MINELLI: um colecionador de titulos

                 Rubens Francisco Minelli nasceu dia 19 de dezembro de 1928, na cidade de São Paulo – SP. Poucas pessoas sabem que Minelli além de um extraordinário treinador, também foi um grande jogador. Jogava na ponta esquerda e atuou no Taubaté, no Ypiranga, no Nacional de São Paulo e no São Bento de Sorocaba. Seu único título como jogador foi em 1954, quando ajudou o Taubaté a conquistar o Campeonato Paulista da Segunda Divisão. Depois que encerrou a carreira passou a viver fortes emoções fora das quatro linhas, quando passou a trabalhar como treinador de futebol.

                 Foi uma carreira vitoriosa, conquistando títulos importantes dirigindo grandes clubes brasileiros, como por exemplo o Campeonato Brasileiro de 1977 pelo São Paulo e os de 1975 e 1976 pelo Internacional de Porto Alegre. Tudo isto sem falarmos dos inúmeros títulos estaduais. Depois que aposentou tornou-se dirigente de clubes como São Paulo, Atlético Paranaense, Paraná e Avaí. Posteriormente, em 2008, tornou-se comentarista de rádio, trabalhando na Rádio Jovem Pan.

JOGADOR

                 Rubens Minelli iniciou sua vida no futebol como atleta, atuando na ponta esquerda do Ypiranga e do Nacional de São Paulo. Só passou a ser jogador profissional por causa de uma sequência de fatos que aconteceu. Seu pai gostava muito de futebol e jogou em tempos mais antigos, na época de Arthur Friedenreich. Depois, ele teve um fábrica de meias no bairro do Ipiranga e ele foi diretor do Ypiranga. Tomou conta das divisões de base e Minelli sempre o acompanhava.

                Certo dia seu pai foi assistir a um jogo no Liceu, de pais e mestres contra alunos. Depois ele o chamou para jogar no infantil do Ypiranga. Em 1946 foi para o juvenil do São Paulo. Quando saiu do São Paulo em 1949, o Ypiranga o contratou como profissional. Foi seu primeiro time profissional. Ficou uns três anos no Ypiranga. Na época, estava estudando Economia e era funcionário público federal, após passar num concurso para oficial administrativo dos Correios e Telégrafos.

                Certo dia jogou contra o Nacional, cujo treinador fora seu técnico no Ypiranga. Ele o levou para o Nacional e acabou jogando por lá durante dois ou três anos. Jogou ainda no Taubaté, onde foi campeão quando a equipe subiu para a primeira divisão em 1954. Mas já estava formado e o futebol passou a ser um derivativo para ele. Não era mais seu objetivo. Depois disso, jogou no São Bento de Sorocaba quando sofreu uma fratura muito grave no perônio, que complicou, foi operado, ficando nove meses engessado. Foi num jogo amistoso contra o União de Mogi das Cruzes em 1956.  Depois que casou não jogou mais e resolveu parar em definitivo como jogador de futebol.

TREINADOR

                Depois de um tempo, quando nem pensava mais em futebol e jogava só na várzea de vez em quando, encontrou o Canhotinho que estava como auxiliar do Osvaldo Brandão no Palmeiras e o chamou para ir trabalhar com ele lá nas categorias infantil e juvenil. Minelli disse que não podia: estava casado, era funcionário público, já estava formado. Mas Canhotinho disse que ele iria ganhar um salário no clube. Apesar de todas as suas atividades, conseguiu conciliar e foi trabalhar no infantil e juvenil do Palmeiras. Foi assim que começou sua carreira de treinador, ou seja, entrou por acidente. Ficou três ou quatro anos no Palmeiras, nas divisões de base. Foi tricampeão infantil e tricampeão juvenil no Palmeiras, com cinco ou seis jogadores maravilhosos que não eram aproveitados, pois tinha-se a ideia de que para jogar no primeiro time era preciso ter 25 anos.

