PEIXINHO: autor do primeiro gol no estádio do Morumbi

                 Arnaldo Poffo Garcia nasceu dia 2 de setembro de 1940, na Lapa, em São Paulo. O apelido de Peixinho vem de seu pai, que também foi um jogador profissional e conhecido por Peixe, que jogava no Ypiranga, um clube de São Paulo e que não existe mais. Peixinho foi o autor do primeiro gol do estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, em 1960, marcado aos 12 minutos de jogo, em que o São Paulo venceu o Sporting de Lisboa por 1 a 0. A bola veio cruzada e Peixinho mergulhou de cabeça para marcar o gol que daria a vitória ao Tricolor. A partir daquele dia, todos os gols marcados daquela forma, ou seja, com o corpo esticado paralelamente ao solo, passaram a ser considerados “gol de peixinho”. Foi um jogador exemplar, tanto tecnicamente, como disciplinarmente, pois em 17 anos de profissão, jamais foi expulso de campo, fosse em jogo amistoso ou oficial. Defendeu também o Santos F. C. na década 60.

INÍCIO DE CARREIRA

                Seu pai não queria que ele jogasse futebol. O profissionalismo prejudicava mais do que ajudava, por conta da parte financeira. Seu pai achava que ele deveria primeiro aprender um ofício, depois jogar futebol. Por isso, se tornou tapeceiro antes de ir para o São Paulo, que foi o time que o revelou.

SÃO PAULO F.C.

                Sua carreira profissional começou no São Paulo F. C. em 1959, quando o tricolor tinha a seguinte formação; Poy, Ademar, Vilázio, Vitor e Sátiro; Riberto e Gonçalo; Peixinho, Jonas, Gino e Canhoteiro. No ano seguinte, mais precisamente no dia 2 de outubro de 1960, o São Paulo fez um jogo amistoso contra o Sporting de Portugal. Era um jogo festivo, que marcaria a inauguração parcial do estádio do Morumbi (que foi entregue totalmente acabado em 25 de janeiro de 1970).

                Os anos de construção do Morumbi foram difíceis para o São Paulo. Eram tempos de contenção de despesas e de pouco investimento no futebol profissional. Até os jogadores ajudaram. O goleiro Poy foi um dos primeiros a comprar uma cadeira cativa e ajudou o clube a vender outras, tornando-se o campeão de vendas de cativas.  Tanto esforço para construir o maior estádio particular do mundo, merecia uma grande festa de inauguração, sendo assim, convidaram um grande clube de Portugal. O público compareceu em grande número, pois todos queriam ver o novo estádio e o número de pagantes foi de 56.448 pessoas, que lotaram o estádio ainda inacabado, pois o objetivo era abrigar no futuro, 120 mil pessoas.

               O árbitro da partida foi Olten Ayres de Abreu, um ex-atleta são-paulino e conselheiro vitalício do clube, além de ser um torcedor fanático do tricolor. Neste dia o técnico Flávio Costa, o mesmo que comandou nossa seleção na Copa de 1950 realizada aqui no Brasil, mandou a campo os seguintes jogadores; Poy, Ademar, Gildésio e Riberto; Fernando Sátiro e Vitor; Peixinho, Jonas (Paulo), Gino, Gonçalo (Cláudio) e Canhoteiro.

                Logo aos 12 minutos de jogo, Jonas cruzou uma bola na área e Peixinho mergulhou de cabeça rente ao chão e marcou o primeiro gol da partida, o gol da vitória são-paulina, o gol que entrou para a história do Estádio Cícero Pompeu de Toledo, pois foi o primeiro gol marcado naquele estádio. Ainda hoje ele comenta sobre o gol e diz; A emoção foi muito grande, sem a menor dúvida porque todo mundo queria fazer o primeiro gol no Morumbi. E eu fui agraciado por Deus com essa benção. Ainda hoje, quando chego no Morumbi, de longe sinto aquela sensação do primeiro gol.

               É muito emocionante, uma alegria enorme. Muitos me perguntam se foi eu que inventei este tipo de gol, mas eu digo que não fui em que inventei. Outros jogadores já tinham feito algo parecido, mas o gol ficou conhecido assim pela forma como eu mergulhei para fazer o gol. Como já tinha o apelido de Peixinho, todo mundo atribuiu esse nome para o gol também”. Em sua passagem pelo São Paulo, de 1959 à 1961, Peixinho atuou em 61 jogos (23 vitórias, 14 empates, 24 derrotas) e marcou 19 gols.

FERROVIÁRIA


               Depois que deixou o São Paulo, foi jogar na Ferroviária de Araraquara, um clube muito forte do interior paulista daquela época, tanto é, que dificilmente um time grande da capital saía de lá com uma vitória. Não trazia a vitória, mas geralmente trazia um jogador, pois a Ferroviária foi no passado um clube que revelou inúmeros craques, que depois fizeram muito sucesso jogando na capital. Exemplo disto podemos citar: Dudu, Bazzani, Nei, Maritaca, Téia, Rosan, Faustino e o próprio Peixinho, que anos depois fez muito sucesso no Santos F.C.

SANTOS F. C.

