CLODOALDO: campeão mundial com nossa seleção em 1970

                Clodoaldo Tavares Santana, nasceu dia 25 de setembro de 1949, na cidade de Aracajú (SE).  Portanto, na última sexta feira ele completou 59 anos de idade. Clodoaldo tem uma história muito bonita de vida. Sua vida mudou e muito depois que seus pais morreram. Aos seis anos de idade, deixou Aracaju para morar com seu irmão Antonio na Praia Grande. Eles cuidavam de colônias de férias, carpiam o mato virgem, preparando o terreno para a construção civil. Depois foi morar com uma irmã em Santos. Trabalhava como ajudante de feira e carregava paralelepípedo para a Prefeitura que estava calçando o bairro. Durante esse período foi também “coroinha” de uma Igreja que pertencia a Ordem dos Franciscanos, na cidade de Santos. Com os trocados que ganhava da Prefeitura, ia até o bar comprar sanduiche, mas como o dinheiro não dava, pedia ao dono para cobrar apenas o pão e passá-lo no molho da carne. Foi uma infância muito difícil, que ainda hoje ao lembrar ele chora.

              “Corró” como era chamado pelos familiares na infância, começou jogando bola na Sociedade Esportiva Terra dos Andradas. Depois jogou no Grêmio do Apito, juntamente com o ex-árbitro Romualdo Arppi Filho e no Barreiros, com o amigo Negreiros que também foi jogador do Santos F.C. Como tinha que trabalhar para se sustentar, aos 11 anos arrumou um emprego na Cia. Produtora de Armazéns Gerais. Tinha até carteira assinada. Alugou um quarto com alguns amigos e foi tocando a vida. Foi nessa época que apareceu na vida de Clodoaldo um homem chamado Ernesto Marques, que o levou para treinar nas categorias de base do Santos, juntamente com Nuno Leal Maia, que depois trocou a carreira de jogador pela de ator. 

               Como faltava muito no serviço para poder treinar, acabou perdendo o emprego. Recebeu a indenização e logo a perdeu, pois apareceu um esperto dizendo que iria aplica-lo e sumiu com o dinheiro. Foi aí que Ernesto Marques o levou para morar na Vila Belmiro.  Com o lugar para morar, Clodoaldo passou a se dedicar apenas ao futebol. Durante dois anos morou no clube, inclusive já ostentando o título de campeão paulista de 1967. Ainda hoje, ele lembra que na época de verão pegava o seu colchão e ia dormir na arquibancada.

              Na época em que Clodoaldo iniciou no futebol, havia o chamado “contrato de gaveta” que não estava assinado. Informado da situação, o Fluminense mandou um emissário para levar o volante santista para o Rio de Janeiro. Foi de ônibus até a sede do Fluminense. Chegando lá queriam que ele treinasse, mas ele disse que não podia, pois era atleta do Santos. Pegou o ônibus e voltou para Santos. Ao chegar na Vila Belmiro, os dirigentes correram para acertar sua situação e fizeram imediatamente um contrato. Ainda com 17 anos, já estava treinando no meio de tantas feras do nosso futebol. Entre eles, Zito, Toninho Guerreiro, Carlos Alberto e o rei do futebol Pelé.

              A estréia de Clodoaldo no time do Santos aconteceu num clássico contra a Portuguesa de Desportos na Vila Belmiro. O técnico era Antoninho Fernandes e o peixe venceu por 2 a 1. Nesse dia, surgiu um fato interessante. Clodoaldo ia entrar com a camisa de número 8, porque Zito era o dono absoluto da camisa 5.  Mas para espanto de Clodoaldo, Zito o chamou num canto e avisou que estava parando e era para ele ir se acostumando com a gloriosa camisa 5 do Santos F. C.   Ainda hoje ele lembra da equipe que atuou na maioria dos jogos do campeonato paulista; Cláudio, Carlos Alberto, Haroldo, Joel Camargo e Rildo; Clodoaldo e Zito; Edu, Toninho, Pelé e Abel.

              Jogando pelo Santos F.C., Clodoaldo foi campeão paulista ainda em 1968, 69, 73 e 78.  O título de 1973, ficou marcado na história do futebol brasileiro devido a uma grande confusão da arbitragem de Armando Marques.  O jogo foi contra a Portuguesa de Desportos no dia 26 de agosto de 1973. No tempo normal o placar não saiu do 0 a 0. Veio a prorrogação e também ninguém marcou. Então a decisão foi para as penalidades máxima. De cara, os dois times desperdiçaram. Na seqüência, o Santos marcou e a Portuguesa desperdiçou. Um a zero para o Peixe. Na cobrança seguinte, o Santos voltou a marcar e a Portuguesa perdeu pela terceira vez. Dois a zero para o time da Vila Belmiro. Para espanto de todos, Armando Marques ergueu os braços e encerrou a partida dando vitória ao Santos.

