URUGUAI 2×1 BRASIL – Dia 16 de Julho de 1950

 

               Tudo começou no dia 25 de julho de 1946, quando o Brasil candidatou-se a sediar a Copa do Mundo de 1950. Aliás, o Brasil foi o único país que candidatou-se, pois a Europa castigada pela guerra não apresentou nenhum candidato.Com a aprovação, começaram então os preparativos. Primeiro passo foi a construção de um novo estádio, que a princípio se chamaria Estádio Municipal Maracanã, nome do rio que corre, estreito nas suas proximidades. Depois passou a chamar-se Estádio Mário Filho, mas popularmente ficou conhecido por Maracanã.

               A pedra fundamental foi lançada no dia 20 de janeiro de 1948 e a construção teve início no dia 2 de agosto de 1948. Depois de dois anos, ou seja, dia 16 de junho de 1950, ele foi inaugurado, num jogo amistoso entre as seleções carioca e paulista. O placar foi de 3 a 1 para os paulistas e o primeiro gol no Maracanã foi marcado por Didi, o criador da “folha seca” e que naquela época jogava no Fluminense. Mesmo ainda inacabado, o Maracanã recebeu um grande público no dia 24 de junho de 1950, para assistir a abertura do mundial, que pela primeira vez era disputado no Brasil, motivo de muita alegria em todo o país.            

              Em 1950, o Brasil ainda possuía 50% da população totalmente analfabeta, no entanto, o amor pela seleção brasileira era de 100%. As esperanças brasileiras eram grandes, pois possuía uma grande seleção de futebol. Para este mundial o nosso técnico Flávio Costa, convocou os seguintes jogadores: Goleiros: Barbosa e Castilho. – Zagueiros: Augusto, Juvenal, Nena, Bigode, Noronha e Nilton Santos. – Meias: Bauer, Danilo, Rui, Eli, Jair da Rosa Pinto e Zizinho. – Atacantes: Ademir de Menezes, Baltazar, Chico, Friaça, Alfredo, Manéca, Adãozinho e Rodrigues.

                Dezesseis países se classificaram para este mundial, no entanto, três acabaram desistindo, Escócia, Turquia e também a Índia, que não veio pois a Fifa proibiu de jogarem descalços, sendo assim, participaram os seguintes países: Bolívia, Brasil, Chile, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, Itália, México, Iugoslávia, Paraguai, Suécia, Suíça e Uruguai. Na chave do Brasil na primeira fase, estavam ainda; México, Suíça e Iugoslávia. 

               Na abertura do mundial, mesmo com o Maracanã inacabado, 160 mil pessoas estiveram presente, mesmo precisando subir extensas rampas, driblar vigas e as pontas perigosamente expostas dos ferros de armação do concreto. Mas ninguém se importava com isto. Era uma tarde fria e de céu cinzento, coisa rara no Rio de Janeiro, mas o clima estava quente, pois o Brasil faria sua estréia naquele dia 24 de junho de 1950. E depois de uma exibição de gala, com dois gols de Ademir de Menezes, um de Jair da Rosa Pinto e outro de Baltazar, o Brasil vencia o México por 4 a 0. Este foi o ponto de partida. Deste dia em diante a euforia começou a tomar conta dos brasileiros.

              Quatro dias depois, o Brasil enfrentou a Suíça no estádio do Pacaembu, que recebeu neste dia um público de 45 mil pessoas. Por jogar em São Paulo, nosso técnico resolveu colocar o trio do tricolor paulista em campo, ou seja, Rui, Bauer e Noronha.  Ficamos apenas no empate de 2 a 2, com Alfredo e Baltazar marcando para o Brasil.  No dia 1 de julho, nossa seleção entrava em campo novamente, e desta vez para enfrentar a Iugoslávia. Um empate bastava para o Brasil passar para a outra fase.

