ARMANDO MARQUES: um dos árbitros mais polêmicos do nosso futebol

                  Armando Nunes Castanheira da Rosa Maques nasceu dia 6 de fevereiro de 1930, no Rio de Janeiro. Considerado o melhor árbitro de futebol brasileiro enquanto esteve em atividade, era amado e odiado pelos torcedores e jogadores. Perpetuou erros históricos, principalmente em jogos de futebol do estado de São Paulo. Anulou um gol de Leivinha do Palmeiras na final do Paulistão de 1971, alegando que foi com a mão. Teve erro de matemática na final do Paulistão de 1973, quando Portuguesa de Desportos e Santos decidiam o titulo nos pênaltis, enfim, foi um grande árbitro, mas sem dúvida alguma, foi também o mais polêmico de todos do futebol brasileiro. A primeira partida que Armando Marques apitou profissionalmente, foi dia 13 de agosto de 1961. E a última foi no dia 8 de maio de 1977. Nestes quase dezesseis anos de árbitro de futebol, muitas coisas aconteceram,como iremos ver a seguir.

                 De 1961 até 1963, sua carreira passou no anonimato, ninguém conhecia Armando Marques. Até que chegou o dia 15 de agosto de 1963, quando se enfrentaram no Pacaembu, São Paulo e Santos. O time tricolor deste dia foi; Suli, Deleu, Bellini, Jurandir e Ilzo Neri; Roberto Dias e Benê; Faustino, Cecílio Martinez, Pagão e Sabino. Enquanto que o Santos jogou com; Gilmar, Aparecido, Mauro, Geraldino e Dalmo; Zito e Lima; Dorval, Coutinho, Pelé e Pépe. O tricolor abriu o placar aos 5 minutos através de Faustino. Pelé empatou aos 21 minutos. Mas nos oito minutos finais do primeiro tempo, aconteceu de tudo. Benê marcou o segundo gol do tricolor aos 37 minutos e Sabino aumentou para 3 a 1 aos 40 minutos. Aí começou a confusão. Os santistas protestaram, o árbitro Armando Marques não tolerou as reclamações e expulsou Pelé e Coutinho. Fim do primeiro tempo.

                Então o Santos teria que voltar para o segundo tempo com nove jogadores, mas voltou somente com oito, alegando que o lateral Aparecido passou mal no vestiário e não tinha condição de retornar. O jogo recomeçou e aos 7 minutos Pagão ampliou para 4 a 1. Começou então o “cai-cai” Pépe e Dorval resolveram cair e esperar a maca para não voltarem mais ao gramado. Armando Marques apitou o fim da partida, pois o Santos não tinha número legal de jogadores para continuar o jogo. Esta partida entrou para a história do futebol brasileiro, como o jogo do “cai-cai”, ou então, o jogo em que o Santos fugiu de campo. E foi a partir daquele dia, com a expulsão de Pelé, que o árbitro Armando Marques entrou no cenário nacional.

               Depois disso, Armando Marques começou a ser conhecido em todo o país. E começaram também suas atrapalhadas, como naquele Fla-Flu de 1968, quando o ponta direita do Fluminense marcou o único gol da partida com a mão e Armando deu o gol. Mais tarde viu o lance na televisão e pediu desculpas a torcida do Flamengo, mas naquela altura já era tarde.  Depois veio o dia 27 de junho de 1971, quando São Paulo e Palmeiras decidiam o titulo paulista no Morumbi. Toninho Guerreiro abriu o placar para o tricolor aos 5 minutos do primeiro tempo. Aos 22 minutos do segundo tempo, num cruzamento da direita, Leivinha cabeceou forte e mandou a bola para o fundo das redes do goleiro Sérgio. Porém, o árbitro Armando Marques anulou o gol, dizendo que havia sido com a mão.

                Com esta vitória o São Paulo sagrou-se campeão paulista. E as lambanças de Armando Marques não paravam. No dia 26 de agosto de 1973, quando Santos e Portuguesa de Desportos decidiram o título paulista nos pênaltis, uma vez que no tempo normal, houve empate de 0 a 0. E mesmo com a prorrogação, o placar continuou em branco. Esta foi a primeira decisão por pênaltis da história do futebol paulista. De cara, os dois times desperdiçaram. Zero a zero. Na seqüência, o Santos marcou e a Portuguesa desperdiçou. Um a zero para o Peixe. Na cobrança seguinte, o Santos voltou a marcar e a Portuguesa perdeu pela terceira vez. Dois a zero para o time da Vila Belmiro. Para espanto de todos, Armando Marques ergueu os braços e encerrou a partida dando vitória ao Santos.

               Os santistas nem perceberam que ainda faltavam duas cobranças para a Lusa e uma para o Peixe, o que poderia terminar empatado em 2 a 2, então começaram a comemorar o título. Oto Glória, técnico da Lusa, percebeu o erro e ponderou que seu time tinha poucas chances de reverter a situação. Antes que seus jogadores fizessem algum tipo de reclamação, mandou todo mundo para o vestiário e, de lá, direto para o ônibus, para que o árbitro não tivesse oportunidade de reparar a sua falha. Enquanto isso, a imprensa invadiu o campo para entrevistar os jogadores, como é de praxe ao final das partidas. Os poucos que perceberam o erro espalharam a notícia. Logo, o comentário chegou aos ouvidos de Armando Marques. Conforme o previsto por Oto Glória, ele foi realmente ao vestiário pedir para que o time voltasse a campo, mas não havia mais ninguém por lá, os jogadores haviam ido embora, mesmo sem tomar banho. Com isto a Federação Paulista de Futebol, proclamou os dois clubes como campeões daquele ano, tudo por causa de um erro aritmético do árbitro Armando Marques.

