WALDEMAR FIUME: o pai da bola

                    Waldemar Fiume nasceu dia 12 de outubro de 1922, na cidade de São Paulo. Ele é um dos jogadores que tem a honra de ter um busto lá no Parque Antarctica, tal foi seu amor e dedicação pelo clube. Começou sua carreira nos antigos campos da Várzea do Glicério, onde seu estilo alto, esguio e de enorme habilidade chamou a atenção de um fanático torcedor palestrino, que em 1940 o levou para o Palestra Itália. O meia que depois foi volante e que em seguida se fixou na quarta-zaga, sendo absoluto em todas elas, viu o Palestra Itália morrer líder e o Palmeiras nascer campeão. Nas duas décadas que atravessou vestindo as cores alviverdes, aliás as únicas de toda a sua carreira, ganhou inúmeros títulos, com destaque para a Copa Rio de 1951 e os Campeonatos Paulistas de 1942, 1944, 1947 e 1950.  Pelo alviverde disputou 601 partidas e marcou 27 gols.

                   Quando chegou no Palestra Itália, precisou de apenas um teste para ser contratado. Era meia direita clássico, avançado, fazedor de gols. Estreou contra o Comercial, com vitória de 4 x 1. Não era fácil jogar num time com nome italiano naqueles tempos difíceis de guerra. Tímido, pouco falante, sofreu muito com a perseguição que os italianos, e por consequência os palestrinos foram vítimas.

A MUDANÇA DE NOME

                  Waldemar Fiúme viu o Palestra Itália morrer líder e o Palmeiras nascer campeão. É um homem que ficará eternamente na história do Palmeiras, pois ele viveu aquela mudança do nome do clube que ocorreu em 1942 devido a Segunda Guerra Mundial. Dia 22 de agosto de 1942, o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália, entrando no conflito. A partir daí, tudo tinha qualquer ligação com esses dois países, inclusive o Palestra Itália. Sendo assim, foi marcada para o dia 13 de setembro de 1942, uma reunião no clube para a escolha do novo nome. E foi do sócio Mário Minervino, a sugestão de “Sociedade Esportiva Palmeiras”, que foi aprovada por todos os demais. Esta difícil decisão foi tomada dias antes do jogo mais importante do clube naquele ano, ou seja, a decisão do campeonato paulista de 42.  O jogo seria contra o São Paulo F.C. no dia 20 de setembro. 

                  O time do Palmeiras entrou no gramado do Pacaembu, carregando uma bandeira brasileira e, um dos jogadores que carregava esta bandeira era Waldemar Fiume.  O jogo foi tenso e violento, mas o Palmeiras sagrou-se campeão vencendo o tricolor por 3 a 1 com gols de Cláudio (que depois seria ídolo no S.C. Corinthians Paulista), Del Nero e Echevarrieta. Para o tricolor marcou Waldemar de Brito, aquele que anos mais tarde iria descobrir o maior jogador de futebol de todos os tempos, Pelé.  E já no seu primeiro ano de Palmeiras, o alviverde conquistou seu primeiro título. A equipe que entrou para a história do clube foi a seguinte; Oberdan, Junqueira e Begliomini; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio, Waldemar Fiume, Villadoniga, Lima e Echevarrieta. O técnico foi Del Débbio.

MUNDIAL INTERCLUBES DE 1951

                  Waldemar era um jogador versátil, habilidoso e disciplinado taticamente. Foi convocado várias vezes para a seleção paulista, porém não teve oportunidade de jogar uma Copa do Mundo. A CBD (Confederação Brasileira de Desportos) hoje CBF, era sediada no Rio e dava preferência para jogadores dos clubes cariocas. Na Copa de 1950, por exemplo, havia oito jogadores vascaínos e apenas três do Palmeiras. Por ironia, praticamente o mesmo Vasco foi derrotado em 1951 na semifinal do Mundial de Clubes pelo Palmeiras. Na final contra o Juventus de Turim, todos os brasileiros torciam a favor do Palmeiras, já que a vitória tiraria um pouco do gosto amargo deixado pelo vice no Mundial de 1950.

                 Apesar de Waldemar Fiume não ter jogado contra o Vasco por estar contundido, por tudo que ele fez no Futebol Paulista e pela hegemonia do Palmeiras em 1950-1951, fica a impressão de que poderia ter sido muito útil à Seleção caso tivesse tido chance de representá-la.  Apesar de não ter servido a Seleção Brasileira, a carreira desse jogador foi brilhante. Tanto que hoje possui um busto lá no Parque Antarctica.  Em 1995, ao ir ao Parque Antártica assistir a uma partida do Palmeiras, Fiume ainda era reconhecido e cercado por vários torcedores que se aglomeravam para cumprimentá-lo. Prova de seu brilhantismo e digno de um Campeão Mundial de Clubes.

