AIRTON VIEIRA DE MORAES: o popular Sansão

               Airton Vieira de Moraes nasceu dia 14 de fevereiro de 1929, na cidade de Fortaleza – CE.  Nos meios futebolísticos ele era mais conhecido por Sansão, não pelo cabelo, mesmo porque nunca teve uma vasta cabeleira, mas ganhou este apelido bíblico porque em 1953 participou de um torneio de queda de braço e venceu. Sempre teve um físico privilegiado e com isto impunha muito respeito aos jogadores e treinadores, mesmo aqueles que se diziam machões e um bom exemplo disto é o jogador Almir, o pernambuquinho, que tinha fama de valentão e também o treinador Yustrich que era chamado de “Homão” pelo seu tamanho e modo de tratar os jogadores e árbitros.

              No entanto, os dois tiveram que se curvar diante de Airton Vieira de Moraes, o popular Sansão. Apesar de ter feito a maior parte de sua carreira no Rio de Janeiro, trabalhou dois anos em São Paulo, contratado pela FPF, em 1964 e 1965, onde apitou grandes clássicos, pois realmente era um excelente árbitro. Hoje é aposentado e mora no Rio de Janeiro. Quando parou de apitar passou a trabalhar como fiscal de renda do governo do ex-estado da Guanabara.

JOGADOR DE FUTEBOL

               Antes de ser árbitro de futebol, foi jogador e começou atuando no aspirante do Maguary e do Fortaleza, ambos da capital cearense. Depois mudou-se para o Rio de Janeiro e chegou a defender o América Futebol Clube como lateral esquerdo, mas não teve futuro como jogador e acabou encerrando a carreira e partindo para o apito, onde teve muito sucesso.

ÁRBITRO DE FUTEBOL

               Se formou no Rio de Janeiro e foi lá que começou sua carreira de árbitro de futebol. Depois de alguns anos foi contratado pela Federação Paulista de Futebol em 1964, que naquela época tinha os seguintes árbitros: Anacleto Pietrobom, Albino Zanferrari, José Astolfi, Olten Aires de Abreu, Etelvino Rodrigues, José Teixeira de Carvalho e Romualdo Arppi Filho, ou seja, só tinha feras do apito naquele ano e Sansão juntou-se a eles, formando um excelente quadro de árbitros para o estado de São Paulo.

               A primeira partida que Sansão apitou em São Paulo foi no dia 5 de julho de 1964, quando o Guarani recebeu o Palmeiras no estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas. O Guarani venceu por 1 a 0, gol de Berico aos 19 minutos do primeiro tempo. Neste dia o Guarani jogou com; Sidnei, Osvaldo Cunha, Begliomini, Eraldo e Diogo; Tião Macalé e Berico; Amauri, Américo, Felício e Esquerdinha. O Palmeiras jogou com; Valdir; Djalma Santos, Valdemar Carabina, Tarciso e Geraldo Scotto; Zequinha e Ademir da Guia; Gildo, Vavá, Picolé e Rinaldo. Dia 30 de agosto de 1964, Sansão estava apitando o primeiro clássico paulista.

               O jogo foi entre Palmeiras e São Paulo no estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi. O jogo terminou empatado em 0 a 0. Neste dia o Tricolor jogou com; Suly, Deleu, Bellini, Jurandir e Riberto; Roberto Dias e Bazaninho; Faustino, Marco Antonio, Del Vecchio e Agenor.  O Palmeiras jogou com; Valdir, Djalma Santos, Djalma Dias, Valdemar Carabina e Ferrari; Dudu e Tupãzinho; Julinho, Ademar Pantera, Servilio e Gildo. 

               Sansão é irmão de César Moraes, ex-jogador profissional (o primeiro jogador brasileiro a atuar no estádio de Wembley, em Londres) do Fortaleza e do América. Técnico campeão pelo América cearense, dirigindo um time que era formado por Pedrinho; Ribeiro (Veto), Cícero (Antonio Carlos), Ninoso e Vila Nova (Gari); Osmar, Luciano Frota, Luciano Diogo (Pinha) e Milton (Baíbe); Wilson e Fernando Carlos. Flamenguista, Sansão é conselheiro do time da Gávea, mas garante; nunca foi tendencioso para ajudar seu clube do coração. O ex-árbitro sempre teve o desejo de ser comentarista esportivo e sempre diz “Quero ser igualzinho o Roberto Godoi. Ele é macho e bota o pau na mesa”, brinca o ex-árbitro, fã do programa Terceiro Tempo da Rede Bandeirantes de Televisão.

ÁRBITRO COM AQUILO ROXO

               Sansão é uma das raridades da arbitragem brasileira, ao se alinhar a Mário Vianna, Wanderlei Boschilla, Sebastião Rufino e outros muitos poucos. Ele se fazia respeitar dentro e fora de campo. Os jogadores não se atreviam a enfrentá-lo devido ao seu físico avantajado. A característica principal de Ayrton Vieira de Moraes era o poder de disciplinar. Um verdadeiro “juiz” dentro de campo, travestido de árbitro. Seu porte físico privilegiado garantia a maioria das suas decisões em campo ou até fora dele. Muitas histórias envolvendo a arbitragem de Sansão são lembradas, mas vamos nos ater em apenas duas que certamente o leitor irá lembrar. 

                A primeira aconteceu nos anos 70, quando ele estava no auge da forma técnica e atlética. Sansão apitava o clássico Flamengo x Atlético Mineiro no estádio do Maracanã, e começou a receber insultos e reclamações do técnico do “Galo”, ninguém menos que Yustrich, apelidado de “Homão” pela imprensa carioca, acostumado a desafiar pessoas e fazer desafetos. O volante Oldair, do Atlético, recebeu uma entrada dura do zagueiro Onça. O lance aconteceu próximo ao banco de reservas atleticanos, e foi o suficiente para Yustrich reclamar com muita gesticulação. Sansão se aproximou do banco e educadamente pediu calma ao treinador, que continuou reclamando muito.

