JULINHO: melhor ponta direita da história do Palmeiras

                    Júlio Botelho nasceu dia 29 de julho de 1929, na cidade de São Paulo – SP. Foi sem dúvida alguma, um dos melhores ponteiros direitos da história do futebol brasileiro e do mundo. Foi ídolo na Portuguesa de Desportos, Palmeiras, Fiorentina da Itália e Seleção Brasileira, chegando a disputar a Copa de 1954, na Suíça, onde foi considerado o melhor ponta direita daquele mundial, mesmo o Brasil sendo eliminado ainda nas quartas-de-final pela poderosa Hungria por 4 a 2.

                  Julio Botelho faleceu aos 73 anos de idade, no dia 11 de janeiro de 2003, no seu amado bairro da Penha (zona leste da cidade de São Paulo) vitimado por problemas cardíacos. Sua saudade da Penha era tanta, que muitos afirmam que foi o motivo principal de sua volta ao futebol do Brasil, para alegria dos torcedores brasileiros e para desespero dos italianos, em especial dos torcedores da Fiorentina, clube que ele defendeu por três anos e deixou muita saudade por lá, pois até hoje seu nome é lembrado com muito carinho por tudo que ele fez pelo clube.

PORTUGUESA DE DESPORTOS

                   Julinho começou sua carreira na divisão de base do Corinthians, porem, foi muito mal aproveitado quando tinha 19 anos (queriam que ele fosse jogar na ponta esquerda, em vez da direita), com isto, acabou sendo contratado pelo Juventus, da Mooca em 1950. Ficou lá apenas seis meses, quando foi para a Portuguesa de Desportos por cinquenta mil cruzeiros. A Lusa tinha uma equipe fantástica, com jogadores que anos depois viriam servir a seleção brasileira. E o time da Portuguesa era assim formado: Muca, Djalma Santos, Nena, Ceci  e  Noronha;  Brandãozinho  e  Pinga;  Julinho,  Renato, Nininho e Simão. Com esta equipe a Portuguesa ganhou o Rio-São Paulo de 1952 e 1955. Com a camisa da Lusa, Julinho disputou 191 partidas e marcou 101 gols, chegando a marcar 4 gols em um mesmo jogo na vitória da Portuguesa sobre o Corinthians por 7 a 3, em 25 de novembro de 1951, no Pacaembu.

FIORENTINA

                   Julinho defendeu a Lusa do Canindé até 1955, ano em que foi negociado com a Fiorentina, da Itália, onde é reverenciado até os dias de hoje. A equipe nunca havia ganho um título nacional, e com ele venceu a temporada de 1955 e 1956, sendo ainda vice nos dois anos seguintes.  Julinho era adorado pelos torcedores da Fiorentina. Certa vez, quando andava de trem na Itália, precisou passar a viagem inteira escondido no banheiro para evitar o assédio dos fãs. Julinho quis voltar para o Brasil, só que a Fiorentina ainda o amava. Ela fez uma proposta irrecusável e ele ficou. Ficou por mais um ano, só pensando em voltar. Por este período ganhou o apelido de “Senhor Tristeza”. A Fiorentina, clube que ele defendeu na Itália, o amava tanto, que quando ele morreu, muitas bandeiras da equipe foram enviadas à família, e muitos torcedores do time que viviam em São Paulo compareceram ao enterro.  Mesmo quando ele estava na U.T.I., os dirigentes italianos ligavam com frequência para a família, para saber a respeito do seu estado de saúde. Em 1996, foi premiado como melhor jogador da história da Fiorentina. 

PALMEIRAS

                   Quando voltou em definitivo para o Brasil, veio jogar no Palmeiras, onde ganhou o Campeonato Paulista de 1959 e 1963, a Taça Brasil (Campeonato Brasileiro da época) em 1960, o Torneio Rio-São Paulo em 1965, além da Copa Roca, pela seleção brasileira, em confronto direto com a Argentina, em 1960. Julinho jogou no Palmeiras de 1958 à 1967 e nesse período, formou uma das mais respeitadas equipes que o alviverde já teve em toda sua história, uma verdadeira “Academia”, ou seja, Valdir, Djalma Santos, Aldemar, Waldemar Carabina e Geraldo Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho, Nardo, Américo e Romeiro. Esta foi a equipe que sagrou-se campeã paulista de 1959.

