MACIEL: o Santos sempre esteve atravessado em sua carreira

                   Sebastião Dias Maciel nasceu dia 19 de julho de 1939, na cidade de Vitória – ES. Foi um lateral esquerdo que jogou somente em quatro equipes durante toda sua carreira, ou seja, começou no Botafogo de Ribeirão Preto, depois passou pelo Corinthians, onde jogou por quatro anos, depois jogou no Juventus da Moóca e encerrou sua carreira no São Bento de Sorocaba. Embora nunca tenha jogado no Santos, este clube faz parte da vida de Maciel, pois teve duas emoções jogando contra o Peixe. A primeira foi de muita tristeza, enquanto que a segunda é de imensa alegria. A parte triste foi em 1964, quando ainda defendia as cores do Botafogo, quando enfrentou o Santos na Vila Belmiro e tomou de 11 a 0, com 8 gols de Pelé. Realmente foi um acontecimento que entrou para a história do futebol. A parte feliz foi quando defendia o Corinthians em 1968 e depois de 11 anos sem vencer o Peixe pelo Campeonato Paulista, finalmente em março daquele ano, o Tabu acabou, depois de uma vitória por 2 a 1 mesmo com Pelé em campo.

BOTAFOGO

                   Maciel começou sua carreira no Botafogo de Ribeirão Preto, onde formou uma equipe espetacular e que era dirigida por ninguém mais que Osvaldo Brandão. Era o ano de 1964, começava o Campeonato Paulista e no primeiro turno o Santo foi até Ribeirão enfrentar o Botafogo. Neste dia Pelé não pode jogar, pois estava machucado, em seu lugar jogou o desconhecido Rossi com a camisa 10. O jogo terminou com a vitória do Botafogo por 2 a 0.

                  Mal sabiam os jogadores e torcedores do Botafogo que aquela vitória iria custar caro, muito caro. Veio o segundo turno, era o dia 21 de novembro de 1964, um sábado de muita chuva na baixada santista. Como no primeiro turno o Botafogo havia vencido o Santos, aquilo estava atravessado na garganta dos jogadores santistas, que prometiam uma vingança. Outro motivo para estarem com sede de uma boa apresentação, é que o Peixe vinha de uma goleada sofrida em Campinas pelo Guarani por 5 a 1. Para este jogo o técnico do Santos, o popular Lula, mandou a campo os seguintes jogadores; Gilmar, Ismael, Modesto, Haroldo e Geraldino; Lima e Mengálvio; Toninho Guerreiro, Coutinho, Pelé e Pepe. Já o técnico Osvaldo Brandão do Botafogo de Ribeirão Preto escalou a seguinte equipe; Machado, Ditinho, Hélio Vieira e Tiri; Carlucci e Maciel; Zuino, Alex, Antoninho, Adalberto e Gazze.              

                  Naquele dia o Santos conseguiu na Vila Belmiro uma das maiores goleadas conhecidas em certames oficiais na categoria de profissionais, derrotando o Botafogo de Ribeirão Preto por 11 a 0. Foi uma partida magnífica onde o Rei Pelé mais parecia uma “fera” solta dentro do “coliseu”, a devorar pobres e indefesas vítimas sob o delírio de um público que chegou a ficar de pé, sob uma chuvinha fria para aplaudir o maior jogador do mundo. As 9.437 pessoas que compareceram à tarde ao estádio da Vila Belmiro, assistiram uma partida histórica, que poderão contar com orgulho mais tarde para seus netinhos. O encarregado do placar foi a pessoa que mais trabalhou dentro do estádio e se viu as voltas com um problema inesperado, quando Pelé marcou o 10º gol para o Santos.

                 Não havia número suficiente, e um torcedor logo gritou “tira a camisa do Pelé e coloca lá”. Um outro ao lado comentou: “É melhor parar por aí. Você já pensou se marcam mais dois gols, todo esse povo gritando queremos o 13º?  Irá criar uma problema social”. Naquela tarde, Pelé superou todos os recordes mundiais na marcação de gols em uma única partida: fez 8, alguns como o 8º, 9º e o 10º, com um minuto de diferença um do outro, ou seja: aos 25, 27 e 28 minutos do segundo tempo. Quanto ao time de Ribeirão Preto, quase nada se pode dizer. Jogou como costumava jogar, era uma boa equipe, mas…  O maior elogio ao clube interiorano é o de que soube perder, sem apelar para violência, colaborando para o espetáculo, jogando um futebol bonito e vistoso. Seu erro foi querer atuar de igual para igual com o Santos, principalmente, porque não tinha um Pelé em sua equipe.

