BARBOSINHA: foi do céu ao inferno no Corinthians

                Lourival de Almeida Filho nasceu dia 11 de setembro de 1943, na cidade de São Paulo – SP. Foi um goleiro que em pouco tempo que assumiu a titularidade da equipe corintiana, já se tornava ídolo da Fiel. Já nos tempos em que jogava nos aspirantes, demonstrava ter um belo futuro pela frente. Era uma época em que o torcedor corintiano chegava bem cedo ao estádio, só para ver Rivelino, Sérgio Etigo (criador do drible do elástico), Kosilec, Barbosinha e outros que jogavam no aspirante, mas que já despontavam como futuros craques. Era carinhosamente chamado de Gato Preto, apelido dado pelo saudoso locutor esportivo Fiori Giglioti.

               Quanto ao nome de Barbosinha, era pela semelhança com o goleiro Barbosa que jogou no Vasco na década de 50 e que defendeu nossa seleção na Copa de 50 disputada aqui no Brasil. Infelizmente Barbosinha também sentiu na pele o mesmo que Barbosa havia sentido décadas atrás, ou seja, foi taxado de culpado por uma derrota, o que acabou com sua carreira de forma melancólica.

CORINTHIANS

               Barbosinha começou no infantil do Corinthians, depois passou para o juvenil e não demorou muito para fazer parte da equipe de disputava os aspirantes, uma época em que os torcedores chegavam mais cedo ao estádio, pois sabiam que iriam assistir grandes jogos. Até mesmo os jogadores do time de cima quando não podiam jogar, faziam questão de jogar no aspirante, pois eram bons jogos e o público também era muito bom. Barbosinha e Rivelino faziam parte do time de aspirantes do Corinthians em 1965. Eram os dois jogadores que o torcedor corintiano tinha certeza que iriam brilhar e muito assim que subissem para o time profissional. E não deu outra, Rivelino se tornou um dos maiores jogadores que já vestiu a camisa do alvinegro de Parque São Jorge e Barbosinha logo que assumiu a titularidade da equipe principal, se tornou ídolo da torcida.

               Barbosinha foi um goleiro negro que jogou no Corinthians nos anos 60, que não soltava uma só bola. Quando o atacante adversário chutava a bola à queima roupa, eu já olhava pra rede procurando a bola, que, pra minha surpresa, estava agarrada pelo Barbosinha. Sua estreia na equipe profissional aconteceu dia 19 de março de 1967, quando o Corinthians enfrentou o Fluminense do Rio de Janeiro no Estádio Paulo Machado de Carvalho pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa daquele ano. O jogo terminou empatado em 3 a 3, gols de Tales, Rivelino e Nair para o alvinegro, enquanto que Samarone, Lula e Roberto Pinto de pênalti, marcaram para o Tricolor Carioca. Neste dia o técnico Zezé Moreira do Corinthians mandou a campo os seguintes jogadores; Barbosinha, Jair Marinho, Ditão, Galhardo e Edson Cegonha; Nair e Rivelino; Marcos, Tales, Silvio (Flávio) e Gilson Porto.

               A cada partida, Barbosinha se firmava mais na equipe e passava confiança para seus companheiros e à imensa torcida corintiana. E isto se confirmou no dia 10 de junho de 1967, quando defendeu um pênalti contra o Atlético Mineiro num jogo amistoso realizado em Brasília. O time mineiro abriu o placar através de Laci e o Corinthians empatou através de Silvio. Aos 10 minutos da segunda etapa o árbitro Ethel Rodrigues marcou um pênalti a favor do Galo Mineiro. Grapete cobrou e Barbosinha defendeu aquele que seria o gol da vitória atleticana.

