JOEL CAMARGO: campeão paulista pelo Santos em 1965

                   Joel Camargo nasceu dia 18 de setembro de 1946, na cidade de Santos – SP. Quando alguém disser que já viu tudo no futebol, desconfie. Quem ainda está perto dos 40 anos de idade não constatou e talvez nem ouviu falar da história insólita do quarto zagueiro Joel Camargo, titular absoluto da Seleção Brasileira durante as Eliminatórias à Copa do Mundo de 1970 e reserva do argentino Ramos Delgado no Santos, no mesmo período. Joel foi um excelente zagueiro que defendeu o Santos F.C. por oito anos, sempre jogando ao lado de Pelé e outras feras que o Peixe tinha naquela época. E foi com estes craques, que Joel ajudou a equipe de Vila Belmiro a conquistar cinco títulos paulista, duas Taça Brasil, um Torneio Roberto Gomes Pedrosa, uma Recopa Sul-americana e uma Recopa Mundial.

                  Também defendeu nossa seleção em 27 partidas oficiais e mais 9 não oficiais, inclusive participou da Copa do Mundo de 1970, quando o Brasil conquistou o Tricampeonato Mundial no México. Jogou também na França pelo PSG, embora fosse por apenas duas partidas. Para João Saldanha, treinador do selecionado brasileiro nas eliminatórias para a Copa de 70, Joel Camargo era simplesmente o melhor quarto-zagueiro do mundo. Exagero ou não, Joel era um atleta de estilo elegante, jogava de braços abertos e seu apelido por causa disto era “Açucareiro”.

SANTOS F.C.

               Joel começou sua carreira na Portuguesa Santista em 1963, onde ficou por pouco tempo, pois logo os olheiros do Santos viram seu belo futebol e imediatamente o levaram para Vila Belmiro. Chegando lá encontrou muitas dificuldades em entrar no time de cima, pois só tinha feras e além de tudo, a equipe era naquele momento, simplesmente bicampeã mundial interclubes e na quarta zaga tinha um jogador chamado Calvet, um jogador fora de série e que não era fácil tira-lo da equipe, pois já tinha em seu currículo dez partidas pela Seleção Brasileira. Deveria disputar a Copa do Mundo de 1962, no Chile, mas devido a muitas contusões e também por alguns motivos políticos, acabaram por afastá-lo do mundial. Calvet deixou a equipe santista em 1965, e foi aí que surgiu a grande oportunidade para Joel Camargo, que até então era somente Joel, que recebeu o “Camargo” porque em 1972 o Santos contratou o goleiro Joel “Mendes”, que veio do Coritiba.

               E já em seu primeiro ano como titular, sagrou-se campeão paulista de 1965. Foi um campeonato maravilhoso para a equipe santista, onde fez grandes goleadas, como por exemplo, os 6 a 2 contra o Noroeste, com 5 gols de Pelé. Os 5 a 3 sobre o Comercial, com 3 gols de Pelé. Os 4 a 0 sobre a Portuguesa de Desportos, com 3 gols de Pelé. Os 7 a 1 sobre o Botafogo lá em Ribeirão Preto no primeiro turno, com 3 gols de Pelé e 5 a 0 no segundo turno com 4 gols de Pelé. Os 7 a 0 sobre o Guarani, com 4 gols de Pelé. Os 4 a 0 sobre o América de São José do Rio Preto, com 3 gols de Pelé. Os 5 a 2 sobre a Prudentina, sendo que Pelé marcou os cinco gols. Os 4 a 0 sobre o Juventus, com 3 gols de Pelé. Por tudo isso, o Santos foi o legítimo campeão paulista de 1965. Ao todo marcou 93 gols e sofreu 28. Pelé foi o artilheiro da competição com 49 gols.

               Durante o período em que Joel Camargo jogou no Santos, ele teve vários companheiros de zaga, como por exemplo, Ramos Delgado, Mauro Ramos de Oliveira, Djalma Dias e tantos outros craques. Joel desarmava a maioria das jogadas devido à apurada capacidade de antecipação, sem a necessidade, portanto, de recorrer às “entradas” mais duras, a exemplo do clássico Djalma Dias, seu companheiro de zaga na Seleção Brasileira.

               Incontáveis torcedores santistas reprovavam a atitude do técnico do clube, Antoninho Fernandes, de deixar Joel na reserva, embora reconhecessem as dificuldades de escolha, pois o comandante passou a contar em 1969 com Djalma Dias, que formava a dupla de área com Ramos Delgado, ambos de excelente nível técnico. Antes disso, Joel era intocável num time que tinha Cláudio; Lima, Ramos Delgado, Joel Camargo e Rildo; Clodoaldo e Negreiros; Edu, Douglas, Pelé e Abel. Edu era ponteiro-esquerdo, mas em determinado período atuou pelo lado direito, permitindo a fixação de Abel, na esquerda.

               Saldanha que era fã do futebol de Joel Camargo e que não tinha papas na língua, reprovava a postura do técnico Antoninho do Santos F.C. A rigor, ele também viveu situação parecida ao assumir a Seleção Brasileira. Sua experiência no ramo se resumia a efêmera passagem no comando do time do Botafogo (RJ), da década de 50. Ele foi um jornalista respeitadíssimo pelo profundo conhecimento sobre futebol. Quer no rádio, quer no jornal, usou linguagem direta e criou frases imortalizadas no mundo da bola: “Se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminaria empatado”. Outra pérola: “Se concentração ganhasse jogo, o time da penitenciária seria campeão”. E Saldanha gostava tanto do futebol de Joel, que ao assumir o comando técnico da Seleção Brasileira em 1969, efetivou Joel como titular absoluto. Pela equipe santista Joel disputou 309 partidas e marcou 5 gols.

