ROMUALDO ARPPI FILHO: apitou a final da Copa de 1986

               Romualdo Arppi Filho nasceu dia 7 de janeiro de 1939, foi considerado um dos melhores árbitros da história do futebol brasileiro. Em seu currículo, ele tem participação na Copa do Mundo de 86, no México, em três olimpíadas (1968 – México, 1980 – Moscou e 1984 – Los Angeles). Na opinião de Romualdo, 98% das partidas que apitou foi feliz.

               Romualdo trabalhou no futebol entre 1958 e 1990, em 2018 estava curtindo a sua merecida aposentadoria na cidade de São Vicente, onde também atuou como corretor de imóveis. O ex-árbitro viveu também por oito anos em Calda Novas-GO.

           Pai de três filhos e avô de três netos, Romualdo, quando está em São Paulo, apita jogos no URCA, no bairro do Ipiranga, Zona Sul de São Paulo. Romualdo sempre diz; “Prefiro esquecer das piores. Tem dia que nada dá certo. Em 2% dos jogos que apitei foram assim, reconheço”, brinca Romualdo Arppi Filho. “Os jogos mais marcantes na minha carreira foram os da Copa de 86, das olimpíadas e a final da Copa Toyota entre Liverpool e Independiente”, completa o ex-árbitro.

                Quatro anos depois de Arnaldo César Coelho arbitrar a final da Copa da Espanha, Romualdo Arpi Filho representou novamente o Brasil na finalíssima, partida que deu o segundo título à Argentina de Maradona após vencer a Alemanha por 3×2.

                Tendo dirigido 254 partidas válidas por Campeonatos Brasileiros, sendo duas finais, em 1984 (Fluminense 0x0 Vasco) e 1985 (Bangu 1 x 1 Coritiba), Romualdo ocupa hoje a quinta colocação no ranking dos árbitros que mais apitaram jogos em Campeonatos Brasileiros. Pela Federação Paulista, dirigiu as finais de 1976 (Palmeiras 1×0 XV Piracicaba) e de 1979 (Corinthians 2×0 Ponte Preta).

                 A história de Romualdo Arppi Filho se confunde com a história da arbitragem brasileira. Com ele, o país foi representado em pelo menos cinco eventos internacionais de peso. No maior deles, o ex-árbitro apitou a final da Copa de 1986, no estádio Azteca, no México, no momento mais brilhante de sua carreira de 32 anos (entre 1958 e 1990). No mesmo Mundial, esteve em campo na partida França e União Soviética (1 a 1) e na vitória mexicana sobre a Bulgária (2 a 0). “Eu estava bem preparado, minha mente estava sã”.

                 Antes, já havia apitado em três Olimpíadas (68, 80 e 84), além da final do Mundial Interclubes de 1984, em Tóquio. Aposentado, Romualdo Arppi Filho optou por trocar Santos por Caldas Novas (GO). Nesta entrevista ele fala sobre o uso da tecnologia no futebol, dos erros de arbitragem em Copas e conta histórias que fazem parte do futebol brasileiro.

                  Você é a favor do uso da tecnologia no futebol?

                   Não, sou contra. O futebol sempre foi assim. Se colocarmos a tecnologia no futebol, vai mudar tudo. Será igual ao futebol americano, parando toda hora. No final, ao invés de 90 minutos, serão duas horas de jogo. Dúvidas fazem parte do futebol. A única coisa boa seria colocar um chip dentro da bola, para saber se, por exemplo, uma bola entrou ou não. Como aconteceu na partida entre Alemanha e Inglaterra pela segunda vez em Copas, e poderia ter mudado o resultado do jogo de 2010. Os telões mostrarão para o público um possível erro do árbitro. A partida poderá ficar mais tensa e aí sim os erros aumentarem.

                   E os dois árbitros atrás dos gols?

                   Depois de tantos lances duvidosos na Copa, a Fifa está tentando implantar outra coisa sem mudar as regras e sem colocar outro juiz dentro de campo. Já foi testado dois árbitros e não deu certo, porque o critério muda de um para o outro. Como será a comunicação entre os assistentes do lado do campo e o juiz? Os assistentes de hoje são covardes, não querem se intrometer, parecem que querem prejudicar os juízes.

                   Você apitou finais no Maracanã e no Morumbi. As áreas internas dos estádios brasileiros ficavam aquém de estádios internacionais?

                   Não, não tinha problema nenhum. Os vestiários eram iguais e o caminho do ônibus para lá e de lá para o gramado era o mesmo. As equipes também percorriam o mesmo trajeto. A gente só se encontrava lá no campo.

                   Qual estádio é o melhor para ser palco dos jogos da Copa em São Paulo?

                     Hoje seria o Morumbi. Mas os gastos são enormes e a questão é política e não técnica. O Palestra Itália depois da reforma será uma boa opção também. Até o Pacaembu. Como um estádio que cabiam 70 mil pessoas, só tem capacidade para 38 mil hoje? É muito estranho. A única coisa que não pode acontecer é a construção de outro estádio. É colocar um elefante branco na cidade.

