ROMEIRO: campeão paulista pelo Palmeiras em 1959

                   José Romeiro Cardoso nasceu dia 3 de julho de 1933, na cidade de Taboas – RJ. Foi um excelente ponta esquerda e tinha um fortíssimo chute e, foi com esta arma que marcou muitos gols em sua carreira, em especial aquele que deu o título ao Palmeiras no Campeonato Paulista de 1959, gol este, que entrou para a história do alviverde de Parque Antarctica. Jogou na equipe esmeraldina de 1958 até 1962, que na época tinha um time fabuloso, o único que conseguia enfrentar o Santos de Pelé de igual para igual e um bom exemplo disto foi o Campeonato Paulista de 1959, quando as duas equipes precisaram realizar três partidas para se saber quem seria o grande campeão daquele ano, por isso foi chamado de Super Campeonato.

PALMEIRAS

                  Romeiro começou sua carreira no América do Rio de Janeiro. Em 1958 o Palmeiras comprou seu passe e no dia 21 de dezembro fez sua estreia com a camisa alviverde.  Neste dia o Palmeiras enfrentou o Botafogo de Ribeirão Preto num jogo amistoso, o qual o Palmeiras venceu por 3 a 0. Quatro dias antes havia terminado o Campeonato Paulista de 1958, o qual o Santos sagrou-se campeão, pois tinha um time arrasador. Pelé marcou neste campeonato, simplesmente 58 gols, um recorde que jamais será batido. Duas rodadas antes de terminar o campeonato, o Santos goleou o Corinthians por 6 a 1 na Vila Belmiro, com quatro gols de Pelé, um de Pagão e outro de Pépe.

CAMPEONATO PAULISTA DE 1959

               Chegava então o ano de 1959 e no dia 12 de julho teve início o Campeonato Paulista, que prometia ser um grande campeonato, pois o Santos tinha um time imbatível e os grandes times da capital procuraram se reforçar bem, caso contrário o título continuaria na baixada santista. O primeiro confronto entre Santos e Palmeiras válido pelo primeiro turno, aconteceu dia 3 de outubro, quando o Santos atropelou o Palmeiras, 7 a 3. Gols de de Pelé (3), Pépe (2), Dorval de Dicão, enquanto que para o Palmeiras marcaram Paulinho, Romeiro e Chinesinho. Este jogo foi na Vila Belmiro, num sábado pois no dia seguinte teríamos eleições.

                 Aquela derrota ficou atravessada na garganta dos torcedores e também dos jogadores do Palmeiras, que esperaram ansiosamente pelo segundo turno. E ele chegou, era o dia 29 de novembro, um dia de muito sol na capital paulista. O jogo foi no Parque Antarctica e o árbitro da partida, foi Anacleto Pietrobon, um dos melhores árbitros daquela época. O Palmeiras chegou a fazer 2 a 0, com gols de Américo e Julinho, quando Pelé diminuiu. Mas aquele dia era um dia verde e branco.

                Com mais três gols, Romeiro, Julinho e Américo, o Palmeiras venceu o Peixe por 5 a 1. Pronto, estava vingado aquela derrota do primeiro turno, agora só restava esperar as demais rodadas para se saber quem seria o grande campeão daquele ano. O Santos poderia ficar com o título daquele ano, mas tropeçou diante do Botafogo de Ribeirão Preto e assim, tanto Palmeiras como Santos terminaram o campeonato em primeiro lugar com 63 pontos, sendo assim, haveria necessidade de partidas extras para saber quem seria o grande campeão do ano de 1959. Como a última rodada aconteceu no dia 27 de dezembro, a decisão ficou para o ano de 1960, decisão esta que seria numa melhor de quatro pontos.

A GRANDE DECISÃO

                   A primeira partida aconteceu dia 5 de janeiro e o placar foi de 1 a 1. Pelé marcou para a equipe santista e Zéquinha marcou para o alviverde. O publico que bateu o recorde de renda no campeonato, saiu reclamando de marmelada. O empate decidiu que haveria mais dois jogos, independente do resultado da segunda partida. A segunda partida aconteceu dia 7 de janeiro, uma quinta feira a noite no Pacaembu. Novamente terminou empatada a partida. Pépe cobrando pênalti, abriu o placar. O zagueiro santista Getúlio marcou contra e empatou. Chinesinho desempatou e Pépe novamente empatou em 2 a 2. Final de jogo e tudo ficaria para o dia 10 de janeiro de 1960.

                  O Santos era o atual campeão, enquanto que o Palmeiras já estava há nove anos com o grito de campeão entalado na garganta, pois seu último título havia sido em 1950.  O palco daquele espetáculo era novamente o Estádio Municipal do Pacaembu, que neste dia recebeu um público de 37.023 pessoas, que proporcionou uma arrecadação de Cr$ 3.076.375,00. O árbitro da partida foi Anacleto Pietrobon. O Santos fez voltar ao time, Jair da Rosa Pinto e Pagão que tinha se casado e estava em lua de mel na cidade de Poços de Caldas. Ele voltou correndo para jogar a decisão.  