              Corria o tempo e o relógio marcava aproximadamente 30 minutos do segundo tempo e Rodrigues Neto, lateral-esquerdo de origem, saiu da sua posição para tentar “parar” Éder na ponta-esquerda, chegando na jogada com um pouco de virilidade, mas sem violência e sem desonestidade. O lance foi o suficiente para Yustrich voltar a gesticular e tentar entrar em campo, da mesma forma como Leão e às vezes Felipão, fazem atualmente. A “senha” sempre dada por Sansão, de quem o conhecia sabia, era o ato de colocar o apito no bolso. E Sansão fez isso e partiu para a lateral do campo. Pois, conhecido como “Homão” e acostumado a gelar desafetos, Yustrich passou o maior vexame da sua história como técnico de futebol e como valentão.

               Os jogadores, cerca de oito ou dez, em vez de tentarem segurar Yustrich, partiram foi para segurar Sansão e garantir que ele não partiria para cima do treinador atleticano. Foi cômico e o Maracanã inteiro riu e a torcida do Flamengo, em grande número, começou a vaiar Yustrich. Com os ânimos serenados, Sansão foi pessoalmente ao banco e expulsou Yustrich de campo, acompanhando, inclusive, a sua descida pela escadaria do túnel. Por isso, além de ser excelente árbitro, Ayrton Vieira de Moraes pode ser conhecido, também, como o “árbitro com aquilo roxo”.

               Outro jogo que Sansão apitou e entrou para a história do futebol brasileiro, aconteceu dia 18 de dezembro de 1966, quando Flamengo e Bangu fizeram a final do Campeonato Carioca. O Bangu na época tinha um grande time: Ubirajara, Fidelis, Luiz Alberto, Mário Tito e Ari Clemente; Jaime e Ocimar; Paulo Borges, Cabralzinho, Ladeira e Aladim. O técnico era Alfredo Gonzales. O Flamengo neste dia jogou com; Valdomiro, Murilo, Itamar, Jaime Valente e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Carlos Alberto, Almir, Silva e Osvaldo.

              O técnico era Armando Renganeschi. Depois de alguns anos, Almir, o pernambuquinho, deu a seguinte declaração: “Aquela decisão para mim era normal, mas havia alguns problemas. Um deles era o juiz Airton Vieira de Moraes, o Sansão, que eu acho que também foi comprado. Só isso explica a conversa que ele teve comigo antes mesmo de começar a partida. Nós ainda estávamos fazendo aquecimento muscular no campo, batendo fotografias, dando entrevistas, quando Sansão se aproximou de mim e já foi advertindo: – Olha aí, Almir, eu estou de olho em você. Muito cuidado que eu vou te expulsar.

              Eu nunca dei bola para juiz nem para o Sansão, que é muito forte. Quando o Bangu fez 3 a 0, cheguei a conclusão que o Flamengo ia sofrer uma goleada humilhante. Além de nos golear o Bangu queria ensaiar um baile. Mas eu já havia decidido, eles não vão dar a volta olímpica. Eu já estava com raiva, e o sangue subiu à cabeça por volta dos 25 minutos quando o jogador Ladeira do Bangu discutiu com Paulo Henrique e deu um soco na cara dele. Mas Ladeira não esperou. Viu que eu estava uma fera, saiu correndo, eu fui atrás dele para dar-lhe uma surra. No meio do caminho, o nosso zagueiro Itamar, um mulato de um metro e noventa de altura, deu um salto e meteu o pé com vontade no peito de Ladeira. Ele caiu, eu vinha na corrida, fui logo chutando.

               A essa altura o campo era uma zorra. Recebi o troco na hora. Como os banguenses queriam brigar, topei a parada. Olhei o bolo de jogadores e disse comigo mesmo: – Tudo o que estiver com camisa de listras brancas e vermelhas é inimigo. Comecei a distribuir socos e pontapés. Eu estava cercado por jogadores do Bangu, mas fui enfrentando todos eles. E todo mundo entrou na briga. Veio a policia e acabou com a festa. O juiz Airton Vieira de Moraes acabou cumprindo o seu papel: expulsou cinco jogadores do Flamengo e quatro do Bangu. Com isso, o Flamengo ficava com seis jogadores no campo, o jogo não podia prosseguir. Sansão deu a partida por encerrada, e o Bangu Campeão Carioca de 1966”.

COPA DO MUNDO

              Airton Vieira de Moraes foi o único árbitro brasileiro a apitar na Copa de 1970, no México. Ele trabalhou no jogo entre Itália e Israel, que terminou empatado em 0 a 0. Este jogo aconteceu dia 11 de junho de 1970. Com este empate a Itália acabou se classificando para a outra fase. Na próxima quinta feira Sansão estará completando 84 anos de vida. Deixamos aqui nossos cumprimentos e nossos agradecimentos por tudo que fez pelo futebol brasileiro. Faleceu dia 29 de outubro de 2013.

Airton Vieira de Moraes minutos antes de mais um clássico entre Santos e Corinthians em que ele iria trabalhar no estádio do Morumbi
Um dos jogos mais tensos que Airton Vieira de Moraes apitou. Foi na decisão do Campeonato Carioca de 1966, quando tivemos uma briga que entrou para a história
Rogélio Rodrigues (diretor de árbitros), Anacleto Pietrobon, Airton Vieira de Moraes e Olten Aires de Abreu
Anacleto Pietrobon, Olten Aires de Abreu e Airton Vieira de Moraes

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