TELÉCO: conquistou quatro títulos paulista pelo Corinthians

               Uriel Fernandes nasceu dia 12 de novembro de 1912, na cidade de Curitiba – PR.  Recebeu o apelido de Teléco de sua avó, mas nem ele mesmo sabia o porquê do apelido. Começou sua carreira no Britânia de Curitiba, clube que mais tarde através de fusões se transformaria no atual Paraná Clube. Os gols do jogador chamaram a atenção do Corinthians, que foi até o Paraná buscar o atacante. Sua inscrição no time serviu como um marco na história do Corinthians e do futebol brasileiro. Mesmo muito tempo após a abolição da escravatura, o preconceito racial contra negros era muito forte. Chegou ao Corinthians em meados dos anos 30, mas mesmo assim as equipes continuavam reticentes com relação a inscrição de atletas negros. O Corinthians desconheceu o preconceito e inscreveu o atleta negro no Campeonato para fazer história com a camisa alvinegra. Sua chegada ao Parque São Jorge aconteceu dois anos depois da Revolução Constitucionalista.

CORINTHIANS

               Se nos anos anteriores a 1934 o Corinthians passou por um período de vacas magras, a chegada de um artilheiro daria ânimo maior ao clube. E foi o que aconteceu. Após chamar a atenção em uma partida pela Seleção Paranaense, Teléco chegou ao Corinthians para fazer história. Sua estréia ocorreu em 16 de dezembro de 1934, em um amistoso disputado em São Januário contra o Vasco. O Corinthians foi goleado por 5 a 0. Teléco substituiu o meia-esquerda Mamede. O primeiro gol não demorou muito. Na última partida de 1934, no duelo contra a Portuguesa, o Corinthians venceu por 4 a 1 e Teléco fez o segundo e o quarto gol da vitória. O ano de 1935 começa para o Corinthians em 6 de janeiro, contra o Hespanha no Parque São Jorge; O Timão vence por 3 a 0 e Teléco marcou duas vezes.

               Na quarta partida ele já alcançava a média exata de um gol por jogo. Na década de 1930 o Corinthians incorporou o carisma de time das grandes viradas. Teléco foi o responsável direto por isso em várias ocasiões. Era um atacante rápido e ao mesmo tempo forte. Batia tanto de esquerda quanto de direita, sabia fazer gols de cabeça e era raçudo. Além de todas estas qualidades, se notabilizou por um traço peculiar e feliz para qualquer corintiano: marcar muitos gols contra o rival Palestra Itália. Foram 15 gols em dez anos de clube.

               Em 10 de Fevereiro de 1935 o Timão tirou a pose dos Argentinos do Boca Juniors, que em excursão ao Brasil já haviam vencido Botafogo por 4×0, São Cristovão por 6×1 e empatado com Palestra e Vasco. No amistoso internacional com o Timão, porém, quem deu as cartas foi o mosqueteiro, que venceu por 2×0 e poderia ter vencido por um placar ainda maior, não fosse a deselegância do time Argentino em abandonar a partida após a marcação de uma penalidade máxima. Teléco esteve em campo e ajudou a botar o Boca para correr. Teléco jogou na vitória de virada por 4 a 1 contra o Palestra Itália em 4 de agosto de 1935 pelo Campeonato Paulista, na Fazendinha. O Timão estava sofrendo nas mãos dos palestrinos havia cinco anos, mas esse dia foi o da redenção. Teléco empatou o jogo e Teixeira marcou os outros três. Nesse mesmo ano, Teléco foi o artilheiro do campeonato somando nove gols; no ano seguinte, repetiu a dose com outros nove gols.

ÍDOLO DO TIMÃO

               O Centroavante se consagrou e virou ídolo definitivamente do Corinthians em 1937, quando terminou pela terceira vez consecutiva como artilheiro do Campeonato Paulista com 15 gols. No jogo decisivo, contra o Palestra Itália, em 14 de novembro de 1937, no Parque Antártica, ele não poderia entrar em campo, pois estava com o braço machucado e imobilizado. Seu substituto Zuza ao receber a notícia de que substituiria o artilheiro, simplesmente “desmaiou”. Sem saída, os treinadores Neco e Antônio Pereira, decidiram escalar Teléco no sacrifício. O jogador entrou em campo com uma camisa de manga comprida, para esconder a talas de bambu que amarrava seu braço machucado.

               Quem pensou que ele só fosse fazer número em campo, se equivocou. Aos 20 minutos da primeira etapa, os “Deuses” da bola iluminaram o caminho do artilheiro e Teléco marcou de cabeça para o Corinthians em pleno Parque Antártica, que naquele dia estava completamente lotado para ver aquele mulato subir entre os beques e marcar, de cabeça, o gol que deu ao alvinegro o seu primeiro título de campeão profissional. Depois bastou um empate com o Juventus e uma vitória por 3 a 0 sobre o Estudantes.

               Em 1938 o Corinthians encontrou o parceiro ideal para Teléco no ataque. Servílio de Jesus, meia-direita. Além de uma das mais inesquecíveis parcerias de ataque corinthiano de todos os tempos, foi criada também uma grande amizade fora de campo. Entre os dois havia um entrosamento perfeito, ambos marcaram muitos gols e conquistaram títulos. O Bicampeonato paulista de 1938 foi conquistado de forma invicta. Em 1939, conquistou o terceiro tri paulista (façanha conquistada apenas pelo Corinthians até hoje). Mais uma vez Teléco foi o artilheiro do certame, com 32 gols. Realmente a década de 30 para os corinthianos foi simplesmente espetacular. Como diz o ditado, um é pouco, dois é bom, e três é demais, pois sagrou-se campeão paulista em 1937, 38 e 39.