               O jogo foi realizado no Maracanã, que mais uma vez ficou lotado. Novamente o Brasil mostrou um grande futebol e venceu por 2 a 0, com gols de Ademir de Menezes e Zizinho. Além do Brasil, também se classificaram; Espanha, Suécia e Uruguai.  Com jogos simultâneos, jogaram em São Paulo e Rio de Janeiro. Enquanto no Pacaembu, Espanha e Uruguai empatavam em 2 a 2, no Maracanã o Brasil fazia a torcida delirar, com uma sonora goleada sobre a Suécia por 7 a 1, com gols de Ademir de Menezes (4), Chico (2) e Manéca. O gol da Suécia foi marcado por Anderson de pênalti.

               Chegaria então o dia 13 de julho. No Pacaembu, o Uruguai eliminou a Suécia, vencendo por 3 a 2, enquanto que no Maracanã, o Brasil mais uma vez deu um show de bola, ao vencer a Espanha por 6 a 1, aos gritos de “Olé” do público da arquibancada, que cantava em coro a marchinha carnavalesca “Touradas em Madri”. Depois dessa vitória, ninguém mais duvidava que a Taça Jules Rimet ficaria no Brasil, afinal, tínhamos o maior estádio do mundo, a melhor seleção do mundo, o artilheiro da Copa, o grande Ademir de Menezes com 9 gols, tudo isto nos dava a certeza que seríamos campeões.

              Chegava finalmente o grande dia, 16 de julho de 1950, dia em que iríamos conhecer o campeão da quarta Copa do Mundo. No Pacaembu jogaram Suécia e Espanha, para decidirem quem seria o terceiro colocado, e a Suécia venceu por 3 a 1. Enquanto isso, lá no Rio de Janeiro aconteceria a grande final entre Brasil e Uruguai.

              Mas antes de falarmos sobre o jogo propriamente dito, vamos relembrar alguns fatos que ocorreram naquele dia antes do juiz apitar o início da partida. O time foi obrigado a levantar bem cedo para assistir a uma longa missa, depois de muitos discursos de vitória, parecia que o jogo já havia terminado e que nós já éramos os campeões. Ao saírem da missa, os jogadores tiveram um grande assédio por parte da imprensa e torcedores.  Como era ano de eleição, teve jogador que foi levado para passear. A seleção, então, não teve sossego e tranqüilidade. Jogadores receberam camisa, corte de terno, relógios e lustres. Dentro do bar do Vasco da Gama, na concentração em São Januário, jogadores deram autógrafos como “campeão do mundo”.

             Assinaram bolas, faixas, fotos, todo tipo de coisa. Houve até uma promessa que quem fizesse o primeiro gol receberia um terreno, perto do Leblon. Quem fizesse o primeiro gol do Brasil contra o Uruguai iria ganhar uma televisão, uma novidade, na época. Houve uma reunião entre os jogadores, para discutir a divisão de prêmios que eram oferecidos à seleção. Decidiu-se que ia se fazer um leilão dos objetos. Pelo seguinte; havia no grupo jogadores que não tinham condições físicas ou técnicas de jogar. Como não jogavam, corriam o risco de não receber prêmios. Então, combinou-se com a “diretoria”, formada por Augusto, Nilton Santos, Castilho e Noronha, o seguinte : tudo o que cada um recebesse seria leiloado. Houve, então, uma pequena desavença sobre como é que se ia dividir um lustre de cristal, oferecido por uma loja.

             Os jogadores saíram da concentração para o Maracanã às onze e quarenta e cinco. Ao se aproximarem do estádio, o ônibus quebrou e os jogadores precisaram descer para empurrar. Chegaram ao estádio em torno de uma hora da tarde. Quando chegaram ao vestiário, encontraram colchão para todo mundo se deitar no chão. Os jogadores queriam logo entrar em campo e acabar com aquela ansiedade que tomava conta de todos. O Brasil entrou em campo com a seguinte formação; Barbosa, Augusto, Juvenal, Bauer e Bigode; Danilo e Jair da Rosa Pinto; Friaça, Ademir de Menezes, Zizinho e Chico. O Uruguai jogou com; Máspoli, Matias Gonzáles, Tejera, Gambetta, Obdúlio Varela e Rodrigues Andrade; Gigghia, Júlio Perez, Miguez, Schiaffino e Moran.