CORINTHIANS

               No ano seguinte, ou seja, em 1965, Maciel foi contratado junto ao Corinthians. Sua estreia com a camisa alvinegra aconteceu dia 2 e maio de 1965, quando o Corinthians enfrentou o Botafogo carioca pelo Torneio Rio-São Paulo daquele ano. O jogo foi no Pacaembu e o alvinegro paulista venceu por 2 a 0, gols de Manoelzinho e Ney. Neste dia o técnico Oswaldo Brandão mandou a campo os seguintes jogadores; Heitor, Augusto, Mendes, Clóvis e Maciel; Edson Cegonha e Rivelino; Manoelzinho, Flávio, Ney e Geraldo José. Durante os quatro anos que Maciel jogou no Corinthians, ele marcou somente um gol e este único gol aconteceu dia 6 de fevereiro de 1966, quando o Corinthians derrotou o São Bento de Sorocaba por 3 a 2 num jogo amistoso realizado no Parque São Jorge. O jogo estava empatado em 2 a 2, com dois gols de Flávio para o Corinthians, quando Maciel desempatou a partida aos 15 minutos do segundo tempo.

               No ano seguinte, mais precisamente dia 17 de dezembro de 1967, Corinthians e São Paulo se enfrentaram na última rodada do Campeonato Paulista. Caso o Tricolor vencesse, se sagraria campeão paulista daquele ano. E o São Paulo saiu na frente do marcador através de Lourival, que através de um tiro longo quase do meio de campo, fez a torcida tricolor vibrar de emoção. O tempo passava rapidamente e a torcida são-paulina já estava pronta para começar a festa em pleno Pacaembu, quando aos 44 minutos do segundo tempo, numa jogada dentro da área, Maciel rolou a bola para o atacante Benê, que empatou a partida. De um lado festa da torcida alvinegra, do outro lado, tristeza profunda da torcida tricolor.

               Neste mesmo dia o Santos venceu a Portuguesa Santista por 3 a 0, com isto, Santos e São Paulo iriam decidir o título paulista de 1967, pois houve empate em pontos entre ambos, e marcação de jogo desempate. E neste jogo o São Paulo chegou até a abrir 1×0, gol de Babá, mas o time de Toninho Guerreiro, Edu, Gilmar, Carlos Alberto, Clodoaldo e Pelé virou pra 2×1, gols de Toninho Guerreiro e Pelé, sagrando-se campeão paulista e impondo mais um ano na mais longa fila de títulos já vivida pelo Tricolor Paulista.

               Veio o ano seguinte, ou seja, 1968, Santos e Corinthians iriam se enfrentar pelo Campeonato Paulista. Lá estava mais uma vez, Maciel diante da equipe do Peixe. Em sua memória ainda estava aquela tragédia ocorrida em 1964, quando havia perdido por 11 a 0 para o Santos. Mas desta vez foi diferente, a torcida corintiana estava lá para dar apoio aos seus jogadores. Durante o dia o assunto na cidade era só o jogo de logo mais a noite. O Corinthians estava reforçado por Paulo Borges que tinha chegado do Bangu e Buião do Atlético Mineiro. Nas arquibancadas, uma faixa demonstrava o espírito da torcida: “A Fiel não está de luto; só os covardes acreditam na derrota”. E todos gritavam:  “É hoje!”.

               Para esta partida o técnico Lula do Corinthians, que havia trabalhado no Santos por 11 anos, sendo ele o técnico do Peixe quando iniciou o tabu, mandou a campo os seguintes jogadores; Diogo, Osvaldo Cunha, Ditão, Luiz Carlos e Maciel; Edson e Rivelino; Buião, Paulo Borges, Flávio e Eduardo. Do outro lado, o técnico Antoninho escalou, Cláudio, Carlos Alberto, Ramos Delgado, Joel e Rildo; Lima e Negreiros; Kaneko, Toninho Guerreiro, Pelé e Edu.  O árbitro da partida foi o argentino Roberto Goycochea, considerado um dos melhores árbitro da época.