                   Neste ano, Palmeiras e Santos dominavam o futebol paulista, tanto é, que numa das seleções paulista que enfrentou a seleção carioca no Pacaembu, só havia jogadores destes dois clubes. E a escalação era a seguinte; Gilmar, Getúlio, Olavo, Formiga e Zé Carlos; Zito e Chinesinho; Julinho, Servilio, Pelé e Pepe. Enquanto que no Rio de Janeiro, quem mandava era o Botafogo, que tinha na seleção carioca; Nilton Santos, Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. Anos depois Julinho ainda jogaria com Vavá, Gildo, Ademir da Guia, Djalma Dias, Rinaldo, Tupãzinho, Ferrari, Procópio, Ademar Pantera, Germano e tantos outros mitos do futebol brasileiro. Na sua despedida contra o Náutico, saiu aos 32 minutos do primeiro tempo e deu lugar ao peruano Gallardo. Na primeira bola que o peruano errou, o estádio inteiro puxou em coro: “Volta Julinho!”. Pelo Palmeiras, Julinho disputou 269 partidas; 163 vitórias, 53 empates e 53 derrotas e marcou 81 gols. 

SELEÇÃO BRASILEIRA

                   Julinho disputou a Copa de 1954, na Suíça. A estreia da nossa seleção aconteceu dia 16 de junho, quando goleamos o México por 5 a 0, gols de Pinga (2), Baltazar, Didi e Julinho. Três dias depois, empatamos com a Iugoslávia em 1 a 1, gol de Didi. Neste jogo foi uma confusão geral. O empate classificava as duas equipes, mas o juiz ordenou que houvesse uma prorrogação de 30 minutos, com os jogadores brasileiros se esforçando o máximo em busca da vitória. Os iugoslavos sabendo que o empate classificava as duas seleções pediam calma aos brasileiros, que sem entender o que eles diziam, continuavam correndo desesperadamente atrás da vitória.

                   Ao terminar o jogo, os jogadores do Brasil saíram de campo tristes, achando que estavam eliminados da Copa. Somente nos vestiários é que foram informados que estavam classificados para as quartas-de-final e o adversário era a poderosa seleção húngara. Com dez minutos de jogo o Brasil já perdia por 2 a 0 e o jogo terminou com a vitória húngara por 4 a 2, com gols de Djalma Santos (pênalti) e Julinho. Neste dia o Brasil jogou com; Castilho; Djalma Santos, Pinheiro, Bauer e Nílton Santos; Brandãozinho e Didi; Julinho, Índio, Humberto, Maurinho.

                   No ano seguinte, Julinho foi jogar na Fiorentina, da Itália. Como Julinho retornou ao Brasil em 1958, acabou recusando o convite do técnico Vicente Feola para integrar a seleção brasileira na Copa do Mundo da Suécia. Elegante, Julinho justificou afirmando que, como estava fora do país por três anos, sua escalação poderia parecer uma injustiça para com os atletas que atuavam no Brasil. Foi aí que o mundo conheceu Garrincha, fundamental para a conquista do mundial canarinho.

                  O acontecimento mais importante na vida de Julio Botelho, sem dúvida alguma aconteceu no dia 13 de maio de 1959, dia em que o Brasil, recém campeão mundial, recebia a Inglaterra para um amistoso no Maracanã.  O treinador do escrete canarinho na ocasião, Vicente Feola, escalou Julinho na ponta direita, no lugar de Garrincha. Quando Julinho entrou em campo, a expectativa dos 160 mil torcedores no Maracanã era de que ele fracassasse, mesmo vestindo na ocasião a camisa 7 do Brasil.  

