ROBERTO SILVA: o repórter “Olho Vivo”

                  Dia 16 de fevereiro comemoramos o Dia do Repórter, por isso iremos falar do famoso repórter de rádio nos anos 70, Roberto Silva, que na verdade se chamava Gonçalo Leme da Silva e foi um dos maiores repórter esportivo do rádio brasileiro. Trabalhou na Rádio Bandeirantes, que possuía uma equipe simplesmente espetacular. Os narradores eram; Fiori Giglioti, Flávio Araujo, Enio Rodrigues e Borghi Junior. Os comentaristas eram Mauro Pinheiro, Loureiro Junior, Barbosa Filho e Luiz Augusto Maltoni e os repórteres eram Roberto Silva, Chico de Assis e João Zanforlin. A audiência era muito grande, ficando sempre em primeiro lugar no ibope.

                 Roberto Silva trabalhou nos mundiais de 1970, 1974 e 1978, não trabalhou em 1982, pois na época estava fazendo cobertura do então presidente João Baptista Figueiredo pela Rádio Excelsior. Nos últimos anos de sua vida, passou a viver em Mauá (SP), onde trabalhou na Rádio Visual, apresentando o programa “Show do Meio-Dia”, um programa especializado em notícias policiais, esportivas e políticas. Mas não foi por muito tempo, pois dia 16 de julho de 2003, Roberto Silva veio a falecer.

ROBERTO SILVA

                Seu nome de batismo é Gonçalo Leme da Silva, mas virou Roberto Silva porque o primeiro diretor artístico, que era Sebastião Leporassi, achou que Gonçalo não ficava bem, então escolheu o Roberto, que iniciou a carreira na Rádio Cultura da cidade Poços de Caldas (MG), que era uma das mais potentes do Brasil na época. Futuramente a Cultura seria comprada pela Bandeirantes, que trouxe para São Paulo o transmissor de 31 metros. Hoje, a Cultura tem como dono o ex-repórter Chico de Assis, que também trabalhou na Bandeirantes ao lado de Roberto Silva. Até 1962, Roberto ficou trabalhando em Poços de Caldas, quando foi convidado pela Rádio Itatiaia, na qual ficou um ano trabalhando como locutor comercial.

ESPORTE

                O esporte só apareceu na sua carreira quando surgiu a Rádio Difusora, inaugurada por Carlos Cherman. Na Difusora, Roberto foi responsável pela formação da equipe esportiva, que transmitia os jogos da Caldense. A partir daí começaram a surgir os convites para trabalhar na Rádio Bandeirantes. Ele não queria ir para São Paulo, mas em 1965 a oferta foi boa. Era quase o dobro do que ganhava, sendo assim, não teve outra opção e foi para São Paulo trabalhar na Rádio Bandeirantes.

               Roberto conta que sua carreira como repórter ficou ameaçada depois que Jorge Rodrigues Mello, o Mellinho, que era o chefe da equipe da Bandeirantes, um dia o escalou para narrar uma partida entre Flamengo e Portuguesa, no Maracanã. Foi para lá com o Barbosa Filho, comentarista, Chico de Assis e Alexandre Santos. Foi um desastre a transmissão. Não foi bem, a rádio saiu do ar e Roberto pensou que ia ser mandado embora na volta. Somente anos mais tarde, voltou a ser repórter esportivo. Em 1966, Murilo Leite, diretor da emissora, o encontrou no corredor da rádio, falou que ele estava indo bem como repórter e que estava escalado para a próxima Copa do Mundo que seria disputada no México em 1970, ano em que conquistamos o tricampeonato mundial.

OLHO VIVO

               O repórter Roberto Silva ficou conhecido como “Olho Vivo”. O apelido surgiu de uma brincadeira do narrador Ênio Rodrigues. Roberto entrevistava alguma personalidade nas numeradas e falava do lance, quando era chamado pelo narrador (Ênio ou Fiori Giglioti), como se estivesse atrás do gol. O Ênio brincava: Ele tem olho vivo. Consegue pegar tudo.

