DUDU: fez parte da primeira e segunda academia palmeirense

                  Olegário Toloi de Oliveira, nasceu dia 7 de novembro de 1939, na cidade de Araraquara (SP). Um dos principais jogadores que já tiveram a honra de vestir a camisa da Sociedade Esportiva Palmeiras. No time de Parque Antártica, ele jogou de 1964 até 1975. Ao lado de Ademir da Guia formou um dos melhores meio campo de toda história do alviverde. Era um grande marcador, mas não ficava só restrito ao combate, era muito leal para com seus adversários e sabia sair jogando com inteligência. Era o pulmão verde da equipe.  Começou sua carreira na Ferroviária de Araraquara. Foi lá que Dudu conseguiu seus primeiros títulos. Tricampeão do Interior em 1959, 60 e 61, vitórias contra times do exterior onde bateu o Porto, empatou com o Benfica de Eusébio e segurou o mesmo resultado com o Atlético de Madrid e na África venceu todas as partidas.

                 A Ferroviária chegou até golear o Santos de Pelé. Em 1963, ano em que o Peixe consagrou-se campeão do Mundial Interclubes, a equipe do interior pouco respeito teve por um dos melhores times da história do futebol. Em plena Vila Belmiro, contra Pelé, Pepe, Coutinho e outras estrelas, Dudu foi um dos responsáveis pelos acachapantes 4 a 1.  A surpresa, no entanto, foi a goleada; não a vitória. A Ferroviária contava naquele período com a melhor equipe do interior, a qual tinha cedido vários jogadores à seleção paulista, campeã brasileira em 1960. Fazia excursões à Europa, As viagens e os resultados da equipe estimularam os flertes de outros clubes com Dudu.  Santos, Flamengo, equipes portuguesas e até o Atlético de Madrid chegaram a sondar o jogador. Mas o interesse de seu clube de coração era mais importante do que as quantias oferecidas ao armador para que definisse sua transferência. Em 1964, trocou a Ferroviária pelo Palmeiras.

                 No dia em que uma grande mentira tomou conta do país, o ansioso interiorano não conseguiu voltar para casa. Tentou um trem para Araraquara no final da tarde, mas foi impedido: pouca coisa funcionava enquanto o presidente da República João Goulart deixava a presidência do Brasil por um golpe militar. Dudu embarcou para sua cidade natal apenas no dia seguinte. A mudança pelas armas iniciada naquele fatídico dia veio em um momento de transformação também para o meia-armador da Ferroviária. Postado como volante pelo técnico Filpo Nuñez, Dudu tinha um encontro com o destino. Ele passaria a comandar o Palmeiras por uma autoridade conquistada, e não roubada, ao contrário do que aconteceu com os novos donos do poder em Brasília.  Quando o jovem Olegário chegou ao Palestra Itália, não sabia que criaria ali as raízes que o manteriam em São Paulo e no coração da torcida palmeirense pelo resto de sua vida.

                Dudu precisou de poucas partidas para assumir a condição de titular do Palmeiras. O entrosamento com Ademir da Guia garantia ao jovem interiorano o respeito dos companheiros de equipe e da torcida palmeirense. Sem Dudu, o Divino não brilhava com a mesma intensidade. O futebol simples e eficiente do volante ficava sobrecarregado sem a presença do meia. Quando Dudu chegou do Interior não era um volante. Sua posição era a de um meia mais ofensivo, sem ser um atacante. Mas no Palmeiras tinha o Ademir, que na época já era a fera que todos sabem. Teve que tomar uma decisão: ou passava a jogar como volante ou teria de brigar com Ademir por um lugar no time, já que naquele tempo jogava-se com apenas dois homens no meio-campo. Por uma questão de inteligência achou melhor não disputar com o Ademir da Guia.

