BUIÃO: só jogou em times de grandes torcidas

               João Bosco dos Santos nasceu dia 31 de janeiro de 1946, na cidade de Vespasiano – MG. A mesma cidade que nasceu o ponta esquerda Eder, que também foi ídolo no Atlético Mineiro. No meio futebolístico era conhecido por Buião, um ponta direita veloz e habilidoso, daqueles que driblavam os laterais facilmente e colocava os companheiros de ataque na cara do gol. Foi ídolo atleticano na década de 60, se realizou dentro e fora do futebol, pois ao encerrar a carreira, investiu seu dinheiro numa empresa de ônibus, a Viação Buião, que é concessionária do transporte coletivo na cidade de Vespasiano, a 30 quilômetros de Belo Horizonte.

              É um dos poucos jogadores que soube guardar dinheiro, numa época em que os rendimentos dos atletas não era tão grande quanto ao de hoje, onde qualquer jogador de quinta categoria, ganha uma fortuna. Buião teve a honra de vestir a camisa de grandes clubes do futebol brasileiro, como por exemplo; Atlético Mineiro, Corinthians, Flamengo, Grêmio e Atlético Paranaense entre outros.

ATLÉTICO MINEIRO

               Buião, apelido que o acompanha desde criança quando era gordinho e que é uma derivação de bujão de gás, praticamente nasceu ponta-direita. Com sete anos já jogava na posição e aos 10 defendia o Vespasiano. Aos 16 disputava a Segunda Divisão do Campeonato Mineiro pelo Independente, da sua cidade. Pouco antes de completar 18 anos, em 1964, estreou no Atlético, enfrentando o Paraense, de Pará de Minas. Magrinho, veloz e esperto, Buião fez o gol da vitória e caiu nas graças da torcida. Depois daquela partida, os dirigentes o trancaram na concentração e disseram que ele só saía depois de assinar um contrato. Assinou e virou ídolo da galera atleticana. Jogou no clube mineiro até 1968.

CORINTHIANS

               Sua estréia com a camisa corintiana não poderia ser melhor, pois seu primeiro jogo foi na quebra do tabu contra o Santos, dia 6 de março de 1968 pelo placar de 2 a 0. Era a sétima rodada do primeiro turno do Campeonato Paulista daquele ano, uma quarta feira, dia de trabalho, mas o torcedor corintiano fez de tudo para estar no velho Pacaembu naquela noite, pois renascia a esperança de que aquele seria o grande dia da quebra daquele tabu que se arrastava por quase 11 anos sem uma única vitória contra o Santos pelo Campeonato Paulista.

               O jogo em si não decidia nada. Não para o campeonato, mas para toda a nação corintiana, valia e muito. O Pacaembu estava lotado, como sempre acontecia nos jogos dos alvinegros, proporcionando uma arrecadação naquela noite de NCr$ 153.390,50. A cidade não tinha outro assunto que não fosse o jogo daquela noite. O Corinthians estava reforçado por Paulo Borges que tinha chegado do Bangu e Buião do Atlético Mineiro. Neste dia o Corinthians jogou com; Diogo, Osvaldo Cunha, Ditão, Luiz Carlos e Maciel; Edson e Rivelino; Buião, Paulo Borges, Flávio e Eduardo.

              O técnico era Lula, o mesmo que durante anos trabalhou no Santos F.C. Buião jogou no Corinthians até o dia 4 de outubro de 1970, quando o alvinegro de Parque São Jorge perdeu para o Atlético Mineiro por 3 a 1 pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Pelo Corinthians Buião disputou 57 partidas. Venceu 22, empatou 20 e perdeu 15. Marcou apenas 2 gols.