                Recebeu o apelido de “Pai da Bola”, porque começou como meia-direita, passou a volante e terminou na quarta-zaga. Descobriu que era zagueiro por mais uma artimanha do São Paulo, que numa manobra junto ao STJD, proibiu o volante Dacunto de jogar a final do Paulista de 1944, Waldemar Fíume foi recuado pra sua vaga. Foi o melhor em campo. Em mais uma improvisação. Em 1946, fez linha de zaga com grandes nomes da nossa história, ao lado de Gengo e Og Moreira formou um dos trios de zagueiros mais brilhantes da nossa história. Como zagueiro passou a ter o rendimento muito melhor que na época de meia-direita e volante. O Pai da Bola atuou 17 anos consecutivos com o manto alviverde, nunca vestiu a camisa de outro clube. Tem um busto no Parque Antarctica, ao lado de Ademir da Guia e Junqueira. Quando jogava não gostava de dar entrevistas, mas achei essa declaração dele falando sobre como o futebol mudou: “Naquela época o futebol era diferente. Atualmente, a parte física tem grande importância e até mesmo prevalece. No meu tempo se o jogador apresentava facilidade para driblar e armar já dava um grande passo rumo ao sucesso”.

A DESPEDIDA DOS GRAMADOS

              O extraordinário Waldemar Fiúme despediu-se oficialmente do futebol, depois de 17 anos no Palmeiras (Palestra) onde, vindo da várzea, foi figurar diretamente no posto titular da meia-direita do Palestra. Waldemar Fiúme, encerrou quase que injustiçado uma das carreiras mais brilhantes de que se tem conhecimento no futebol brasileiro. Injustiçado porque, apesar de figurar como o melhor homem de seu posto, incontestavelmente em todo Brasil, jamais teve a oportunidade digna de suas qualidades, em qualquer das seleções que se formou em todo esse largo período de tempo, seja nas paulistas, seja nas brasileiras. Dono de incomum consciência de jogo, Fiúme aliava à sua classe inegável, a fibra e o “coração” dos amadores, sempre aparecendo como um dos mais lutadores craques do Palmeiras, qualquer que fosse a forma por que passasse a equipe.

                Médio dos mais completos, dizem-no uma vítima das “táticas”, quando, em verdade, foi sim, de sua inabalável modéstia e simplicidade, num meio em que a valorização parece estar inseparavelmente ligada às encenações e a “mascara”, que Waldemar Fiúme jamais soube afixar ao seu jogo e o seu temperamento. Ao entrar em campo, perfilou-se em fila indiana, no meio dos dois times juvenis de Palmeiras e XV de Piracicaba que faziam uma preliminar. Waldemar Fiúme fez a volta olímpica ao lado dos jogadores juvenis e foi aplaudido quando passou pela fila dos dois times adversários daquela tarde. O filho do saudoso roupeiro Tamanqueiro foi incumbido de colocar uma cadeira para que Waldemar Fiúme descalçasse as chuteiras.

                 O capitão Ivan, do Palmeiras, presidente Mario Beni e o diretor Mario Fruguelli entregaram-lhe a camisa do clube, e o convidaram para junto da esposa e filho assistirem o jogo da tribuna, pois havia uma surpresa para depois da partida: a inauguração de seu busto. Uma homenagem mais do que justa, por tudo que ele representa à Sociedade Esportiva Palmeiras, o único clube que defendeu como profissional em toda sua vida, 601 jogos. É o quarto jogador que mais vestiu a camisa alviverde, ficando atrás somente de Ademir da Guia (901 jogos), Leão (617) e Dudu (609)

O ADEUS À WALDEMAR FIUME

               Fazia já algum tempo que Waldemar Fiúme não estava bem. Sérios problemas com a sua circulação sanguínea limitavam seus movimentos. Não havia outra solução senão a amputação de suas pernas, totalmente comprometidas pela gangrena. Fiúme, porém, retardou a cirurgia o máximo possível, a fim de que tivesse tempo de receber mais uma homenagem do Palmeiras, o que aconteceu na festa dos veteranos do clube em setembro de 1996. Em razão da idade já avançada, ele suportou bem a cirurgia, mas não o período seguinte, vindo assim a falecer. Era o dia 6 de novembro de 1996, quando o verde e o branco da  camisa do Palmeiras, se escureceu de luto. Aos 74 anos, morreu em São Paulo um dos maiores craques da história do Palmeiras, Waldemar Fiúme, um jogador que apenas os mais antigos tiveram a sorte de ver jogar, e jogar tanto, que não poderiam mesmo ter-lhe dado outro apelido que não o de “Pai da Bola”.

         

 

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