FILPO NUÑES: treinador da primeira academia palmeirense

                  Nelson Ernesto Filpo Nuñes nasceu dia 19 de agosto de 1920, na cidade de Buenos Aires – Argentina.  Foi um treinador com importante passagem pelo futebol brasileiro. Apelidado de “El Bandoneon”, entrou para a história como o treinador símbolo da “Academia”, como foi chamada a Sociedade Esportiva Palmeiras nos anos 60. Foi o técnico da equipe quando o Palmeiras, vestindo a camisa da Seleção Brasileira, venceu a Seleção do Uruguai por 3 a 0. Até hoje, foi o único estrangeiro a dirigir a seleção canarinho. Trabalhou em grandes clubes do Brasil e comandou verdadeiros craques, que tinha por ele uma verdadeira admiração, tanto pela forma que ele tratava a todos, como também como grande estrategista que era. Formou-se em Educação Física no Equador e depois ingressou na carreira de treinador de futebol profissional no seu país. Além do Brasil, trabalhou também em vários países como, Chile, Equador, Bolívia, Paraguai e Portugal.

                  Filpo Nuñes chegou ao Brasil ainda jovem para ser um treinador. Dirigiu o Cruzeiro em 1955 e depois passou por vários clubes. No ano seguinte foi trabalhar no Guarani de Campinas, onde sagrou-se campeão do Torneio Início. Em 1957, quando aportou em Santos, o treinador foi identificado como Dom Filpo ao salvar o Jabaquara do rebaixamento daquele ano, depois que o time venceu o Santos de virada por 2 a 1. Em 1959, foi trabalhar em outro clube da baixada santista, a Portuguesa Santista. Ainda neste ano, foi eleito o técnico do ano pela Agência de Notícias “Sport Press”. Filpo como um bom marqueteiro, soube capitalizar após invencibilidade de 15 partidas, em excursão que a Lusa Santista fez por Angola e Moçambique, países africanos, onde a Briosa marcou 75 gols e sofreu apenas 10. Pode-se dizer que aí começou sua ascensão no futebol, até que em 1964 foi contratado pelo Palmeiras, que tinha um timaço, culminando com o batismo de “academia de futebol” no ano seguinte.

PALMEIRAS

                  Pelo alviverde, entre 1964 e 1965, Filpo adotou jogar em velocidade, tocar de primeira e chegar ao gol. Nesse período, o Palmeiras começou a ser batizado de “Academia de Futebol”.
Filpo chegou a ter outras duas passagens pela Sociedade Esportiva Palmeiras: entre 1968 e 1969; e entre 1978 e 1979. Ao todo, foram 154 jogos no comando do Verdão (94 vitórias, 27 empates e 33 derrotas) e uma conquista: o Torneio Rio-São Paulo de 1965. A equipe do Palmeiras era tão respeitada a ponto de a antiga CBD (Confederação Brasileira de Desportos) requisitá-la para representar a Seleção Brasileira na inauguração do Estádio Magalhães Pinto, o Mineirão, no dia 7 de setembro de 1965, em partida amistosa contra o Uruguai. E foi um show de bola dos palmeirenses, com goleada por 3 a 0, gols de Tupãzinho, Rinaldo e Germano, num time formado por Valdir de Moraes (Picasso); Djalma Santos, Djalma Dias, Valdemar Carabina (Procópio) e Ferrari; Dudu (Zequinha) e Ademir da Guia; Julinho (Germano), Servílio, Tupãzinho (Ademar Pantera) e Rinaldo (Dario).

                 O jogo foi visto por 96.669 pessoas. Com essa recomendável passagem, Filpo ganhou apelido de “El Bandoneon”, deixou as portas abertas no Palmeiras, e, numa das voltas, em jogo contra o Náutico, em Recife, com gramado encharcado, justificou a conotação de técnico folclórico. Após o atacante César ter perdido um pênalti, transtornado, invadiu o gramado, colocou a bola na marca de pênalti com a intenção de mostrar ao jogador como converter a cobrança. Só que ao correr para bola escorregou, caiu, e o estádio “caiu” em gargalhadas. Antigos palmeirenses reconheceram méritos de Filpo Nunes para motivar jogadores. A rigor, por isso era sempre requisitado para comandar clubes em crise. Com boa psicologia, sabia injetar vibração ao grupo e extraía bons resultados no começo do trabalho. Posteriormente caía na rotina.