               Minelli era chefe de seção nos Correios, estava em seu gabinete quando chegou uma pessoa a mando do presidente do América de São José do Rio Preto para o contratar. Minelli disse que não tinha a mínima condição de trabalhar. Dois dias depois, o próprio presidente do América veio falar com ele e disse: “tenho uma solução. Peço sua transferência para a diretoria regional de Rio Preto. Você vai continuar trabalhando nos Correios e nós fazemos um contrato para você treinar a equipe profissional do América”, que na época estava disputando a segunda divisão.

              Minelli conversou com a família, sua mulher estava grávida do terceiro filho, e decidiram ir para lá. Levei com ele cinco ou seis jogadores do Palmeiras para lá. Só que eles não esperavam que fosse acontecer o que aconteceu. Minelli montou um time que foi campeão da segunda divisão, subiu para a primeira e ficou mais de 30 anos sem cair. Assim, sua carreira começou. Sua estréia profissional foi com vitória de 1 a 0 sobre o XV de Jaú, em partida amistosa realizada no dia 31 de março de 1963, no Estádio Mário Alves Mendonça (São José do Rio Preto). Pelo América, conquistou a segunda divisão estadual de 1963 e sagrou-se campeão do interior em 1964.

               Em 1966, foi contratado pelo Botafogo de Ribeirão Preto, onde ficou por quatro meses. Com o Botafogo, Minelli realizou uma excursão à América Central, sofrendo apenas uma derrota em 17 jogos. No final do mesmo ano, retornou ao América para substituir o argentino Filpo Nuñez. Defendendo o Sport Club do Recife, foi vice-campeão pernambucano de 1967 e campeão do Torneio Início. Voltando para São Paulo, comandou a Francana, vice-campeã estadual da segunda divisão em 1968. Após passar pelo Guarani, Rubens Minelli retornou ao Palmeiras em 1969, desta vez para comandar a equipe principal.

               Coincidentemente, substituiu novamente Filpo Nuñez. Com o clube alviverde, Minelli excursionou à Europa em 1969, levantando o Troféu Ramón de Carranza, na Espanha. Também conquistou o Robertão, no mesmo ano. Minelli contribuiu em parte para o surgimento da segunda Academia alviverde. O time da primeira Academia havia envelhecido. Na ocasião queriam montar um time com jogadores do Interior. Contrataram o goleiro Neuri (ex-Marília), Baldochi e Eurico (ex-Botafogo de Ribeirão Preto), Chicão e Copeu (ex-São Bento de Sorocaba), Dé e Serginho (ex-Portuguesa Santista), etc… Mais tarde chegaram; Luís Pereira, Leão, Madurga (que não era titular) e o ponta-direita Ronaldo (ex-Atlético Mineiro).

              Após o Palmeiras uma rápida passagem pela Portuguesa de Desportos. Antes treinou a Ponte Preta, na ocasião que sua mãe faleceu. Fez uma boa campanha, com o time sendo campeão do Interior. A equipe era muito boa, com Dicá e Manfrini. Na Portuguesa realmente foi uma passagem rápida entre o final do Brasileirão de 1971 e início do Paulistão no ano seguinte, mas teve a oportunidade de treinar grandes jogadores como Marinho Peres, Xaxá, Ratinho, Lorico, Basílio, Piau e tantos outros.

              Depois foi para o sul do país, onde trabalhou no Internacional. Foi uma época maravilhosa na carreira de Minelli, pois venceu os Grenais que disputou e ainda foi bi campeão brasileiro em 1975 e 1976. Depois sua família resolveu ir morar em São Paulo, o que facilitou em aceitar a proposta do São Paulo F.C. de ser o treinador da equipe. E para sua felicidade, o Tricolor sagrou-se campeão brasileiro em 1977, ou seja, Minelli conquistou três títulos brasileiros consecutivos.