               Aos 13 minutos do segundo tempo, Paulo Borges desce pela esquerda, tabela com Flávio e recebe na frente. Mesmo desequilibrado, arrisca um tiro longo de esquerda. É gol !!!  Corinthians 1 a 0. A Fiel torcida corintiana vai a loucura. Aos 31 minutos, Rivelino sai driblando, aproxima-se da área e aguarda a infiltração de Flávio. Coloca o centroavante na frente do gol e este não desperdiça a chance e enfia o pé com vontade e faz 2 a 0. A torcida que já estava eufórica, vai ao êxtase, não acredita naquilo que está vendo, parece um pesadelo que está acabando. O tempo foi passando e a torcida naquela aflição, até que o árbitro apita o final de jogo. Corinthians 2 a 0 e o fim do tabu. Todos comemoram e Maciel está de alma lavada, vingou-se da equipe santista.

               A última partida que Maciel fez com a camisa corintiana, aconteceu dia 14 de maio de 1969, quando o Corinthians perdeu para a Ferroviária de Araraquara por 2 a 1. Neste dia o Corinthians jogou com; Lula, Pedro Rodrigues, Ditão, Luiz Carlos e Maciel; Dirceu Alves e Rivelino (Tião); Paulo Borges, Tales, Benê e Buião. O técnico era Dino Sani. Com a camisa do Corinthians, Maciel disputou 134 partidas. Venceu 82, empatou 30 e perdeu 22. Marcou 1 gol. Depois foi jogar no Juventus e no São Bento de Sorocaba, onde encerrou sua carreira. Uma de suas últimas partidas antes de encerrar a carreira aconteceu dia 2 de setembro de 1972, justamente contra o Corinthians.

              Este jogo foi válido pelo Segundo Turno do Campeonato Paulista daquele ano e o jogo terminou empatado em 1 a 1, gols de Wanderley para o time de Sorocaba e Paulo Borges para o Corinthians. Neste dia o São Bento jogou com; Zecão, Aranha, Mendes, Clodoaldo e Maciel; Gonçalves e Hertz; Copeu, Tuca, Wanderley e Bozó. Este jogo foi no Pacaembu e o árbitro foi Vilmar Serra. Depois que aposentou Maciel trabalhou por vários anos como monitor da Febem na cidade de Ribeirão Preto.

Em pé: Osvaldo Cunha, Ditão, Diogo, Luiz Carlos, Edson e Maciel      –     Agachados: Buião, Paulo Borges, Flávio, Rivelino e Eduardo
Em pé: Osvaldo Cunha, Ditão, Diogo, Edson, Luiz Carlos e Maciel      –     Agachados: Marcos, Tales, Flávio, Rivelino e Eduardo
São Bento de Sorocaba (SP), 1972. Em pé: integrante da comissão técnica, Geraldo, Aranha, Luis Antônio, Gonçalves, Mendes e Maciel. Agachados: Vanderlei, Tales, Wagner, Werneck e Valdir. Esse time conquistou a quinta colocação no Paulistão daquele ano.

BOTAFOGO – Ribeirão Preto – 1964      –     Em pé: Veríssimo, Expedito e Ditinho, Berguinho, Carlucci e Maciel     –     Agachados: Zuíno, Alex, Antoninho, Adalberto e Gaze
Em pé: Jair Marinho, Clóvis, Marcial, Dino Sani, Ditão e Maciel     –    Agachados: Bataglia, Tales, Silvio, Rivelino e Gilson Porto
Em pé: Maciel, Marcial, Edson, Dino Sani, Galhardo e Ditão     –     Agachados: Garrincha, Nair, Flávio, Tales e Gilson Porto
Em pé: Jair Marinho, Luizinho, Marcial, Ditão, Galhardo e Maciel      –     Agachados: Bataglia, Rivelino, Nei, Tales e Gilson Porto
Postado em M

Deixe uma resposta