FLAMENGO

               Ao deixar o Corinthians, foi jogar em outro clube de grande torcida, o Flamengo do Rio de Janeiro, que na época tinha o seguinte time; Ubirajara, Murilo, Tinteiro, Reyes e Rodrigues Neto;  Zanata e Liminha; Buião, Caio Cambalhota, Fio Maravilha e Caldeira. Sua estréia com a camisa do Mengão aconteceu dia 7 de março de 1971, justamente contra o Corinthians num amistoso realizado na cidade de Campo Grande – MT, na inauguração do Estádio Morenão. Logo aos 3 minutos de jogo, Buião faz 1 a 0. O jogo terminou com a vitória do time carioca por 3 a 1.

              Naquela época o Flamengo não vivia um bom momento. Quem comandava o futebol no Rio era o Fluminense e o Botafogo, que era chamado inclusive de Selefogo por causa do grande número de jogadores que cederam a seleção campeã em 70 como o Jairzinho, Paulo Cesar Cajú , Rogério e Roberto Miranda. Não foi uma boa passagem pelo futebol carioca, sendo assim, no dia 12 de dezembro de 1971, Buião fez sua última partida com a camisa rubro negra. Pelo Flamengo jogou 42 partidas e marcou 5 gols.

ATLÉTICO PARANAENSE

               O destino de Buião parecia ser mesmo jogar em clubes de grandes torcidas. Ao deixar o Flamengo foi jogar no Atlético Paranaense. Ao receber a proposta do Atlético, ele pensou “poxa no Paraná só tem dado Coritiba não sei como vai ser jogar por lá. Um diretor do Corinthians me falou que eu me daria muito bem lá e acabei indo. Cheguei e fui muito bem recebido por todos.” No dia 2 de setembro de 1973, o Atlético enfrentou o Ceará pelo Campeonato Brasileiro. Buião marcou o primeiro gol da partida. Somente depois de algum tempo, ele ficou sabendo através de uma matéria de um jornal de Curitiba, que aquele gol foi o de nº 1.000 na história do Campeonato Brasileiro e também foi o primeiro gol do Atlético Paranaense em Campeonato Brasileiro.

GRÊMIO

               Depois que deixou o Paraná, foi jogar no Rio Grande do Sul, mais precisamente no Grêmio. Ele foi contratado juntamente com o goleiro Picasso, que havia deixado o São Paulo F.C.  Na época o Grêmio tinha um grande time, pois jogavam, Ancheta, Espinosa, Everaldo, Loivo e outros grandes craques. Buião ficou por lá somente quatro meses e voltou para o Corinthians que era dono de seu passe. Só que ele tinha se dado tão bem no futebol paranaense, que resolveu voltar para lá e acabou ficando por dez anos. Nesse período em que ficou no Paraná, jogou também no Colorado, que mais tarde se juntou ao Pinheiros e nasceu o Paraná Clube.

              Com a camisa do Colorado, tem um jogo que Buião não esquece jamais e assim ele nos relata: “Aquele jogo foi interessante porque na quarta feira jogaram Pinheiros e Cascavel e o Cascavel fez um resultado de 4×0. Nós teríamos que fazer pelo menos 4×0 também em Curitiba para o Colorado ser campeão. O time deles acho que já sabiam que não aguentariam a pressão e já vieram preparados para o “cai cai”. O nosso treinador era o Claudio Duarte que jogou  no Inter de Porto Alegre e no dia do jogo na concentração tinham faixas e cartazes espalhados por todos os lados com dizeres como : vocês são homens; vocês são capazes; e frases de estimulo. Estávamos doidos para entrar em campo logo e ganharmos aquele titulo.

              Então nós fizemos dois gols e o técnico deles fez logo duas substituições para queimar logo e não poder fazer outras . Aí o juiz expulsou um, depois o outro e fomos para o intervalo vencendo por 2×0. Pensamos que a gente ia ganhar o jogo fácil. Chegou o segundo tempo e caiu mais um e eles ficaram sem numero suficiente para continuar. Depois foram declarados na justiça os dois campeões mas nós disputamos a Taça Ouro (serie A) e eles a Taça de Prata como se fosse hoje a serie B”. Este foi o único título que o Colorado conquistou em sua história e Buião estava lá.