               Neste último ano, foi realmente o ano da glória definitiva com a conquista do tri tricampeonato Paulista, em que o Timão foi mais negro do que branco, e mostrou o poder da raça mais forte do Brasil dentro de campo. Teleco também foi Tri, e com seus 32 gols, foi artilheiro isolado do Alvinegro na competição. A taça veio no dia 30 de dezembro, com uma goleada sobre o Santos, 4 a 1. Neste dia o Corinthians jogou com;  Joel; Jango e Dedão; Sebastião, Brandão e Munhoz; Lopes, Servilio, Teleco, Joane e Carlitos. Estes jogadores formaram a base da equipe que fechou a década de 30 com chave de ouro. No ano de 1941, outro título paulista, outra vez artilharia para Teléco, que pela quinta vez era o maior artilheiro da competição. Desta vez com 26 gols.

CARREIRA ENCERRADA

               Em março de 1944, o “homem gol”, aos 30 anos de idade, realizou sua última partida com a camisa do Corinthians. O jogo foi no Pacaembu contra o Ypiranga. Após 2 a 2 no tempo normal, o Corinthians venceu por 4 escanteios a favor contra 3 do Ypiranga. Garantindo assim o título do Torneio início de 1944. Seu gol de despedida aconteceu em um amistoso em Sorocaba com a equipe do São Bento. – vitória por 5 a 1 e um gol dele. Em dez anos de clube, Teléco atuou em 246 jogos, venceu 155 empatou 38 e perdeu 53 vezes. Nesse período sagrou-se campeão paulista em 1937, 38, 39 e 41.  Marcou 251 gols com a camisa corintiana e é o terceiro maior artilheiro da história alvinegra.

               Quando se aposentou, passou a ser funcionário do próprio Corinthians sendo responsável pela organização e manutenção da antiga sala de troféus. Teléco foi o primeiro grande centroavante da história do Corinthians. Com média de 1,02 gol por partida, a exemplo de Baltazar foi mais um corintiano a superar Pelé, já que a média de gols do rei do futebol foi de 0,93 por partida. Teléco é até hoje o jogador corintiano mais vezes artilheiro do Campeonato Paulista. Por cinco vezes foi o goleador do Paulistão, nos Paulistas de 1935 (9 gols), 1936 (28), 1937 (15), 1939 (32) e 1941 (26).

               Em matéria de colocar a bola na rede, ninguém, nem mesmo Pelé, foi mais constante que Uriel Fernandes, o Teléco. Sua média, superior a um gol por partida com a camisa alvinegra, é insuperável. A facilidade que Teléco tinha em fazer gols era um desafio à lógica. De cabeça, com os pés, e principalmente de virada. Na média, Teléco fez mais gols com a camisa do Corinthians do que Pelé ao longo de toda a sua carreira. Foram 254 gols em 266 jogos pelo Timão (0,95 por partida) contra os 1.281 gols em 1 375 jogos do Rei do Futebol (média 0,93). A jogada mortal de Teléco era a virada, em que ele, de costas para o gol, jogava o corpo no ar para golpear a bola. Teléco foi também o jogador corintiano que marcou o maior número de gols de cabeça em um mesmo jogo, cinco, em uma goleada de 6 x 2 sobre o SPR pelo Campeonato Paulista de 1937.

               Sempre amou o Corinthians, tanto é que de 1967 até 1991, foi o responsável pela sala de troféus do Corinthians, cuidando das muitas das glórias que um dia ajudou a conquistar. E andando naquela sala, ele parava diante de um troféu e ficava relembrando o dia que ele e seus companheiros o conquistaram e muitas vezes as lágrimas rolavam em seu rosto, pois foram momentos maravilhosos que ele passou em sua vida.  Teléco faleceu dia 22 de julho de 2000, e até hoje é chamado pela torcida corintiana, como “ O Rei das Viradas “.

               Infelizmente, muitos corintianos nunca ouviram falar de Teléco, mas quem o viu jogar, pode afirmar que foi um extraordinário centroavante, um atleta digno das maiores homenagens por tudo que ele fez pelo alvinegro de Parque São Jorge. Por isso, hoje fazemos esta humilde homenagem, pois um jogador e principalmente um ser humano como foi Uriel Fernandes, não pode ficar no esquecimento da Fiel torcida corintiana. Por isso dizemos do fundo do coração: Obrigado Teléco por tudo que você fez pelo futebol brasileiro, em especial ao S. C. Corinthians Paulista que você tanto amou e honrou a camisa que vestiu por dez anos consecutivos.

A vitrine, com troféus conquistados pelo Timão. Teléco morreu antes da inauguração do Memorial do Corinthians, para onde foram transferidas as taças alvinegras
Em pé: Jango, Dino, Chico Preto, Brandão, Ciro, Agostinho e o técnico Del Débbio    –     Agachados: Tite, Servílio, Teleco, Joane e Milani
Da esquerda para a direita: José I, Jaú, Brandão, Teléco, Munhoz, Carlito, Carlos, Jango, Daniel, Carlinhos e Filó
Teléco sendo carregado após a vitória sobre o Palestra Itália por 1×0 e que deu o título de Campeão Paulista de 1937.    OBS: O gol do título foi de Teléco
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