                A química entre os dois dava o ritmo à primeira Academia de Futebol do Palmeiras. Com grande eficiência, os protagonistas trocavam de papel quando o outro estava mal em uma partida. E tudo sem uma palavra: um olhar era suficiente. O primeiro resultado veio logo no ano seguinte. Em 1965, o título do torneio Rio-São Paulo. Sua estréia na equipe alviverde aconteceu num clássico contra o Santos. Não foi aquilo que ele esperava, pois o Peixe venceu por 2 a 1, num sábado à noite no Pacaembu. Neste dia marcaram para o Santos, Zito e Peixinho, enquanto que para o Verdão, Julinho fez o único gol.  Se Ademir era o artesão, Dudu era o operário. E o casamento durou mais de uma década. Era quase impossível pronunciar o nome de um sem falar logo o do outro. Entendiam-se às mil maravilhas.  Sério ao extremo, ele impunha respeito pela abnegação com que comandava o time.

                Era um líder nato dentro e fora de campo daquela equipe que todos a chamavam de “Academia”, a qual o torcedor palmeirense lembra até hoje; Leão, Eurico, Luiz Pereira, Alfredo e Zéca; Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha, César e Nei. O estilo de jogo do Palmeiras era, junto do Santos de Pelé, a maior expressão do talento brasileiro para o futebol. Tanto que o time recebeu a honraria de vestir a camisa da seleção na inauguração do Mineirão, batendo o Uruguai por inapeláveis 3 a 0. Para que Ademir, Djalma Santos, Julinho, Djalma Dias brilhassem, era o operário Dudu quem suava para conter os ataques dos adversários.

                De 1964 até 1975, ninguém o superou em garra. No ano seguinte, aluno aplicado que fora dos técnicos anteriores, assumiu ele mesmo o cargo para conduzir o Palmeiras ao título estadual.  Chegou no Palmeiras para substituir Zequinha, outro grande jogador, que inclusive foi reserva na Seleção Brasileira na Copa de 62 disputada no Chile.   Dudu ganhou da torcida alviverde a alcunha de “Operário” mas para os adversários ele era um perfeito chato, coisa que ele mesmo admitia, pois não deixava o menor espaço para o adversário. Segurava pela camisa, agarrava pelo braço, mas incapaz de qualquer deslealdade, pois sabia que do outro lado havia um pai de família e um homem acima de tudo, e por isso, nunca tratou um adversário como um bandido, independentemente do time que ele jogasse ou da condição técnica dele.

                O jogador não pode ser bandido nem filho de Maria, costumava dizer.  Dudu possuía uma garra invejável tanto é que na decisão de 1974 contra o Corinthians, ficou desmaiado por três minutos. Ao acordar, levantou-se e saiu correndo para fazer parte da barreira de uma falta que Rivelino iria cobrar. Foi o último que Dudu conquistou em campo. Dois anos depois, após uma série de contusões, ele se aposentaria. O trabalho árduo extrapolava os campos. Em 1965, o “Carrapato”, como passava a ser conhecido pela torcida palmeirense, tornou-se dirigente do sindicato da categoria. A visão adquirida fora dos gramados ajudaria Dudu a ser figura importante do Verdão em duas grandes vitórias: a da Taça Brasil e a do torneio Roberto Gomes Pedrosa, ambas em 1967.

               A partir de então, o futebol do Alviverde começou a parecer menos acadêmico e mais pragmático. As limitações ficavam evidentes, o fôlego diminuía. E apesar do vice-campeonato da Copa Libertadores de 1968, era claro que os professores da Academia precisavam ser substituídos. A dupla Dudu-Ademir ajudou a conduzir o processo de mudança. O resultado, após alguns anos de amargura, foi o ressurgimento do estilo de jogo que fez do Palmeiras a máquina de futebol da primeira metade dos anos 70.

              Dudu encerrou sua carreira aos 37 anos de idade e, até hoje a torcida esmeraldina sente muita saudade. Depois foi técnico do Palmeiras por algumas vezes, inclusive do seu grande companheiro Ademir da Guia em 1976.  E como técnico ele sofria mais, inclusive confessa que muitas vezes teve vontade de entrar em campo e ajudar seus jogadores quando a partida estava  difícil. Assim foi em 1976, ano em que o Palmeiras sagrou-se campeão paulista ao vencer o XV de Piracicaba por 1 a 0, em 18 de agosto, gol de Jorge Mendonça. Embora fosse um dos melhores jogadores em sua posição nas décadas de 60 e 70, não foi muitas vezes convocado para a Seleção Brasileira. Ele vestiu a camisa canarinho por 13 vezes somente. 

