EDSON LEITE: um dos melhores locutores esportivo do rádio brasileiro

                   Edson Pereira Leite nasceu dia 4 de julho de 1926, na cidade de Bauru – SP. Foi um fantástico narrador esportivo do Scratch da Rádio Bandeirantes de São Paulo, durante os anos de 50 e 60. Entrou para a história do rádio ao narrar a Copa de 1958 na Suécia, ao lado do também inesquecível Pedro Luiz. Quem não se lembra de “Placaaaaaar… na  Suéciaaaaaa…”. A rádio Bandeirantes deu 90% de audiência no ibope da época. Foi um acontecimento que ficou marcado na história do rádio brasileiro.

                  Edson Leite também trabalhou na Rádio Cultura, Rádio Excelsior, Rádio e TV Tupi, Rádio e TV Record, Rádio Difusora e pelo rádio, transmitiu também a Copa de 54, na Suíça ao lado de Paulo Planet Buarque. O Brasil teve e tem grandes talentos na narração esportiva. Edson Leite foi uma de suas maiores expressões. A narração de uma partida pelos locutores brasileiros é singular. Jogando com o imaginário do fanático torcedor, o locutor cria um lance mais bonito do que a realidade. É uma descrição sempre emocionante, precisa e rica em detalhes.

                 Edson Leite foi um importante radialista brasileiro. Radialista é o nome que se dá, tanto para quem trabalha em rádio, como em televisão no Brasil. Rapaz muito inteligente e vivo, fez  grande parte de sua carreira como locutor esportivo, tanto de rádio, quanto de televisão. Foi brilhante sempre. Criou bordões. Fez nome, entre o público aficionado. Foi também narrador esportivo na Rádio Cultura, onde chegou ao cargo de diretor. O mesmo tendo acontecido na Rádio Excelsior, Rádio Tupi, Rádio Record, Rádio Difusora. À época, havia quase que uma disputa pela contratação de Edson Leite, por todas as emissoras. Ele criava novas programações, era imbatível.

TELEVISÃO 

               Edson Leite foi realmente um grande nome do rádio brasileiro, porem, o seu nome ganhou grande respeito entre  colegas e até  concorrentes, quando ele foi para a TV Excelsior. Lá promoveu várias modificações, que ficaram históricas. Para começar, juntou-se aos  mais importantes cérebros televisivos, ou seja, para começar chamou Boni,  José Bonifácio de Oliveira Sobrinho para com ele colaborar. A união não durou muito, mas não se pode deixar de dizer que Boni foi um “filho da Excelsior”. Essa expressão encontra-se no livro de Álvaro de Moya, que  foi diretor da emissora e que registrou em: “TV Excelsior – Gloria In Excelsior”. Na verdade, a Excelsior teve três fases. Edson Leite foi diretor na segunda fase.

                Ao seu lado estavam Alberto Saad e Murilo Leite. Fizeram eles grandes reformas, entre as quais pode-se citar:  1ª- a criação de uma imagem, que a fizesse reconhecida imediatamente pelo espectador, ao mexer de um botão. E para isso contrataram entre outros, o cenógrafo Cyro del Nero, e foram criados os bonecos: Ritinha e Paulinho, que  apareciam em todos os intervalos, avisavam da entrada dos programas, etc, etc. 

                A 2ª coisa criada foi o respeito absoluto  ao horário dos programas, o que não acontecia nas demais emissoras.  A 3ª- que agradou a todos, foi a elevação visível dos salários. Nenhum artista que tenha sido convidado para trabalhar no canal 9 (que era a Excelsior) podia dizer não, pois lhe era oferecido sempre 5 ou 6 vezes mais do que ele ganhava no antigo emprego. A 4ª coisa foi: fazer várias contratações de uma vez só.

               Edmundo Monteiro, que era presidente das Emissoras Associadas, à frente da TV Tupi, que era a emissora mais antiga e mais importante, disse uma vez a amigos: “O Edson me levou de uma só vez, quase 30 artistas de primeira linha”. E com isso a Excelsior quebrou um “acordo de cavalheiros” que existia entre os donos das emissoras: Nenhum  tirar elemento da concorrente, sem prévio acordo entre os “cavalheiros”. Essa regra foi  por água a baixo.

               A 5ª coisa que fizeram: Novela Diária. As novelas, nas outras emissoras, aconteciam duas vezes por semana. E eles passaram a fazê-la todas as noites  da semana. A primeira delas foi: “2.5499 Ocupado”, de  Dulce Santucci, com o par romântico, vindo da TV Tupi: Tarcísio Meira e Glória Menezes. E foi um sucesso absoluto. A 6ª coisa: contratação dos melhores novelistas do mercado. E lá foram: Ivani Ribeiro, Walter George Durst, Benedito Rui Barbosa, etc, etc. A 7ª coisa foram as modificações na programação, incluindo musicais, jornais de primeira linha e tal.  E as modificações foram tantas, que a Excelsior chegou a ter picos de audiência de 98%, coisa jamais vista. Mas, veio a 3ª fase da emissora  e ela entrou em decadência. E foi tirada do ar em 1970, quando Edson Leite já não era o diretor da Excelsior. E a emissora faliu.

