caju
Em pé: Carlos, Casagrande, Serginho, Zenon, Dunga e João Paulo    –    Agachados: De León, Juninho, Edson, Biro-Biro e Wladimir
Em pé: Carlos, Zenon, Lima, Arturzinho, Eduardo e Dunga   –    Agachados: Biro-Biro, Wágner, Wladimir, Juninho e Édson
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