               Roberto Silva inovou também quando começou a usar no campo a publicidade. Era um repórter que fazia propaganda. Usava a marca Wallita. Era uma roupa horrorosa, diga-se de passagem, mas Roberto chamou atenção ao fazer um novo tipo de reportagem. Pegava o torcedor na arquibancada, dava informações sobre a cidade natal dos jogadores e isso era diferente. Ele, que também teve uma passagem pela Rádio Capital. Em 1983, retornou para a Bandeirantes, onde ficou até 1986. Depois da Copa do Mundo, ele recebeu uma proposta da Record.

              Roberto Silva ficou na emissora até 1990 e depois foi para Mauá para montar sua própria rádio, a Rádio Mauá AM 1490 e Visual FM. Já estava meio cansado das viagens, por isso resolveu montar sua própria rádio, que hoje pertence a Cidade das Crianças, em Santo André. A Rádio Mauá estava muito bem, mas os sócios acabaram vendendo a emissora e isto entristeceu muito o repórter Olho Vivo, que era casado e deixou cinco filhos.

GALETITAS

               Certo dia na Copa do México, um de seus companheiros de rádio, foi jantar depois de um dia estafante de trabalho com o saudoso repórter Roberto Silva em um restaurante na famosa Avenida Passeo de La Reforma, região central da Cidade do México. E este amigo conta o que aconteceu naquele jantar. “Eu pedi ao garçom a tradicional carne assada com papas fritas. Roberto preferiu, nesse dia, não comer carne vermelha e pensou em saborear um galeto. Olhando o cardápio, ficou imaginando o que seria frango em espanhol. Olhou de cima para baixo o cardápio e encontrou GALETITAS na esperança de saborear um delicioso galeto a moda mexicana.

               Depois de alguns minutos chega o garçom e trás meu jantar. Acaba de me servir e, diz que imediatamente trará o pedido de Roberto Silva. Tudo normal até então. Dois minutos depois, o simpático garçom, com cara de espanto aparece com uma bandeja e um pacote de bolacha água e sal para servir meu amigo. O restaurante inteiro fica olhando a cena. Assustado o veterano repórter pergunta: O que é isso? Cadê meu galeto? Com a explicação do garçom que galletas queria dizer bolachas, caímos na gargalhada. Mas Roberto Silva não perdeu o bom humor, enquanto esperava outro pedido mandou ver as galletitas cream cracker como tira gosto regado com cerveja”.

ETHEL RODRIGUES

               Quem não se lembra do famoso trio, Fiori Giglioti, Mauro Pinheiro e Roberto Silva, mas antes de Roberto, o repórter era Ethel Rodrigues, outro grande repórter esportivo, que depois enveredou para a arbitragem e acabou tendo sérios problemas com o Corinthians. Foi sem dúvida um dos maiores “repórteres volantes” da história do rádio esportivo brasileiro de todos os tempos, morreu em Belo Horizonte (MG) no dia 17 de julho de 2001. Marcou época no “Scratch do Rádio” da Rádio Bandeirantes-AM de São Paulo, mas teve a infeliz ideia de se tornar árbitro, em 1965 e 1966, apitando pela Federação Paulista de Futebol.

               Depois de polêmica arbitragem de um Santos 0x0 Corinthians, dia 27 de março de 1966, pelo Torneio Rio-São Paulo, em que anulou um gol legítimo de Flávio, do Corinthians, Ethel Rodrigues viu ruir sua carreira de árbitro e de repórter volante. Mudou-se para Belo Horizonte onde viveu e morreu. Triste e esquecido. E arrependido de ter-se metido em arbitragem. Ethel foi um dos melhores amigos de Roberto Silva e a última vez que se encontraram, foi numa visita que Ethel fez a Rádio Bandeirantes. Roberto conta que ele ficou olhando para o estúdio, já sem dentes e as lágrimas rolaram do rosto dele.