              Outro erro histórico aconteceu na final do campeonato brasileiro de 1974, alias, sempre acontecia nos jogos finais de campeonato. O jogo foi Vasco e Cruzeiro no Maracanã. O time mineiro precisava de apenas um empate. O Vasco vencia a partida por 2 a 1, quando Armando Marques anulou um gol legítimo do jogador Zé Carlos do Cruzeiro, impedindo o time mineiro de se sagrar campeão brasileiro daquele ano. Em 1993, durante um programa da extinta TV Manchete, Armando Marques admitiu alguns erros que cometeu durante sua carreira. Mesmo depois que encerrou sua carreira como árbitro, Armando Marques continuou sendo uma pessoa polêmica.

              Assumiu o comando da Comissão de Arbitragem da CBF e passou por algumas suspeitas por conta de suas escolhas das arbitragens do Campeonato Brasileiro. Com isto, foi destituído da presidência da Comissão Nacional de Arbitragem. Armando Marques compareceu na sede da CBF, foi até o setor, despediu-se dos funcionários e deixou o prédio, sem falar com a imprensa. Armando Marques não resistiu à crise após as denúncias sobre manipulação de resultados no Campeonato Brasileiro, envolvendo os árbitros Edílson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon, e também os empresários Nagib Fayad, o ‘Gibão’, e Wanderlei Pololi, que foi detido. Além de ser acusado de omissão, Armando Marques mentiu ao dizer que o árbitro Edilson Pereira de Carvalho tinha sido integrado ao quadro da Fifa durante a gestão de Ivens Mendes, na Comissão Nacional de Arbitragem. No entanto, Edilson, que já admitiu ter fraudado jogos do Brasileiro, passou a ser árbitro da Fifa durante o período em que Armando Marques dirigia a Comissão Nacional de Arbitragem.

              Com o mesmo jeito autoritário que o notabilizou dentro de campo, o árbitro Armando Marques, pede que o esqueçam. Como árbitro de futebol, ele ganhou fama e fez fortuna. Guarda ainda um pouco de nostalgia dos velhos tempos de apito onde somente tinha craques. Apesar do grande sucesso, Armando Marques não se livrou das verdadeiras trapalhadas que cometeu durante sua carreira. Um dos mais controvertidos e discutidos árbitros da história, Armando Nunes Castanheira da Rosa Marques, popularmente conhecido como Armando Marques, é tido por alguns como a maior referência brasileira do apito. No entanto, embora suas atuações na maioria dos jogos tenha sido irrepreensível, ganhou fama por cometer erros históricos que decidiram campeonatos.              

              Solteiro, tem vários sobrinhos que receberam todo seu acervo de fotos e motivos relacionados à carreira. Seu estilo rigoroso marcou época e serviu de inspiração para muitos outros árbitros. Tanto é que sempre era chamado para apitar decisões importantes Brasil afora. Tinha como característica não tolerar lances violentos. Suas falhas gritantes em partidas importantes ficaram gravadas na memória da torcida. Em 1966, pelo Campeonato Paulista no Pacaembu, o São Paulo vencia o Corinthians por 2 a 0. No segundo tempo, validou um gol que não ocorreu. No lance, Rivelino desferiu um chute que furou a rede e entrou no gol tricolor. Como se não bastasse, Armando ainda expulsou dois jogadores do São Paulo que reclamaram da marcação. Muitas vezes até abusava de sua autoridade em campo, ao se dirigir ao infrator com dedo em riste. A rigor, em 1974, ao repetir esse expediente, o então assessor técnico do Botafogo (RJ), o ex-jogador  Nilton Santos, o agrediu com um soco e Armando Marques caiu na escada que dá acesso a um dos túneis do Estádio Mário Filho, o Maracanã.

              Evidente que falhas comprometedoras como essas que citamos, jamais serão esquecidas, mas nem por isso Armando Marques deixou de ser respeitado. Não se importava com o indecoroso coro da torcida “Bicha… bicha”. Era vaidoso e impecável na maioria das atuações, como impecável também foi sua aparência em campo. O uniforme era sempre bem passado e os cabelos cuidadosamente penteados. Apesar do rigor, tratava jogadores com educação, chamando-os de senhor. Pode-se dizer que Armando Marques fez escola na arbitragem. E convém lembrar também que quando atuava, o árbitro não tinha a excessiva proteção policial como hoje. Armando Marques faleceu dia 17 de julho de 2014, devido a insuficiência renal.

Momento em que Armando Marques expulsa Pelé no jogo em que o Santos fugiu de campo no dia 15 de agosto de 1963, quando o São Paulo goleou o Santos por 4×1
Momento em que Armando Marques é agredido por Nilton Santos no Maracanã
Pelé era um atleta disciplinado, mas na foto aparece discutindo com o árbitro Armando Marques, sob o olhar do massagista Mário Américo, durante um amistoso da Seleção Brasileira contra a Seleção do Paraná. Neste jogo, Pelé não marcou, mas o Brasil venceu por 2 a 1. Curitiba, 13/11/1968
Armando Marques com os dois bandeirinhas. O que está a direita é Silvio Luiz, hoje narrador esportivo de televisão

 

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