BATATAIS: nosso goleiro na Copa de 1938

                 Algisto Lorenzato nasceu dia 20 de maio de 1910, na cidade de Batatais – SP. Foi um goleiro das décadas de 30 e 40 que defendeu a Portuguesa de Desportos, o Palestra Itália, o Fluminense, o América carioca e também nossa Seleção Brasileira na Copa de 1938, disputada na França, onde o Brasil ficou em terceiro lugar. Teve a honra de ser um dos jogadores que ganhou o prêmio Belfort Duarte, pelo seu comportamento exemplar dentro dos gramados. Sua melhor fase foi quando jogou no Fluminense, pois disputou 309 partidas e sofreu 458 gols, sendo que em 79 jogos, saiu de campo sem tomar nenhum gol. Sagrou-se campeão carioca em seis oportunidades; 1936, 37, 38, 40 e 41. Na decisão de 1941, contra o Flamengo, Batatais foi o grande herói da partida, pois mesmo contundido (teve seu braço pisoteado pelo atacante flamenguista Silvio Pirilo), manteve-se firme e garantiu o empate de 2 a 2 que deu o bicampeonato carioca ao Fluminense.

INÍCIO DE CARREIRA

                 Quando jovem, Batatais teve uma infância muito pobre tendo trabalhado como carpinteiro e com vidros. Um dia soube que havia uma vaga no Frigorífico Anglo, foi trabalhar lá e conseguiu uma vaga no time da fábrica como ponta-esquerda. Um dia o goleiro adoeceu, os colegas acharam que ele tinha pinta de goleiro, ele foi para o gol e nunca mais trocou de posição. Batatais, apelido que recebeu por ter nascido em Batatais, cidade do interior paulista, começou a crescer como goleiro. Apareceu um emissário do Comercial e levou o goleiro para Ribeirão Preto.

PORTUGUESA E PALESTRA

                 Em 1933, ano do profissionalismo, ele foi para a Portuguesa de Desportos com uma boa remuneração. Mais rápido do que se esperava, Batatais foi convocado para defender a seleção paulista e com ela conquistou os títulos de campeão brasileiro nos anos de 1933/34/35. Sua estréia na Portuguesa aconteceu dia 22 de Maio de 1933, com uma vitória sobre o Santos Futebol Clube por 4 a 2 e teve como último jogo, uma derrota de 1 a 0 para o Sport Club Corinthians Paulista em 25 de Novembro de 1934. Em janeiro de 1935 Batatais foi para o Palestra Itália, onde ficou por seis meses, 11 jogos, 8 vitórias, 2 empates, 1 derrota e 9 gols sofridos. Em junho foi para o Fluminense Football Club junto com vários outros jogadores que defendiam a Seleção Paulista.

FLUMINENSE

                 Em 1936 foi titular do Tricolor das Laranjeiras de todas as 18 partidas da vitoriosa campanha do Fluminense no Campeonato Carioca. O Fla-Flu voltou a decidir o campeonato de 1936, já no profissionalismo. Melhor de três: 2×2,  4×1 e 1×1. Novamente o Fluminense levantou a taça. O time campeão foi: Batatais, Guimarães e Machado; Marcial, Brant e Orozimbo; Mendes, Lara, Russo, Romeu e Hércules. Em 1937 e 1938, lá estava Batatais novamente, tornando-se o goleiro do segundo tricampeonato da história do Fluminense. O goleiro vestiu a camisa tricolor até 1945, conquistando ainda mais dois títulos cariocas, em 1940 e 1941, e participando do confuso Torneio Rio-São Paulo em que o Fluminense foi declarado campeão, junto com o Flamengo, em 1940.

                 O Fluminense ficou famoso por uma tradição de possuir grandes goleiros. E se Marcos Carneiro de Mendonça foi o primeiro desta linhagem, o segundo foi com certeza Batatais. A decisão do Campeonato Carioca de 1941, na Gávea, o famoso “Fla-Flu da Lagoa” ganhou ares de tira-teima, uma vez que o tricolor ganhara os campeonatos de 1936, 1937, 1938 e 1940, enquanto o Flamengo, com uma equipe forte, sagrava-se campeão de 1939.

                 Nesse jogo Batatais foi o grande herói. O Fluminense estava “rebentado” em campo. Naquela época não eram previstas substituições. Além do goleiro machucado, Brant estava fisicamente esgotado. E para piorar, Carreiro havia sido expulso. O clássico foi eletrizante. O Fluminense começou melhor a partida, marcando dois gols, com Pedro Amorim e Russo. No fim do primeiro tempo, Pirilo diminuiu para o rubro-negro. No segundo tempo, depois de muito pressionar, o Flamengo empatou, novamente com Pirilo, aos 38 minutos.

                A partir daí, o Flamengo precisando da vitória se lançou todo ao ataque, enquanto o Fluminense, encolhido na defesa, se valia dos chutões para a Lagoa Rodrigo de Freitas para aliviar a pressão. Quando as bolas sumiam, os dirigentes rubro-negros recorriam aos remadores do clube, a fim de que resgatassem as bolas com maior rapidez. Por isso o jogo ficou conhecido como o “Fla-Flu da Lagoa”.