                 Ponta direita de qualidade inquestionável, naquela partida o jogador sofria pressão da torcida carioca porque quem amargava o banco de reservas de sua posição era ninguém menos que o botafoguense Mané Garrincha.  Ao entrar no gramado e ser anunciado pelo locutor como o titular, Julinho recebeu vaia de toda torcida presente no estádio (protesto que estava sendo preparado há uma semana). Mas o que lhe deu forças na verdade, foi o conselho ao pé do ouvido dado pelo companheiro Nilton Santos: “Vai lá e faz eles engolirem essa vaia”.  Julinho não só obedeceu, como também fez a melhor partida de toda sua vida.  Cinco minutos de jogo fez jogada na ponta direita e marcou o primeiro. Dez minutos depois deu passe para Henrique fazer o segundo. Final: Brasil 2×0 Inglaterra. Julinho saiu aplaudido pela mesma torcida que não o queria em campo e, na manhã seguinte, os jornais ingleses anunciavam: “O Brasil agora tem dois Garrincha”.

                   Às vésperas do Mundial de 1962, o grande ponta comunicou ao técnico Aimoré Moreira que não tinha condições de participar da Copa do Chile. As dores no joelho antecipariam o fim da carreira. “Vá assim mesmo. Tua simples presença incentiva o grupo”, insistiu Aimoré. Ao que Julinho respondeu “Não posso prejudicar a seleção. Leve o menino Jair da Costa”, retrucou. Pela seleção brasileira, Julinho disputou 31 partidas e marcou 13 gols. Conquistou o Campeonato Pan-americano em 1952, o vice-campeonato sul-americano em 1953 , disputou a Copa de 54, sendo eleito melhor jogador do torneio, e venceu a Copa Rocca de 1960.

FINAL DE CARREIRA

                   Encerrou a carreira em 1967 jogando pelo Palmeiras e depois que parou de jogar, Julinho ainda treinou as categorias de base da Portuguesa, do Palmeiras e do Corinthians, mas logo largou tudo para se dedicar ao clube de futebol de várzea que fundou, o Rio Branco do bairro da Penha, onde ele nasceu e morreu de parada cardiorrespiratória, no Hospital Nossa Senhora da Penha aos 73 anos.  Julinho passou os últimos anos de sua vida lutando contra vários problemas de saúde, que o obrigaram a colocar um marca-passo. Como se já não bastasse o complicado problema cardíaco, Julinho ainda sofreu um derrame que o deixou parcialmente paralisado.                  

                    Mais de 250 pessoas lotaram o cemitério da Penha para acompanhar o sepultamento de Júlio Botelho, ponta direita de Juventus, Portuguesa, Palmeiras, Fiorentina e Seleção Brasileira nas décadas de 50 e 60. Considerado um dos melhores jogadores que o Brasil já teve e o melhor ponta ao lado de Mane Garrincha. Além da grande capacidade técnica, ficará marcado para sempre por um dado estatístico raro: encerrou a carreira sem jamais ter sido expulso de campo. Julinho ainda hoje é reverenciado como uma lenda no Parque Antarctica e por todos os torcedores esmeraldinos e brasileiros.

Em pé: Djalma Santos, Valdir, Waldemar Carabina, Dudu, Djalma Dias e Ferrari      –     Agachados: Julinho, Servilio, Tupãzinho, Ademir da Guia e Rinaldo
PELÉ e JULINHO
Em pé: Djalma Santos, Poy, Fernando Sátiro, Gildésio, Riberto e Vitor      –     Agachados: Julinho, Almir, Gino, Gonçalo e Canhoteiro
Em pé: Lindolfo, Djalma Santos, Ceci, Nena, Floriano e Brandãozinho Agachados: Julinho, José Amaro, Ipojucan, Osvaldinho e Ortega
Em pé: Djalma Santos, Brandãozinho, Nilton Santos, Pinheiro, Castilho e Bauer      –     Agachados: Julinho, Didi, Baltazar, Pinga e Rodrigues
Time de Fiorentina / Itália onde Julinho foi ídolo
Em pé: Zito, Olavo, Formiga, Getúlio, Zé Carlos e Gilmar Agachados: Julinho, Pelé, Servilio, Chinezinho e Pepe

Postado em J

Deixe uma resposta