               Como atleta palmeirense, Dudu disputou 609 partidas. Venceu 340, empatou 160 e perdeu 109 vezes. Marcou 25 gols com a camisa alviverde.  Como técnico do Palmeiras, comandou a equipe em 142  partidas, tendo colecionado 75 vitórias, 45 empates e 22 derrotas. Lembrando que como treinador, ele teve três passagens pelo Verdão: de 1976 a 1977; em 1981 e de 1990 a 1991. Foi Campeão Paulista em 1.966, 1.972 e 1.974  (como jogador) e 1.976 (como técnico). Bicampeão Brasileiro em 1972/73. Campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1967 e 1969. Campeão da Taça Brasil em 1967 e do Torneio Rio-São Paulo em 1965.

              Símbolo do time do Palestra Itália, Olegário Tolói de Oliveira só não tem uma estátua no Parque Antártica porque enfrentou o Verdão quando atuava pela Ferroviária de Araraquara. Apenas jogadores que nunca atuaram contra o Palmeiras possuem a honraria. São eles; Valdemar Fiúme, Junqueira e Ademir da Guia o homem de quem foi a sombra por 14 anos.   Em 1972, Dudu ganhou o título que considera o mais importante de sua longa carreira. Mas não se trata do Paulistão nem do Campeonato Brasileiro, ambos vencidos pelo Palmeiras naquela temporada. “Não sei receber elogios e dos troféus que ganhei gosto mais do que me elegeu “Jogador Operário do Ano”, declarou na ocasião.

              Dudu foi um grande jogador. Certamente ficará gravada na memória dos torcedores palmeirenses, aquelas partidas inesquecíveis que ele fez com a camisa do alviverde de Parque Antártica. Também lembraremos de Dudu como técnico, mas a trajetória do inesquecível volante palmeirense nos bancos de reservas, ele mesmo prefere que seja contada quando as lembranças de seus feitos nos campos não forem suficientes. Que assim não seja.

Em pé: Eurico, Leão, Luiz Pereira, Alfredo, Dudu e Zéca    –   Agachados: Edu, Leivinha, César, Ademir da Guia e Nei
Em pé: Eurico, Leão, Dudu, Luiz Pereira, Alfredo e Zéca     –   Agachados: Edu, Leivinha, César, Ademir da Guia e Nei
Em pé: Jair Gonçalves, Leão, Luís Pereira, Alfredo, Dudu e Zeca   –    Agachados: Edu, Leivinha, Ronaldo, Ademir da Guia e Nei
Em pé: massagista Mário Américo, Djalma Santos, Bellini, Manga, Orlando, Dudu e Rildo     –     Agachados: Jairzinho, Gérson, Flávio, Pelé, Paraná e Pai Santana

Em pé: Djalma Santos, Bellini, Manga, Edson, Fontana e Dudu   –    Agachados: Nado, Fefeu, Alcindo, Tostão, Edu e Pai Santana.
Em pé: Antoninho, Galhardo, Dudu, Geraldo Scalera, Toninho e Rodrigues Lindão   –    Agachados: Peixinho, Davi, Tales, Bazzani e Beni
Em pé: Dr. Zerilo, Djalma Santos, Valdir, Waldemar Carabina, Filpo Nuñez, Djalma Dias, Dudu e Geraldo Scotto   –    Agachados: o massagista Reis, Gildo, Servílio, Tupãzinho, Ademir da Guia e Rinaldo
Em pé: Chicão, Geraldo Scalera, Baldochi, Dudu, Nelson e Ferrari    –   Agachados: Copeu, Servilio, Artime, Ademir da Guia e Serginho
Em pé: Djalma Santos, Valdir, Waldemar Carabina, Dudu, Filpo Nuñes, Djalma Dias e Ferrari    –    Agachados: Julinho, Servilio, Tupãzinho, Ademir da Guia e Rinaldo

 

 

 

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