              Um mês depois, começava o Campeonato Paulista e já na primeira rodada o Corinthians goleou o Guarani por 4 a 1 com quatro gols do atacante Silvio, depois derrotou o Palmeiras por 2 a 1, gols de Nair e Rivelino, depois empatou com o São Paulo em 3 a 3, depois goleou o Comercial de Ribeirão Preto por 6 a 2 e assim foi conquistando grandes vitórias, até encerrar o primeiro turno. Veio o segundo turno e novas goleadas sobre o Comercial e Portuguesa de Desportos, ambas por 4 a 0. Até que chegou o fatídico dia 19 de novembro (Dia da Bandeira). A tabela apontava para aquele dia, Corinthians x Palmeiras.

               Era um domingo de tarde ensolarada na capital paulista e nesse dia o técnico Zezé Moreira do Corinthians escalou a seguinte equipe; Barbosinha, Osvaldo Cunha, Ditão, Luiz Carlos e Jorge Correa; Nair e Rivelino; Marcos, Benê, Flavio e Gilson Porto. Do outro lado, o técnico Mário Travaglini mandou a campo os seguintes jogadores; Peres, Geraldo Scalera, Baldochi, Minuca e Ferrari; Dudu e Ademir da Guia; Dorval, Servílio, César e Tupãzinho. O estádio era o velho Pacaembu, que neste dia recebeu um público de 31.325 pagantes, que proporcionou uma arrecadação de NCr$ 78.471,00. O árbitro da partida foi Olten Aires de Abreu. A torcida corintiana estava confiante, pois o time vinha fazendo um excelente campeonato, obtendo inclusive várias goleadas, o que fazia aumentar o otimismo para aquela partida. E o árbitro finalmente apita o início da partida.

               Logo aos 2 minutos de jogo, o atacante Servilio do Palmeiras, sofreu uma distensão muscular. Naquela época não eram permitidas substituições. O Departamento médico do alviverde providencia uma coxeira e Servilio faz número na ponta direita. Ainda no primeiro tempo, o Palmeiras mesmo com 10 homens obriga Barbosinha a fazer grandes defesas e assim ele ia se tornando o melhor jogador em campo. Falavam até em Seleção Brasileira para aquele jovem goleiro. Mas naquela fatídica tarde de domingo, sua carreira, assim como sua vida mudou completamente. O jogo estava bem equilibrado, assim como acontece em todos os clássicos entre Corinthians e Palmeiras. Vem o segundo tempo e aos 23 minutos, César é derrubado e o árbitro apita falta. A distância era bem longa, quase no meio de campo, sendo assim, Barbosinha não bota fé e dispensa a barreira.

               Tupãzinho que batia muito bem na bola ajeitou a pelota com muito carinho e bateu. O goleiro alvinegro pulou de um lado e a bola foi no outro. Enquanto a torcida palmeirense vibrava com o gol, a torcida corintiana culpava Barbosinha, dizendo que não houve boa vontade do arqueiro.  Para complicar a situação daquele jovem goleiro, três minutos depois nova falta no mesmo local. Parecia até replay do lance anterior. Tupãzinho ajeitou a bola e chutou. Mais uma vez a bola foi para um lado e o goleiro para o outro. A torcida alviverde foi a loucura pelo segundo gol marcado, enquanto que a torcida corintiana foi a loucura de raiva com seu goleiro por mais um gol tomado. Tornou-se um homem marcado. Acusado de frangueiro por alguns, de vendido por outros, pois em um dos lances, ficou a impressão de que ele realmente tirou o corpo da frente da bola. Passou a ser marginalizado dentro do clube, pois com aquela derrota, o Corinthians praticamente disse adeus ao título.

              No final da partida, um helicóptero da oposição inundou o Pacaembu com um panfleto que dizia entre outras pérolas: A última vez que nosso time foi campeão foi quando Matarazzo queimava banha no quintal  –  quando farmácia se escrevia com PH e outras que não me recordo. Uma derrota para o Palmeiras já tirou vários jogadores corintianos do clube, pois isto já aconteceu em 1932, quando o zagueiro Jaú, foi vítima de uma derrota para o arqui-rival, pois na época foi acusado de ter recebido uma oferta de suborno por parte de um diretor do Palestra Itália para entregar o jogo que aconteceu dia 6 de novembro de 1932 e o alviverde venceu por 3 a 0, gols de Romeu Peliciari (2) e Sandro. Este jogo tem até uma curiosidade, ele estava marcado para o dia 10 de julho de 1932, mas teve que ser adiado por causa da Revolução Constitucionalista.

