CABRALZINHO: campeão carioca pelo Bangu em 1966

               Carlos Roberto Ferreira Cabral nasceu dia 2 de janeiro de 1945, na cidade de Santos – SP. Jogou como profissional no Santos, Bangu, Fluminense, Palmeiras e Flamengo. Participou do famoso jogo entre Flamengo e Bangu na decisão do Campeonato Carioca de 1966, onde o Bangu sagrou-se campeão e tivemos uma verdadeira guerra campal onde o árbitro Airton Vieira de Moraes expulsou cinco jogadores do Flamengo e quatro do Bangu e deu a partida por encerrada, com a vitória do time de Moça Bonita por 3 a 0.Depois que encerrou a carreira como jogador, passou a trabalhar como treinador, onde obteve muito sucesso. Foi o técnico do Santos na final do Campeonato Brasileiro de 1995, onde o árbitro Márcio Rezende de Freitas validou um gol de Túlio Maravilha que estava em posição irregular e com isto o Botafogo empatou a partida em 1 a 1 e sagrou-se campeão daquele ano. Como treinador trabalhou também no Egito e no Catar, onde conquistou títulos importantes.

SANTOS F.C.

               Cabralzinho sempre foi um menino talentoso com a bola nos pés. Esse talento precoce possibilitou que ele fosse profissionalizado em 1961, na equipe do Santos, quando tinha apenas 16 anos de idade. Cabralzinho se emociona ao falar de Pelé, a quem teve a honra de substituir nas semifinais da Taça Libertadores de 1962. Passado meio século desde que se conheceram, os dois ainda mantêm vivos os laços afetivos. Pelé e o Coutinho chegaram machucados da Copa do Mundo de 62 e não puderam enfrentar o Universidade Católica, do Chile. Então, Cabralzinho e Pagão entraram na equipe. Em 1961 participou de um amistoso do Santos contra o Olímpico, de Santa Catarina. Pelé fez cinco gols e Cabralzinho três. No outro dia Pelé fez uma visita surpresa na casa de Cabralzinho.

               Trouxe uma leitoa e um (peixe) pacu para comerem no almoço. Entretanto, em termos de categoria, Cabralzinho garante que nunca jogou com alguém tão habilidoso quanto Ademir da Guia. “Eu já vi o Pelé, o Rivelino e outros craques darem canelada na bola. Mas isso nunca aconteceu com o Ademir da Guia. Desafio as pessoas a acharem um vídeo com uma matada de bola errada dele. Não é a toa que o apelido deste jogador era Divino. A bola chegava ao Ademir, murchava e pedia bênção. Ele ainda contrariava a todos porque não gostava de falar em campo. Entrava mudo e saía calado dos jogos”.

BANGU

               Como jogador, Cabralzinho participou de uma final polêmica, em 1966, quando o Bangu conquistou o título carioca ao golear o Flamengo por 3 a 0, no Maracanã. Na época, o goleiro flamenguista Valdomiro foi acusado de entregar o jogo (isso nunca provado) e o atacante rubro-negro Almir, inconformado com a perda do título, agrediu jogadores do Bangu. Houve confusão generalizada e o jogo foi encerrado antes de seu tempo normal. O Bangu, do técnico Alfredo Gonzalez, jogou com Ubirajara, Fidélis, Mário Tito, Luís Alberto e Ari Clemente; Jaime e Ocimar; Paulo Borges, Ladeira, Cabralzinho e Aladim. O Bangu dividia naquela época o status de quinta força do Rio com o América.

              Estava em uma situação maravilhosa. Era líder da competição e tinha vencido o Botafogo (3 a 0), o Vasco (3 a 0) e o Fluminense (3 a 1) no segundo turno. Se a partida não tivesse sido interrompida por causa de uma briga generalizada, teria ganho por um placar até mais elástico. Hoje Cabralzinho vê o Maracanã lotado com 60 mil torcedores e dá risadas, pois naquele dia jogou para 155 mil pessoas, sendo que mais de 90% era flamenguista. Depois foi jogar no Fluminense, mas ficou por pouco tempo, pois o Palmeiras logo o contratou.

PALMEIRAS

               Chegou ao alviverde de Parque Antarctica em 1968. No ano seguinte sagrou-se campeão da Taça Roberto Gomes Pedrosa. A equipe do Palmeiras em 1970 era assim formada; Leão, Eurico, Baldochi, Nelson e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Copeu, Cabralzinho, César e Serginho. O técnico era Rubens Minelli. Este foi o time que perdeu para o Corinthians por 2 a 1 no dia 26 de julho de 1970, pelo Campeonato Paulista daquele ano. Os gols corintianos foram marcados por Célio e Ivair, enquanto que César marcou o único tento alviverde. No Verdão, atuou de 1968 a 1971. Fez 45 jogos e obteve 20 vitórias, 12 empates e 13 derrotas. Marcou apenas 3 gols pelo alviverde.

FLAMENGO

               No final de 1971 voltou ao Rio de Janeiro, desta vez para jogar no Flamengo, clube que ele foi vilão em 1966, quando sagrou-se campeão carioca em cima do Mengão quando jogava pelo Bangu. Cabralzinho se gaba de ter atuado ao lado de Zico na primeira apresentação deste pelo time principal do Flamengo (contra o São Paulo, no Morumbi, em 1971).

