PEDRO LUIZ: um dos melhores locutores esportivos do rádio brasileiro

                     Pedro Luiz Paoliello nasceu dia 14 de junho de 1919, na cidade de São Tomaz de Aquino – MG. Sua narração precisa e sempre em cima do lance revolucionaram o rádio brasileiro. Ainda hoje, Pedro Luiz é considerado um dos maiores narradores da crônica esportiva de todos os tempos. Depois de estudar por sete anos no Liceu de Muzambinho (MG) nos anos 30, Pedro veio para São Paulo e acabou por se tornar lenda. “Ele era tão preciso que era o único da história do rádio que poderia ter transmitido jogos de xadrez”, elogiou o contemporâneo Orlando Duarte.

                     Desde jovem tinha o sonho de ser radialista, na época por não ter uma emissora de rádio em sua cidade natal, Pedro veio para Franca, iniciou na Rádio Clube Hertz. Passou ainda pelas rádios Atlântica de Santos e a primeira em São Paulo foi a Rádio Gazeta. Em 1950 chega à Rádio Pan-Americana, transferindo-se em 1958 para a Equipe da Rádio Bandeirantes, que é considerada uma das melhores já formadas na história do rádio nacional.

                     Foi destaque por todas as emissoras que passou, mostrando seu talento como narrador e como  comentarista esportivo. O “gol”, o “grito de gol” dele era curto. Curto porque ele descrevia tudo, assim que falava “gol” ele descrevia como tinha sido o lance. E, outra, descrevia tudo e  de  forma tal que, quando a saída era dada, ele já irradiava em cima. Hoje, com esse negócio de música, propaganda, as parafernalhas toda, perde-se muitos lances.

                    Pedro Luiz transmitiu ou participou de todas as copas do mundo de 1950 (estava na Rádio Pan-Americana, a emissora dos esportes) até 1998. Em 1958, já na Rádio Bandeirantes, atingiu o feito extraordinário de mais de 90% de ibope de audiência de rádio ao lado de Edson Leite e Mário Moraes, um marco histórico. Pedro era enérgico, queria tudo bem feito, em muitas ocasiões na própria transmissão chamava atenção dos seus comandados. Ficava fulo quando um microfone estava aberto durante sua narração. E não deixava por menos, chamando a atenção de quem se distraia.

                    Como chefe do departamento, pensava primeiro em seus comandados, e depois nele próprio. Nunca deixou ninguém na mão. Isso, dito por quem trabalhou com ele mais de uma vez. Pedro Luiz revelou e lançou gente boa como Marco Antonio Mattos, Luciano do Valle, Juarez Soares, Carlos Aymar e uma infinidade de profissionais que hoje brilham na mídia ou estão esquecidos ou moram no céu.

                   Aonde ia levava seus comandados, de confiança. Mario Moraes o comentarista das jornadas esportivas, era seu fiel escudeiro, tanto no radio como na televisão. Pedro gostava de desafios. Por isso não ficava por muito tempo numa empresa. Era chamado a montar uma equipe em determinada emissora e não vacilava, e la ia ele. Foi assim que saiu da radio bandeirantes em 1963 para criar a equipe 1040 na Rádio Tupi. Era um profissional de muita competência e criatividade. Era sempre amparado pela publicidade que dava o aporte financeiro. Na Tupi ele tinha o patrocínio da Philips. E quando ele transmitia do Pacaembu que ainda tinha a concha acústica, dizia após um gol. “Luz, mais luz, no placar do Pacaembu”, e ai entrava o nome do patrocinador.

                  Da Tupi foi para a Radio Gazeta, penso que foi em 1966. Criou a Dis-Parada no esporte, para lá levou Darcy Reis, Loureiro Junior e outros. Foi outra emissora que subiu muito no Ibope. É bem verdade que durante todo esse período a Radio Bandeirantes no esporte era imbatível. Mas subir uns pontinhos no IBOPE era tirar uma casquinha da emissora do Morumbi. O refrão “golaço” foi ele quem lançou na própria rádio Gazeta numa excursão do selecionado brasileiro em 1968, transmitindo Brasil e Polônia, num gol de Rivelino. O gol foi tão bonito que ele espontaneamente disse essa palavra, talvez sem querer. E ai pegou.

POLÊMICAS

                  Ele não se bicava com Wadi Helu, ex-presidente do Corinthians. Uma vez, na Rádio Gazeta, referindo-se a Wadi, Pedro Luiz disse: “Wadi Helu é covarde, cafajeste, moleque, só vive acompanhado de trinta ou mais capangas e, sozinho, não é homem de enfrentar ninguém cara a cara”. Wadi Helu foi na rádio, falar com Carlos Joel Nelli, pedir-lhe que intercedesse junto a Ita Ferraz, Diretor da Rádio Gazeta, no sentido de fazer com que Pedro Luiz se retratasse. Pedro Luiz de cara disse: “Rescindo, de imediato, meu contrato com a Rádio Gazeta”, no caso de haver intercessão nesse sentido. Ita Ferraz deu-lhe apoio.

