LIMA: bicampeão mundial pelo Santos F.C. em 1962 / 63

                    Antonio Lima dos Santos nasceu dia 18 de janeiro de 1942, em São Sebastião do Paraíso (MG). Em 1960, o Peixe contratou junto ao Juventus da capital paulista o volante Antônio Lima dos Santos, que ficaria conhecido durante os 11 anos que defendeu o Alvinegro como o “curinga da Vila”. Lima chegou ao time do litoral para desempenhar a função de volante na equipe, em substituição a Urubatão, que também tinha feito a fama como curinga, mas logo o treinador percebeu que o atleta poderia ter ainda mais utilidades. “Fui contratado como médio-volante, mas no Campeonato Brasileiro da época, a Copa Brasil, os dois laterais se machucaram. Fui o escolhido pelo treinador para substituí-los. Só pedi para treinar antes”, explica o ex-jogador. Lima inclusive, se orgulha em dizer que só não jogou de goleiro durante sua carreira.

                  Em um amistoso entre Santos e Parnathinaikos, da Grécia, o jogador deu um verdadeiro exemplo de sua versatilidade ao desempenhar cinco funções diferentes durante a partida. Lima começou o jogo atuando como lateral direito, mas logo precisou ser deslocado para o meio-campo devido a contusão de um volante. No amistoso, o atleta ainda atuou nas duas posições da defesa e na armação das jogadas. Apesar de sua versatilidade ser elogiada pelos treinadores com os quais trabalhou, Lima admite que também recebeu muitas críticas da imprensa. “Algumas pessoas e a imprensa falavam que eu deveria ter ficado em uma posição. Mas eu não pedi para ser curinga, é algo nato da pessoa. Sempre tive felicidade em desempenhar essa função. Fui convocado para a seleção em quatro ou cinco posições diferentes. Para mim, isso é maravilhoso”, comenta o ex-atleta.

                 Apesar da facilidade em desempenhar diferentes funções, o ex-santista admite que sua preferência era jogar como volante. Atualmente, com a escassez de craques no futebol brasileiro, é cada vez mais comum ver times que possuem jogadores que atuam em várias posições. Para a maior parte dos torcedores, esse tipo de atleta conta com a versatilidade para compensar a falta de técnica. Apesar das características atuais dos curingas, Lima foi um dos primeiros jogadores a desempenhar tal função no futebol e não tinha seu talento questionado. Pelo contrário, era um dos titulares do Santos da Era Pelé.

                Quando chegou no Santos, Lima seguiu os passos da maioria dos atletas do Peixe e alugou um quarto na pensão da dona Georgina, onde moravam 15 jogadores do clube, dentre os quais estavam Pelé, Dorval, Coutinho e Sormani. Logo que chegou à pensão, o atleta passou por uma situação engraçada envolvendo uma pessoa que se transformaria em um de seus maiores amigos no futebol: Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé. Empolgado com a transferência para o Santos, Lima comprou um sapato de couro para sua apresentação no clube da Vila Belmiro. Quando chegou à pensão, o curinga colocou o calçado no quintal para tomar sol e perder um pouco o cheiro de couro.

                O jogador, então, pediu à dona da pensão para que recolhesse o sapato ao final da tarde. Imediatamente, Georgina correu em direção ao quintal, mas era tarde. O doberman que Pelé criava já havia destruído o calçado novo do companheiro de equipe. Às gargalhadas, o camisa dez do Peixe prendeu o cão e prometeu cobrir o prejuízo de Lima.  “Comeu praticamente o sapato todo, só sobrou a sola. Estou esperando ele me ressarcir até hoje. Ainda não ganhei o novo sapato”, brinca Lima, bem-humorado. A amizade entre os companheiros de clube foi além dos gramados. A primeira esposa de Pelé, Rose, é irmã da mulher de Lima, Vera Lúcia, o que ajudou a fortalecer a ligação entre os dois. “Converso direto com o Pelé.

                A filha dele, Kelly, que é minha sobrinha, chega a passar três semanas em casa quando vem ao Brasil. Nossa amizade é absolutamente normal. Mas tenho que levar em consideração que ele não é uma pessoa comum”, explicou.  Além de ter feito amizade com Pelé, o ex-curinga ainda destaca que a época em que morou na pensão de dona Georgina também o ajudou pela convivência com outros craques.  “Depois das partidas, tinha o jogo da verdade em casa. Cada um admitia o que fez de errado para corrigir na próxima partida”, revelou.

                Depois de sagrar-se bicampeão mundial de futebol em 1958 e 62, o Brasil partiu para a Copa da Inglaterra, em 66, como um dos favoritos ao título. A campanha, porém, foi um fiasco e a equipe verde-amarela não conseguiu passar da primeira fase da competição. Apesar de a equipe ter sido muito modificada durante o Mundial, Lima foi titular nas três partidas do Brasil no torneio, contra Bulgária, Hungria e Portugal. Além do santista, só Jairzinho participou de todos os jogos da equipe verde-amarela. Depois da frustrante campanha, Lima resolveu fazer duras críticas à preparação da seleção. “Foram convocados 47 jogadores, um absurdo.

                Depois, foram cortados jogadores que seriam titulares tranquilamente, como Carlos Alberto, Ivair, Dino Sani e Roberto Dias, só para citar alguns. Foram cortados dois times. Além disso, teve gente que nem foi chamado, como o Dirceu Lopes”, relembra. O jogador também lamenta o fato de a equipe ter realizado um longo período de preparação em mais de cinco cidades de Rio de Janeiro e São Paulo. “Quatro meses de trabalho e no final não tínhamos uma equipe formada. O Vicente Feola (técnico) era o menos culpado. Infelizmente, ele não tinha voz ativa, mas já tinha mostrado para todo mundo que era capaz”, recorda.