TREINADOR

               Iniciou sua carreira de treinador na função de auxiliar-técnico, no Jalisco, do México. Retornou para o Brasil e começou a treinar equipes do interior paulista. Teve sua maior oportunidade no Santos, tendo conquistado o vice-campeonato nacional de 1995, em outra final polêmica, quando o árbitro Márcio Rezende de Freitas teria invalidado um gol do atacante Camanducaia, do Santos, e confirmado um gol impedido de Túlio, do Botafogo, dando o título para o time carioca. Foi o melhor técnico do Santos FC desde 1984, até a chegada de Emerson Leão. No ano de 1997, direcionou sua carreira para o cenário internacional, mais precisamente para os países árabes, onde já havia trabalhado. Cabralzinho foi um dos primeiros treinadores brasileiros a usar terno enquanto comandava sua equipe à beira do gramado, e essa tornou-se uma de suas características.

CLUBES

               Cabralzinho foi treinador do Zamalek Sporting Club (Egito); Santos/SP; São José/SP; Mogi Mirim/SP; Atlético/PR; Goiás/GO; Portuguesa Santista/SP; Santa Helena/GO; Al Rayam (Catar); Al Qasisiyah (Arábia Saudita); Al Shamal (Catar); São Bento de Sorocaba/SP; Seleções juvenil e principal do Catar. Seu clube do coração sempre foi o Santos, que o lançou para o futebol e o contratou três vezes como técnico (em 91, 95 e 2001). Porém, não manteve um relacionamento amigável com o ex-jogador – pelo menos como este gostaria. “As medalhas enferrujam, e a fama é efêmera. Três minutos depois, ela já não é mais a mesma.

               E, no dia seguinte, as pessoas não te conhecem mais. Após tantos anos então, quem vai lembrar de mim?” –  indagou Cabralzinho, em alusão à campanha que levou o Peixe a ser vice-campeão brasileiro, em 1995. “Se o Santos fosse o campeão, a trajetória de todos seria outra. Principalmente, a minha. Com o vice, não tive reconhecimento do clube. No início de 1996, fui à Vila Belmiro no dia do meu aniversário. Fiquei horas esperando alguém me chamar para uma conversa. E, quando estava saindo do estacionamento, fui parado pelo Clodoaldo para discutir algo que já estava acertado: a renovação de contrato. Achei que faltou respeito.

               Voltei para casa porque tinha marcado um jantar com a minha família e, no dia seguinte, o clube apresentou o Candinho” – recordou o técnico, que havia assumido o time na quarta rodada e na penúltima colocação da competição. Outra mágoa de Cabralzinho, é que não teve seu nome registrado em uma placa alusiva ao bicampeonato da Libertadores e do Mundial (62 e 63) no hall dos elevadores da Vila Belmiro.

SÃO JOSÉ

               Cabralzinho comandou o São José EC em 1997, num momento ímpar na história da agremiação. Isso porque, pela primeira vez, o clube era dirigido por uma mulher. O fato diferenciado chamou a atenção da imprensa esportiva de todo o país. A advogada e ex-vereadora Lindonice de Brito também já havia sido a primeira mulher a assumir a presidência da Câmara Municipal de São José dos Campos. Indicada e apoiada para administrar o clube pela parceira e patrocinadora TecSat, Lindonice assumiu o São José e contratou Cabralzinho para dirigir o time principal. Infelizmente, em razão de uma série de atropelos, sua passagem no comando da equipe foi rápida e pouco expressiva.

               Ainda como treinador foi Campeão da Super Copa do Egito e campeão da Super Copa da África 2002/2003 dirigindo o Zamalek, levando, pela primeira vez, um clube do Egito à ponta do ranking da FIFA. Agora, Cabralzinho pretende criar uma academia de futebol nos moldes das que existem no exterior. Porém, está em fase de captação de recursos. Sua ideia é fazer algo parecido com o que viu no Catar. Só que lá o projeto da academia de todos os esportes custou US$ 200 milhões, equivalente a R$ 367 milhões de reais.

1966  –  Em pé: Mário Tito, Ubirajara, Luiz Alberto, Ari Clemente, Jaime e Fidélis   –     Agachados: Paulo Borges, Cabralzinho, Norberto, Jair e Aladim
Em pé: Julião, Odorico, Nestor, Paulinho, Ceci e Salvador   –    Agachados: Afonsinho, Cabralzinho, Picolé, Bazaninho e Paraná
1969 –   Em pé: Eurico, Leão, Nelson, Baldocchi, Dudu e Zeca   –   Agachados: Cabralzinho, Cardoso, Cesar, Ademir da Guia e Serginho
1971  –  Em pé: Chiquinho, Rodrigues Neto, Reyes, Onça, Paulo Henrique e Ubirajara    –   Agachados: Fio, Zé Eduardo, Samarone, Cabralzinho e Zico 
Campeão Carioca em 1966  –  Em pé: Mário Tito, Ubirajara, Luís Alberto, Ari Clemente, Fidélis e Jaime        Agachados: massagista Pastinha, Paulo Borges, Cabralzinho, Ladeira, Ocimar e Aladim

 

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