              Os santistas nem perceberam que ainda faltavam duas cobranças e começaram a comemorar o título. Oto Glória, técnico da Lusa, percebeu o erro e ponderou que seu time tinha poucas chances de reverter a situação. Antes que seus jogadores fizessem algum tipo de reclamação, mandou todo mundo para o vestiário e, de lá, direto para o ônibus, para que o árbitro não tivesse oportunidade de reparar a sua falha. Assim que o juiz percebeu o erro, mandou que a Portuguesa voltasse a campo, o que não foi aceito pelos dirigentes da Lusa. Dessa maneira, as duas equipes acabaram sendo proclamadas campeãs. Neste dia o Santos jogou com; Cejas, Carlos Alberto, Vicente, Turcão e Zé Carlos; Clodoaldo e Leo; Jair da Costa (Brecha), Eusébio, Pelé e Edu.

              O último título de Clodoaldo com a camisa santista, aconteceu em 1978, numa melhor de três contra o São Paulo F.C. Neste ano Clodoaldo foi o capitão da equipe, a qual era chamada de “Meninos da Vila”. Neste ano também, aconteceu um jogo contra o Corinthians em que ele foi expulso de campo pelo árbitro Dulcídio Wanderley Boschila, com isto, Clodoaldo teve uma crise nervosa tão grande que ficou marcado em sua carreira. Em meados de 1979, lutando contra a lesão no joelho, Clodoaldo resolveu abandonar o futebol. O jogo de despedida foi contra a seleção da Romênia, na Vila Belmiro. Casa lotada no adeus do ídolo “Corró”.

SELEÇÃO BRASILEIRA

              Clodoaldo estreou na seleção brasileira justamente num confronte contra a Argentina. O jogo foi disputado no Maracanã. Entrou no segundo tempo, o Brasil perdia por 1 a 0. Conseguimos virar o jogo para 2 a 1, com Pelé marcando o segundo gol de cobertura, no Cejas.  O jogo mais marcante de Clodoaldo com a camisa de número 5 da seleção canarinho não poderia ser outro. Foi contra o Uruguai, na Copa de 70.  Deu um vacilo no gol do Uruguai, mas não se abateu. No finalzinho do primeiro tempo recebeu a bola, foi driblando, tabelou, recebeu de volta na área e marcou o gol de empate. Foi um alívio para o nosso craque e este gol ficou marcado em sua vida.  Pela seleção Clodoaldo disputou 51 partidas. Venceu 39, empatou 10 e perdeu somente duas vezes. Marcou 3 gols.

              Entre as boas apresentações na seleção, está a amizade. Rivelino é considerado um irmão. O torcedor sempre queria ver no Santos ou no Corinthians a dupla Clodoaldo e Rivelino. Nunca foi possível. O Corinthians tentou comprar seu passe, assim como o Santos andou atrás de Rivelino. Dentro de campo só jogaram pela seleção.  Clodoaldo também não esquece dos ensinamentos que recebeu de Gerson, que também foi um grande amigo dentro do elenco de jogadores da Copa de 70.

              Com o passe nas mãos, Clodoaldo disputou alguns amistosos pelo Nacional de Manaus. Também teve passagens de apenas três meses pelo New York United. Teve convites para jogar em outros clubes, inclusive da Europa, principalmente da Itália, mas seu amor pelo Santos sempre falou mais alto.  Encerrou a carreira em 1979 ainda novo, aos 29 anos, depois de seguidos problemas no joelho. Pelo Peixe, Clodoaldo disputou 510 partidas.   Em 1981 foi o técnico do Santos no campeonato brasileiro, o qual ficou em 4º lugar. Esta é a história de um sergipano que veio à São Paulo para vencer na vida. Virou ídolo, manteve a humildade e não esconde as lágrimas ao recordar o passado. Dos tempos que dividia um quarto com cinco amigos e do sanduíche sem o recheio por falta de dinheiro. Aos 59 anos,  Clodoaldo é corretor de imóveis. Mantém a humildade e a vida simples ao lado da esposa Cleri, das filhas Claudine e Simone, contando histórias ao netinho Vitor. Parabéns Clodoaldo, pelo belíssimo exemplo de vida que nos deixou.

Em pé: Carlos Alberto, Brito, Piazza, Félix, Clodoaldo e Everaldo    –   Agachados: Jairzinho, Rivelino, Tostão, Pelé e Paulo César Cajú
Em pé: Carlos Alberto, Cláudio, Ramos Delgado, Clodoaldo, Joel e Rildo    –   Agachados: Toninho Guerreiro, Lima, Douglas, Pelé e Edu
Em pé: Cejas, Orlando, Ramos Delgado, Oberdan, Clodoaldo e Rildo    –   Agachados: Davi, Lima, Mazinho, Pelé e Edu
Em pé: Carlos Alberto, Ramos Delgado, Djalma Dias, Cláudio, Clodoaldo e Rildo    –   Agachados: Toninho Guerreiro, Negreiros, Edu, Pelé e Abel
Em pé: Carlos Alberto, Ramos Delgado, Marçal, Clodoaldo, Cláudio e Rildo    –   Agachados: Edu, Lima, Toninho Guerreiro, Pelé e Abel
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