               Memoráveis foram os shows lançados pela antiga Excelsior no tempo de Edson Leite, como por exemplo; Times Square, Vovô Deville e outros. Na parte humorística, como podemos esquecer de Ronald Golias, Grande Otelo, Pagano Sobrinho, ou dos programas que entraram para a história da televisão brasileira, com a Pensão Família, o Coral dos Bigodudos, etc… Coube também à Excelsior de Edson Leite, inaugurar o ciclo dos festivais de música (que seriam em seguida encampados com vantagem pela TV Record) fazendo desse veículo a vanguarda da música popular e da bossa nova.

               Por seu temperamento agitado, criativo, irrequieto, Edson tinha os apelidos de: “Mosquito Elétrico”, e  “Furacão”. Edson Leite foi sempre um homem surpreendente. Quando, a gente pensava que ele era apenas o maior narrador de futebol no Brasil, entrou para uma atividade paralela e mostrou em pouco tempo que era também um grande empresário. Tinha tanta habilidade para negócios quanto para narrar uma partida de futebol. Era veloz, claro, conciso, imparcial e muito, muito criativo. Foi ele também o grande responsável pelo lançamento de talentos como Regina Duarte, Francisco Cuoco, Daniel Filho e tantos outros, que continuam fazendo sucesso até os dias de hoje.

TRISTEZA

               Edson Leite morreu em São Paulo, no Hospital Nove de Julho, dia 22 de julho de 1983, vítima de infarto aos 57 anos. Está sepultado no Cemitério da Consolação (o primeiro da cidade de São Paulo). Segundo Edson Leite Filho, morador hoje em Araçatuba-SP, um de seus oito filhos, Edson Leite enfartou minutos depois de ser comunicado pelo telefone por João Jorge Saad, presidente do Grupo Bandeirantes, que ele estava nomeado e confirmado como novo Superintendente Geral de Produção e Programação da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão. Emocionado, enfartou e morreu. Possivelmente, completou a sua missão por aqui e agora ao lado do Todo Poderoso, vai iniciar um outro e importante trabalho. Edson Leite deixou oito filhos (duas filhas já morreram). Ele teria hoje oito netos e dois bisnetos. Edson Leite teve também 14 amantes. Um recorde!

UM PEDIDO

               Meses antes de falecer, Edson Leite deu uma entrevista, na qual ele fez um pedido. “Não quero com este comentário ensinar a ninguém o “pai nosso”, mas, gostaria que os jovens, os que estão ingressando nesta profissão levem isso como uma colaboração de quem também cometeu muitos erros. Eu falo a título de colaboração para que os futuros narradores sejam realmente narradores, que o rádio seja sério, moderno, informativo, prestador de serviço, feito com muito amor, sem palavrões e pornografia.

              O rádio precisa resgatar qualidade e dignidade, que muitos jogaram na lata de lixo. Chega de baixaria, chega de terceirização, chega de incompetência. O rádio precisa dar um basta a tudo isso. A falta de qualidade do rádio de hoje contribui decisivamente para a queda de sua audiência e por extensão diminuição das verbas publicitárias. Deem qualidade ao rádio e tenham a certeza que a audiência voltará a crescer e as verbas publicitárias voltarão naturalmente. O narrador esportivo é um “vendedor de ilusões”.

             Cabe ao narrador esportivo descrever o que ocorre num jogo de futebol, com precisão, e, detalhes. Ao contrário dos locutores esportivos que estão mais preocupados com vinhetas, abraços, piadas, reverberações exageradas, pornografia e poesias. Hoje em cada 10 narradores, cinco gritam aos quatro ventos “ pro gooooollllll…. para fora”. É uma forma de aumentar a emoção de uma jogada de ataque.

             Porém 95% desses lances não resultam em absolutamente nada. Pura enganação. E você ainda ouve os surrados – a bola passa raspando a trave, tirando tinta do poste – (a tevê mostra que passou dois metros do poste) ou – balão de couro – (a bola de hoje é fabricada com material sintético e balão é outra coisa), ou ainda – um escanteio de mangas curtas -. E tem aquela do – estamos no intervalo do primeiro para o segundo tempo. Um jogo de futebol tem apenas um intervalo”.

            Edson Leite, inesquecível voz que em 1958 transmitia pela Rádio Bandeirantes, desde a Suécia, a nossa primeira Taça do Mundo. Brasil campeão com placar de 5 x 2 em cima dos anfitriões. Lá vai Garrincha, chega Pelé, aproxima-se Vavá. O goleiro sueco fica tonto, já não sabe mais onde se postar….  Atira para o arco e gooooool do Brasil. Placaaaaaar na Suéciaaaaa. Foi assim em 1958, Edson Leite. Então, sorrimos e choramos de alegria. Hoje, choramos porque Edson Leite partiu. Onde houver um microfone, Edson Leite estará sendo lembrado. E digam o que disserem, ele jamais será superado. Sua voz se calou para sempre. É o que presumo, mas não estranharei se um dia ligar a Rádio Bandeirantes e ouvir Edson Leite transmitindo uma reportagem do céu.

EDSON LEITE – FIORI GIGLIOTI – PEDRO LUIZ
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