                     A diminuição da capacidade dos estádios, na adequação aos padrões da Fifa, muda muita coisa para o árbitro (na final de 86, 115 mil pessoas lotaram o estádio Azteca)?

                     O árbitro quando chega para dirigir uma Copa já passou por várias situações e está preparado técnica, física e mentalmente. Seja para estádios vazios, com grandes ou pequenas capacidades. Nunca tive problemas com grandes públicos, no sentido de ficar nervoso. Para o árbitro tanto faz.

                     Como foi o início da sua carreira?

                     Eu apitava na Liga de Futebol Amador de Santos e a federação fez um curso de árbitro em 58. O primeiro desafio foi em 1961, no Torneio no Uruguai. Depois apitei a semifinal da Taça Brasil, entre Palmeiras e Fluminense. Em 68, fui à Olímpiada no México.

                     Como recebeu a notícia que você estaria na Copa do Mundo?

                      Eu estava em férias em Itajaí-SC. Depois da preparação no Brasil, fui ao México com 10 dias de antecedência, com todos os árbitros. Depois teve a preparação física, que foi difícil pois tinha a altitude. Creio que 80% do desempenho é o preparo físico do árbitro. Se ele tiver bem, ele vai bem até o fim. Em 86, eu estava bem preparado, minha mente estava sã. Se você está cansado, os reflexos são mais lentos e até levar o apito à boca o lance já passou.

                       Quando a Alemanha empatou o jogo em 2 a 2 houve receio de uma eventual prorrogação?
                       Não, eu estava bem. Àquela altura a Alemanha saiu com tudo depois que levou o segundo gol, o jogo ficou corrido, mas a Argentina já fez 3 a 2 e foi tranquilo.

                        Você teve contato com o árbitro tunisiano Ali Benaceaur, que validou o gol de mão do Maradona contra a Inglaterra em 86?

                        Não o vi depois e não se comentou isso depois entre nós. As reuniões com as comissões eram fechadas. Ele estava apitando bem, em cima dos lances. O erro foi do auxiliar, que estava de frente para a jogada. O Beneceaur veio de trás, com muita gente na frente dele.

                        Esse lance aumentou a pressão na final Argentina e Alemanha?

                        Eu estava preparado para uma final de Copa do Mundo. Estava tranquilo na aparência, por dentro um pouco nervoso. Até começar o jogo, naquela sequência até o apito inicial. Depois você entra no ritmo da partida e esquece o nervosismo.

                        E o cartão amarelo para o Maradona, como foi?

                        O Brown, central argentino, cometeu uma falta e quase fez pênalti. Eu montei a barreira e na hora que eu autorizei a cobrança, o Maradona saiu da barreira e correu para frente. Eu apitei, mandei voltar e dei o amarelo. Mas nunca tive problema com ele, craque nunca cria problemas. O Platini também. Não deu problema quando apitei França e União Soviética.

                        A final do Mundial Interclubes de 84 foi mais tranquila que a final da Copa?

                        Cada jogo tem a sua história. Um gol logo de cara do Independiente da Argentina aos cinco minutos, e depois o Liverpool atacou e não conseguiu marcar. Uma coisa é esse jogo, outra é uma final entre seleções, muito mais importante.

                         Por que você não foi à Copa antes de 86?

                         Aqui no Brasil tinha grandes árbitros. Tinha o Aragão, o Arnaldo, o Armando, o Valuci (da década de 60), o Scolfaro (Oscar Scolfaro, apitou a final do Brasileiro de 82), o Favile (José Faville Neto, apitou a final do Brasileiro de 79). Eram grandes árbitros, o Brasil nunca teve uma safra tão boa, era difícil.

                         Qual era o jogador que dava mais trabalho dentro de campo?

                         Tinha um monte. O Dudu (ex-Palmeiras), o Zito (ex-Santos), o Chicão (ex-São Paulo). O Serginho (Chulapa) expulsei três vezes. Nunca tive problema com ele. Ele fazia, eu expulsava e ele saia quieto.

                         Qual o melhor árbitro brasileiro hoje?

                         O Heber Roberto Lopes. O Paulo César Oliveira também é, mas passou por alguns problemas e estava muito ansioso. O mesmo aconteceu com o Simon antes do Mundial. Ele estava ansioso pois ia à terceira Copa e isso nunca tinha acontecido no Brasil antes.

Infelizmente Romualdo Arpi Filho faleceu dia 5 de Março de 2023.

Romualdo entre os dois capitães de Corinthians e Palmeiras (Dino Sani e Djalma Santos)
Da esquerda para a direita, aparecem Riberto, Manoel Raymundo Paes de Almeida (de terno e óculos), Romualdo Arpi Filho (agachado), e os repórteres Silvio Luiz e Marco Antônio, empunhando seus gigantescos microfones

 

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