CAMPEÃO BRASILEIRO DE 1977

               Classificados: Atlético de Minas, Londrina, São Paulo e Operário. O São Paulo enfrentou o Operário de Campo Grande e venceu por 3×0, enquanto que o Atlético venceu o Londrina por 4×2.  Dia 5 de Março de 1978, dia de decisão entre São Paulo e Atlético Mineiro. Tempo quente em Belo Horizonte, apesar da chuva que caía desde as primeiras horas. E Minelli nos conta como ele armou a equipe. “Havia o Viana, um canhoto baixinho, chato e ranheta, que quando pegava a bola, não a perdia pra ninguém. Estava programado que jogaria o Neca. Naquela noite, estava com um diretor do São Paulo na concentração do Cruzeiro jogando snooker e matutando até as 7 horas da manhã.

              Tomei um banho e fui tomar o café, chamando em seguida o pessoal pra preleção as 9:30 horas. Disse ao Neca que ele não começaria no jogo, sendo que ele, que era titular absoluto e não iniciaria a final, aceitou e disse estar á minha disposição, um profissional excepcional. Quando comecei a desenhar no quadro negro, não coloquei o ponta-direita, os jogadores estranharam dizendo que faltava um jogador. Disse então que jogaria o Viana, que quase caiu do banco, mas conversei com ele  explicando o porquê dele ser escalado, dizendo que, quando estivesse com a bola, ninguém tiraria dele, por driblar muito bem e na ocasião que o Cerezo sair com ela é pra marcá-lo em cima por todas as partes do campo.

              O João Leite com isso foi obrigado a chutar a bola pra frente, dificultando bastante o time. Não jogávamos recuados, mas mascando o time deles, que era muito forte da intermediária pra trás. Tivemos mais chance de ganhar nos 90 minutos e na prorrogação. Ganhamos nos pênaltis, mas é aquela história: “Só Deus ajudando para o jogador não errar”!

               Minelli dirigiu diversas equipes do Brasil, além do Al-Hilal da Arábia Saudita, e posteriormente a seleção daquele país. Atingiu o auge de sua carreira nos anos 70, quando estruturou o histórico time do Internacional, que contava com craques como Falcão, Figueroa e Carpegiani. Neste período, Minelli foi tricampeão brasileiro – 75 e 76 pelo Inter e 77 pelo São Paulo. Conquistou ainda quatro títulos gaúchos, em (1974, 1975 e 1976 pelo Inter, além de 1985 pelo rival Grêmio), dois campeonatos paranaenses (1994 e 1997 pelo Paraná), um título saudita e um da Copa do Golfo (1980 pelo Al Hilal). Realmente foi um colecionador de títulos.

                  Infelizmente Minelli faleceu dia 23 de novembro de 2023, aos 94 anos de idade.

Em pé: Santo, Bertolino, Reis, Tuba, Celino, Motta e o técnico Rubens Minelli, começando como treinador    –      Agachados: Cuca, Valter, Cardoso, Gaúcho e Dirceu
Clube Atlétio Ypiranga nos anos 50    =    Em pé: o quinto é Waldemar Carabina, seguido por Belmiro e Dema    –     Agachados, o segundo é Rubens (o Dr. Rubis),  o quarto é Bibe  e Rubens Minelli é o segunda da direita para a esquerda (agachados)
Seleção do Internacional de todos os tempos: Em pé: Paulinho, Manga, Figueroa, Gamarra, Oreco e Salvador    –     Agachados: Tesourinha, Carpegiani, Falcão, Valdomiro e Fernandão. Técnico: Rubens Minelli
O zagueiro Porunga é o penúltimo em pé, seguido pelo goleiro Sérgio (com a bola na mão). O último agachado é o ponta (e depois técnico) Rubens Minelli
Clube Atlético Ypiranga, ano de 1949  –  Em pé: Reinaldo, Osvaldo Topete, Homero, Silas, Belmiro, Giancoli e Dema    –     Agachados: Liminha, Rubens, Bibe e Minelli.
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