SELEÇÃO BRASILEIRA

               Foi na temporada de 1938 que Batatais chegou à Seleção Brasileira. Na Copa da França, no mesmo ano, Batatais jogou em duas, das cinco partidas da equipe que terminou na terceira colocação. Após sofrer 5 gols na partida em que o Brasil venceu a Polônia por 6 a 5, perdeu o posto de titular. Neste dia a nossa seleção jogou com; Batatais; Domingos, Machado; Zezé Procópio, Martim, Afonsinho; Lopes, Romeu, Leônidas, Perácio, Hércules. Segundo Batatais, com o campo careca e cheio de lama, não deu condições para se fazer defesas com segurança.

              Tanto que o goleiro polonês tomou seis gols. Ele ficou resfriado e de fora do time. No último jogo contra a Suécia, Batatais voltou ao time e o Brasil venceu por 4×2. Nos demais jogos da nossa seleção, o técnico Ademar Pimenta escalou Walter, goleiro do Flamengo que, como incentivo, recebeu a oferta de um prêmio de 30 mil francos do chefe da delegação brasileira, José Maria Castelo Branco, para cada jogo que ficasse sem sofrer gols. Batatais ainda participou de um jogo amistoso da Seleção. Os companheiros diziam que ele passava muita segurança à equipe. Era tão bom, que para sofrer um gol o adversário precisava pegar mal na bola e enganá-lo, pois estava sempre bem colocado.

               Sua carreira de futebolista valeu tanto pela qualidade, quanto pelo seu comportamento exemplar, que lhe garantiu o “Prêmio Belfort Duarte”, por nunca ter sido expulso de campo. Outra honraria para Batatais, encontra-se presente em uma das três estrelas que se destacam no escudo do Batatais F.C., equipe de sua terra natal. O clube homenageia todos os jogadores nascidos na cidade e que participaram de alguma Copa do Mundo, pela seleção Brasileira. Até hoje foram três: Batatais, Zeca Lopes, ex-Corinthians Paulista e Baldocchi, ex-zagueiro do Palmeiras e do Corinthians.

               Os títulos conquistados por Batatais, todos pelo Fluminense: “Campeão Carioca” (1936, 1937, 1938, 1940 e 1941); “Campeão do Torneio Aberto da Liga Carioca” (1935); “Torneio Municipal” (1938); “Campeonato Extra” (1941); “Torneio Início” (1940, 1941 e 1943) e o inacabado “Torneio Rio-São Paulo” (1940). Entre as centenas de milhares de admiradores de sua técnica e seu arrojo, Batatais se orgulhava de um deles: o presidente Getúlio Vargas. Certa vez, na cidade mineira de São Lourenço, no ano de 1938, estando lá concentrada a Seleção carioca, o chefe da Nação manifestou o desejo de cumprimentar o arqueiro.

              O governador Valadares foi o intermediário e Batatais recebeu a saudação do Presidente.  Batatais encerrou a sua carreira em 1946 defendendo o América Football Club (Rio de Janeiro). Muitos anos após encerrar a carreira, Batatais deu entrevista afirmando que o maior goleiro que ele vira atuar foi Planika, da Checoslováquia e o maior goleiro brasileiro para ele tinha sido Castilho, que também defendeu o Fluminense por muitos anos, inclusive participando da Copa de 1958, como reserva de Gilmar.

TRISTEZA

               Depois de dez anos no Fluminense, Batatais sofreu sua grande decepção. Uma mágoa que guardou até o fim de sua vida. Em 1946, quando Gentil Cardoso chegou ao Fluminense, o clube realizou uma viagem pelo Norte. Para não pagar um massagista, Gentil acumulou as funções de técnico e massagista. Ele receberia cem cruzeiros por jogo. Gentil ofereceu metade para Batatais fazer o serviço. O goleiro que estava na reserva topou. No final da temporada, quando foi cobrar o dinheiro do técnico, Gentil não quis pagar. Batatais reclamou e criou um problema com o treinador.

               Para se vingar, Gentil o dispensou num longo relatório que dizia cinicamente – Este rapaz só serve para massagear. Podem dispensá-lo – Depois de dez anos, o Fluminense o mandou embora sem nem uma carta de agradecimento. Pena que os últimos dias de Batatais não tenham sido iguais aqueles vividos no auge de sua carreira. O final da carreira de um dois maiores goleiros brasileiros, conhecido como “o Arqueiro das Mil Mãos”, “a Muralha da China” e “a Cortina de Ferro” foi melancólico.

               Em 1947, quando esteve hospitalizado, o Fluminense deixou de pagar o seu salário e o goleiro foi obrigado a recorrer à Justiça do Trabalho, para receber os seus pagamentos. Sem apoio do ex-clube, o Fluminense, o ex-goleiro conseguiu sobreviver graças ao emprego de porteiro da Tribuna de Honra do Maracanã, que lhe foi conseguido pelo ex-superintendente do estádio, Arno Frank. Batatais morreu pobre e esquecido, no dia 16 de junho de 1960, no Rio de Janeiro.

Palestra Itália   –    Em pé: Dula, Tuffy, Machado, Batatais, Tunga e Carnera   –    Agachados: Mendes, Gabardo, Romeu Pelliciari, Carnieri e Imparato
Fluminense   –   Em pé: Norival, Pascoal, Bigode, Haroldo, Batatais e Afonsinho    –    Agachados: Murilinho, Simões, Geraldino, Nadinho e Pinhegas
Seleção Brasileira de 1938 – em destaque o goleiro Batatais
Oberdan defendendo a Seleção Paulista e Batatais defendendo a Seleção Carioca
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