A FORÇA NO MEIO ESPORTIVO

               Ao longo do tempo, Roberto Silva foi adquirindo uma grande força e confiança perante seus colegas de profissão e com isto muitas vezes era obrigado a tomar a frente de determinadas situações em prol de seus amigos, afinal, era o ouvinte o maior prejudicado por não receber a notícia em tempo hábil e correta. Para isso vamos dar um pequeno exemplo. No dia 11 de julho de 1971, Pelé começou a se despedir da seleção brasileira durante um amistoso no Morumbi contra a seleção da Áustria. O resultado daquele jogo foi 1 a 1, e o gol brasileiro foi marcado pelo próprio Pelé.

               Ao término do jogo muitas homenagens foram prestadas ao “rei do futebol”, estando presentes todas as grandes autoridades esportivas do Brasil e do futebol mundial. Para variar, a Polícia Militar de São Paulo estragou toda a festa formando, desnecessariamente, um cordão de mais de 50 homens em volta de Pelé impedindo o trabalho da imprensa. Não fosse a perseverança do repórter da rádio Bandeirantes, o saudoso “olho vivo” Roberto Silva, nem o depoimento do atleta teria sido registrado.

O REPÓRTER

               Dia 16 de fevereiro é dedicado como Dia do Repórter, esta profissão que é responsável por trazer aos leitores e ouvintes, as últimas notícias. Para se manter bem informado sobre futebol no Brasil, o torcedor sabe que o veículo que melhor cobre, difunde e promove este esporte é o rádio e grande parte do sucesso de uma emissora, é sem dúvida o bom trabalho realizado pelo seu repórter, que está sempre atento aos acontecimentos e procura passar a informação da maneira mais correta e precisa, afinal, o ouvinte merece esse respeito, pela fidelidade que ele tem para com aquela emissora. O primeiro passo do repórter é obter os fatos de forma correta. O que de fato aconteceu? Tudo tem que ser checado, os nomes das pessoas, os lugares, os horários, os valores, a ordem dos acontecimentos, o que cada um fez.

              Se o repórter transmitir dúvidas, o ouvinte também ficará com dúvidas. Entre a notícia e o seu destinatário está o repórter. O que faz diferença no jornalismo é a reportagem. A notícia precisa ser apurada, investigada. Para isso, o repórter necessita de faro e sensibilidade e isto era o que não faltava ao extraordinário repórter Roberto Silva, o “Olho Vivo”. E fazendo esta homenagem a Roberto Silva, também queremos homenagear todos os repórteres, em especial César Roberto, João Valdir de Moraes e Denis Suidedos da Rádio Educadora de Limeira.

Roberto Silva, Ênio Rodrigues e Fiori Giglioti
Em pé: Dieter Glaeser, Roberto Silva, Luiz Augusto Maltoni, Dinamérico Aguiar, José Carlos Silva, Luiz Moreira, Tony Lourenço e Alexandre Santos    –    Sentados: Chico de Assis, Osvaldo dos Santos, Ênio Rodrigues, Fiori Giglioti, Flávio Araujo, J. Hávilla, Barbosa Filho e Borghi Junior
Futsal da Rádio Bandeirantes – Em pé: Chico de Assis, Fiori Giglioti, Tony Lourenço e Roberto Silva     –    Agachados: João Zanforlin, José Óbis e J. Hávilla
Em pé: Darcy Reis, Sérgio Barbalho, Paulo Edson, Luiz Augusto Maltoni, Ana Marina, Ênio Rodrigues, Fiori Giglioti, Dalmo Pessoa, Oscar Ulisses, João Zanforlin e Tony José     –    Agachados: Jota Junior, Roberto Silva (olho vivo), Wilson de Freitas, Eduardo Luiz (ligeirinho), Roberto Monteiro e Sérgio Carvalho
Em pé, da esquerda para a direita: Prof. Aquino, João Costa, Prof. Mário Baraldi e Mauro    –     Sentados: Ênio Rodrigues, Fiori Giglioti e Roberto Silva
Copa de 1986, no México: Roberto Silva, Jair Pereira, Chico de Assis, Alberto Helena Júnior e Lucas Neto

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