CORINTHIANS

                 Em 1966, foi trabalhar no Corinthians e sua estréia no comando do alvinegro foi no dia 17 de agosto de 1966, quando o Corinthians venceu o Guarani por 3 a 1 pelo Campeonato Paulista. Neste dia ele mandou a campo os seguintes jogadores; Marcial, Jair Marinho, Ditão, Clóvis e Edson; Nair e Rivelino, Marcos, Tales, Flávio e Gilson Porto. Os gols corintianos neste dia foram marcados por Flávio (2) e Tales.  Neste ano chegou a liderar o campeonato por vários rodadas, mas não conseguiu o tão ambicionado título que a Fiel torcida corintiana tanto queria.  Na segunda passagem pelo Parque São Jorge, exatamente dez anos depois, pegou um time barato e não pode fazer milagre.  Ao todo ele comandou o time em 34 jogos. Venceu 16, empatou 7 e perdeu 11.

FOLCLÓRICO

               Após uma partida, Filpo Nuñes reuniu o elenco e perguntou a um jogador que atuava do meio para frente e que tinha sido eleito pela imprensa o craque do jogo: “Quantos gols você fez?” O jogador respondeu: “Nenhum”. “Quantos passes deu que resultaram em gols ou que deixaram os companheiros na cara do gol?” “Nenhum”. Filpo concluiu: “Então, você correu muito e não jogou nada.” Os folclóricos nomes que dava para seus esquemas de jogo: esquemas Pim Pam Pum e Carroussel.  El Bandoneon foi também um de seus apelidos ( instrumento de tango ). Será que era porque seu time jogava por música?

CLUBES QUE TRABALHOU

               Filpo Nuñes fez sucesso como treinador por vários clubes do exterior, exemplo: Santiago National (Chile), Sport Boys (Peru), España (Equador), Municipal (Bolívia), Libertad (Paraguai), San Martin, C.A. Atlanta e Vélez Sarsfield (Argentina). Em Portugal dirigiu o Leixões, onde conquistou a Taça de Europa, o Vitória de Setúbal e o Lusitano Évora. No México, trabalhou pelo Monterrey. No Brasil, ele também comandou Galícia (BA), Coritiba e Atlético Paranaense (PR), Sport Club Recife (PE), Fabril de Lavras (MG), Foz (Foz do Iguaçu – PR) e ainda, Vasco da Gama do Rio de Janeiro e Cruzeiro de Minas Gerais. No estado de São Paulo dirigiu; Palmeiras, Corinthians, Portuguesa Santista, América de São José do Rio Preto, Guarani, XV de Piracicaba, Paulista de Jundiaí, Francana, São José, Santo André, Saad e Jabaquara.

DECADÊNCIA

               No dia 15 de janeiro de 1966, XV de Piracicaba e Portuguesa Santista foram ao Estádio do Morumbi para jogar exatos três minutos de futebol com portões fechados ao público, em partida válida pelo Paulistão do ano anterior, conforme determinação do antigo CND (Conselho Nacional de Desportos). A decisão do então órgão normativo foi decorrente de uma partida inacabada entre ambos, com resultado de 1 a 1, no dia 3 de novembro de 1965, no Estádio Barão de Serra Negra, em Piracicaba (SP), porque a torcida local invadiu o gramado. E, sem segurança, o time de Santos – também conhecido como “Briosa” – refugiou no vestiário visitante e resistiu ao prosseguimento do jogo, mesmo com insistência do árbitro José Astolphi, após contornar a situação. E com a complementação do tempo sem alteração no placar, o “Nho Quim” foi rebaixado à segunda divisão. Por que o relato desse fato? Por dois motivos fundamentais. Primeiro o disparate do CND em determinar o deslocamento dos clubes para um campo neutro, a fim de que jogassem três minutos. Depois, a constatação que o técnico argentino Nelson Ernesto Filpo Nunes, no comando do XV, começaria a fase decadente no futebol.