                Lima também lembra que não poupou das críticas nem mesmo o então presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desportos, antecessora da CBF), João Havelange. Ao chegar ao Brasil, o atleta foi convidado para participar de um programa televisivo comandado por Wilson Simonal e foi questionado pelo apresentador se gostaria de ser o Havelange. “Respondi que ‘não’ porque eu podia dormir tranqüilo; não sabia se ele (presidente da CBD) também podia”, recorda Lima.  Apesar de não se arrepender das críticas, o atleta demonstra certa mágoa de seus companheiros de seleção, que não teriam denunciado a desorganização durante a preparação para a Copa. “Todo mundo sabe o que aconteceu. Não me arrependo nem um pouco do que falei, mas acho uma tremenda falta de sinceridade a pessoa ter vivido tudo como vivi e não ter falado nada. Não passei sozinho por aquilo. Fiquei como bobo da corte. Coloquei o problema para fora e não fui chamado para a Copa de 70”, concluiu o ex-volante.

                Lima fez parte daquele time maravilhoso que o Santos tinha na década de 60, onde conquistou quase todos os títulos que disputou. De todos os títulos, os mais importantes sem dúvida foram o de campeão mundial em 1962 e o Bi em 1963. Na conquista do título de 1962, o adversário foi o Benfica, de Portugal. A primeira partida foi realizada no Maracanã e o Peixe venceu por 3 a 2. A segunda partida aconteceu dia 11 de outubro de 1962, em Lisboa. Neste dia o Santos venceu por 5 a 2, sendo que o Peixe chegou a estar vencendo por 5 a 0, com três gols de Pelé, um de Coutinho e outro de Pepe. Esta partida é considerada por todos que assistiram como a mais perfeita exibição de um time de futebol.

                Lima se lembra com emoção deste dia e diz; “Parece que joguei esta partida ontem. Foi a primeira vez que “A Voz do Brasil” não foi transmitida só para que os brasileiros pudessem ouvir a transmissão pelo rádio”.  Lima chegou a fazer uma aposta com um funcionário do hotel de Lisboa, que inclusive já estavam vendendo ingresso para a terceira partida, pois os portugueses já davam como certa a vitória do Benfica, uma vez que jamais tinha perdido no Estádio da Luz, em Lisboa. A aposta era que se o Benfica vencesse, Lima teria que dar dois pacotes de café brasileiro. Se o Santos vencesse, o funcionário teria que dar duas garrafas de um legítimo vinho português. “Quase fiquei bêbado. Ele veio me entregar o vinho com lágrimas nos olhos, então resolvi fazer uma troca e lhe dei o café, para ele não ficar tão triste”.

               Neste dia o Santos jogou com; Gilmar, Olavo, Mauro e Dalmo; Calvet e Zito; Dorval, Lima, Coutinho, Pelé e Pepe.  No segundo título mundial, o adversário foi o Milan, da Itália. A primeira partida o Milan venceu por 4 a 2 em Milão. A segunda partida foi disputada no Maracanã e o Peixe mesmo sem Pelé em campo venceu pelo mesmo placar, 4 a 2, sendo que os italianos chegaram a estar vencendo por 2 a 0. Veio então a terceira partida, dia 16 de dezembro de 1963 e, mais uma vez Pelé não pode jogar. Mas o Santos venceu por 1 a 0, gol de Dalmo cobrando pênalti.  Neste dia o Santos jogou com; Gilmar, Ismael, Mauro, Haroldo e Dalmo, Lima e Mengálvio, Dorval, Coutinho, Almir e Pepe.

                Além destes dois títulos mundiais, Lima foi campeão paulista pelo Santos em 1961, 62, 64, 65, 67, 68 e 69, Libertadores de 1962 e 63, e campeão da Taça Brasil de 61, 62, 63, 64 e 65, campeão da Recopa Sul-americana de 1968, e também inúmeros títulos em competições internacionais que o Peixe disputou pelo mundo a fora. – Lima fez 696 partidas oficiais pelo Santos (marca só superada por Pelé, Pepe e Zito).  Antes de encerrar a carreira, Lima ainda jogou no  Jalisco (México), Fluminense (RJ), Tampa Bay (EUA) e Portuguesa Santista. Hoje, Lima e Vera (esposa do jogador) andam diariamente pelas praias de Santos, desde a altura do bairro do Embaré, onde residem, até o Ilha Porchat, em São Vicente, onde pára inúmeras vezes para conversar com torcedores que o reconhece e o cumprimenta por tudo que fez pelo Peixe da Vila.

Em Pé: Lima, Zito, Geraldino, Joel, Mauro e Laércio   –    Agachados: Peixinho, Mengalvio, Toninho, Pelé e Pepe
Em pé: Lima, Ramos Delgado, Joel, Cláudio, Clodoaldo e Rildo      –     Agachados: Edu, Negreiros, Douglas, Pelé e Abel
Em pé: Cejas, Orlando, Oberdan, Ramos Delgado, Léo e Rildo     –    Agachados: Edu, Lima, Douglas, Pelé e Noriva
Em pé: Haroldo, Dalmo, Lima, Ismael, Gilmar e Mauro     –     Agachados: Dorval, Mengalvio, Coutinho, Almir e Pepe
Em pé: Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gilmar e Mauro    –     Agachados: Dorval, Mengalvio, Coutinho, Pelé e Pepe
Em pé: Ismael, Zito, Haroldo, Geraldino, Mauro e Gilmar     –     Agachados: Peixinho, Lima, Toninho Guerreiro, Pelé e Noriva
Em Pé: Wilson, Ramos Delgado, Joel, Clodoaldo, Cláudio e Turcão      –     Agachados: Manoel Maria, Lima, Werneck, Pelé e Pépe
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