                 Neste dia o técnico Lula mandou a campo os seguintes jogadores; Laércio, Urubatão, Getúlio, Dalmo e Formiga; Zito e Jair da Rosa Pinto; Dorval, Pagão, Pelé e Pepe. Sem dúvida alguma, um time que impunha muito respeito a qualquer adversário. Já pelo Palmeiras, o técnico Osvaldo Brandão mandou a campo os seguintes jogadores; Valdir, Djalma Santos, Valdemar Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho Botelho, Américo, Nardo e Romeiro. Realmente duas máquinas de jogar futebol. Dos 22 jogadores, 13 já haviam vestido a camisa da seleção brasileira. Quem teve a felicidade de ver estes monstros sagrados jogarem, pode dizer que é um privilegiado, pois eram jogadores de alto nível, coisa que nos dias de hoje não vemos mais. E o mais importante, jogavam por amor a camisa, pois o que ganhavam não chega nem perto de muitos jogadores de quinta categoria dos dias de hoje.  São estes jogadores de hoje, que nos fazem sermos saudosistas.

                 Começa o jogo e logo aos 14 minutos, Pelé abriu a contagem. Aos 43 minutos do primeiro tempo, Julinho empatou a partida. Veio o segundo tempo e logo aos três minutos da etapa final, Zito derrubou Zequinha na entrada da área, falta para o Palmeiras, de meia-distância. Romeiro batia forte e de três dedos, com um veneno incrível. Enquanto o goleiro Laércio orientava a barreira, Romeiro ajeitou a bola. Mãos na cintura, mediu a distância. Quase se podia ouvir sua respiração, no Pacaembu em silêncio, e soou forte o impacto violento de sua chuteira na bola, que subiu e desceu numa curva suficientemente ardilosa para tornar inútil o salto de Laércio..Quando a rede tremeu, tudo ficou verde.

                   O invencível Santos não era mais invencível e o Palmeiras renasceu naquele dia. E aquela batida de falta tornou-se imortal: por cima da barreira, a bola foi no ângulo do ex-palmeirense Laércio, que nem se mexeu. Golaço que garantiu a vitória por 2 a 1 e que rendeu inflamada invasão do gramado do Pacaembu pela torcida palmeirense ao término do jogo. Palmeiras era o grande campeão de 1959. Romeiro não era igual ao ex-ponta Pepe, que soltava um canhão. Não havia nenhuma semelhança entre ele e Jair da Rosa Pinto, que igualmente liberava uma espécie de míssil da ponta das chuteiras.

                  Marcelinho Carioca? Não daria para estabelecer comparações. Afinal, o ex-xodó da Fiel já se acostumou a pedir socorro a Jesus Cristo para santificar resultados aparentemente impossíveis. Romeiro não misturava futebol e religião, mas, ao ajeitar a redondinha, sentia um inexplicável arrepio. É possível que tudo não passasse de um intenso amor pela camisa verde. No entanto, ele próprio admite que uma luzinha dos céus apontava, digamos, a trajetória só percorrida pelos talentos de verdade. Ah, mais uma curiosidade: Romeiro era um curinga incomparável, atuava em 10 posições. Só não vestiu a camisa um. Da lateral à ponta-esquerda, era com ele  mesmo.

                 O ex-ponta esquerda também foi importantíssimo na conquista da Taça Brasil de 1960. Romeiro jogou no Palmeiras até 1962, quando foi jogar na Colômbia, onde sagrou-se bicampeão. Com a camisa do alviverde de Parque Antarctica, Romeiro disputou 114 partidas. Venceu 70, empatou 22 e perdeu 22. Marcou 62 gols. Despedida do clube: Flamengo 4 x 3 Palmeiras (amistoso). Antes de encerrar sua brilhante carreira, jogou ainda na Colômbia onde defendeu o Millionários, o Deportivo de Cali e o Atlético Junior de Barranquilla. Ao retornar ao Brasil jogou ainda na Ponte Preta de Campinas e no Santa Cruz do Recife. Depois que encerrou a carreira de jogador, passou a trabalhar como treinador e chegou a levantar uma Taça São Paulo de Juniores pelo Nacional da capital paulista e foi também campeão paulista juvenil em 1971 no comando do Palmeiras.

TRISTEZA 

                  Romeiro faleceu dia 4 de janeiro de 2008, vítima de um infarto fulminante. O corpo foi enterrado no túmulo do Palmeiras, no Cemitério do Araçá, região central de São Paulo. Deixou os filhos Luiz Antonio, José Carlos e Angélica e a esposa Maria José. Na época residia no bairro da Pompéia, em São Paulo. Nos últimos anos de vida cuidava de suas escolinhas de Osasco e Perdizes. Até falecer, era figurinha carimbada no Parque Antarctica. Costumava ser visto nas alamedas do clube sempre ao lado de outros ex-jogadores que ajudaram a fazer do Palmeiras esse clube tão grandioso. Em 2004, o escritor Carlos Meninéia publicou um livro sobre Romeiro, intitulado “Romeiro: o Sputink brasileiro”, devido à potência de seus chutes, em alusão ao primeiro satélite artificial lançado em órbita pelos russos.

Em pé: Djalma Santos, Valdir, Waldemar Carabina, Aldemar, Zequinha e Geraldo Scotto     –     Agachados: Julinho, Nardo, Américo, Chinesinho e Romeiro
WALDEMAR CARABINA E ROMEIRO
Em pé: Djalma Santos, Valdir, Waldemar Carabina, Aldemar, Zequinha e Geraldo Scotto      –     Agachados: Gildo, Julinho, Geraldo José, Chinesinho e Romeiro
Romeiro comemorando o título paulista de 1959, quando ele marcou o gol da vitória de 2×1 sobre o Santos

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