               No segundo semestre de 1966 foi trabalhar no Corinthians, onde também não conseguiu fazer um bom trabalho e depois começou a pular de clube em clube, sem conquistar títulos importantes, apenas alguns vice-campeonatos, como em 1967 pelo Galícia, da Bahia, em 1968 pelo Palmeiras no Torneio Mar del Plata, em 1969 também pelo Palmeiras no Torneio Rio-São Paulo, enfim, não conseguiu se firmar como treinador. Teve a honra de trabalhar com jogadores que podemos chamar de verdadeiros craques, como por exemplo; Julinho Botelho, Bellini, Djalma Santos, Garrincha, Servílio, Ademir da Guia, Rivelino, Vavá, Piazza, Leivinha, Tupãzinho, Dirceu Lopes, Zé Maria, Leão, Tostão, Luiz Pereira, Djalma Dias, Dino Sani e tantos outros.

               Nelson Ernesto Filpo Nuñez, o famoso técnico argentino criador da Academia de Futebol do Palmeiras, nos anos 60, morreu no dia 7 de março de 1999, em São Paulo (SP). Pouco antes de falecer, Filpo Nuñez morava nas dependências do projeto Jerusalém Ação Social, no bairro do Heliópolis. Sua fortuna se perdeu. Ele não tinha recursos financeiros. Por isso, morava lá. Antes de morrer, Filpo treinava um time de crianças carentes na escolinha de futebol de meninas. Passou os últimos dias da sua vida treinando aproximadamente 97 meninas.  Filpo Nuñes recebeu uma homenagem especial da comunidade do bairro Heliópolis. Ele virou o nome do centro esportivo que fica na Rua Freire Brayner, atrás do 95º Distrito Policial.

               Filpo Nuñes sempre amou o Brasil, tanto é, que sempre dizia: “Só saio desta terra com os pés para a frente, num caixão”. Outra frase de El Bandoneon se referindo ao respeito e admiração pelo nosso país; “O futebol brasileiro é, por dom de Deus, superior ao de qualquer outro país”.

Em pé: um médico, Djalma Santos, Valdir, Waldemar Carabina, Filpo Nuñez, Djalma Dias, Dudu, Geraldo Scotto, Santo, Tarciso e Picasso    –     Agachados: Germano, o massagista Reis, Gildo, Servílio, Tupãzinho, Ademir da Guia, Rinaldo, Dario, Nélson Coruja, Júlio Amaral e Ferrari
Em pé: Djalma Santos, Valdir, Waldemar Carabina, Dudu, Filpo Nuñues, Djalma Dias e Ferrari     –     Agachados: Julinho, Servilio, Tupãzinho, Ademir da Guia e Rinaldo
Em pé: Manoel Mendes Gregório (ex-presidente da Lusa), Filpo Nunez, Luisão, Lalá, Orlando, Eduardo, Santo, Ulisses, Lorico, Henrique Pereira, Augusto, profissional não identificado, Dr. Vicente Sá e diretor  Fernando    –     Agachados: massagista Jair, Edu, Basílio, Mazzola (que jogou no Paulista de Jundiaí), Ratinho, Leivinha, Ivair, Paes e Rodrigues
Filpo Nuñes contando suas histórias para Dudu, Picasso, Zéquinha, Vavá e Ferrari
Filpo Nuñes lamentando um gol perdido. Ao seu lado o ainda jovem repórter Eli Coimbra e ao fundo o Pacaembu completamente lotado
Em pé: Djalma Santos, Valdir, Waldemar Carabina, Filpo Nuñes, Djalma Dias, Dudu e Geraldo Scotto –    –    Agachados: Gildo, Servilio, Tupãzinho, Ademir da Guia e Rinaldo
Em pé: Djalma Santos, Valdir, Waldemar Carabina, Filpo Nuñes, Djalma Dias, Dudu e Geraldo Scotto –     –    Agachados: Gildo, Servilio, Tupãzinho, Ademir da Guia e Rinaldo
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