SELEÇÃO BRASILEIRA

               Assim que Saldanha começou a preparar a lista de jogadores que iriam disputar as eliminatórias para a Copa de 70, no México, convocou um time formado em sua maioria por jogadores do Santos e do Botafogo, os melhores clubes da época; e os conduziu a 100% de aproveitamento em seis jogos de qualificação (Eliminatórias). De uma frase sua, que teria dito que convocaria somente “feras”, surgiu a expressão As feras do Saldanha para designar aquela seleção. Graças ao seu trabalho, a seleção brasileira reconquistaria a auto-estima e a confiança do torcedor, que tinha perdido depois da pífia campanha na Copa do Mundo de 1966.

               O time de Saldanha, que deu show nas Eliminatórias contra Venezuela e Paraguai, com a dupla Tostão e Pelé, estava mesclada com jogadores do Santos, Botafogo e Cruzeiro, os três grandes da época. Foi uma grande jogada de Saldanha. Usou o entrosamento dos jogadores em seus respectivos times e atuava num 4-2-4 bem montado. O time brasileiro de Saldanha era: Cláudio, Carlos Alberto, Djalma Dias, Joel Camargo e Rildo; Piazza e Gerson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu.

               Mas antes de começar a Copa, João Saldanha deixou o comando da nossa seleção, entrando em seu lugar Mário Jorge Lobo Zagallo, que fez algumas mudanças na equipe e uma delas foi a saida de Joel e a improvisação de Wilson Piazza na quarta zaga. Fontana foi o outro quarto-zagueiro que também fez parte do grupo. Joel também fez parte do grupo que conquistou o tricampeonato no México, mas não chegou a fazer nenhuma partida, foi apenas um turista naquela ocasião. Com a camisa da seleção, Joel disputou 36 partidas. Foram 28 vitórias, 2 empates e 6 derrotas.

PELÉ

               Joel jogou muitos anos ao lado de Pelé, que afirma dizer que não é seu amigo, apenas colega de profissão. “Eu praticamente conheço o mundo, como jogador de futebol, por causa dele”, contou e desabafou Joel. Depois que Joel deixou o Santos, nunca mais se encontrou com Pelé. Diz que foi amigo dele somente quando jogavam juntos, depois cada um tomou um rumo na vida e nunca mais se viram.

FORA DAS QUATRO LINHAS

               Antes de encerrar sua brilhante carreira, teve passagem frustrada pelo Paris Saint Germain, da França, depois andou perambulando por clubes menores. Jogou no CRB de Alagoas e no Saad de São Caetano do Sul, um clube já extinto, onde encerrou a carreira em 1973. Hoje, aos 67 anos de idade, o aposentado Joel Camargo tem uma história de cinco títulos paulistas pelo Santos; perda de dinheiro nos investimentos em casas lotéricas; dificuldades financeiras que implicaram até em vendas de medalhas, inclusive a de tricampeão mundial; e emprego como estivador no Porto de Santos. Ele não se constrange de ter trabalhado nas docas. “É um trabalho honesto e o pessoal lá me respeitava”. Disse certa vez que gostaria de ter sido treinador. “Eu gostaria de ter continuado no futebol e tentei, mas você já viu técnico crioulo por ai?”, indagou.

               Um violento acidente no bairro do Gonzaga, em Santos, com Joel ao volante, abalou definitivamente a carreira daquele que João Saldanha considerava o melhor quarto-zagueiro do mundo e isto o influenciou e muito na decisão de encerrar a carreira. No acidente, Joel saiu muito machucado, vindo a falecer uma moça que o acompanhava a bordo de seu carro. Dia 11 de novembro de 2006 Joel Camargo foi homenageado pelo Santos, antes da partida do Campeonato Brasileiro entre Santos e Paraná, por ser mais um jogador do clube que conquistou a Copa do Mundo de 1970 quando o Brasil sagrou-se tricampeão mundial sobre a Itália. O ex-jogador, entretanto parece ser o que menos se importa com o fato: “Eu participei, mas nem jogar eu joguei. Estive entre os 22, mas fui em uma Copa que todo mundo viu”, declarou. Joel também marcou época no Santos, onde atuou de 1962 a 1972 e nesse período viajou por inúmeros países, conquistou inúmeros títulos e teve a honra de jogar ao lado de verdadeiros monstros sagrados do nosso futebol brasileiro.

TRISTEZA

                O ex-jogador do Santos e da seleção brasileira Joel Camargo morreu de insuficiência renal no dia 23 de maio de 2014, na Santa Casa de Misericórdia, em Santos. Campeão da Copa do Mundo em 1970, no México, ele tinha 67 anos. 

Em pé: Lima, Zito, Joel, Haroldo, Geraldino e Gilmar    –   Agachados: Dorval, Mengalvio, Toninho Guerreiro, Pelé e Pépe
Em pé: Djalma Santos, Piazza, Sadi, Cláudio, Joel e Jurandir    –   Agachados: Paulo Borges, Tostão, César, Rivelino e Edu
Em pé: Joel, Zito, Olavo, Geraldino, Mauro e Laércio    –   Agachados: Dorval, Mengalvio, Coutinho, Pelé e Pépe
Em pé: Carlos Alberto, Cláudio, Ramos Delgado, Clodoaldo, Joel e Rildo    –   Agachados: Toninho Guerreiro, Lima, Douglas, Pelé e Edu
Em pé: Carlos Alberto, Sadi, Cláudio, Joel, Denilson e Jurandir    –   Agachados: Paulo Borges, Gerson, Jairzinho, Tostão e Edu
Em pé: Carlos Alberto, Félix, Djalma Dias, Joel, Piazza e Rildo    –   Agachados: Jairzinho, Gerson, Tostão, Pelé e Edu
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