JOGO DO TÍTULO

              Finalmente começou o jogo e o primeiro tempo terminou empatado em 0 a 0. Veio o segundo tempo e o gol saiu logo no primeiro minuto de jogo. O Maracanã enlouquece. Friaça, o autor do gol também. Naquele momento os jogadores brasileiros eram os deuses, mesmo porque o empate já dava o título ao Brasil. No entanto, a fibra dos uruguaios não deixou que o Brasil comemorasse por muito tempo, pois Schiaffino empatou a partida.

             Quando faltavam nove minutos para o término da partida, um ataque uruguaio pela direita levou Gigghia até quase a linha de fundo, com Bigode cercando-o firmemente. Quando todos esperavam, como no primeiro gol, um cruzamento, Gigghia disparou um tiro a meia altura bem na direção do canto em que estava Barbosa, o goleiro do Brasil. A bola passou no pequeno espaço entre o poste esquerdo e o corpo de Barbosa. Silêncio sepucral no imenso estádio, eu diria até, um silêncio ensurdecedor.  Quando o árbitro inglês George Reader, apitou o final da partida, todos procuravam entender o que estava acontecendo.

            Os 200 mil torcedores ali presentes, estavam inertes em seus lugares. Dirigentes, jornalistas, jogadores e torcedores brasileiros choravam e se lamentavam. Era muito tarde para perceber que haviam menosprezado a seleção uruguaia.  E assim dessa maneira, o Uruguai liderado pelo temperamental Obdúlio Varela, sagrava-se bi-campeão do mundo, uma vez que já havia ganho a Copa de 30 disputada em sua própria casa.  Por muitos e muitos anos, a decepção daquela derrota marcaria profundamente o torcedor brasileiro.

            Alguns dados interessantes sobre este mundial:  A campanha do Brasil foi a seguinte: Disputou  6 partidas. Venceu 4, empatou 1, perdeu 1, marcou 22 gols e sofreu 6. Nesta Copa foram utilizados os seguintes estádios:  Maracanã (Rio de Janeiro), Pacaembu (São Paulo), Independência (Belo Horizonte), Vila Capanema (Curitiba), Eucaliptos (Porto Alegre) e Ilha do Retiro (Recife).   Neste mundial disputou-se pela primeira vez a “Taça Jules Rimet”.  A seleção do Uruguai chegou ao Maracanã com quatro horas de antecedência para disputar a final. Como o estádio não estava 100% terminado, havia buracos no vestiário dos visitantes. Durante o aquecimento, pedras e foguetes foram atirados contra os uruguaios, que tiveram de se esconder embaixo de colchões.

               Neste mundial, foram marcados 88 gols, sendo o artilheiro da competição, o brasileiro Ademir de Menezes com 9 gols. Das 22 partidas que foram realizadas, nenhum jogador foi expulso de campo. Esta foi a primeira Copa que foi adotada a numeração na camisa. Foi também a última em que o Brasil usou uniforme branco com frisos azuis. Depois foi feito um concurso em todo o país para saber qual deveria ser o nosso uniforme. Venceu aquele que sugeriu que tivesse as quatro cores da nossa bandeira, ou seja, camisa amarela com golas verdes, calção azul e meias brancas. A partida entre Brasil e Uruguai, que acabou decidindo o campeão, registrou o maior público da história: 173.830 pagantes (199.854 público total). Na construção do Maracanã, foram utilizados 550.000 sacos de cimento, que se fossem empilhados, dariam duas colunas do tamanho do Pão de Açúcar.

SELEÇÃO DO URUGUAI – CAMPEÃO DA COPA DE 1950     –   Em pé: Obdúlio Varela, Tejera, Gambetta, Gonzales, Máspoli e Rodrigues     –     Agachados: Ghiggia, Júlio Perez, Oscar Miguez, Schiaffino e Moran
SELEÇÃO BRASILEIRA NA DOPA DE 1950     –     Em pé: Barbosa, Augusto, Juvenal, Bauer, Danilo e Bigode     –     Agachados: Friaça, Zizinho, Ademir de Menezes, Jair e Chico

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