                 Pedro Luiz sofreu uma pressão muito forte da direção do Santos, por comentários que ele fazia as, 20:00 horas logo após o programa A Voz do Brasil. “A opinião de Pedro Luiz, o comentário mais comentado da cidade”. Era o comentário mais esperado do radio paulista. A bronca era com Athyê Jorge Curi, Pedro Luiz chegou a dizer que usavam a bandeira do Santos para cobrir contrabando de café. A direção do Santos não gostou do que ouviu e a, torcida muito menos. Tanto prova que Pedro Luiz foi agredido por torcedores fanáticos quando de uma transmissão na Vila Belmiro.

IMPARCIALIDADE

                 Pedro Luiz era aquele que transmitia de uma maneira imparcial. Gritava gol com a mesma emoção para todos os clubes ou seleção. Em 1950 nos gols do Uruguai ele gritou normalmente, me lembro muito bem. É só ouvir as gravações da época e comparar com a transmissão de Jorge Curi, que praticamente chorou, e outros locutores que nem gritar o fizeram. Nos segundos finais da partida, deu para ver que Pedro Luiz, não conseguiu segurar os soluços ao sentir que o Brasil saia derrotado. Na Suécia, ele também gritou gol da França e da Suécia normalmente.

                 Tinha gente que dizia que ele torcia contra o Brasil por ter brigado com Paulo Machado de Carvalho, quando saiu da radio Pan Americana. Assim como Geraldo Bretas, Pedro Luiz não ficava sobre o muro e também não acreditava muito nas chances de vitória da Seleção Brasileira na Copa de 1958. Por isso, ele foi duramente criticado por Paulo Machado de Carvalho após a Copa do Mundo da Suécia.

A ÚLTIMA TRANSMISSÃO

                  Em dezembro de 1974, Pedro Luiz faria sua ultima transmissão. Foi no jogo Palmeiras x Corinthians na decisão do Campeonato Paulista de futebol. A cabine da radio Nacional era encostada a da radio Bandeirantes no estádio do Morumbi. Todas as emissoras que estavam transmitindo a partida, diziam que o grande Pedro Luiz estava se aposentando. Ao final da partida, Pedro sai da cabine e senta num banco do corredor e chora copiosamente. Logo veio o Milton Camargo, da Rádio Tupi com olhos cheios de lagrimas. Os demais que chegavam estavam todos emocionados.

                  Mauro Pinheiro, nesse dia, pela Bandeirantes, ao final da jornada, prestando sua homenagem ao grande companheiro que se despedia, dizia que não poderia deixar de prestar homenagem a um companheiro que se despedia das transmissões esportivas, no fim, ele disse: “Ele que tinha suas predileções pelo verde, quis o destino que, o último gol narrado por ele, fosse da Sociedade Esportiva Palmeiras”.

COMENTARISTA

                  Teve passagens marcantes na Rádio Tupi, Nacional e Globo, quando deixou de narrar e passou a comentar as partidas. Com seus comentários sóbrios, ganhou destaque na TV Globo. Em rádios, fez seus comentários inteligentes na Rádio Record. A Rádio Gazeta voltou a fazer parte da sua vida. Passou pela TV Bandeirantes e pela TV Record, formando mais uma vez uma equipe marcante, que contava além de Pedro, com Silvio Luiz e Flávio Prado. Cobriu 12 Copas do Mundo e dois Jogos Olímpicos.

TRAGÉDIA

                  Em 3 de outubro do ano de 2004, seu filho também radialista Pedro Luiz Paoliello Junior, 51 anos, foi assassinado com três tiros durante um assalto, em Campinas. Ele era comentarista esportivo das rádios CBN e Globo na cidade. Paoliello Junior, foi morto por volta das 21h30 quando chegava em sua casa na Vila João Jorge. Ele foi abordado por um homem a pé que disparou três tiros. O radialista foi atingido na cabeça, no peito e no braço. O ladrão levou a carteira com os documentos de Paoliello Junior, que chegou a ser socorrido ao Hospital Municipal Mario Gatti, mas não resistiu aos ferimentos. O desconhecido fugiu depois do crime. O radialista voltava dos estúdios da CBN, onde trabalhou na transmissão do jogo entre Ponte Preta e Cruzeiro, que terminou com a vitória da equipe mineira por 5 a 0, no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte.

UMA CARREIRA VITORIOSA

                  Pedro Luiz trabalhou nas Copas do Mundo de 1950 até 1994, portanto, em 12 Copas do Mundo. Curiosamente morreu dia 12 de julho de 1998, uma hora após o encerramento do triste França 3×0 Brasil, na Copa de 98. Pedro Luiz era fora de série, uma voz embargada pela emoção, eis que às vezes o grande narrador começava a tecer comentários que tocavam no fundo dos ouvintes de suas narrações futebolísticas. A missão de narrar o esporte mais amado do país não é fácil. O narrador tem que ser os “olhos do ouvinte” e através da fala mexer com a imaginação do torcedor, levando até ele a descrição exata do jogo com emoção, informação e alegria e isto Pedro Luiz fazia em todas as transmissões, por isso, foi um dos maiores narradores esportivos deste país.

Só feras do rádio brasileiro    –    Da esquerda para a direita, os históricos Jorge Amaral, Hélio Ansaldo, Raul Tabajara, Otávio Munis, Antonio Augusto Amaral de Carvalho (sentado), Mário Moraes, Pedro Luiz e Casimiro Pinto Neto
Pedro Luiz e seus inúmeros troféus Roquete Pinto

Pedro Luiz, Geraldo Bretas e Eli Coimbra

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