                Peixinho chegou na Vila Belmiro em 1963 e por lá ficou dois anos, os quais viveu momentos de imensa alegria, pois jogar ao lado de Pelé é uma honra para qualquer jogador. E quando recorda do Rei do futebol, Peixinho sempre diz; “Foi maravilhoso jogar ao seu lado. Servi o Exército com ele também. Olha, o Pelé não existiu, não existe e não vai existir, ver  de perto ele jogando é fora do comum. E não existe comparação porque o Pelé foi um jogador completo”. Durante esse período que Peixinho jogou no Santos, o time peixeiro sempre teve uma equipe muito forte, tanto é que em 1965, o time santista era assim formado; Gilmar, Carlos Alberto, Mauro Ramos de Oliveira, Orlando e Geraldino; Zito e Lima; Peixinho, Coutinho, Pelé e Abel.

               Realmente um time que impunha muito respeito aos adversários. Foram muitos jogos com a camisa do Peixe, no entanto aquele do dia 18 de março de 1964 ficou marcado na memória de Peixinho, quando o Santos venceu o Corinthians por 3 a 0 pelo Torneio Rio-São Paulo daquele ano. O jogo foi no estádio Municipal do Pacaembu, numa terça feira a noite. Neste jogo Peixinho marcou dois gols e o terceiro foi de Pelé.

OUTROS CLUBES

               Depois que deixou o Santos, ainda jogou por vários clubes; Comercial de Ribeirão Preto em 1966, no Bangu do Rio de Janeiro, Deportivo Itália, da Venezuela, pelo qual disputou a Taça Libertadores da América, jogou ainda no Coritiba e em 1972 no First Portuguese do Canadá, onde encerrou sua brilhante carreira.

               Foram 17 anos de profissionalismo dentro do futebol, viajou por 54 países e com muito orgulho ele sempre diz que nunca foi expulso de campo, algo quase impossível de acontecer, mas é verdade. Diz ele “isto se deve e muito ao meu pai. Depois que o juiz marcou não adianta reclamar ou brigar. Eu levava pontapé e também dava pontapé, mas eu pedia desculpa para o adversário. Então nunca fui expulso por indisciplina. Foi assim durante toda a minha carreira”.

FORA DE CAMPO

               Atualmente Peixinho mora em Piracicaba, onde por muitos anos trabalhou como administrador de uma escola de futebol para crianças carentes, em conjunto com uma ONG chamada Casa do Amor Fraterno. Viva na sua memória ainda está a imagem daquele gol, que não só batizou um estilo (gol de peixinho), mas também é tido por ele como o principal feito de sua carreira, encerrada em 1972 no Canadá. Ele fez parte do ataque do Santos de Pelé e, inclusive, chegou a marcar gols no São Paulo. Mas não foi como carrasco Tricolor que Arnaldo Poffo Garcia, o Peixinho, ficou conhecido. Ele foi o autor do primeiro gol anotado no Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, quando ainda tinha apenas 20 anos de idade.

               Quando lhe perguntam se existe algum jogador que se assemelha ao seu estilo de jogar, ele responde: “Não, porque hoje o jeito de jogar mudou muito. No meu tempo, era ponta direita ou ponta esquerda, também era um artilheiro, tanto é que temos dois grandes exemplos disto, o Cláudio que foi ponta direita do Corinthians marcou 305 gols, sendo até hoje o maior artilheiro do clube. E também temos o Pepe, que marcou 405 gols com a camisa do Santos, só perdendo para Pelé. Hoje dificilmente vemos um ponta ser artilheiro de um clube. Quando comecei no São Paulo, eu tinha facilidade de jogar na ponta e driblava pelos dois lados, coisa que atualmente não se vê nenhum jogador fazer. O futebol de hoje é mais contato físico”.

               Em 2009 a Câmara Municipal de Piracicaba reservou parte do expediente da reunião ordinária para entregar a Moção de Aplauso à Arnaldo Poffo Garcia (Peixinho) pelos 50 anos na área esportiva e 49 anos do primeiro gol marcado no estádio do Morumbi. Com toda sua humildade, Peixinho agradeceu a homenagem e também ao povo piracicabano, especialmente à torcida do Esporte Clube XV de Novembro, em reconhecimento ao seu trabalho no campo esportivo.

Em pé: Fernando Sátiro, Poy, Servilio, Ademar, Riberto e Vitor    –   Agachados: Peixinho, Dino Sani, Gino, Gonçalo e Roberto
Em pé: De Sordi, Riberto, Dino Sani, Servilio, Albertino e Vitor     –    Agachados: Peixinho, Paulo Lumumba, Gino, Celso e Agenor
Em pé: Antoninho, Galhardo, Dudu, Geraldo Scalera, Rodrigues e Lindão    –    Agachados: Peixinho, Davi, Tales, Bazani e Beni
Em pé: Baiano, Carlos Alberto, Zé Carlos, Bebeto, Muri e Fernando     –    Agachados: Peixinho, Zé Luiz, Paulo Bim, Bazani e Pio

Em pé: Lima, Zito, Geraldino, Joel, Mauro e Laércio    –    Agachados: Peixinho, Mengalvio, Toninho Guerreiro, Pelé e Pépe
Em pé: Rosan, Jorge, Nonô, Piter, Amauri e Ferreira    –    Agachados: Peixinho, Luiz Cai Cai, Paulo Bim, Jair Bala e Carlos César

 

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