              Outro jogador que teve de sair do Corinthians após uma derrota para o  Palmeiras, foi Rivelino. Depois da derrota por 1 a 0 na final do Campeonato Paulista de 1974, onde o acusaram de fazer corpo mole naquela decisão, Rivelino não mais jogou no alvinegro, se transferindo para o Fluminense do Rio de Janeiro, onde fez muito sucesso. Até um presidente do Corinthians pediu demissão do cargo juntamente com toda a diretoria por causa de uma derrota para o Palmeiras. Isto aconteceu dia 5 de novembro de 1933, quando o time foi goleado pelo Palestra Itália por 8 a 0. Com isto, o então presidente Alfredo Schurig e toda sua diretoria, descontente com o comportamento de boa parte da torcida corintiana, que revoltada, chegou a invadir a sede do clube, pediu demissão.

               Barbosinha não foi o único goleiro corintiano que foi condenado por uma derrota. Gilmar era ídolo da torcida corintiana, porem, no seu vigésimo jogo com a camisa alvinegra, caiu em desgraça. Considerado culpado por uma derrota por 7 a 3 diante da Portuguesa de Desportos naquele fatídico 25 de novembro de 1951, um domingo de muita chuva no Pacaembu. Ele foi vítima de terrível campanha e até proibido de entrar nas dependências do clube. Outro goleiro foi Heitor, que depois de uma derrota em pleno Parque São Jorge para o Noroeste de Bauru por 4 a 3, precisou sair do estádio escondido para não apanhar e nunca mais vestiu a camisa corintiana. Este jogo aconteceu dia 16 de outubro de 1966.

               Depois daquele fatídico dia, Barbosinha ainda vestiu a camisa corintiana mais uma vez, foi no dia 23 de janeiro de 1968, quando o Corinthians goleou o Bahia de Feira de Santana por 7 a 0. Ao todo Barbosinha disputou 34 partidas pelo Timão. Venceu 21, empatou 10 e perdeu somente 3. Sofreu 33 gols. Depois que deixou o Corinthians ainda foi se tornar campeão estadual pelo Atlético Paranaense e pelo Tiradentes do Piauí, onde encerrou sua carreira. Depois passou a trabalhar no Serviço Público Municipal da Prefeitura de São Paulo como fiscal. Barbosinha teve dois filhos e residiu por muitos anos no Jardim Tremembé, zona norte de São Paulo. Barbosinha faleceu dia 20 de outubro de 2015.   

Em pé: Osvaldo Cunha, Barbosinha, Luiz Carlos, Ditão, Edson e Maciel    –    Agachados: Bataglia, Tales, Flávio, Rivelino e Lima
Em pé: Osvaldo Cunha, Ditão, Barbosinha, Clóvis, Dino Sani e Maciel     –   Agachados: Bataglia, Prado, Silvio, Rivelino e Gilson Porto
Em pé: Neco, Cláudio, Barbosinha, Ari Ercílio, Jorge Correa e Mendes    –   Agachados: Sérgio, Manuelzinho, Osmar, Rivelino e Bazani
Em pé: Luiz Antônio, Barbosinha, Mendes, Luiz Carlos, Jorge Correa e Luiz Américo    –   Agachados: Abilio, Bataglia, Nei, Geraldo José e Adnan
Em pé: Neco, Cláudio, Mendes, Edson, Barbosinha e Gilberto    –   Agachados: Sérgio, Manuelzinho, Osmar, Rivelino e Lima
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