PAULISTÃO de 1951

                   O ano de 1951 ficará, certamente, marcado na história do Corinthians como um dos mais inesquecíveis. O título paulista coroou uma equipe altamente ofensiva e colocou fim a um jejum de dez anos sem conquistar o estadual. Comandados por José Castelli, o Rato, ex-jogador da equipe, o esquadrão alvinegro marcou nada menos do que 103 gols em 28 partidas. Média de 3,67 por jogo.

                  Com um ataque irresistível, o título paulista veio com duas rodadas de antecedência, depois da goleada contra o Guarani por 4 a 0, no Pacaembu. A linha de frente ficou imortalizada: Cláudio (maior artilheiro da história do clube, com 305 gols), Luizinho (o Pequeno Polegar, 175 gols pelo clube), Baltazar (o Cabecinha de Ouro, 267 gols pelo Timão), Carbone (autor do centésimo gol naquele campeonato) e Mário (um dos maiores dribladores da história do clube). O time ainda tinha o goleiro Gilmar dos Santos Neves e a linha defensiva com Murilo, Julião, Idário, Touguinha e Lorena. Carbone foi o artilheiro do Campeonato Paulista de 1951, com 30 gols marcados.

                 O campeonato de 1951 foi disputado por 15 equipes: Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo, Portuguesa de Desportos, Guarani, Ponte Preta, Portuguesa Santista, Nacional, Jabaquara, Radium, Juventus, Ypiranga, XV de Piracicaba e Comercial (da capital paulista). O regulamento dizia que todos se enfrentariam em turno e returno. Ao final, a equipe que tivesse o menor número de pontos perdidos, seria o grande campeão. Todas as equipes se reforçaram, a Portuguesa por exemplo tinha em seu elenco, Djalma Santos, Brandãozinho, Pinga, Julinho Botelho e Simão, o São Paulo tinha Poy, Alfredo, Mauro, Bauer, Pé de Valsa, Dino Sani e Noronha, o Santos tinha Manga, Hélvio, Ivan e Tite, o Palmeiras tinha Juvenal, Valdemar Fiume, Luiz Villa, Liminha, Ponce de Leon, Jair da Rosa Pinto e Rodrigues.

                Já o Corinthians que foi o campeão, tinha em seu elenco, Gilmar, Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone, Homero, Roberto Belangero e Mário. Enfim, somente com estes craques dos cinco clubes grandes, já dava para montar uma grande seleção. Tudo isto sem falarmos das equipes do interior, que sempre tiravam pontos preciosos dos grandes, principalmente quando jogavam em seus domínios, pois também tinham grandes craques em suas equipes.

               O campeonato começou dia 2 de junho com o jogo entre Corinthians e Nacional no Estádio Municipal do Pacaembu. Era um sábado a tarde e para esta partida o técnico do alvinegro, Newton Senra mandou a campo os seguintes jogadores; Cabeção, Idário, Homero, Rosalem e Julião; Ciciá e Luizinho; Jackson, Carbone, Nardo e Nelsinho. O jogo terminou com a vitória corintiana por  3 a 2, gols de Carbone, Jackson e Nelsinho para o Corinthians e Charuto e Dalton para o Nacional. Ainda no primeiro tempo o goleiro do Nacional defendeu um pênalti cobrado por Jackson e durante a partida dois jogadores do Nacional foram expulsos, Charuto e Nino. Com esta vitória o Corinthians dava o primeiro passo rumo ao título.

               O técnico Newton Senra ficou no comando do time alvinegro até o dia 7 de outubro, quando o time perdeu para o Palmeiras por 3 a 2 ainda no primeiro turno. No dia seguinte assumiu o comando o ex-jogador José Castelli, popularmente conhecido por Rato, que jogou no Corinthians nos anos de 1928, 29 e 30, anos em que o Corinthians sagrou-se tricampeão estadual, portanto, tratava-se de um treinador que impunha muito respeito aos jogadores, por tudo que já havia feito pelo clube. O último título conquistado pelo Corinthians havia sido em 1941, ou seja, a dez anos atrás. Por isso o técnico Rato preparou a equipe de tal forma que naquele ano terminasse aquela angustia que a torcida corintiana já estava vivendo pela ausência de um título.

RESULTADOS INTERESSANTES

               O campeonato teve resultados interessantes, como exemplo podemos citar a vitória do Santos sobre o Comercial da capital por 6 a 1, dia 15 de junho. A vitória do Corinthians sobre o Comercial por 9 a 2, dia 23 de junho. Neste mesmo dia o Palmeiras também aplicava uma goleada sobre o Jabaquara por 7 a 1, que sofria goleada idêntica para o Corinthians dia 12 de agosto. Mais dois 7 a 1 aconteceu durante o campeonato, um foi no dia 30 de setembro, quando o Palmeiras goleou a Portuguesa Santista e o outro foi no dia 4 de novembro, quando a Portuguesa de Desportos venceu o Guarani. No dia 8 de dezembro o Corinthians venceu o Juventus por 7 a 2. O Guarani venceu o Nacional por 8 a 2 no dia 21 de outubro.

              Nos confrontos entre os grandes clubes, os chamados “clássicos”, também tivemos alguns resultados interessantes, como por exemplo; Corinthians e Portuguesa empataram em 3 a 3 dia 5 de agosto, Corinthians goleou o São Paulo por 4 a 0 dia 26 de agosto, a Portuguesa goleou o São Paulo por 4 a 1 dia 12 de setembro, Corinthians venceu o Santos por 4 a 1 dia 16 de setembro e o São Paulo pelo mesmo placar no dia 16 de dezembro. Mas de todos estes clássicos com placares elásticos, teve um que ficou marcado na vida de um dos maiores goleiros de todos os tempos, estou falando de Gilmar dos Santos Neves.