FORA DAS QUATRO LINHAS

               Quando encerrou sua carreira, em 1982, no extinto Colorado, do Paraná, Buião voltou a morar em Vespasiano, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte, passando a se dedicar integralmente à sua empresa. E sua dedicação não se limitou aos investimentos. Teve muito suor, trabalho e preocupação. Até de motorista ele trabalhou. “Para economizar, eu mesmo fazia algumas linhas”, conta Buião, que sempre teve o apoio de sua família no empreendimento. Primeiro foi o pai, depois os irmãos – oito dos 14 que são vivos trabalham com ele até hoje. A esposa, a paranaense Maria Aparecida Barros dos Santos, com quem se casou em 1974, trabalhava de cobradora, no ônibus em que ele dirigia.

               Formada em engenharia química, ela largara um bom emprego público no Paraná para acompanhar o marido em sua nova carreira. Anos depois ela veio a falecer. Com ela, Buião teve três filhos. Os dois mais velhos trabalham com o pai na “Garagem do Buião”, como a empresa é conhecida em Vespasiano. Se não ficou milionário como os grandes craques de hoje, Buião não tem do que reclamar. Leva uma vida tranquila e se orgulha de gerar 72 empregos. Já chegou a ter mais de 80 funcionários, mas teve de reduzir por causa da concorrência dos perueiros.             

               Buião foi um típico ponta-direita, que ia à linha de fundo, utilizando muito bem a velocidade e os dribles. Baixinho, veloz e carismático, sempre foi querido pelas torcidas dos clubes onde atuou. Apesar disso, não teve muita sorte para ganhar títulos. Foi apenas campeão paranaense, pelo Colorado, em 1980, no final da carreira. Encerrou a carreira no clube em 1982, depois de 20 anos de futebol. Só lamenta que naquela época o jogador não ganhava bem. Somente quando veio para o Corinthians que teve direito a 15% e com isto conseguiu comprar umas Kombis e colocar seu pai no ramo de transporte escolar. Nascia ali a Viação Buião.

Em pé: Almeida, Osvaldo Cunha, Pedro Rodrigues, Polaco, Suingue e Alexandre    –   Agachados: Lindóia, Servilio, Joel, Tião e Buião
06-03-1968   –   Em pé: Osvaldo Cunha, Edson, Luiz Carlos, Diogo, Ditão e Maciel    –    Agachados: Buião, Paulo Borges, Flávio, Rivelino e Eduardo
Em pé: Luiz Carlos, Dirceu Alves, Maciel, Ditão, Pedro Rodrigues e Lula    –    Agachados: Paulo Borges, Tales, Benê, Rivelino e Buião
Em pé: Pedrinho, Dirceu Alves, Ditão, Luiz Carlos, Diogo e Miranda     –    Agachados: Ivair, Buião, Vicente, Tião e Suingue
Em pé: Getúlio, Baiano, Zé Carlos, Caue, Ticão e Fernando   –    Agachados: Buião, Zé Luiz, Lance, Bazani e Nei
Em pé: Ubirajara, Aloísio, Fred, Reyes, Liminha e Paulo Henrique    –    Agachados: Mineiro (massagista), Buião, Renato, Zico, Samarone e Rodrigues Neto
Em pé: Eurico, Leão, Baldochi, Dé, Roberto Dias e Dudu    –   Agachados: Buião, Terto, Leivinha, Paraná e Ademir da Guia
1968  –  Em pé: Osvaldo Cunha, Lula, Luiz Carlos, Dirceu Alves, Ditão e Vanderlei    –   Agachados: Buião, Tales, Paulo Borges, Rivelino e Eduardo

Em pé: Murilo, Ubirajara, Onça, Zanata, Reyes e Tinteiro   –    Agachados: Buião, Chiquinho, Caio, Fio Maravilha e Caldeira
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