UM DIA NEGRO NA VIDA DE GILMAR

Recém saído do exército como “Cabo Neves” e considerado revelação logo no seu primeiro campeonato paulista. Porem, demorou a chamar a atenção dos grandes clubes. Quis o destino que fosse parar num deles, como contrapeso, algo natural nas transferências daquela época.  Em 1951, dirigentes do Corinthians chegaram ao modesto campo do “Jabuca” atrás de um reforço para o meio campo. O alvo era o volante Ciciá, um negrinho esperto e altamente técnico. Porém, o Jabaquara só aceitou negociar sua estrela se entrasse na negociação também o jovem goleiro Gilmar.  O alvinegro, mesmo já bem servido no gol, pois naquela época tinha como titular, Cabeção, que era simplesmente o reserva na seleção brasileira.  Mesmo assim os dirigentes corintianos aceitaram a proposta e levaram Gilmar para o Parque São Jorge.

              Chegou no clube em 1951 e já naquele ano foi campeão paulista, revelando-se como um dos melhores jogadores. No ano seguinte o Corinthians ficou novamente campeão paulista e suas atuações foram tão importantes para a conquista daquele título, que fora chamado para a Seleção Brasileira. Porem, no seu vigésimo jogo com a camisa corintiana, caiu em desgraça. Considerado culpado por uma derrota por 7 a 3 diante da Portuguesa de Desportos naquele fatídico 25 de novembro de 1951, um domingo de muita chuva no Pacaembu. Ele foi vítima de terrível campanha e até proibido de entrar nas dependências do clube.  Porem, de espírito forte, Gilmar deixou que o tempo calasse seus caluniadores. Só ganharia nova chance cinco meses depois, já em 1952. Então a história mudou e ele se transformou no maior goleiro da história do S. C. Corinthians Paulista. Conquistou o bicampeonato de 51 e 52, o Rio São Paulo de 1953 e 1954 e, no mesmo ano, um dos títulos mais festejados de todos os tempos, o de Campeão Paulista de 54, ou, como ficou conhecido, o Campeão do IV Centenário da cidade de São Paulo. Foi também campeão do mundo nas Copas de 58 e 62, sempre como titular.

A CONQUISTA DO TÍTULO

               Estávamos na anti-penúltima rodada do campeonato, era o dia 13 de janeiro de 1952. O Corinthians estava com 6 pontos perdidos, ou seja duas derrotas e dois empates. Vale lembrar que naquela época cada derrota valia dois pontos perdidos. O Palmeiras tinha 11 pontos perdidos, ou seja ainda estavam em disputa 6 pontos, sendo assim, o Corinthians tinha que perder todos os jogos e o Palmeiras vencer todos para sagrar-se campeão. Uma missão quase impossível para o Verdão, principalmente com o ataque arrasador que o alvinegro de Parque São Jorge tinha. Chegou então o dia 13 de janeiro, o Corinthians iria enfrentar o Guarani no Estádio Municipal do Pacaembu, enquanto que o Palmeiras iria enfrentar o São Paulo no Estádio Palestra Itália. O Verdão fez sua parte, venceu o Tricolor por 3 a 0, com dois gols de Lima e um de Richard.

               No entanto lá no Pacaembu, o Corinthians simplesmente goleou o Guarani por 4 a 0, com dois gols de Baltazar, um de Jackson e um de Carbone. Com essa vitória o Corinthians depois de dez anos, sagrou-se Campeão Paulista de 1951 com duas rodadas de antecedência. Este foi o 13º titulo estadual do alvinegro. Neste dia o Corinthians jogou com; Cabeção, Idário, Murilo, Touguinha e Julião; Lorena e Luizinho; Claudio, Jackson, Baltazar e Carbone. Para dar mais brilho ao título, ainda venceu as duas últimas partidas, o Ypiranga por 3 a 0 e o Palmeiras por 3 a 1, gols de Carbone, Jackson e Luizinho.

               Nunca, em toda a história, o Corinthians teve um ataque tão forte e arrasador quanto o do Paulistão de 51. Com Cláudio, Luizinho, Baltazar e Carbone, o Timão passou como um rolo compressor em cima de seus adversários e alcançou a incrível marca de 103 gols em apenas 28 partidas. O atacante Carbone terminou o campeonato como principal artilheiro, ao anotar 30 gols.  Além de Carbone, mais dez jogadores colaboraram para que a equipe chegasse a inédita marca dos 103 gols: Baltazar, com 24 gols; Cláudio, 18; Luizinho, 13; Jackson, 10; Colombo e Nelinho, com dois cada; e Idário, Mário, Roberto Belangero e Sula, com um gol cada.  O último colocado do campeonato foi o Jabaquara com 42 pontos perdidos. Naquela época o campeão da segunda divisão fazia uma melhor de três com o último colocado para saber quem disputaria a primeira divisão no ano seguinte, sendo assim, o Jabaquara disputou com o XV de Jau, o qual venceu duas das três partidas disputadas. S. C. Corinthians Paulista, Campeão Paulista de 1951.

S. C. CORINTHIANS PAULISTA  –  CAMPEÃO PAULISTA DE 1951  –  Da esquerda para direita: Cabeção, Baltazar, Touguinha, Jackson, Lorena, Murilo, Idário, Carbone, Julião, Luizinho, Cláudio e o técnico José Castelli, o Rato.

 

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